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quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Ministros de Lula criam agenda às sextas para voltar para casa de jatinho da FAB - O Estado e S. Paulo

Apuração do ‘Estadão’ mostra que 74 voos da Aeronáutica foram deslocados para ir e voltar dos Estados de origem de cinco ministros nos finais de semana

Ministros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm usado aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) para passar o final de semana em seus redutos eleitorais. 
 É como se coincidentemente quase toda sexta-feira o ministro tivesse agenda de trabalho sempre no mesmo local – sua cidade natal – com volta para Brasília na segunda-feira.

Há casos em que o ministro nem sequer registra agenda de trabalho para justificar viajar de jatinho e não de avião de carreira, o que exigiria embarcar pelo aeroporto como qualquer pessoa, chegar com antecedência, entrar em fila, sentar em poltronas apertadas e enfrentar muitas vezes atrasos das companhias aéreas.

O uso de avião da FAB é regulamentado por um decreto presidencial. O texto prevê uma ordem de prioridade. Primeiro, em casos de emergências médicas. Segundo, quando há razões de segurança. Depois, viagens a serviço. As regras em vigor não permitem solicitar o jato para passar o final de semana em casa. 
O custo dessas viagens aos cofres públicos chega a custar R$ 70 mil. Uma viagem em voo comercial sai em média entre R$ 1 mil e R$ 3 mil, considerando o preço cheio.
 
A Comissão de Ética Pública da Presidência nomeada pela gestão Lula acaba de punir um ministro justamente por entender que ele burlou a regra para ir de aeronave para casa com dinheiro público.  
No caso, contudo, o ministro era do governo Bolsonaro. O colegiado não viu o mesmo problema no uso da aeronave da FAB pelo atual ministro das Comunicações, Juscelino Filho, que foi de FAB para assistir leilões de cavalo, como revelou o Estadão. Nem há análise em curso da conduta dos demais atuais ministros.

O Estadão identificou cinco auxiliares de Lula que fizeram 74 voos em avião da FAB tendo como destino os locais onde moram. Os dados foram levantados pelo jornal com base em registros do Comando da Aeronáutica e cruzados com a agenda oficial das autoridades públicas.

O cientista político André Rosa, do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), observa que a manobra representa um gasto desnecessário de logística e recursos públicos
Um único voo de jatinho chega a custar R$ 70 mil aos cofres públicos. “Imagina os atores públicos da administração pública organizando viagens para buscar um ministro na segunda-feira, em um dia de trabalho, na sua casa?”, afirma.

“Eu vejo isso como uma prática patrimonialista das grandes oligarquias que sempre estiveram presentes no nosso País. Entra governo e sai governo os problemas são os mesmos”, complementa.

Luiz Marinho vai de FAB para São Paulo com a esposa
O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, foi oito finais de semana para São Paulo usando aviões da FAB. 
Em quase todas as ocasiões, embarcou na Base Aérea de Brasília em sextas-feiras e voltou para a capital federal nas segundas. 
As únicas exceções foram quando ele retornou em uma terça-feira após o feriado do Dia Internacional do Trabalhador, que neste ano caiu em uma segunda.

Grande parte das suas agendas foi em São Bernardo do Campo, município em que foi prefeito entre os anos de 2009 e 2016. Na cidade, realizou reuniões com sindicalistas e integrantes do Partido dos Trabalhadores. Em quatro viagens, o ministro teve compromissos oficiais apenas nas sextas, dia da semana em que embarcava para São Paulo. Porém, Marinho “esticou” a sua permanência na capital paulista, retornando para Brasília apenas no início da semana seguinte. Em apenas uma das oito vezes, o ministro retornou para a capital federal com custos próprios.

Em um documento obtido pelo Estadão via Lei de Acesso à Informação (LAI), o nome de Nilza Aparecida de Oliveira, esposa do Marinho que atua como Secretária-Adjunta da Casa Civil da Presidência, está na lista de passageiros de sete viagens. Seis delas foram de ida e volta com o ministro nos finais de semana para São Paulo, enquanto que uma foi apenas para voltar para Brasília em uma segunda-feira.

