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terça-feira, 2 de maio de 2023

Censura, filha preferida da mentira - Percival Puggina

      Querem que nos habituemos a dobrar a espinha de modo silencioso e a rastejar reverências a nossos algozes. Já deixaram claro a que vêm. Aprendemos na experiência da vida que não desistem de seus objetivos e se valem de todas as tretas e mutretas para alcançá-los. 
Até a chacina de Blumenau serviu para justificar o injustificável, como, por exemplo, a imposição de meios de censura na Internet... 
De outro lado, conservadores e liberais – enquanto podem proclamar que “têm mais o que fazer” – se resignam facilmente aos maus tratos do Estado. Até não terem mais o que fazer porque a rota percorrida termina em inevitável sorvedouro onde tantas nações já se precipitaram.
 
O PL da Censura é a estampa de seus proponentes e defensores: profissionais do ardil, da arrogância, do estatismo, do liberticídio, do autoritarismo e da criação de narrativas. 
É sempre a mentira que necessita impor silêncio à Verdade, sua antagonista natural. 
A Verdade se impõe sempre que lhe permitem contrapor-se à sua predadora natural. Por isso, a censura trata de impor seus motivos. Eles não são razões da razão, nem do bem, nem da justiça, nem da moral.
 
Criatura da invencionice legislativa do ano de 2020, o projeto ganhou vida assim que o desastre eleitoral de 2022 chegou ao clímax do dia 1º de janeiro deste ano. Já então, a experiência dos meses anteriores mostrava onde se travaria a luta política e evidenciou o quanto era conveniente inibir o protagonismo da sociedade em questões políticas. Para os donos do Brasil, cidadão, eleitor, é sujeito que aperta silencioso e discreto o teclado da urna. O resto é para os profissionais.

E o mal parido projeto ganhou força, tornou-se urgente. Urgentíssimo. Os novos senhores do Brasil entendem que opinião é regalia de quem pode. O povo, fala no teclado da urna, a cada quatro anos. A partir daí, o silêncio é seu melhor e mais prudente conselheiro.

Nestas últimas horas do dia 1º de maio, escrevo sem saber por quanto tempo isso será tolerado. Penso, então, nos omissos de outubro do ano passado. Agiram naquela eleição como se não estivessem embarcados no navio que se precipitava para o sorvedouro.  
Fico me interrogando se, agora, a realidade ainda lhes chega. 
Haverá alguma janela, naquele universo paralelo desde o qual as decisões eleitorais do ano passado não lhes impuseram qualquer responsabilidade moral ou cívica?

Na história dos povos, a censura foi, sempre, exigência da mentira, ou da mistificação, ou de males ainda maiores. Por isso, quando a madrugada se aproxima, ergo o pensamento para Jesus – Ele mesmo Caminho, Verdade e Vida rogando que vele pela nação brasileira e não se instale, aqui, o primado da mentira, eterna predadora da Verdade.  

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

domingo, 23 de outubro de 2022

STF e TSE destroem honestidade da eleição e impõem censura demente - O Estado de S. Paulo

O STF e a sua polícia eleitoral, o TSE, destruíram a honestidade da eleição presidencial

 O Supremo Tribunal Federal e a sua polícia eleitoral, o TSE, destruíram por completo a honestidade da eleição presidencial a ser decidida no dia 30 de outubro;  
- estão favorecendo, agora de forma aberta, um dos candidatos, o ex-presidente Lula. Para isso, violaram as leis brasileiras, expropriaram o horário de propaganda eleitoral para entregar ao seu escolhido o tempo que cabe legalmente ao adversário e, pior do que tudo, deram a si próprios poderes de censor que são absolutamente proibidos pela Constituição Federala eles ou a qualquer autoridade do Brasil. 
É o ataque mais ruinoso à democracia que o País já sofreu desde a proclamação do AI-5, em 1968.  
Mais: a censura que impuseram à imprensa, e a todos os 215 milhões de cidadãos brasileiros, não tem precedentes, nem nos piores momentos da ditadura, em matéria de brutalidade, arrogância e estupidez.
 
 O TSE, sem o mínimo fiapo de lei que lhe permita fazer isso, saiu de suas funções legais como fiscal das regras do horário eleitoral e passou a mandar em tudo – agora dá ordens, 24 horas por dia e a respeito de qualquer assunto, à imprensa, aos jornalistas e, no fim das contas, a qualquer brasileiro que queira abrir a boca para dizer alguma coisa contra Lula, nas redes sociais ou onde for. 
É proibido dizer, por exemplo, que ele foi condenado pela Justiça por corrupção passiva e lavagem de dinheiroou que nunca foi absolvido de nada. [conclusão apresentada com todas as letras pelo ex-ministro do STF, decano da corte, Marco Aurélio.]  
Pior ainda, os ministros criaram a censura prévia – uma violação rasteira do princípio segundo o qual só se pode punir um erro depois que ele foi cometido. 
 
O resultado é que se chegou neste fim de campanha à seguinte demência: os jornalistas estão proibidos de dizer o que ainda não disseram. 
 É isso mesmo: “até o dia 31 de outubro”, há profissionais e órgãos de imprensa que não podem escrever ou falar. 
O TSE não está punindo uma “notícia falsa”, ou algum crime de calúnia, de difamação ou de injúria; 
ao suprimir previamente o direito de palavra, está punindo delitos que não foram praticados.  
Em que lugar da Constituição se permite uma coisa dessas?
 
A dupla STF-TSE não está ferindo direitos de jornalistas ou veículos; está eliminando o direito que a população tem de ser informada.  
Nem se importa, aliás, em esconder isso. Uma ministra declarou em voto aberto que qualquer censura é “inadmissível” – mas que, em caráter “excepcional”, ela estava se negando a cumprir a lei. “Excepcional?” O que pode haver de excepcional, ou de perigoso, numa eleição democrática que, segundo os próprios STF e TSE, tem sistemas de votação e de apuração perfeitos – a possibilidade de que o adversário ganhe? É isso que estão dizendo.
 
