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sexta-feira, 20 de março de 2015

Recursos públicos sustentam rede de propaganda petista

Se o Congresso quer ocupar seu espaço institucional, precisa investigar esta grande zona de sombras por onde trafega muito dinheiro do contribuinte

Enquanto as investigações da Operação Lava-Jato e seus desdobramentos jurídicos desvendam o desvio de dinheiro público do caixa da Petrobras para PT e aliados, um documento apócrifo, com digitais da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), aponta para o mesmo grave delito na ação petista na internet e na administração da publicidade oficial. Na essência, são desvios comparáveis: nos dois casos, “privatizam-se” recursos públicos para ajudar o partido na luta política e eleitoral. 

O documento, cuja íntegra foi divulgada pelo site de “O Estado de S.Paulo”, aponta deficiências na atuação do partido no mundo digital em apoio ao governo Dilma. De acordo com o texto, falta uma melhor coordenação entre o braço governamental na internet e as forças políticas do lado petista distribuídas entre blogueiros chapas-brancas e até o Instituto Lula. “A guerrilha política precisa ter munição vinda de dentro do governo, mas ser disparada por soldados fora dele”. A frase, vazada em terminologia militar, confirma que a internet é usada pelo PT com apoio nos porões do governo. Esta é mais uma evidência do uso privado de recursos públicos. Em outra perigosa confusão de esferas que precisam ficar separadas — Estado e governo —, o documento afirma ser preciso “consolidar o núcleo de comunicação estatal, juntando numa mesma coordenação a Voz do Brasil, as páginas de sites, twitter e Facebook de todos os ministérios, o Facebook da Dilma e a Agência Brasil”. Na prática, subordinam-se instrumentos de comunicação do Estado ao governo petista.

Como reagir, na internet e mídia em geral, ao avanço da oposição foi discutido em reunião realizada esta semana entre o presidente da legenda, Rui Falcão, e deputados federais da bancada petista. Nela, emergiu mais uma vez a visão distorcida do partido sobre o papel da imprensa profissional. Cobrir as manifestações de domingo, as maiores desde a campanha das Diretas Já, foi entendido como “apoio” aos manifestantes. Assim como terminou tachado de “golpista” o noticiário sobre o mensalão. O peso dos fatos não importa.

Teria sido defendida no encontro “uma nova política de anúncios para veículos da grande mídia”. Em português claro: cortar publicidade oficial, mesmo que sejam veículos de ampla circulação e audiência.

No documento, é sugerido que a verba de publicidade do governo seja destinada a São Paulo, onda há forte oposição ao Planalto, e o prefeito petista Fernando Haddad está em baixa. O objetivo é evidente: beneficiar veículos que apoiem os governos federal e municipal do PT. É assim que também funciona na “militância digital”: os blogueiros aliados, os “soldados”, recebem anúncios de estatais e outras ajudas. Se o Congresso quer ocupar seu espaço institucional, precisa investigar esta grande zona de sombras, por onde trafega muito dinheiro do contribuinte sem a devida comprovação dos gastos.

Fonte: Editorial - O Globo