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sábado, 9 de janeiro de 2016

O fracasso das UPPs - tráfico expulsa UPPs de dois morros no Rio

Tráfico expulsa UPP de dois morros na Zona Norte do Rio

Há pelo menos três meses policiais não patrulham mais as áreas da Cachoeira Grande e do Gambá, onde contêiner foi incendiado ano passado. 

Bandidos ameaçam soldados de cabine blindada, que são obrigados a se trancar o dia inteiro, e vídeo mostra traficantes armados com fuzis à luz do dia

Quando blindados da Marinha e homens do Bope ocuparam 18 favelas do Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio de Janeiro, na manhã de 6 de outubro de 2013, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, festejou o sucesso da empreitada: "Não tivemos um tiro de arma de fogo". Menos de dois meses depois, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) fincaram suas sedes na região, onde vivem cerca de 25 000 pessoas. De lá pra cá, o cenário se transformou. A esperança inicial deu lugar à desconfiança e ao medo. Mas, nos últimos meses, a situação ficou caótica. Pela primeira vez desde o início do projeto das UPPs, ainda em 2008, policiais foram literalmente expulsos do território que o governo classificou como pacificado. Há pelo menos três meses, os morros da Cachoeira Grande e do Gambá não contam mais com bases avançadas e qualquer ação de patrulhamento nesse território só acontece com autorização expressa. Elas são raríssimas e, nas últimas vezes que aconteceram, no final do ano passado, ocasionaram intensos tiroteios.
 [sempre alertamos que além do tática  estúpida da polícia invadir favelas com dia e hora marcados, as UPPs não poderiam funcionar se a filosofia do secretário de Segurança Beltrame e do governador era a de sempre dar razão aos bandidos, aos moradores das favelas e culpar os policiais.
A regra era houve conflito com bandidos e um morador da favela reclamou da polícia, esquece os bandidos e prende os policiais, assim a polícia fica desmoralizada.
As UPPs poderiam funcionar se antes da ocupação fosse realizada uma varredura com abate dos bandidos e remoção de demais obstáculos e só então se efetivava a ocupação, mantendo por pelo menos seis meses a favela sob 'toque de recolher'.
Só após com os bandidos mortos ou presos e os moradores 'enquadrados' poderíamos considerar a favela 'quase' pacificada..
O método usado é fracasso na certa - como os fatos ora postados estão mostrando.]
Com o fim do incômodo diário, criminosos desfilam armados com fuzis e pistolas a qualquer hora do dia pelo meio da rua, sem camisa e sem preocupação, como mostra uma filmagem gravada pelo setor de inteligência da UPP e obtida pelo site de VEJA. "Eles (oficiais) não vão admitir isso publicamente, mas nós estamos fora. Essas duas favelas estão abandonadas. Perdemos ali. Só quem entra é o COE (Comando de Operações Especiais) e, mesmo assim, tem que ir de blindado", afirma um policial que está lotado na UPP Camarista Méier desde o início e conhece a área como poucos. Procurada pelo site de VEJA, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) confirmou que as ações realizadas ali têm sido feitas pelo COE e informou que a "UPP Camarista Méier está planejando uma operação em toda a área nos próximos dias".

A nota fala também sobre uma cabine blindada na Auto-Estrada Jacarepaguá, "que permite acesso visual às duas localidades". O local fica num dos acessos à Cachoeira Grande e virou uma espécie de abrigo dos policiais que dão plantão ali. "Ficamos praticamente o dia inteiro aqui dentro, porque os bandidos ficam vigiando todos os nossos passos. Até quando vamos ao banheiro eles sabem", desabafou um soldado. VEJA comprovou o discurso do policial. Da porta da cabine é possível avistar criminosos armados que passam o tempo todo zombando e ameaçando, ora no rádio, ora balançando a pistola ou apontando como se fossem atirar. "Às vezes atiram", conta outro, mostrando o telhado do lado de fora todo furado.
 
