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sábado, 3 de outubro de 2015

Acabou o escrúpulo. Orientada por Lula, Dilma esquece os miseráveis, esquece o social e tudo, até fazer o diabo, para se manter no cargo

Acabou o escrúpulo

Orientada por Lula, a presidente Dilma rende-se ao mais rasteiro fisiologismo e ao vale tudo político para se manter no cargo. Nada garante, porém, que ela conseguirá

Desde a primeira eleição de Dilma Rousseff, em 2010, ela e o ex-presidente Lula estiveram reunidos dezenas de vezes para debater a conjuntura política. Os dois últimos encontros entre o criador e sua criatura aconteceram na quarta-feira 23 e na quinta-feira 1 no Palácio da Alvorada e foram bem diferentes dos anteriores. Em ambos, Dilma praticamente só ouviu. O tom enfático e as palavras duras proferidas por Lula não autorizaram réplica. Instada pelo petista a promover uma reforma ministerial de modo a contemplar todas as alas do PMDB e a promover à coordenação-geral do governo um lulista de carteirinha, o ministro Jaques Wagner, a presidente aquiesceu, como se alienasse o governo com porteira fechada ao antecessor. Por isso, a reforma ministerial anunciada no final da última semana diz mais sobre Lula do que Dilma. 
ELES RIEM DO QUÊ?
Desde 2010, Lula e Dilma nunca estiveram tão próximos como agora.
Reforma ministerial evidenciou que o ex-presidente voltou a mandar no governo
Ninguém resiste a associação: Benito Mussolini e Clara Petacci 
 
Mas as mudanças na Esplanada também falam muito sobre a presidente. Fragilizada, a petista virou uma marionete, pois topou fazer o diabo para prosseguir com a única agenda que a consome há pelo menos seis meses: a de “não cair” ou seja, evitar o impeachment a todo e qualquer custo. Às favas qualquer escrúpulo. Não importa – a não ser para a manutenção do poder se para tentar se sustentar no cargo ela tenha de escalar um time de quarta divisão para comandar o seu primeiro escalão. Não importa se para empreender as mudanças no governo ela tenha de tratar com desdém os ministros descartados na reforma. Para abrir espaço no ministério da Saúde a Marcelo Castro (PMDB-PI), um apadrinhado do líder do PMDB na Câmara, o neogovernista Leonardo Picciani, Dilma não se constrangeu em demitir o petista Arthur Chioro por telefone. “É uma grande pancada que os militantes do SUS estão recebendo do governo. A decisão de lotear o cargo para tentar atrair a fidelidade do PMDB no Congresso é ingênua, posto que terá resultado efêmero, e a cada votação se restabelecerá uma nova chantagem”, lamentou o deputado do PT baiano, Jorge Solla. 

Sem a menor hesitação de consciência, a presidente também passou o trator sobre o respeitado filósofo Renato Janine Ribeiro, escolha comemorada havia menos de seis meses como um raro feito de seu segundo mandato. A decisão atendeu ao único propósito de acomodar na Educação Aloizio Mercadante, apeado do cargo de ministro da Casa Civil. Mercadante será o quarto ministro da Educação, área considerada prioritária por Dilma, ao menos no discurso, em apenas dez meses. Ascende à chefia da Casa Civil, Jaques Wagner, aliado de primeira hora de Lula.

Para o próprio PT e parcela dos partidos que ainda permanece aliada a ela, Dilma piorou a qualidade do seu governo apenas para se safar de um processo de impedimento no Congresso. Em setores da esquerda, a mulher que um dia foi admirada pelo passado de luta contra a ditadura e pelo pulso firme com que comandou a Casa Civil, no governo Lula, hoje desperta apenas comiseração. Ao se comportar como fantoche do mentor de sua candidatura, a presidente desconsidera um importante ensinamento do florentino Nicolau Maquiavel. “Nunca se deve deixar prosseguir uma crise para escapar de uma guerra, mesmo porque dela não se foge, apenas se adia para desvantagem própria”. 

