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sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Macron, Milei e Maduro frustram plano de Lula para o Mercosul - O Globo

Lula planejou um grand finale para seu mandato como presidente temporário do Mercosul. A ideia era usar o Rio como cenário para o anúncio do sonhado acordo com a União Europeia. Faltou combinar com os russos — ou melhor, com os franceses e os argentinos.

O presidente esperava concluir uma negociação que se arrasta desde 1999. Quando os dois blocos pareciam se aproximar dos finalmentes, surgiram novos obstáculos em Paris e Buenos Aires. Na semana passada, Emmanuel Macron chamou a proposta de “antiquada” e “mal remendada”. Acrescentou que o texto seria “completamente contraditório” com o discurso ambiental do Brasil.

Pode ser uma nova desculpa para o velho protecionismo, mas não há chance de acordo sem o aval da França. Lula reconheceu o impasse ao dizer que não vai “desistir do Macron”.

Com a Argentina, a conversa tende a ser ainda mais complicada. Javier Milei se elegeu com um discurso agressivo [e razões não faltam para sua postura, que é melhor definida como sendo SINCERIDADE.] contra o Mercosul. Chegou a insinuar um rompimento com o bloco, que descreveu como uma união aduaneira em favor de empresários “que não querem competir”.

É improvável que ele leve a ameaça adiante, mas o Planalto sabe que não pode mais contar com boa vontade e espírito colaborativo na Casa Rosada.

Quando Lula já se conformava com o fracasso do acordo comercial, Nicolás Maduro resolveu inventar um conflito na fronteira com Roraima.O presidente da Venezuela informou que pretende anexar dois terços do território da Guiana. Fez um plebiscito fajuto, adulterou as linhas do mapa e nomeou um governador para uma região que pertence ao país vizinho.

A crise irritou o governo brasileiro e ofuscou o que sobrava da cúpula do Mercosul. Ontem, enquanto os presidentes conversavam na Praça Mauá, os Estados Unidos faziam manobras militares no espaço aéreo da Guiana.

A Casa Branca já prometeu “apoio incondicional” à soberania do país, uma forma diplomática de avisar que defenderá as petroleiras americanas contra uma ofensiva de Caracas. 

SABER MAIS, CLIQUE AQUI

Em maio, Lula estendeu o tapete vermelho a Maduro e disse sofrer preconceito por ser “amigo na Venezuela”. Agora talvez perceba que o chavista age como amigo da onça.

 

Bernardo Mello Franco, colunista - O Globo

 

sábado, 11 de março de 2023

O Foro de São Paulo em ação - Revista Oeste

Flávio Gordon

A apoio petista a Ortega e os navios iranianos no Brasil 
 
 
 Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura do evento que deu origem ao Foro de São Paulo, com os membros da direção petista (a partir da esq.): Marco Aurélio Garcia, João Machado, José Dirceu e Luiz Gushiken, em 2 de julho de 1990 | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução/ Canal Contra Mola no YouTube
Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura do evento que deu origem ao Foro de São Paulo, com os membros da direção petista (a partir da esq.): Marco Aurélio Garcia, João Machado, José Dirceu e Luiz Gushiken, em 2 de julho de 1990 | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução/ Canal Contra Mola no YouTube 

Mahmoud Ahmadinejad: — “Precisamos que a Argentina compartilhe conosco sua tecnologia nuclear. Sem a colaboração deles será impossível
avançar em nosso programa.”
Hugo Chávez: — “Farei isso, companheiro.”
Ahmadinejad: — “Não se preocupe com os custos dessa operação.
O Irã respaldará com todo o dinheiro necessário
para convencer os argentinos.”
Chávez: — “Eu me encarregarei pessoalmente disso.”

(Citado em Hugo Chávez, o Espectro: Como o Presidente
Venezuelano Alimentou o Narcotráfico, Financiou o Terrorismo e
Promoveu a Desordem Global
, de Leonardo Coutinho) 

No meu artigo de 13 de janeiro, mostrei como o Foro de São Paulo, comando estratégico do movimento comunista latino-americano, era um elemento fundamental para a compreensão da política externa do primeiro ciclo do regime lulopetista (2003-2016). 
Estava por trás, por exemplo, da recorrente e vultosa transferência de dinheiro público brasileiro tungado do assim chamado “contribuinte” — para ditaduras companheiras, como as de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Relembrei que essa política não era realizada de modo regular e legítimo, como uma relação entre Estados, sujeita ao escrutínio das instituições democráticas, notadamente do Congresso e do Ministério Público. Como admitiu em 2005 o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso comemorativo pelos 15 anos do Foro, tratava-se em vez disso de “uma ação política de companheiros”, conduzida “sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política”. 
  