[convenhamos que a ministra não demonstrou empolgação em restabelecer, no caso em votação, a censura. Mas, também não votou contra nem se absteve = concordou, com a censura prévia.]  
 
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo 
 

 

sábado, 8 de outubro de 2022

Ditadura em construção - J. R. Guzzo

Revista Oeste
 
O último surto de violência do STF-TSE foi rasgar da forma mais primitiva que se possa imaginar a Constituição: censuraram, sem o mínimo apoio em qualquer tipo de lei, o diário Gazeta do Povo
 
O Brasil caminha para o segundo turno das eleições, aquele que vai decidir quem será o presidente do país nos próximos quatro anos, sob o controle de uma ditadura. 
É algo inédito na história nacional — uma ditadura exercida não por um ditador com o apoio do Exército, mas pelo Supremo Tribunal Federal, o TSE, sua principal ferramenta nesta eleição, e os fungos que se espalham à sua volta nos palácios de paxá onde se hospedam os “tribunais superiores” de Brasília.
 
 
 O jornal <i> Gazeta do Povo </i> também foi vítima da censura do TSE | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução
 
O jornal Gazeta do Povo também foi vítima da censura do TSE | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução 

 O fato de não ter existido uma coisa dessas até agora, naturalmente, não muda em nada sua essência de tumor maligno; é ditadura nova, mas destrói a democracia como qualquer ditadura velha. 
STF e TSE fazem hoje o que bem entendem com o cidadão brasileiro, sem controle de ninguém — e isso inclui acima de tudo, neste momento, colocar Lula de novo na presidência da República. Está valendo qualquer coisa, aí. 
Os atuais proprietários da cúpula do Poder Judiciário decidiram que Lula tem de ser declarado vencedor da eleição do dia 30 de outubro, de qualquer jeito. 
É a única conclusão que aceitam para as atividades de militância política que têm exercido nos últimos anos. Os ministros e as forças que giram em volta deles, na verdade, vêm dando o seu golpe de estado desde 2018 — quando decidiram não aceitar a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais e passaram a destruir as leis para expulsar o seu inimigo da política brasileira. Chegaram, agora, ao momento decisivo do seu projeto.
O ditador Daniel Ortega e Lula | Foto: Reprodução
O último surto de violência da ditadura STF-TSE foi rasgar da forma mais primitiva que se possa imaginar a Constituição Federal do Brasil: censuraram, sem a mínima tentativa de disfarçar o que estavam fazendo, e sem o mínimo apoio em qualquer tipo de lei, o diário Gazeta do Povo, que circula há mais de 100 anos e comete o crime, hoje, de ser um veículo independente, afastado da esquerda, do “consórcio nacional de veículos” e dos seus sonhos de impor ao Brasil a imprensa de um jornal só. A Gazeta publicou no Twitter, como haviam feito outras postagens, notícias sobre a expulsão da rede CNN da Nicarágua, e registrou as maciças ações de repressão feitas pela ditadura local contra a religião e os religiosos. Lula não gostou: vive há anos uma paixão tórrida com o ditador Daniel Ortega, e ficou com medo de que a tirania do companheiro pudesse lhe tirar algum voto no segundo turno, este mesmo que ele diz que já ganhou. 
Não gostou e correu ao TSE para pedir censura contra a Gazeta do Povo — alguém poderia achar que ele, sendo um admirador tão declarado do ditador, seja também um admirador dos atos da sua ditadura. 
Foi atendido na hora, é claro, como em tudo o que exige dos ministros do alto judiciário. Tem sido assim desde o primeiro dia da campanha eleitoral; Lula manda, o TSE obedece. Vai ser assim até o último. Isso é democracia ou é ditadura?

Uma coisa é certa: depois que começa um processo de destruição das liberdades, as tiranias nunca devolvem o que tiraram

É da essência das ditaduras fazer coisas exatamente como essa; ao mesmo tempo em que agridem grosseiramente as leis, colocam de pé, peça por peça, um absurdo em estado puro: proibiram a Gazeta do Povo de divulgar fatos absolutamente públicos, no mundo inteiro, e já apresentados em toda a mídia mundial.  
Como transformar em coisa secreta algo que milhões de pessoas já estão sabendo? É como Dilma com a sua pasta de dente — depois que saiu do tubo, não há como pôr de novo para dentro. 
Nada mais natural, nesta mesma falsificação desesperada das realidades, do que o delírio judicial de negar o encanto mútuo Lula-Ortega.  
O ministro que obedeceu à ordem de Lula, neste caso da Nicarágua, sustentou que a publicação das informações e opiniões censuradas podia dar a impressão — imaginem só, “dar a impressão” que Lula apoiaria o ditador; isso seria “inverídico”. Como assim — “inverídico”?  
Há vídeos gravados com os elogios de Lula a Ortega. 
O PT soltou, até mesmo, uma nota oficial de apoio ao tirano e à sua tirania. O que mais o TSE e os seus ministros querem? 
O fato é que Lula dá as ordens, com uma arrogância que o regime militar nunca chegou a ter, e o TSE obedece — o resto é pura invenção.

É preciso um esforço sobrenatural para se ter confiança na limpeza de uma eleição feita desse jeitoe, de qualquer modo, como se podem esperar eleições democráticas numa ditadura? 
O STF, a esquerda e o vasto consórcio que vai da mídia aos empreiteiros de obras e aos banqueiros socialistas montaram um embuste para retomar o poder que haviam perdido. 
Começaram, desde a eleição de 2018, a dizer que Bolsonaro iria “destruir a democracia”; para salvar o Brasil deste horror, então, os ministros do STF passaram a violar de forma sistemática as leis, para perseguir o governo e seus adeptos, e a dar cada vez mais poderes a si próprios. Disso resultou a ditadura que temos hoje aí. Ainda não tem tudo aquilo que uma ditadura precisa, como nas Nicaráguas e Cubas que as supremas cortes colocaram sob sua proteção por determinação de Lula. Mas uma coisa é certa: depois que começa um processo de destruição das liberdades, as tiranias nunca devolvem o que tiraram — ao contrário, vão tirando cada vez mais. 
 