Para não encarar a inevitável guerra do impeachment, a ser travada em breve no Congresso, Dilma adota medidas paliativas que podem até lhe conferir uma aparente sobrevida, mas não resolvem a crise. Nem a do País nem a política, ambas fruto de seus próprios erros. Nada garante a Dilma que ela não será abandonada na esquina pelo fisiológico PMDB. Mesmo assim, a chefe do Executivo entregou os anéis, os dedos e as jóias aos peemedebistas, num total de sete ministérios, daqueles com verba, caneta e tinta. Além de nomear Marcelo Castro para a Saúde, a presidente confirmou Celso Pansera na Ciência e Tecnologia, deslocou Helder Barbalho da extinta Pesca para os Portos e manteve Eduardo Braga, nas Minas e Energia, Kátia Abreu, na Agricultura, Eliseu Padilha, na Aviação Civil e Henrique Eduardo Alves, no Turismo.

Um reluzente sinal de que a cúpula do PMDB pode lavar as mãos mais adiante, na hipótese de aprofundamento da crise política, foi a segunda negativa de Michel Temer a Dilma, num período de 15 dias. Na quinta-feira 1, ao ser procurado pela governante para endossar a indicação de alguém com mais lastro político para assumir a Ciência e Tecnologia, no lugar de Aldo Rebelo, transferido para a Defesa, Temer voltou a se recusar a carimbar a nomeação, como já o havia feito na semana anterior. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também tornou a se desvincular da reforma ministerial, embora suas digitais apareçam na nomeação de menos uma pasta. Pansera, novo ministro de Ciência e Tecnologia, é considerado seu aliado de primeira hora.

Numa outra trincheira, um grupo de 22 deputados do PMDBum terço do total da bancada – assinou na quinta-feira 1º um manifesto contra o fato de o partido aceitar ocupar cargos na Esplanada. “Não é possível que ainda tenha espaço para esse esse ‘toma-lá-dá-cá’. Estamos vendo nessa reforma uma tentativa da presidente de diminuir as pressões ao seu mandato”, comentou o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), que capitaneia a iniciativa.

Embora, como se vê, nada assegure a fidelidade do PMDB, o partido, aquinhoado com sete pastas, torna-se majoritário num governo que poderá ser comandado por ele adiante, em caso de impeachment. Já o ex-presidente Lula, não bastasse ter sido o grande mentor das atuais mudanças na Esplanada, passará a contar com três petistas de sua confiança ao lado de Dilma: além de Jaques Wagner, Ricardo Berzoini, que vai assumir a nova Secretaria de Governo, e Edinho Silva (Comunicação Social). Com tanta gente para agradar, a presidente não conseguiu honrar sua promessa, feita em agosto, de eliminar 10 dos 39 ministérios. Cortou apenas oito e, embora tenha reduzido em 10% os salários do ministros, o gesto é pouco significativo diante da colossal máquina administrativa que sustenta o governo.


Apesar de ter preservado pastas importantes, o PT ensaia um discurso alternativo que o permita desembarcar de Dilma mais à frente, se for o caso. O problema é que ao fazê-lo os petistas atiram na única bóia de salvação do governo até agora: o ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Documento formulado pela Fundação Perseu Abramo, criada e mantida pelo PT, diz que as iniciativas atuais do governo estão jogando o País em uma recessão e prejudicando os trabalhadores. Ou seja, o texto coloca na conta do necessário ajuste de Levy, ainda em seu início, todas as barbeiragens administrativas cometidas por Dilma no mandato anterior. E pede a volta justamente da política equivocada que levou o País à crise econômica atual da qual provavelmente levaremos anos para nos recuperar, cujo modelo – baseado na elevação do endividamento público, no aumento dos gastos públicos e no dinheiro do subsidiado para um seleto grupo de empresários –, se revelou um fracasso. Para o PT, no entanto, não importa as inconsistências e fragilidades do documento. Vale mais o significado político do gesto – a abertura de uma porta de saída se tudo der errado. Se tiver de abandonar Dilma à frente, o PT adotará o mesmo receituário utilizado agora pelo governo a fim de se salvar do impeachment: às favas os escrúpulos. 

Fonte: Revista IstoÉ