Naquele meu artigo, sugeri também que, uma vez tendo retomado o poder (“o que é diferente de ganhar uma eleição”, como alertou José Dirceu) em quase todos os países do continente, a entidade continuaria sendo o grande fator explicativo para muito do que Lula e o PT fariam em seu novo ciclo no poder. Dito e feito. 
Nos últimos dias, a sociedade brasileira presenciou dois episódios que, se deveras surpreendentes para os incautos e os maridos traídos, eram até mesmo previsíveis aos que conhecem a história e a natureza do Foro de São Paulo.  
O primeiro episódio é a indecente recusa do governo petista em assinar declaração da ONU condenando a ditadura comunista de Daniel Ortega pelos inúmeros crimes contra a humanidade cometidos na Nicarágua
O segundo, a ancoragem de navios de guerra iranianos no Porto do Rio de Janeiro, uma provocação direta aos EUA (que, por meio da embaixadora norte-americana, Elizabeth Bagley, havia solicitado ao governo brasileiro que não permitisse) e a Israel, país-alvo de reiteradas ameaças genocidas por parte do regime iraniano, que há muito busca aprimorar seu programa nuclear para fins bélicos. 
 
Quanto ao primeiro ponto, convém lembrar que, durante as eleições passadas, mais precisamente no dia 4 de outubro de 2022, o ministro do TSE Paulo de Tarso Sanseverino, atendendo a um pedido da chapa Lula-Alckmin, censurou tuítes e vídeos sobre a relação entre o petista e o ditador sandinista. Em sua decisão, o juiz justificou que as publicações censuradas “transmitem de forma intencional e maliciosa mensagem de que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva é aliado político do ditador da Nicarágua, Daniel Ortega”. 
Graças a isso, parte do eleitorado foi privado de uma informação importante sobre um dos candidatos. 
Uma informação absolutamente verdadeira, ao contrário do que afirmou Sanseverino, que impediu a livre circulação de uma real news e, assim, favoreceu indevidamente o presidenciável petista, cuja campanha foi construída sobre a falsa imagem de defesa da democracia. 

Sim, Luiz Inácio Lula da Silva é um aliado histórico do ditador Daniel Ortega, que com ele e Fidel Castro foi um dos fundadores e membros originais do Foro. Para parafrasear a autoridade eleitoral, esse é um fato sabidamente verídico, e não há despacho judicial capaz de riscá-lo da história. A recusa petista em condenar os crimes do companheiro sandinista apenas o confirma. Quem nunca deixou de reafirmar essa aliança, aliás, tem sido o próprio Lula. Senão vejamos. 

Em agosto de 2007, iniciando seu segundo mandato, Lula fez a primeira visita oficial de um presidente brasileiro à Nicarágua.  
Logo que pôs os pés na base aérea da capital, Manágua, o petista declarou-se emocionado por voltar àquele lugar repleto de significado histórico. “Aqui estive em 19 de julho de 1980, participando do primeiro aniversário da revolução sandinista. Aqui conheci Fidel Castro pela primeira vez. Vivi todo o trabalho que o presidente Daniel Ortega fez naquele momento para consolidar a Nicarágua como país soberano” — disse então o mandatário brasileiro, acrescendo que, depois daquele primeiro encontro, havia se reunido com Ortega outras dezenas de vezes.   
O amigo de Ortega concluiu sua fala na base aérea de Manágua com a promessa de que o Brasil estava disposto a firmar “tantos acordos quantos forem necessários para que possamos contribuir para o crescimento, o desenvolvimento econômico e a justiça social aqui na Nicarágua”. Como parte desses acordos — sempre decididos em “ações políticas de companheiros”, para repetir a confissão de Lula em 2005 —, foi apresentado em 2009 um plano de construção da Usina Hidrelétrica de Tumarin, com custo inicial previsto de US$ 500 milhões (mais tarde atualizado para US$ 1,2 bilhão) e participação do BNDES. O plano fora elaborado pela Eletrobrás e uma empresa afiliada à empreiteira Queiroz Galvão, cujo presidente, Ildefonso Colares Filho, bem como o diretor Othon Zanoide de Moraes Filho viriam a ser presos pela Lava Jato, em agosto de 2016. Meses antes, constatando irregularidades no acordo, o TCU (Tribunal de Contas da União) já havia ordenado a suspensão do repasse de recursos. 