Na primeira vez que Marinho foi levado para São Paulo em um fim de semana, ele não tinha agendas oficiais no Estado. Segundo a FAB, o transporte ocorreu para garantir a segurança do ministro. A ida foi no dia 13 de janeiro, uma sexta-feira, e a volta no dia 16, uma segunda. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) alegou que Marinho usa os aviões da FAB de acordo com seus compromissos oficiais.

Haddad também vai às sextas para SP
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, viajou 14 finais de semana em São Paulo em aeronaves da FAB. O petista trabalha da capital paulista nas sextas-feiras e retorna a Brasília geralmente no início da semana.
 
(...) 
 
Mulheres de 5 ministros de Lula são nomeadas para cargos públicos com salário de até R$ 37,5 mil

Nísia e suas visitas ao Rio
Residente no Rio de Janeiro antes de se tornar a ministra da Saúde do governo Lula, Nísia Trindade mantém o costume de passar os finais de semana na capital carioca. Dos 30 finais de semana posteriores à posse presidencial, a ministra requisitou nove vezes aviões da FAB.

Juscelino pega avião sozinho para ir a São Luís

Em três finais de semana, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, foi para São Luís com um avião da FAB. Em duas ocasiões, o ministro foi para a cidade para cumprir compromissos na Superintendência da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) do Maranhão. A Anatel possui prédios administrativos nos 27 Estados, mas Juscelino visitou, desde o início do mandato, apenas a do seu Estado de origem e a de São Paulo, uma única vez.

No outro final de semana que Juscelino foi ao Maranhão pela FAB, ele estava sozinho no avião governamental. A sua agenda era uma cerimônia de posse no Ministério Público do Estado, realizada no dia 28 de abril, e que começou cinco minutos antes do chefe da pasta das Comunicações chegar na Base Aérea de São Luís.

Segundo a assessoria do ministro, o atraso não impediu a participação do ministro em seu compromisso. Perguntada sobre a sua ida solitária no transporte da Força Aérea, a sua equipe informou que é “praxe” que os funcionários do ministério não o acompanhem em todos os percursos aéreos.

(...)

Flávio Dino, sem agenda
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, que foi governador do Maranhão, foi 12 finais de semana para São Luís de jato da FAB. Desse total, ele não teve agenda em 10 ocasiões no Estado, segundo registro de compromissos oficiais divulgados pelo próprio ministério.

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 O Estado de S. Paulo

 

 

sábado, 11 de março de 2023

É permitido roubar - J.R. Guzzo

J. R. Guzzo

Se o ministro das Comunicações faz o que fez e sai de uma audiência com o presidente rindo e dizendo que eles nunca se entenderam tão bem, o que se pode esperar do conjunto da obra? [o óbvio:  a solidariedade entre pares] 

Posse de Juscelino Filho, ministro das Comunicações | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Posse de Juscelino Filho, ministro das Comunicações | Foto: Ricardo Stuckert/PR  
 
O ministro das Comunicações foi pego em flagrante num dos vícios mais infames a que gente como ele costuma se entregar quando ganha um cargo no governo, ou, melhor dizendo, em governos que não têm sistemas mínimos de controle moral: 
- usou um jato da FAB, com o combustível e demais despesas pagas integralmente por você, para ir a uma exposição de cavalos de raça em São Paulo. É um desaforo grosseiro. 
É também um xeque-mate: não há dúvida nenhuma de que ele fez a viagem, e que viajou num avião da Aeronáutica. 
Não importa que tenha, num tempo qualquer que os cavalos lhe deixaram, mantido umas conversas com diretores de empresas de telecomunicação. E daí? Se tinha mesmo alguma questão de trabalho para tratar, por que não tomou um avião de carreira, por uma fração do preço que custou o jato da FAB? 
O Brasil, segundo o presidente Lula, tem “33 milhões” de pessoas “passando fome” (ou “120 milhões”, segundo sua ministra do Meio Ambiente) e precisaria de cada tostão que tem no cofre para salvar essa multidão de pobres-coitados — mesmo porque diz que não tem dinheiro, e está socando imposto em tudo o que lhe passa pela frente para fazer caixa. Como, então, o ministro sai por aí gastando dinheiro dos mortos-de-fome oficiais, e sabe lá Deus de quem mais, para ver cavalos puro-sangue?

