Guilherme Fiuza

Atenção para a turma que ficou em silêncio durante os dois anos de politicagem de Rodrigo Maia fabricando manchetes contra a equipe econômica

Os liberais de boa-fé ligaram o alerta para checar se a troca de comando na Petrobras significaria intervenção indevida do governo — especialmente na política de preços. Já os liberais de cativeiro, sempre mais rápidos no gatilho, pularam nas tamancas para decretar, maldizer e repudiar a intervenção governamental na Petrobras. Esses estão sempre à frente do seu tempo. Em janeiro de 2019 eles já estavam em fevereiro de 2021, sentenciando que chegava ao poder um novo PT vestido de Posto Ipiranga, que Paulo Guedes era fachada e não ia durar etc.

E agora não deu para disfarçar a excitação triunfal com a confirmação do vaticínio: a troca do presidente da Petrobras era a comprovação do anacronismo subpetista instalado no Planalto. Houve só um percalço de roteiro: após os primeiros dias da decisão de substituição do presidente da estatal, ninguém tinha elementos para afirmar que se tratava de uma intervenção — nem na política de preços nem na gestão de energia da empresa. Os interessados no fortalecimento da agenda liberal continuarão atentos, examinando o desenrolar da medida presidencial. Já os acionistas do contra lamberam os beiços. Para eles, o importante era o pretexto para berrar a palavra “intervenção” e fermentar a sensação de crise. É gente que pensa grande.

Por isso é que fizeram cara de paisagem na Reforma da Previdência. É meio chato quando você está há uma década dizendo que aquela reforma é a única saída contra o colapso nacional e de repente a reforma é feita sob a condução daqueles que você diz que não prestam. É melhor mesmo fingir que não viu. Enfiar o bisturi no Estado inchado e operar um sistema previdenciário com privilégios e incongruências que sugam o sangue da sociedade… O que isso tem a ver com a pauta liberal?

Para quem enterrou a cabeça no buraco da avestruz, nada. Debaixo do chão é tudo muito escuro, só dá para ver a obsessão pelo fracasso. As ações ininterruptas no Ministério da Infraestrutura desde 2019 e durante a pandemia para abrir os gargalos e remover os coágulos da produção no Brasil correspondem à agenda nacional de libertação contra os atravessadores e os inoperantes. Não é uma invenção do governo atual. Ele só entregou o setor a um comando firme e operativo. A iminente conclusão da lendária Ferrovia Norte-Sul é um símbolo desse enfrentamento direto do Custo Brasil — portanto um símbolo da agenda liberal.

E o que você vê por aí? “Liberais” por todo canto fazendo cara de nojo para tudo. Não tente explicar isso. Você vai tirar o emprego dos psicanalistas. A equipe do ministro Paulo Guedes está buscando a inclusão da Eletrobras na pauta de reformas — que já incluíram a abertura do setor de gás da Petrobras, a venda de mais de R$ 150 bilhões em ativos e outras ações — e você só escuta murmúrios de que a privatização está lenta. 
Sobre os dois anos de politicagem de Rodrigo Maia fabricando manchetes amigas contra a equipe econômica você não ouviu um pio dos liberaloides de plantão.

Eles ficaram até amigos do primeiro-ministro cenográfico e sancionaram com seu silêncio a tentativa de golpe no STF para dar a reeleição inconstitucional ao presidente da Câmara dos Deputados. Os liberais de cativeiro que lideraram o chilique contra a suposta intervenção na Petrobras sonharam com mais dois anos de Rodrigo Maia sabotando as reformas — agora com apoio formal do PT. Modernidade é isso aí.

A agenda liberal no Brasil teve oportunidade de atravessar o cerco dos parasitas em meados da década de 1990 (aproveitada), em 2003/04 (jogada fora), em 2016/17 (parcialmente aproveitada) e a partir de 2019. Muitos dos que contribuíram para os resultados concretos na década de 90 estão hoje no bloco da cara de nojo: não acham graça nas medidas de desburocratização, não deram uma unha de apoio à legislação da liberdade econômica, não movem uma palha pela reforma tributária. Preferem denunciar o juízo final amazônico e o apocalipse fascista, ou vice-versa.

Os picaretas fantasiados de revolucionários, com estrelinha no peito e demagogia terceiro-mundista, você já conhecia. Agora você precisa aprender a distinguir os oportunistas de cabelo penteado e boas credenciais. Por ostentarem mais verossimilhança na suposta missão de “fazer o bem”, eles são piores que seus antecessores.

 

Guilherme Fiuza, jornalista - Revista Oeste