Lula, mesmo sem ter o seu precioso “controle social sobre os meios de comunicação”, já pratica a censura agora; proíbe notícias sobre a Nicarágua e é obedecido no ato. 
E depois que for presidente — por acaso vai de parar de censurar? 
Vai ouvir democraticamente as críticas e as informações que o desagradam? 
E os seus parceiros dos tribunais superiores? 
Eles violam a lei e a Constituição agora. Vão parar de fazer isso depois do dia 30 de outubro? 
Todos aí — Lula, STF e quem mais está do seu lado — se convenceram, da maneira mais conveniente para eles todos, que para salvar a democracia é preciso destruir a democracia todos os dias
É uma fraude, mas está dando certo — parar por que, então?
A ditadura pode não estar completa, mas já tem o seu currículo de obras. Fazem censura, como no caso da Gazeta do Povo. Pressionam, exatamente pelos mesmos motivos, o programa Os Pingos nos Is, da Rádio Jovem Pan
Mandam a polícia às 6 horas da manhã invadir residências e escritórios de cidadãos cujo delito foi conversar entre si num grupo particular de WhatsApp. 
“Desmonetizam” quem apoia o governo nas redes sociais, ou fala mal do complexo Lula-PT. Prendem pessoas que não têm ninguém a quem recorrer — só ao próprio STF, o que transforma os seus direitos numa piada. 
Bloqueiam contas no banco para punir gente de “direita” — ser de “direita” passou, na prática do STF, a configurar infração penal.  
Prendeu durante nove meses um deputado federal em pleno exercício do mandato — por delito de opinião, o que é proibido de forma absoluta na lei, sem que ele tivesse cometido crime inafiançável e sem que fosse preso em flagrante na prática deste crime. 
 
Foi um triplo zero em matéria de legalidade. A ditadura do judiciário, a propósito, ignora até hoje o perdão legal que o deputado recebeu do presidente da Repúblicaproibiu a sua candidatura nessas eleições, é claro, e o impede de exercer os seus direitos de cidadão. Por que não poderia acontecer de novo, no minuto que Alexandre Moraes ou outro resolva? 
Ele tem a polícia debaixo das suas ordens diretas; num país em que as forças armadas têm armas, mas não têm autoridade para fazer nada, é mais do que suficiente para qualquer violência.

No Brasil fica na cadeia quem os ministros STF querem, e por quanto tempo quiserem

Fala-se muito, desde o dia da eleição, em crescimento do número de adeptos do presidente Bolsonaro no Senado — e a ”nova situação” que isso poderia trazer para o STF. 
Mas o que vale na vida real o mandato de um senador, ou de qualquer parlamentar eleito pela população brasileira? Não vale nada. 
 Alexandre Moraes, ou algum barroso, fachin, etc. que anda por aí pode mandar a Polícia Federal prender qualquer senador, e na hora que lhe der na telha. A PF vai obedecer hoje ela não cumpre mais as leis do país, cumpre apenas as ordens de Moraes, como numa capatazia de senzala
O presidente do Senado vai perguntar se o Supremo quer mais alguma coisa; querendo é só pedir, Excelência
O infeliz do senador pode ficar trancado numa cela por quanto tempo o STF quiser — até o resto da vida, em tese, pois a vítima não poderá recorrer à justiça para fazer valer seus direitos. 
Só pode recorrer a quem ordenou a sua prisão. 
 
Que tal? É verdade que prisão de senador é coisa que não aconteceu até hoje. Não aconteceu porque não foi preciso.  
O Senado, o único poder da República que pode tomar medidas para deter o STF, vive de quatro diante dos ministros, que julgam as causas dos escritórios de advocacia ligados aos senadores, sem falar dos enroscos de muitos deles com o Código Penal. Esperar o que disso aí?  
Nem um abaixo-assinado com 3 milhões de assinaturas pedindo o julgamento de ministros do STF por violação das leis foi aceito pelo presidente do Senado: o que mais seria preciso, para mostrar a vontade da população nesse caso? 
Quem decide se os pedidos são examinados ou não é o presidente do Senado, e o cidadão que está atualmente nesta cadeira é possivelmente o senador mais obediente do mundo
trata os membros do STF não como pares de um outro poder, mas como senhores a quem deve vassalagem. 
Ele é um beneficiário direto da ditadura do Judiciário. Por que iria mudar?[Foi quando lembraram de Pacheco e seu “imenso  talento”: não criar problemas para ninguém. CONFIRA]
O centro da infecção está intacto, e, como em geral acontece nestes casos, a infecção se espalha pelo organismo todo; é difícil haver ditadura de um lado e democracia de outro. 
O ex-presidente de um partido político de direita, para acrescentar um último exemplo, está preso, em prisão domiciliar. 
Não existe a mais remota indicação de que possa sair de lá um dia, porque Moraes não quer que ele saia, os outros ministros vão atrás, e acabou a conversa. 
Em democracia de verdade cadeia é só para quem está condenado legalmente ou aguardando o julgamento, que tem de ser feito dentro de prazos fixados em lei; no Brasil fica na cadeia quem os ministros STF querem, e por quanto tempo quiserem. Dizem que “não é assim”. Mentira; é exatamente assim. 
Também dizem que estão salvando a democracia com censura à imprensa, polícia na casa das pessoas às 6 da manhã e a autoridade eleitoral posta a serviço de um dos candidatos. 
É golpe, apenas isso — um golpe que está a caminho de sua conclusão.

Leia também “À sombra da corrupção sem limites”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Soberbos e Ingratos - Valdemar Munaro

Bicados pelo fascínio do poder, togados, governantes, homens que adquirem algum destaque, alguma função ou título, num relâmpago assumem postura curvada à mãe de todos os vícios: a soberba. Embriagados e cambaleantes, ridiculamente vaidosos, enfeitiçados pelas cimas em que se julgam estar, esses 'iluminados' olham com desdém, os que estão na 'planície', de quem sugam sustento e benesses. 
Esse modo de agir e de ser, reflete um esquecimento proposital da própria finitude e miséria, inchados de vanglórias demoníacas típicas de amnesiados e arrogantes.