Pois bem: e o que aconteceu com o ministro? Não aconteceu nada, e é aí, bem aí, que está o ovo da cobra: o homem teve um encontro “altamente positivo” com o presidente Lula, explicou a ele as “acusações infundadas” e continua belo e formoso no seu emprego

O ministro, para juntar insulto à injúria, ainda recebeu diárias do Erário para ter um dinheirinho no seu passeio. Desculpou-se dizendo que “o sistema gerou as diárias” — ou seja, o dinheiro apareceu no seu bolso, mas a culpa é do computador. 
Sim, ele disse que devolveu as diárias — mas, então, por que recebeu? Quanto ao resto, o ministro simplesmente não tem desculpa nenhuma, pois são fatos em estado puro; nem o Arcanjo Gabriel conseguiria explicar uma delinquência dessas. 
Também não há explicações para o uso de dinheiro público no asfaltamento da estrada que passa na frente de uma das fazendas de sua família no Maranhão. 
 
Nem para a ideia de ter mandado chips para os índios ianomâmis, ora envolvidos numa crise sanitária aguda, lá no meio do mato — algo tão útil como despachar um saco de gelo para o Polo Norte
Nem, enfim, para seu envolvimento com a nomeação de um funcionário fantasma para os Correios — um cidadão chamado Gaspar, acredite se quiser. Pois bem: e o que aconteceu com o ministro? Não aconteceu nada, e é aí, bem aí, que está o ovo da cobra: o homem teve um encontro “altamente positivo” com o presidente Lula, explicou a ele as “acusações infundadas” e continua belo e formoso no seu emprego.  
Se um negócio desses não dá demissão, o que poderia dar? 
Não há nenhuma razão, é claro, para que ele não faça o mesmo, ou pior, daqui a três dias. A coisa promete.

Passa pela cabeça de alguém que a atual justiça brasileira ou o Supremo Tribunal Federal venham a incomodar qualquer figura do governo Lula por prática de corrupção? [incomodar?quem  é louco? ser preso pela prática de ato antidemocrático? a tática de intimidar possíveis acusadores funcionou e todos temem ser presos.]

O recado de Lula ao ministro é muito claro: “Fica frio. Não vai acontecer nada com você; não vai acontecer nada com ninguém, no meu governo. Pode continuar tocando a sua vida, do seu jeito, de boa. Vão ficar saindo umas notícias aí, mas é tudo bobagem. Daqui a pouco esquecem do seu caso e a coisa volta ao normal. Vai em frente”.  

Se o ministro das Comunicações faz o que fez, continua no emprego e sai de uma audiência com o presidente rindo e dizendo que eles nunca se entenderam tão bem, o que se pode esperar do conjunto da obra? 
A experiência sugere que não se pode esperar nada de bom, ou sequer de razoável.  
Daqui a pouco um outro peixe gordo do governo faz a mesma coisa, e o resultado vai ser o mesmo. 
A ministra do Turismo, por exemplo, tem pelo menos cinco milicianos do Rio de Janeiro na sua intimidade e está metida numa história de gráfica fantasma, mas não larga o osso de jeito nenhum — e Lula não diz para largar. 
Na verdade, está acontecendo o exato contrário do que o presidente anunciou na sua primeira reunião com os ministros. 

Ele disse, ali, que o menor erro de conduta seria castigado na hora; o ministro, ou um outro alto comissário qualquer, flagrado em alguma lambança, seria “gentilmente convidado a sair”. Foi apenas uma palhaçada a mais. Qual a moral de Lula para punir alguém — ele que foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ficou 20 meses na cadeia e só está solto porque foi salvo pela maior aberração jurídica já praticada na história do país? Mais que isso, ou muito mais que isso: passa pela cabeça de alguém que a atual justiça brasileira ou o Supremo Tribunal Federal venham a incomodar qualquer figura do governo Lula por prática de corrupção?  

