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sábado, 20 de junho de 2015

O PM e o cão, a PF e o caminhoneiro: absurdos à solta

"Pense em um absurdo, o maior de todos. Na Bahia tem precedente".

Sei que para muita gente vai soar óbvia e repetitiva a frase famosa da abertura deste artigo semanal. Ou, de alguma maneira, sem maior sentido jornalístico, quando se escreve em uma sexta-feira (19) na qual os presidentes de duas  das maiores empreiteira do Brasil e da América Latina (Marcelo Odebrecht, do grupo Odebrecht, e Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez) amanheceram presos e a caminho de inexorável encontro com o juiz Sérgio Moro, em Curitiba, de consequências imprevisíveis ainda, a esta altura.

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Resultado da espetacular e exitosa até aqui (sob os mais diferentes pontos de observação factual e análise de conteúdo) da Operação "Erga Omnes", da Polícia Federal. Décima quarta etapa da Operação Lava Jato, que acaba de dar mais um passo decisivo para se consolidar, de vez, como o mais relevante acontecimento policial, político, econômico, jurídico, de comportamento e de imprensa, até onde a memória alcança, nas últimas décadas no País. "A pauta das pautas”, sintetiza, em Salvador, o experiente jornalista e blogueiro Luís Augusto Gomes. O cerco aperta e se aproxima, mais ainda, dos mais poderosos círculos do poder no Brasil.

No caso destas linhas de informação e opinião, é como dizia em seu tempo o satírico poeta barroco, Gregório de Matos Guerra: "Eia, estamos na Cidade da Bahia!”.  É praticamente impossível não recorrer de novo ao ensinamento perspicaz, bem humorado, crítico e visionário de Otávio Mangabeira, antigo governador do Estado (talento baiano e nacional na arte do fraseado político e de comportamento). Ainda mais, nesta incrível semana de junho com cheiro de pólvora. E não só a utilizada na fabricação dos rojões, foguetes e fogos de artifício, dos festejos nordestinos no mês em que os católicos homenageiam Santo Antônio, São João e São Pedro.

O rastilho se espalha. Como demonstra a relação ampliada, agora, com as detenções dos chefões da Odebrecht, da Andrade Gutierrez e mais nove poderosos de grandes  empreiteiras e empresários metidos nas mais impensáves e absurdas transações e mutretas, como seguramente ainda se verá nos próximos dias, quem sabe ainda antes de junho terminar. 

No entanto, as raízes deste artigo estão na pólvora das balas de armas  acionadas por policiais em atuações marcadas pelo absurdo com precedente na Bahia, de que falava Mangabeira. Um deles, o oficial tenente da PM, Wilson Pedro dos Santos Junior. Identificado nacionalmente em vídeo (que agora espanta o mundo civilizado), mostrado nas redes sociais, desde o início da sua ação primitiva, chocante e destemperada.

1º tenente Wilson Pedro dos Santos Júnior acusado de matar cachorro a tiros (Foto: Reprodução / Facebook )

Flagrado pelas câmeras de segurança, ele aparece andando pela rua do condomínio onde mora, na cidade de Teixeira de Freitas, no extremo sul baiano, vestindo bermuda e de revólver em punho. Até dar de cara com a vizinha e advogada tributarista, Vera Holzs, que levava nos braços seus dois cãozinhos de estimação, acusados pelo oficial de urinar no gramado da sua casa. Em pânico, a dona pula o portão na tentativa de salvar os dois animais e a ela própria. O medo e o instinto de preservação, talvez, a faz soltar o cachorrinho de raça francesa, que fica à mercê do algoz.

O resto é o que a gravação mostra em detalhes: o oficial PM aponta a arma e dispara três vezes no cachorro. Uma execução pública e a sangue frio. "Vi o vídeo e fiquei indignado, determinei ao comando da PM, adotar as providências necessárias", reagiu o governador Rui Costa (PT), ao comentar o caso. Atitude bem mais louvável que o "gol de placa” com que o governador saudou, no início de seu governo, o "massacre do Cabula” (12 mortos, a maioria jovens sem ficha policial, foram executadas por policiais do grupo de elite Rondesp,da PM) segundo a Anistia Internacional e a Procuradoria Geral do Estado.

O outro caso é a morte a tiros, dentro de casa e na cama onde, de férias, descansava o motorista de caminhão Márcio Neris dos Santos, casado e pai de uma filhinha de menos de um ano. Foi morto na batida de agentes da PF , durante a Operação Carga Pesada, de combate a acusados por desvios e roubalheiras no Porto de Aratu. Márcio não constava da lista de procurados, nem era acusado de nada.

O vizinho e trabalhador, de conduta elogiada por todos (a começar pelo dono da empresa onde estava empregado há seis anos) detestava armas ("a única que tinha lá em casa era a Bíblia”, diz a mulher) e nem ficha policial tinha. Morreu por "um erro inexplicável”, acusa a família. A ação desastrada dos agentes que invadiram o apartamento errado. O 04, do morto, em lugar do 104, onde devia estar o procurado pela operação na Bahia.  A esclarecer.

Desde já, porém,  absurdos que provavelmente surpreenderiam o próprio Otávio Mangabeira, se vivo estivesse. Morto, há quem afirme que tudo isso fez mexer na cova os restos mortais do notável tribuno da política baiana e nacional. Quem negará?

Fonte: Blog do Noblat - Vitor Hugo Soares É jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. 
E-mail: vitor_soares1@ terra.com.br