Desde a inauguração das UPPs, 18 policiais já foram baleados na região. Mas foi no ano passado que os bandidos começaram a dar uma demonstração maior de que pretendiam expulsar os policiais e retomar parte do território perdido. O primeiro ataque emblemático aconteceu na noite de 24 de fevereiro, quando um coquetel molotov incendiou o contêiner da entrada do Morro do Gambá. Duas semanas mais tarde, em retaliação a uma ação do Bope que deixou três suspeitos mortos, os criminosos voltaram a emboscar os policiais da UPP praticamente no mesmo ponto. Na esquina das ruas César Zama e Vilela Tavares, os soldados Elson Bras dos Santos, Thiago Sousa e Silva Cortes, Felipe Cézar da Silva Mariano, Bruno Martins Barbosa e Wellington de Souza Luiz foram baleados de uma só vez.

O ano de 2015 fechou com 11 feridos ali. E bandidos voltaram a incendiar outras bases e até carros particulares dos policiais, como num episódio ocorrido em agosto, próximo à sede principal da UPP Camarista Méier. "Ainda mantínhamos policiais baseados em alguns pontos estratégicos nas duas favelas, mas depois não teve como manter. Eles eram atacados o tempo todo. Seria um risco", admite um oficial do CPP. As raras autorizações concedidas para entrar nas duas favelas tiveram como objetivo recuperar cargas roubadas. Numa delas, em 19 de dezembro, um caminhão de cigarros até foi recuperado logo na entrada, mas não o material. E um policial descreveu no registro que "nesta comunidade encontra-se inviável adentrar pelo baixo efetivo". Hoje, a UPP conta com 230 agentes.

Os morros do Gambá e da Cachoeira Grande ficam exatamente atrás do Hospital Marcílio Dias, da Marinha. Na tarde de sexta-feira, a reportagem do site de VEJA tentou chegar à região. A um grupo de policiais que se preparava para rodar pela Camarista Méier, pediu: "Quero ir lá no Gambá". Um soldado brincou: "Toma aqui. Vai na frente...", disse, oferecendo a pistola. Voltando a falar sério, outro policial resumiu a situação: "Não tem como ir lá. Primeiro porque não temos autorização superior. Segundo, porque não temos munição suficiente para sustentar o tiroteio que vai acontecer se conseguirmos entrar lá. Tudo isso sem receber, né?!", desabafou o soldado, referindo-se às gratificações e ao pagamento de horas extras que o governo do Rio de Janeiro não paga desde outubro.

Em dezembro passado, policiais da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) conseguiram capturar o traficante que chefiava o tráfico na região. Paulo Cézar Souza dos Santos, o Paulinho Muleta ou PL, estava passando férias num luxuoso apartamento em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Mas nem sua prisão diminui o ímpeto de sua quadrilha. Eles estão tão à vontade que, também no fim do ano, bandidos subiram o morro e acabaram com uma tradicional pelada de fim de ano que acontecia num campo de futebol de grama sintética na Grajaú-Jacarepaguá, a poucos metros da cabine blindada. Durante duas horas, os criminosos mantiveram rendidos, roubaram e ameaçaram cerca de 40 peladeiros. Computadores, relógios, jóias e smartphones foram roubados. Mas, até hoje, só dois irmãos fizeram registro de ocorrência. Os criminosos, claro, não foram identificados.

A deterioração do projeto das UPPs não é novidade, mas o cenário vem piorando ano a ano. Desde 2013 o número de ataques vem crescendo gradativamente e, hoje, em quase todas as 38 regiões que contam com UPP, existem as chamadas 'regiões perdidas', como por exemplo o Terreirão, na Rocinha; o Caratê, na Cidade de Deus; o Abóbora, no Jacarezinho, e o Areal, no Complexo do Alemão. Recém-empossado, o novo comandante-geral da PM, coronel Edison Duarte, pediu que o CPP fizesse um relatório avaliando as dificuldades e apontasse as vulnerabilidades de cada uma. Há muito o que escrever. Na primeira semana de 2016, as UPPs já registraram cinco policiais baleados.

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Fonte: VEJA On Line