É uma impossibilidade; não vai acontecer, e todo mundo sabe disso. Os donos do governo têm carta branca do STF para fazerem o que bem entendem, sem qualquer risco de serem processados por alguma coisa algum diae, se por acaso forem, o punido vai ser o juiz.

O fato é que está dando certo para Lula, o PT e a esquerda. Eles sabem que o Brasil de hoje tem dois tipos de lei — um para quem está no governo e um para quem está fora.  
Quem está fora não pode se manifestar na rua, é proibido de divulgar fake news e está sujeito a ser indiciado no inquérito criminal perpétuo do STF sobre “atos antidemocráticos”; se invadir o Palácio do Planalto com bandeira do Brasil e vestindo verde-amarelo, é acusado de “terrorismo”. Quem está dentro pode tomar jato da FAB para ver exposição de cavalo, nomear a mulher para Tribunal de Contas ou mentir, como faz todos os dias o presidente da República, até para dizer que horas são; se invadir com arma na mão uma propriedade rural, destruir o que encontra dentro e agredir com selvageria quem se opõe, é chamado a “negociar” com a justiça, em vez de responder por terrorismo. 
É claro que o cardume de piranhas que foi para o governo aproveita ao máximo que pode a vantagem de ter uma lei só para ele — mais a proteção declarada dos tribunais superiores e do STF. 
 
Por que não aproveitaria? É um arrastão como nunca se viu antes na história deste país. 
Alguém já ouviu falar de algum país minimamente sério do mundo que tenha nada menos que 12 ministros (de um total de 37) respondendo ao mesmo tempo a processos na justiça? 
Pense um pouco no número: não dois ou três, mas 12, de uma vez só. Não conseguiram, num país com 215 milhões de habitantes, encontrar 37 pessoas limpas para o Ministério? 
É melhor nem falar do segundo escalão — ali, o céu é o limite. 
Coisa assim só mesmo nessas ditaduras primitivas que tanto fascinam o presidente Lula — da Venezuela à Nicarágua, é amigo íntimo de todas.
Falam e falam, nesta história miserável do ministro das Comunicações e seus cavalos, de não criar briga com a gangue partidária à que ele está filiado e que dá apoio ao governo. 
O problema seria a necessidade de vida e morte, para Lula, de evitar uma CPI, simples ou mista, sobre as depredações do dia 8 de janeiro em Brasília. 
É um mistério mais escuro que a tumba do faraó: por que raios o governo, que se apresenta como a vítima número 1 dos atos de vandalismo, se nega, desse jeito desesperado, a investigar o que aconteceu? 
Seja como for, o ministro está liberado para novas aventuras; e as CPIs, por mais que o governo queira distância delas, não vão mudar o fato central em tudo isso. É um fato bem simples: Lula e o PT fazem parte e estão sob a proteção integral do partido político mais poderoso que o Brasil já teve em seus 523 anos de história — o consórcio nacional cujo objetivo estratégico é eliminar qualquer possibilidade real de se combater a corrupção neste país. 

Viram com a Operação Lava Jato, anos atrás, o que é uma sociedade onde os poderosos têm de responder por seus atos perante a lei; viram, detestaram e decidiram não permitir nunca mais que essa situação se repita. 

São políticos da esquerda, da direita e do centro, empreiteiros de obras públicas, ministros dos tribunais superiores de justiça, a mídia em geral, empresários piratas, assaltantes do Erário, parasitas da máquina estatal, bilionários que dão golpes contábeis na praça e arruínam seus acionistas etc. etc. etc. Lula é o seu herói. Estão a seu favor em tudo — até quando aumenta o preço da gasolina para socar em cima do consumidor impostos que haviam sido cortados. 

É claro que acham o ministro das Comunicações um bom moço. É claro que só batem palma.

Está assim, com dois meses. Onde vai estar mais à frente?