Na roda natural das coisas humanas, dizia Antônio Vieira, "descobriu a sabedoria de Salomão dois espelhos recíprocos, que podemos chamar do tempo, em que se vê facilmente o que foi e o que há de ser... Que é o que foi? Aquilo mesmo que há de ser. Que é o que há de ser? Aquilo mesmo que foi. Ponde estes dois espelhos um defronte do outro, e assim como os raios do Ocaso ferem o Oriente, e os do Oriente o Ocaso; assim, por reverberação natural e recíproca, achareis que no espelho do passado se vê o que há de ser, e no do futuro o que foi. Se quereis ver o futuro, lede as histórias, e olhai para o passado: se quereis ver o passado, lede as profecias, e olhai para o futuro. E quem quiser ver o presente para onde há de olhar? Não o disse Salomão, mas eu o direi. Digo que olhe juntamente para um e para outro espelho. Olhai para o passado e para o futuro, e vereis o presente. A razão ou consequência é manifesta. Se no passado se vê o futuro, e no futuro se vê o passado, segue-se que no passado e no futuro se vê o presente, porque o presente é o futuro do passado e o mesmo presente é o passado do futuro... Roma, o que foste, isso hás de ser; e o que foste e o que há de ser, isso és. Vê-te bem nestes dois espelhos do tempo, e conhecer-te-ás. E se a verdade deste desengano tem lugar nas pedras, quanto mais nos homens! No passado foste pó? No futuro hás de ser pó? Logo no presente és pó: Pulvis es" (Do Sermão da Sexagésima).

Ora, se o que éramos, somos e seremos é essencialmente pulvis (pó), como diz a Escritura citada por Vieira, o pouco ou o muito de nosso ser e de nossas realizações, já é de grande monta. 
Nua e miserável começou nossa existência, nua e miserável terminará. 
Há uma condição patente de contingência que nos acompanha e ela nos convida à constante e visceral gratidão. 
Surpresos e gratos deveríamos ficar pelas riquezas conquistadas mais que pelas pobrezas lamentadas.

Soberba e ingratidão, porém, constituem vetores do insidioso dinamismo satânico que carcome os ninhos humildes e modestos nos quais nascemos e crescemos, inchados de arrogância e vaidade pelas pequenezes que nos amedrontam. Soberbas incensam ingratidões, ingratidões incensam soberbas. O soberbo é ingrato, o ingrato é soberbo. Reina a soberba onde viceja a ingratidão, viceja a ingratidão onde reina a soberba.

A criação, beijo de Deus no nada, segundo expressão de Sciacca, é mistério envolto na generosidade divina, ato sem 'cabimento' que deu origem e sustentação a tudo. Teorias do big bang e evolucionistas, interconectam-se, porém se enroscam quando tentam forçosamente explicar o inexplicável. 
'Poderia existir o nada e não o mundo', afirma Schelling. 
Ao invés, maravilhosamente, existe o mundo e não o nada.
 
Incabíveis, pois, em nossas misérias, as verdades profundas que sustentam e fundam nossa vida se opõem diametralmente às vaidades e arrogâncias que cultivamos. Tudo o que existe se manifesta aos nossos olhos sob uma luz e uma gênesis de generosidade heteronômica sem tamanho. 
Nada existiria não fosse uma originante gratuidade divina que trouxesse à luz e ao ser tudo o que somos e temos. Inteiramente grátis e de modo incondicional. 
Quem, pois, ingrata e soberbamente poderia reivindicar grandezas e direitos ante tamanha generosidade? 
Qualquer instante e qualquer motivo podem ser propícios à nossa volta ao pó. 
A sã consciência reconhece a própria finitude e a graça de carregá-la. 
Tal estatuto metafísico constitui a raiz de nosso ser; aceitá-lo, o mais fundamental ato de liberdade.
 
Tudo o que somos e/ou podemos ontologicamente ser, portanto, não tem fonte no arbítrio humano.  
Sartre, filósofo francês, por não aceitar essa nua e crua verdade, fez de sua inteira filosofia um rosário de lamentos. 
Queria, em suma, tudo estivesse submetido à livre escolha, inclusive a capacidade de escolher. 
Não sendo artífice nem autor da própria existência, o homem tem liberdade limitada. 
O perfil se ajusta, pois, mais a uma administração do que a um senhorio e/ou uma apropriação.  
No dom, originalmente recebido, mora recôndito mistério que transcende o tempo e a história, o sentido último de tudo o que somos, sofremos e vivemos. 
Se a existência fosse invenção da humanidade, seu fim estaria atrelado às arbitrariedades dela. Mas, felizmente, não está.

Grandes pensadores, sobremaneira Aristóteles e Platão (este na sua obra maior, A República, 369a-370), entendiam que a causa fundamental do nascimento da vida social é justamente a incapacidade individual dos humanos de se bastarem a si mesmos. Carências e necessidades físicas e espirituais nos obrigam a praticarmos amparo e cuidado recíprocos.

Originariamente, pois, a 'polis' significou uma atividade de essência colaborativa, não primordialmente conflitiva, nem contratual (como pensavam os modernos). 
Mesmo acordos cívicos e convencionais estabelecidos entre os homens visando melhor convivência, terminam por ser excrescências, não fundamentos (como pensavam Maquiavel, Hobbes, Rousseau, Hegel, Marx e similares) da sociabilidade.

Nas fontes generosas e misteriosas da criação, contudo, houve (segundo imaginações teologais), um rebuliço. À criadora generosidade divina somou-se inimaginável bem-aventurança de muitos, mas também o empertigamento de outros. Estes últimos transmutaram-se em demônios. A demonização, portanto, não resultou de um destino traçado pelo Criador, mas de um ato imoral de seres empertigados, soberbos e ingratos.