Naquele mesmo ano de 2007, meses depois da visita à Nicarágua, o presidente brasileiro participou do Encontro de Governadores da Frente Norte do Mercosul. Em seu discurso, Lula frisou a importância do Foro de São Paulo na ascensão da esquerda ao poder na América Latina, e destacou, entre outros, o nome de Ortega:  “Nós fizemos uma pequena revolução democrática na América do Sul e na América Latina. Eu, por exemplo, conheci o [Fidel] em um encontro que fizemos em Cuba. Tinha acabado de ser preso, por conta do golpe, e acabado de ser liberado. Conheci o Chávez num encontro do Foro de São Paulo, como conheci também o Daniel Ortega, como conheci tantos companheiros da Argentina, do Chile, do Uruguai, do Paraguai, da Bolívia, do Equador, da Venezuela, da Colômbia. Qual é a mudança que houve nesses 18 anos [desde a fundação do Foro]? Olhem o mapa da América do Sul hoje. O que aconteceu na América do Sul é um fenômeno político que, possivelmente, os sociólogos levarão um tempo para compreender, porque aconteceu tão rápido a mudança que houve, uma mudança extremamente importante”. 

No dia 28 de julho de 2010, Ortega retribuiu a visita a Lula. Em recepção no Itamaraty, o brasileiro chegou a brincar com o amigo nicaraguense que ambos integravam um “eixo do mal” (alusão à expressão com que o presidente norte-americano George W. Bush qualificou a rede de países fomentadores de terrorismo). Relembrando o fato de ter sido o primeiro presidente do Brasil a visitar a Nicarágua, Lula enfatizou a aliança entre os projetos políticos petista e sandinista: “Nossa relação é parte integrante de um eixo latino-americano e caribenho, em franca expansão, que busca modelos de desenvolvimento progressistas, consistentes e sustentáveis. Queremos criar, em paz, oportunidades para todos, e não só para alguns”. 

Em julho de 2017, quem esteve em Manágua foi Gleisi Hoffman, para participar do 23º encontro do Foro de São Paulo. Na sua fala, a presidente petista celebrou a vitória eleitoral de Ortega (já então altamente suspeita, envolta numa série de irregularidades) e agradeceu nominalmente “aos companheiros da Frente Sandinista de Libertação Nacional por auspiciar este encontro”. 

Crimes contra a pátria
No ciclo “eleitoral” seguinte, no qual Ortega prendeu toda a oposição e concorreu sozinho, o Foro emitiu um comunicado repudiando uma resolução da OEA (Organização dos Estados Americanos) que condenava a ditadura de Ortega, e exigindo que a entidade respeitasse a soberania nicaraguense. Publicado em 16 de junho de 2021, dizia o comunicado: “Esta falsa alegação não encontra respaldo no sistema legal nicaraguense, pois as pessoas envolvidas são investigadas por crimes contra a pátria, com base numa lei de outubro de 2020, aprovada por um Poder Legislativo legitimamente eleito, que busca defender a soberania do país contra os avanços de forças extremas e imperialistas”.  

Meses antes, em discurso realizado após o ministro do STF Edson Fachin anular todas as suas condenações na Lava Jato, Lula havia citado nominalmente o Foro em seus agradecimentos:Quero agradecer às pessoas, companheiro Aloizio Mercadante, do Grupo de Puebla. Líderes da América Latina inteira, que foram solidários e confiaram na minha inocência. Quero agradecer ao Foro de São Paulo, que é uma organização da esquerda latino-americana. E quero agradecer a muitos líderes políticos”.  

Meses depois, o PT emitiria uma nota saudando a vitória de Ortega nas “eleições” nicaraguenses daquele ano. Com medo de sua repercussão negativa em um período eleitoral que se aproximava, o partido apagou o documento, e sua presidente, Gleisi Hoffman — a mesma que saudara a vitória do “companheiro” Ortega quatro anos antes —, tuitou alegando que a nota “não havia sido submetida à direção partidária”. Sem se referir em nenhum momento ao conteúdo da nota, e sem, portanto, emitir qualquer juízo sobre as prisões políticas comandadas por Ortega, a petista fez justo o contrário, repetindo o teor do comunicado emitido pelo Foro em junho, contra a resolução da OEA. “A posição PT em relação a qualquer país é a defesa da autodeterminação dos povos, contra interferência externa e respeito à democracia, por parte de governo e oposição”. 

Passados alguns dias, Lula deu uma célebre entrevista ao jornal El País, na qual, segundo o velho “centralismo democrático” leninista, reafirmou a linha partidária e repetiu o jargão da defesa da autodeterminação dos povos. Em seguida, fez a pergunta que espantou até mesmo a jornalista esquerdista do jornal espanhol: “Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não?” — disse o petista, deliberadamente omitindo o fato de que, ao contrário do sandinista, Merkel não havia mandado prender toda a oposição.  

Em outubro de 2022, foi a vez de Ortega parabenizar o “companheiro” e “irmão” Lula pela vitória no primeiro turno do pleito, descrita como “um momento de triunfo para as famílias e o povo do Brasil”. Repetindo Ortega em escala reduzida, o petista não havia conseguido prender toda oposição antes de concorrer, limitando-se a calar boa parte dela por via juristocrática.  