Leia também “Uma proposta safada”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste

 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

O terrorismo e a certeza do imprevisto - Revista Oeste

Paula Schmitt

Governos ampliam definição de “terrorismo” para perseguir opositores políticos 

Manchetes de jornais com o termo "terrorista", em referência aos vândalos que invadiram o Palácio do Planalto, em Brasília | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução
Manchetes de jornais com o termo "terrorista", em referência aos vândalos que invadiram o Palácio do Planalto, em Brasília | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução 
 
De todas as sandices de uma imprensa que já deixou de fazer jornalismo há muito tempo, uma das mais vergonhosas foi a adoção do termo “terrorista” para descrever as mais de mil pessoas detidas em Brasília, no dia 8 de janeiro.  
E, de todos os poucos assuntos sobre os quais eu posso falar com suficiente autoridade, terrorismo é exatamente um deles.
 
Sou a única mulher do mundo a ter entrevistado com exclusividade Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, grupo oficialmente designado como terrorista desde 1997 por vários governos, particularmente o dos Estados Unidos
Eu entrevistei também o outro lado desse desamor mútuo: Shabtai Shavit, ex-chefe do Mossad, por sua vez acusado de “terrorismo de Estado” por vários grupos armados.
Eu também entrevistei para a mesma revista israelense a primeira mulher a sequestrar um avião de carreira, Leila Khaled, membro da Frente Popular de Libertação da Palestina
Cito esses trabalhos para dizer, com toda convicção e conhecimento, que o que aconteceu em Brasília não foi terrorismo, e dizer o contrário é de uma ignorância extrema — ou desonestidade vexaminosa.
Sayyid Hassan Nasrallah, libanês e secretário-geral do partido
 e organização armada xiita Hezbollah | Foto: Wikimedia Commons

O ator, diplomata e escritor Peter Ustinov é autor de uma frase que sintetiza o paradoxo da definição de terrorismo: “Terrorismo é a guerra dos pobres; e a guerra é o terrorismo dos ricos”. Essa questão não é menor, e eu já tive o desprazer de uma briga pública com a Folha por causa dessa e de outras definições, quando um editor do jornal se achou no direito de quebrar nosso acordo e alterar minhas palavras (o Observatório da Imprensa cobriu esta questão na época.) Mas uma definição de terrorismo que nunca vi na vida — nem como piada — é aquela descrita pela destruição de prédios públicos com hora marcada, cometida por uma turba de vândalos.

Para que não reste dúvida: quem destrói patrimônio, público ou privado deve pagar por isso. Depredação é crime, e sempre me manifestei contra ela: desde a derrubada de “estátuas terroristas” (feitas por agitadores se fazendo passar por manifestantes), quanto à depredação de lojas por arruaceiros de aluguel, que em vários lugares dos EUA destruíram o trabalho suado de microempresários negros ao se manifestar contra a “opressão branca,” como mostra essa reportagem da NPR. O que vimos em Brasília, contudo, é uma das coisas mais desprezíveis já cometidas por autoridades em uma democracia: a prisão de inocentes sem qualquer flagrante ou evidência de crime, e um misterioso desinteresse por quem de fato foi pego cometendo atos de vandalismo e depredação.

Cúpula Mundial Contraterrorismo, em Herzelia, setembro de 2013 - 
 Foto: Paula Schmitt
Aqui, neste vídeo, é possível ver uma manifestante filmando o que parece ser um agitador, ou infiltrado, tentando causar um incêndio contra a vontade de quem estava à sua volta. Aqui, aqui, aqui e aqui, vídeos sem edição, feitos no calor do momento, deixam claro que a maioria das pessoas presentes não tinha intenção nenhuma de causar estrago ao patrimônio público. Alguns dos vídeos chegam a mostrar infiltrados sendo perseguidos e capturados pelos manifestantes. 
É possível ouvir alguns reclamando que, se o agitador for entregue à polícia, sua identidade jamais será revelada. Aqui, neste outro vídeo, feito por uma câmera de segurança interna, um homem vestindo uma camiseta com o rosto de Bolsonaro destrói um relógio antigo, inexplicavelmente posando para a câmera e assim garantindo que sua camiseta seja devidamente filmada.