Deus e as criaturas, disse bem Tomás de Aquino, não são iguais. A essência divina subsiste em si mesma, absoluta, a essência das criaturas não consegue nada a partir de si, porque subsiste unicamente por dependência e participação. 
Os demônios, sabiam, portanto, que igualar-se a Deus é coisa impossível; mesmo assim quiseram alterar essa verdade. "Se a natureza angélica, diz S. Agostinho, se voltar para dentro de si e se satisfizer de si mesma mais que Daquele por cuja participação é feliz, inchada de soberba cairá".
 
Assim, o pecado dos demônios não foi o desejo de ser feliz, anseio comum a todas as criaturas, mas o desprezo pela ordem e pela medida estabelecidas por Deus. 
Os demônios se malfadaram não por razões genéticas ou fatalistas, mas por desvio de vontade e desonestidade de inteligência. 
Se a avareza se define como pretensão de se ter mais do que licitamente se tem, a soberba se define como pretensão de se ser mais do que licitamente se é.
 
Desgraçadamente, aqueles desvios originais, se derramaram com cara de empáfia, contagiando a história humana. 
Soberbaços, soberbões e soberbetes atuam, desde então, nas surdinas e nas entranhas da política, da vida social, da economia, do judiciário, da educação, das relações intersubjetivas e até dos recintos religiosos. Destes últimos, tem-se o exemplo de um visitador apostólico que, sobre um convento jansenista, da França do século XVII, escreveu: 'as irmãs do convento de Port Royal são santas e perfeitas como anjos, mas orgulhosas e soberbas como demônios'.
 
Se a soberba se firmou como porta da ingratidão, a ingratidão se firmou como janela da soberba. 
A história repica e replica episódios desse pêndulo. Napoleão Bonaparte, como exemplo, foi grande estrategista, mas sobretudo assaltante e saqueador, símbolo da empáfia francesa. 
Boa parte das obras de arte depositadas, guardadas e expostas nos museus parisienses é fruto de roubo e saque. 
O célebre oficial e imperador sardo espoliou cidades e aldeias inteiras por onde passou saciando seu exército e seu país com riqueza alheia.

Entretanto, a impostura saqueadora de Napoleão pode ser vista também na vida de todos os revolucionários. Nenhum deles é generoso, nem agradecido. Todos são visceralmente espoliadores, saqueadores, soberbos e ingratos. Itália, Grécia, Egito, Prússia, Rússia, entre outros lugares, lembram os roubos napoleônicos

Não fosse verdade, sobra a pergunta: de onde a França tirou aqueles sarcófagos egípcios expostos nas grandes e protegidas salas do Louvre? E todas aquelas esculturas gregas, majestosamente ali conservadas, a começar pela célebre Vitória de Samotrácia plantada nas escadarias do mesmo museu, de onde surgiram? 
Da mesma forma, as pinturas de artistas italianos, como peregrinaram até o solo francês para lá demorarem?
 
Os registros históricos daqueles furtos colhidos dos butins de Bonaparte deveriam fechar a boca do atual e soberbo presidente francês, Emanuel Macron, que, das supernas auréolas morais em que se julga estar, pretende salvar florestas amazônicas
Por que não se manifesta sobre os atuais incêndios florestais que ocorrem em solo europeu? Simples: porque é soberbo e vaidoso
Seu comportamento espelha a empáfia napoleônica que transformou grotescamente, como exemplo, a basílica de S. Francisco, em Assis, em estábulo equino.
Os mesmos vetores demoníacos que levaram Napoleão a ser grande, porém, também o engasgaram pelo inverno russo e pela derrota em Waterloo. O consolo é que demônios também caem e apodrecem
Os habitantes da ilha de Santa Helena que o digam, pois viram com seus olhos o soberbo Bonaparte amargar, velho e doente, sua falsa e grotesca grandeza.

Na França, aliás, nem tudo é bom exemplo. Seu território e sua história registram um escabroso fato de ingratidão e soberba. Refiro-me ao modo como o rei Carlos VII tratou a humilde súdita Joana D'Arc. Nascida a 6 de janeiro de 1412 na região leste da França, Joana era filha de camponeses. Infante, trabalhava na terra e vivia na simplicidade rude e desprotegida da época medieval enquanto seu país envolvia-se num conflito sem fim com a Inglaterra. A 'guerra dos cem anos' havia destronado o rei franco e submetido parte do território ao domínio britânico.

Ao completar 13 anos Joana começou a ouvir vozes que lhe pediam fosse libertar a França do jugo inglês e restaurasse a monarquia. Contrariando o próprio pai, Joana seguiu o chamado daquelas vozes: expôs seu plano ao Delfim, vestiu-se com roupas masculinas, arregimentou soldados, endossou armadura e liderou expedições que libertariam Orleans e outras cidades sitiadas. No curto espaço de tempo em que exerceu a missão, coisa inesperada, derrotou e afugentou o exército inimigo. Em 1429, numa cerimônia realizada na catedral de Reims, restabeleceu a monarquia francesa reconduzindo Carlos VII ao trono.

Apesar do heroísmo e da devoção dedicados à França e ao rei, em 1430, Joana d'Arc foi presa, literalmente vendida e trocada por moeda irrisória, aos ingleses. Estes, entregaram-na a inquisidores (boa parte deles, franceses), mesquinhos, invejosos e perversos. Acusaram-na de heresia e bruxaria e algozes juízes a condenaram ao rogo em 30 de maio de 1431. Suas cinzas martirizadas foram jogadas no rio Sena e desapareceram sem deixar rastro. Não há túmulo dedicado a Joana D'Arc na França. 
A injustiça praticada, porém, gritou aos céus e, não muito depois, em 1456, revendo os fatos, o papa Calixto III a proclamou inocente de todas as acusações. Mais tarde, a Igreja a beatificou e a canonizou.

Santa Joanna d'Arc, talvez a maior heroína da história política francesa, jamais suficientemente reconhecida por aquela sociedade, é retrato da ingratidão dos poderosos. Durante seu martírio e prisão, foi abandonada à própria sorte, despojada e desamparada em tudo, como Jesus na cruz. O rei Carlos VII, libertado e reconduzido ao poder por sua intercessão, não a protegeu, não a agradeceu, não a recompensou. Foi rei soberbo e ingrato. Arrogância e vaidade não dobraram sua vontade à verdade simples, heroica e santa de uma humilde e simples súdita camponesa.

Pouco além-mar, semelhante e clamorosa ingratidão se manifestou na mesquinha e desprezível conduta do rei Henrique VIII, soberbamente elevado ao trono da Inglaterra. O orgulho e a soberba desse rei sufocaram seu mais honrado e fiel servidor: Thomas Morus. Em tudo leal e submisso, Morus só discordou da pretensa e arrogante vontade do monarca de se tornar imperador e soberano em tudo, inclusive da Igreja. 

Tomás Morus, coração nobre, temente a Deus, incorrupto, chanceler único na história da monarquia inglesa, mesmo sem ter cometido crime, nem ofensa ao rei, foi decapitado no dia 6 de julho 1535. A soberba do monarca Henrique VIII vergou o corpo, mas não a alma de Morus. Rei sem piedade, sem remorso, nem agradecimento, nem reconhecimento, aproveitou-se do serviço, da fidelidade e do bem prestados por Morus, sem pestanejar. A soberba não desbloqueou a empáfia e a mesquinhez que macularam para sempre a vida e a obra do fundador do anglicanismo.

Soberba e ingratidão, infelizmente, não estão costuradas apenas nas vestes e na alma desses homens mencionados. Reverberam também em muitíssimos outros personagens e lugares da história. De Stálin, um biógrafo seu puxa-saco, escreveu a mentira: "Stálin nunca permitiu que seu trabalho fosse prejudicado pelo menor sinal de vaidade, presunção ou auto-adulação" (Leonov). Ora, não fosse presunçoso nem vaidoso, não teria praticado a crueldade demoníaca contra os seus contemporâneos. Vale o mesmo para todos os psicopatas que enchem as galerias criminosas: Hitler, Stalin, Lênin, Fidel Castro, o títere casal romeno Ceausescu, o revolucionário iugoslavo Tito, o chinês desalmado, Mao Tse Tung, o sanguinário cambojano, aluno de Sartre, Pol Pot, o lunático ugandês, Idi Amin Dada, o assassino Simón Bolívar, o comunista chileno Salvador Allende, o guerrilheiro argentino Che Guevara, o fanático líbio Kadafi e tantos outros. Arrogância e ingratidão germinam em todo lugar: basta esquecer que não se é Deus.

Também sabemos que o autor mais renomado das loucuras comunistas foi uma amostra de ingratidão e soberba. K. Marx, segundo biógrafos, era arrogante e 'seguro de si' na sua fala e nas suas ideias. Não revisava a própria filosofia nem suas atitudes. Sempre 'tinha razão'. Como Hegel, seu inspirador, quis dobrar a própria realidade a si ao invés de dobrar-se a ela. 
Praticou ingratidão com o próprio pai, com o sogro, com a esposa Jennifer, com a empregada doméstica, com o filho bastardo, com seu maior benfeitor, F. Engels, com os proprietários dos imóveis onde morou sem pagar, e assim por diante.

Os veios civilizacionais arrefecidos de arrogância e presunção adquirem contornos segundo os tempos e modas. Nos séculos recentes, mulheres e homens irreverentes e ressentidos ensinam novas gerações amaldiçoar mais que a bendizer, reivindicar mais que a agradecer, exigir mais que a retribuir, receber mais do que a dar, reclamar mais que a louvar e reconhecer. A existência e o mundo não mais são vistos e acolhidos como invenções da caridade divina, numa expressão de Blondel, mas como patrimônio agrilhoado à forma de usucapião.

Clamoroso exemplo do século XX foi o que ocorreu com membros da influente Escola de Frankfurt, na Alemanha. Todos eles, inglórios marxistas, teriam sido inteiramente mortos pelos nazistas não tivessem deixado aquele país para buscar refúgio em outro lugar. 
Buscaram-no, porém, não na Rússia comunista pela qual nutriam simpatia, mas contraditoriamente na nação à qual dirigiam sua mais contundente crítica cultural. 
Salvos da morte pela sociedade norte americana, receberam dela também trabalho, abrigo e riqueza. No final, retribuíram com bulimia e ingratidão.

Como se vê, muitos casos de fartura, abundância e generosidade fazem indivíduos beneficiados esquecerem suas miserabilidades originais para, inchados de soberba e dinheiro, imitarem demônios. Os intelectuais da Escola de Frankfurt eram tarimbados na 'dialética negativa' que os tornou irreconhecíveis no que diz respeito a gratidão e reconhecimento.

Verifica-se, paradoxalmente, que não só abundâncias, mas também assistencialismos produzem quase sempre efeito reverso. Os benefícios recebidos mesclam-se a novas exigências e reivindicações. Os destinatários de muitas generosidades se tornam em boa medida mais arrogantes, mais soberbos, mais 'bigornados' de ingratidão.

Nos tempos bíblicos era triste e maldita a condição da mulher incapaz de gerar filhos. Invertendo lógicas e valores surrupiados, feministas contemporâneas desprezam úteros que as geraram e amaldiçoam maternidades. 
Quanta distância, Santo Deus, dos sentimentos de gratidão dos lábios de Sara, mãe de Isaac, de Rebeca, mãe de Esaú e Jacó, de Ana, mãe de Samuel, de Maria, mãe de Jesus, mulheres que agradeciam a Deus pelos filhos e pela graça da maternidade!! 
Hoje muitas amaldiçoam úteros e filhos: o que foi graça e bênção virou fardo e maldição, o que foi fardo e maldição virou graça e bênção. Demônios atuais, valha-me Nossa Senhora, não são mais os mesmos: qualificaram-se em perversidade e loucura!! Assistimos, com assiduidade, faroestes de ingratidão e soberba nunca, antes vistos.
 