Esse vídeo é especialmente interessante porque o vândalo está usando uma calça caída abaixo da bunda, expondo todo o seu traseiro, algo que nem nos devaneios mais delirantes eu imaginaria ver num protesto de pessoas de direita. 
Essa exposição descomedida, frequentemente vista como uma imitação de rappers ou criminosos, é uma moda inspirada nas prisões norte-americanas. 
Alguns acreditam que isso começou como uma espécie de sinalização de “disponibilidade,” uma comunicação não verbal feita por prisioneiros que se ofereciam para ser sodomizados. A teoria mais aceita, no entanto, parece ser que os uniformes na prisão às vezes são largos demais, e as calças caem porque cintos aumentam a chance de suicídio, e portanto não são distribuídos junto com o uniforme de presidiário.

[a estupidez desse 'murakawa' excede  até a capacidade ignorante do mais estúpido dos esquerdistas; sou flamenguista, odeio o Corinthians e os corintianos, mas pela ótica idiotizada do 'murakawa'  caso vista uma camisa daquele tipo viro corintiano.] 

Parece existir uma certa confusão sobre qual lei enquadraria os crimes cometidos contra o patrimônio público no dia 8 de janeiro. Em casos anteriores similares, ou até mais dramáticos e violentos, ninguém foi preso por terrorismo, e os crimes foram tratados pela imprensa como vandalismo, arruaça, baderna. [CONFIRA casos protagonizados pela esquerda, que  não geraram punições nem mesmo multas -  AQUI, MAIS UM.]

O que vimos em Brasília, contudo, é uma das coisas mais desprezíveis já cometidas por autoridades em uma democracia: a prisão de inocentes sem qualquer flagrante ou evidência de crime, e um misterioso desinteresse por quem de fato foi pego cometendo atos de vandalismo e depredação

A definição de “terrorismo” vem sendo ampliada por governos de vários países, para incluir mais alvos e restringir liberdades individuais. A ideia é englobar atos domésticos, especialmente os de cunho ideológico, porque assim é fácil controlar e perseguir a oposição. 
 Além disso, o selo de “terrorista” ajuda a vender mais jornais do que a pecha de “arruaceiro”
Crianças, a mídia em geral e pessoas menos inteligentes e mais facilmente impressionáveis são alvos fáceis para esse tipo de propaganda. Existe ainda uma outra vantagem: o combate ao terrorismo justifica muita coisa, principalmente coisas injustificáveis.
No livro A Fábrica do Terror, o jornalista investigativo Trevor Aaronson conta como o FBI a força responsável pelo combate ao terrorismo em solo norte-americano — “criou e financiou mais planos terroristas nos EUA do que qualquer outro grupo”. 
Aaronson analisou todos os 508 casos federais de terrorismo nos EUA desde os ataques de 11 de setembro até 2011. Desses casos, 250 envolviam pessoas acusadas apenas de mentir ou violar regras de imigração.
Leila Khaled, em sua casa em Amã. Na parede, o famoso retrato 
dela segurando um fuzil Kalashnikov e, no sofá, uma camiseta 
feita pela Mlabbas exclusivamente para ela | Foto: Paula Schmitt
Outros 150 acusados foram pegos em arapucas policiais que, segundo o autor, foram “totalmente criadas pelo FBI ou um agente infiltrado que encontrou alvos potenciais em homens sem antecedentes criminais, frequentemente com problemas mentais ou em situação econômica desesperadora, e forneceu a eles todo o necessário para cometer o crime: os parceiros, o pagamento em dinheiro, o equipamento, e às vezes até a ideia. De fato, apenas seis das 508 pessoas processadas tinham conexão com o terrorismo ou possuíam armas adquiridas por conta própria, sem a ajuda do FBI”
O detalhe mais chocante e embaraçoso é o seguinte: nenhuma dessas seis pessoas genuinamente culpadas foi pega pelo FBI antes do ataque.
 
O terrorismo, em sua definição mais costumeira e acadêmica, requer uma coisa crucial: que o medo se espalhe. 
Para isso, é necessário que o alvo não seja conhecido de antemão. 
O que aconteceu em Brasília foi o oposto: uma manifestação anunciada, com data e local marcados, e sem uma única vítima
O terrorismo prefere alvos imprevisíveis, com datas inesperadas, porque assim qualquer um pode ser vítima, e portanto todos ficam potencialmente aterrorizados, presos pelo medo.
 