Raros acadêmicos de universidades públicas expressam gratidão pelo que recebem sem pagar dos que pagam sem receber. 
Juízes soberbos da nossa Suprema Corte, esquecem os pescadores de suas lagostas, os vinicultores de seus vinhos, os agricultores de seus alimentos, os padeiros de seus pães, os transportadores de suas benesses e, principalmente, os pagadores de seus salários. 
Empáfias demoníacas move-os mesmo ante a realidade dissonante de um povo pobre e sofrido, sem regalias como eles têm. 
Tamanha soberba se viu, por exemplo, no convite recente que alguns daqueles juízes receberam de ir a uma audiência no Senado. Para este último, declinaram, mas, para um outro, o de palestrar em Portugal, Inglaterra ou Estados Unidos, aceitaram. [alguns deles foram rejeitados em cidades gaúchas, desconvidados para não comparecerem.] Tais togados, de empáfia duplicada, não promovem a justiça, mas a enterram.

Funcionários públicos, empresários e, sobremaneira, políticos sorrateiros enriquecidos pelas vias de dinheiro público roubado e corroído se postam do lado oposto ao da gratidão. 'Vivem, como diz Shakespeare, um paraíso que os levará ao inferno'. De fato, o rico epulão acabou na Geena não pela riqueza que possuía, mas pela forma desdenhosa e sem misericórdia com que tratou Lázaro.

A ingratidão, sabemos, se encontra incrustada também nas relações entre filhos e pais, empregadores e empregados, professores e alunos, políticos e seus eleitores, doentes e enfermeiros, médicos e pacientes, produtores de lixo e garis, clientes e garçons, passageiros e motoristas, homens e mulheres, gerações presentes e passadas. 
Onde moramos, houve antes quem construiu, onde plantamos, houve antes quem arou, onde colhemos, houve antes quem semeou.

Dolorosamente, porém, há doutrinas que nos ensinam a desprezar o passado, as tradições, o que nossos antepassados edificaram. Entre essas doutrinas, a maior de todas: o marxismo e suas derivadas. Por essa razão e por muitas outras devemos rejeitá-la e combatê-la. Candidatos a cargos públicos, artistas e intelectuais atrelados a ela não merecem nosso respeito, nem nossa consideração, muito menos nosso voto. Soberbos, dizia Dante Alighieri, não reconhecem seus erros, não se arrependem de seus pecados. Cuidemo-nos deles porque seu perfil é o dos demônios.

Empáfias e soberbas agem como ácidos corrosivos da vida moral e espiritual. Devemos, segundo Rubem Braga, cuidar particularmente daquela parcela de ouro que habita o coração. Numa crônica de 1951, o autor lembra o sino de ouro da igreja de Porangatu, no sertão de Goiás. O povoado é pequeno, diz Braga, de gente parada, indolente, pobre, semelhante à pobreza de suas casas.

Mas aqueles habitantes têm um orgulho sem igual: receber, todos os dias, doses de alegria vindas do som daquele sino como se 'cada homem, o mais pobre, o mais doente e humilde, o mais mesquinho e triste, tivesse dentro da alma um pequeno sino de ouro... A povoação é pequena, humilde e mansa, mas louva a Deus com o sino de ouro

Ouro que não serve para perverter, nem o homem nem a mulher, mas para louvar a Deus... Cada um de nós quando criança tem dentro da alma seu sino de ouro que depois, por nossa culpa e miséria e pecado e corrupção, vai virando ferro e chumbo, vai virando pedra e terra, e lama e podridão".

O autor é professor de Filosofia

  Santa Maria, 02/08/2022

 

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Diversionismo petista

Documento de diretório nacional omite falhas eleitorais e enfraquece oposição a Bolsonaro


O diretório nacional do PT se reuniu em Brasília um mês depois da derrota eleitoral de Fernando Haddad para Jair Bolsonaro.

[o PT pode até ser uma excelente oposição - na capacidade de aparecer, não para produzir resultados - quando ela pode ser feita com chavões, clichês, mentiras.
Quando precisa ser fundamentada e apresentar propostas exequíveis o 'perda total' é um fracasso.
E de fracasso em fracasso deve acabar antes das próximas eleições.

No sábado (1º‘), divulgou um documento final do encontro. O balanço de oito páginas é recheado de clichês e bravatas capazes de fazer inveja a panfletos de centros acadêmicos.  O partido transfere a responsabilidade por seu fracasso na disputa presidencial ao que chama de “classes dominantes”, formadas, segundo o petismo, por políticos, setores da mídia, parte do judiciário, e “algumas forças externas”, todos agindo desde o final do segundo turno de 2014, diz a conclusão do diretório.

Em outro trecho, a sigla afirma que, após o impeachment de Dilma Rousseff, a “coalizão golpista não cessou sua caçada judicial contra o PT e o presidente Lula”. “Com a condenação e a prisão injustas dele, setores que dirigem o judiciário trabalharam para legitimar a narrativa da extrema direita: o PT apresentado como uma ‘organização criminosa’”, destaca o comando petista.

O documento diz ainda que a candidatura de Lula foi cassada “ilegalmente” e que foi correta a estratégia de “lutar até o limite” pela manutenção da candidatura do ex-presidente, condenado e preso em Curitiba. “Lula Inocente! Lula Livre!”, termina a resolução aprovada no sábado.  Sugestões internas foram dadas para que esse balanço incluísse autocríticas, inclusive sobre a política econômica do segundo governo Dilma Rousseff, considerada nos bastidores por figuras petistas como peça importante do declínio partidário.

Mas, não. No fim, optou-se por ignorar erros, como insistir em uma candidatura que jamais prosperaria, além de não admitir omissões que levaram a uma corrupção desenfreada nos governos do partido.  Legendas se organizam para uma oposição a Bolsonaro e não querem nem ver por perto o PT, que elegeu a maior bancada da Câmara. Uma oposição forte e coesa é imprescindível para o jogo democrático. A arrogância e o diversionismo dos petistas só favorecem o novo governo.



Folha de S. Paulo

terça-feira, 31 de maio de 2016

Por que Dilma não pode voltar

A presidente Dilma Rousseff parece acreditar que, ao se manifestar sobre seu governo e seu afastamento, angaria simpatia e, assim, afasta a hipótese altamente provável de seu impeachment. Sempre que a petista abre a boca, porém, fica claro para o País que, se seu governo já foi desastroso, seu eventual retorno à Presidência seria um cataclismo, pois a administração seria devolvida a quem se divorciou completamente da realidade. No mundo em que vive, Dilma se confunde com Poliana: não cometeu nenhum erro, não é responsável pela pior crise econômica da história brasileira e só foi afastada em razão de um complô neoliberal operado pelo deputado Eduardo Cunha, e não porque a maioria absoluta dos brasileiros exige seu impeachment.

“Temos que defender o nosso legado”, disse à Folha de S.Paulo a presidente responsável por recessão econômica, desemprego crescente, inflação acima da meta e contração da atividade, do consumo e do investimento, além de um rombo obsceno nas contas públicas. Foi essa herança, maldita em todos os sentidos, que criou o consenso político em torno do qual o Congresso faz avançar o impeachment. Assim, quando fala em seu “legado”, não é à dura realidade que Dilma está se referindo, mas sim à farsa segundo a qual seu governo beneficiou os mais pobres – justamente aqueles que mais sofrem com a crise que ela criou.

Na entrevista, Dilma sugere que seu “legado” é a manutenção de programas sociais, o que estaria sob risco no governo de Michel Temer, instituído como parte de uma conspiração para instalar no Brasil uma “política ultraliberal em economia e conservadora em todo o resto”. A desmontagem da rede de proteção aos mais pobres seria, segundo ela, o objetivo dos “golpistas”. Dilma atribui aos adversários a intenção de fazer o que ela própria já estava realizando na prática: todos os principais programas sociais de seu governo sofreram cortes nos últimos anos, em razão da falta de dinheiro.

Especialista em destruir os fundamentos da economia, Dilma achou-se autorizada a comentar as possíveis medidas do governo Temer para tentar recuperar um pouco da racionalidade econômica que ela abandonou. Dilma disse ser “um absurdo” a possibilidade de que a imposição de um teto para os gastos públicos atinja áreas como educação. Para ela, “abrir mão de investimento nessa área, sob qualquer circunstância, é colocar o Brasil de volta no passado”. Foi esse tipo de pensamento, segundo o qual há gastos que devem ser mantidos “sob qualquer circunstância”, que condenou o Brasil a um déficit público superior a R$ 170 bilhões.
Ainda em seu universo paralelo, Dilma disse que em 2014 ninguém notou que o País já passava por uma crise, embora o descalabro estivesse claro para quem procurou se informar. “Quando é que o pessoal percebeu que tinha uma crise no Brasil, hein? A coisa mais difícil foi descobrir que tinha uma crise no Brasil”, disse ela, desafiando a inteligência alheia de forma grosseira até para seus padrões. Bastaria ler os documentos de análise da economia produzidos regularmente pelo Banco Central para constatar o desastre desde sua formação até o seu fiasco final com o episódio Joaquim Levy. Ela prefere imputar as mazelas da economia em seu governo à desaceleração da China, à queda do preço do petróleo, à seca no Sudeste e a um complô da oposição e de Eduardo Cunha, que, segundo suas palavras, é “a pessoa central do governo Temer. Ou seja: para Dilma, se Cunha por acaso não existisse, ela ainda estaria na Presidência, e a crise, superada.

“A crise econômica é inevitável”, ensinou Dilma na entrevista. “O que não é inevitável é a combinação danosa entre crise econômica e crise política. O que aconteceu comigo? Houve uma combinação da crise econômica com uma ação política deletéria.” Segundo a petista, o Congresso, dominado por forças malignas que tinham a intenção de criar um “ambiente de impasse propício ao impeachment”, sabotou todas as “reformas” que ela queria aprovar. Ou seja, Dilma teima em não reconhecer que o clima hostil que ela enfrentou no Congresso foi resultado de sua incrível incompetência administrativa, potencializada por descomunal inabilidade política e avassaladora arrogância. Prefere denunciar a ação de “inimigos do povo” contra seu governo.

Finalmente, convidada a dizer quais erros acha que cometeu, Dilma respondeu: “Ah, sei lá”.


Fonte: Editorial - O Estado de S. Paulo

terça-feira, 8 de março de 2016

Se entregar Lula pena cai pela metade e com outros benefícios, estará livre em meses



Marcelo Odebrecht pode reduzir pena à metade se entregar Lula - Condenado a 19 anos de prisão, empreiteiro já deveria ter aberto o bico há muito tempo

A mistura de arrogância com teimosia mais cedo ou mais tarde tem seu preço.
Para Marcelo Odebrecht, que se recusa a abrir o bico desde que foi preso há 263 dias, foi mais cedo, graças à agilidade do juiz federal Sérgio Moro. Ele condenou o ex-presidente da maior empreiteira do Brasil a 19 anos e quatro meses de prisão, em regime fechado, pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Moro ainda fixou multa de quase R$ 109 milhões e US$ 35 milhões a Marcelo e quatro executivos condenados ligados à Odebrecht (Márcio Faria, Rogério Araújo, César Ramos Rocha e o companheiro de viagens de Lula, Alexandrino Alencar), além de Renato Duque.
De quebra, o juiz criticou a chicana jurídica dos envolvidos que se comportam “como se fossem vítimas de uma perseguição universal e não de uma ação penal fundada, desde o início, na prova material do pagamento de propinas pelo Grupo Odebrecht aos agentes da Petrobras”.  Segundo Moro, em apenas um dos crimes de corrupção envolvendo Marcelo foram movimentados 46,7 milhões de reais em propina.

É a primeira condenação do empreiteiro no escândalo do petrolãosua pena poderá ser majorada se for condenado nas outras ações a que responde. Marcelo, no entanto, pode passar bem menos tempo na cadeia se fechar o acordo de delação premiada que já negocia.

Conforme a Lei 12.850/2013, em caso de delação firmada depois da sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos – ou seja, acelera a progressão de regime.  É verdade que metade de 19 anos e quatro meses ainda são 9 anos e oito meses, um bocado de tempo para passar atrás das grades.

Mas quem mandou não entregar Lula antes?

Fonte: Felipe Moura Brasil  http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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