Em 2005, enquanto eu participava de uma conversa entre alunos e o professor Tarif Khalidi, na Universidade Americana de Beirute, onde fazia meu mestrado em ciências políticas, o vidro da janela da sala se estilhaçou. Naquele momento, a menos de 2 quilômetros da universidade, mais de 1 tonelada de explosivos matou o ex-primeiro-ministro Rafic Hariri e outras 22 pessoas. 
Aquilo foi assustador, e certamente amedrontou muita gente por muito tempo. 
Mas nem aquele ataque é um ato de terrorismo, na sua acepção mais exata, e sim um assassinato político. Sim, várias pessoas morreram, mas o alvo era um: Rafic Hariri.

A definição de “terrorismo” vem sendo ampliada por governos de vários países, para incluir mais alvos e restringir liberdades individuais. A ideia é englobar atos domésticos, especialmente os de cunho ideológico, porque assim é fácil controlar e perseguir a oposição. Além disso, o selo de “terrorista” ajuda a vender mais jornais do que a pecha de “arruaceiro”

Outros carros-bombas explodiram nos anos seguintes, mas esses tampouco se enquadram na definição mais estrita de ataque terrorista, porque seus alvos eram específicos. Esses crimes são conhecidos em inglês como “targeted assassinations” ou “assassinatos direcionados.”  
Por certo eles espalharam o terror, e eu mesma tive medo de que algum carro explodisse enquanto eu estivesse passando por algum alvo. 
Essa incerteza sobre o próximo ataque, e a quase certeza de vítimas ocasionais, talvez possa enquadrar esses crimes na classificação de terrorismo.
 Mas o objetivo principal desses ataques não era espalhar o terror, ou obrigar o governo a ceder a alguma demanda política — o objetivo era essencialmente matar inimigos de um certo grupo político ou inimigos de algum governo estrangeiro.
O terrorismo se vale principalmente da incerteza, e da noção de que ninguém está protegido dele. Por isso explosões em restaurantes, igrejas, prédios comerciais são ataques tipicamente terroristas: porque ninguém e todo mundo são alvo. 
A guerra de julho de 2006 entre Israel e Líbano, que eu cobri para o SBT e a Radio France Internationale, também não foi terrorismo, porque até guerra tem regras. 
O truque do terrorismo é convencer a todos que ele não segue regra nenhuma, e assim deixar todas as possibilidades abertas, e o medo devidamente espalhado em todas as dimensões.  
O terrorismo aterroriza o cidadão pela imprevisibilidade, e a certeza de que não importa o que você faz, por onde anda, com quem está: ele sempre vai poder te alcançar tipo um juiz que não cumpre mais a lei, e não tem nenhum limite legal, e assim passa a ser uma ameaça à liberdade de todos, porque todos — e qualquer um — podem ser seus alvos.

Leia também “Brasília, 8 de janeiro de 2023”


Paula Schmitt, jornalista  - Revista Oeste


quarta-feira, 8 de junho de 2016

Depois de ter voo da FAB negado, Dilma viaja com jatinho pago pelo PT



Casa Civil limitou deslocamentos da presidente afastada na última semana
Após a negativa do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ao pedido da presidente afastada Dilma Rousseff para usar um avião da Força Aérea Brasileira, ela decidiu que irá fazer o trajeto de Brasília para Campinas em um avião fretado pelo PT. A decisão do GSI foi tomada com base em um parecer da Casa Civil, que na última sexta-feira limitou os voos de Dilma com aviões da FAB para Porto Alegre, onde tem família, e de volta pra Brasília.



O parecer da Casa Civil, que também limitou o número de assessores a que Dilma tem direito e cortou o cartão corporativos de seus auxiliares, foi criticado pelo advogado da petista, José Eduardo Cardozo. Ontem, ele disse que qualquer risco à segurança da presidente afastada seria responsabilidade do presidente interino Michel Temer.  

Dilma cogitou fazer o trajeto até Campinas em avião de carreira.  Ela embarcará na manhã de quinta-feira para visitar as obras de um laboratório acelerador de partículas na cidade paulista.

Fonte: Veja