Diante de todo esse histórico, é deveras curioso ver jornalistas como Eliane Cantanhêde dizendo que “o Brasil não pode abandonar as vítimas de Ortega” e que “elas precisam de nós”. Ora, se a preocupação da jornalista é sincera, talvez ela não devesse ter apoiado com tanto afinco, sob o pretexto da defesa da democracia, justo o candidato com essa retrospectiva de amizade e aliança com o ditador nicaraguense. Afinal, assim como não se podem plantar sementes de mamão e esperar colher bananas, também não é possível esperar uma real defesa da democracia de quem se construiu politicamente em associação com notórias ditaduras socialistas, vendo-se como “parte integrante” de um mesmo “eixo latino-americano e caribenho”. 

Quanto ao segundo ponto, a ancoragem dos navios iranianos, eis outro caso preocupante, que nos remete também ao Foro de São Paulo, e sobretudo à maneira como, por meio dele, o então ditador venezuelano Hugo Chávez fez da América Latina um porto seguro para a prática de toda sorte de crimes transnacionais, incluindo o narcotráfico e o terrorismo. Compreende-se perfeitamente o temor dos EUA — que, via senador Ted Cruz, ameaçou sancionar o Brasil — e de Israel. Afinal, não é de hoje a aproximação entre governos socialistas latino-americanos e o regime iraniano. 

Como mostra Leonardo Coutinho no imprescindível Hugo Chávez, o Espectro: Como o Presidente Venezuelano Alimentou o Narcotráfico, Financiou o Terrorismo e Promoveu a Desordem Global, o falecido ditador venezuelano foi o responsável por costurar um acordo clandestino de cooperação nuclear entre a Argentina e o Irã, acordo que acabou tendo como desdobramento o assassinato (“suicídio”, segundo a versão oficial) do promotor argentino Alberto Nisman, que investigava a atuação dos Kirchners para acobertar a participação do governo iraniano no atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 1994. Segundo as diversas fontes e os documentos acessados por Coutinho, o acordo incluía a transferência de tecnologia, informação e material nuclear argentino para o programa iraniano, uma demanda que Mahmoud Ahmadinejad fez diretamente a Hugo Chávez. 

“Enviado aos Estados Unidos, fui apresentado a ex-chavistas exilados que me descreveram em detalhe as relações clandestinas entre esses governos” — escreve Coutinho. “De um deles veio o relato de que Venezuela e Irã se associaram para comprar segredos nucleares da Argentina. O homem era a testemunha ocular de uma conspiração que poderia estar na origem da morte do procurador, que, ao denunciar Cristina Kirchner e seu chanceler, Héctor Timmerman, dava sinais inequívocos de que seu governo havia feito uma inflexão em favor dos autores do atentado contra a Amia. Quanto mais me aprofundava, mais percebia a presença de Chávez em todo o desarranjo global que começava a se desenhar (…) Havia uma relação espúria entre a Casa Rosada e Teerã, e Hugo Chávez oferecia a fachada para despistar o plano que levaria Teerã a concluir seu programa nuclear. Em meio à catarse que o relato causou na Argentina, recebi milhares de páginas até então mantidas sob sigilo pelas autoridades argentinas. Trata-se dos principais arquivos produzidos pela inteligência argentina sobre o caso, a base da investigação de Nisman. Além disso, um backup de milhares de horas de escutas telefônicas monitoradas pela equipe do procurador bem como uma cópia integral do HD de seu notebook pessoal. Um labirinto de dados que, até o presente momento, em que descrevo esse processo, não fui capaz de percorrer completamente. Apesar disso, foi possível encontrar nesses documentos oficiais pistas e provas que permitiram calibrar as investigações e, aos poucos, tornar públicas algumas das relações criminosas identificadas pelos investigadores argentinos. O uso do Brasil como centro logístico para a preparação de atentados e os pontos de contato entre as redes de extremismo islâmico, o narcotráfico e o modo como todos os países da região eram afetados ou utilizados como bases dessas organizações — cada uma dessas novas descobertas demandava uma nova linha de investigação, uma nova série de entrevistas.” 

Os informantes de Coutinho, um grupo de ex-chavistas no exílio, contaram-lhe detalhes sobre o encontro entre Ahmadinejad e Chávez, no qual o primeiro acionou o amigo venezuelano a fim de obter ajuda da Argentina para o desenvolvimento do programa nuclear iraniano. No mesmo encontro, os dois presidentes decidiram criar um banco binacional, e Chávez abriu o sistema financeiro de seu país para que Teerã contornasse as diversas resoluções do Conselho de Segurança da ONU. “Em julho de 2015, um ex-executivo da PDVSA que se juntou ao grupo de exilados disse que dezenas de malas ‘desceram da Venezuela’ rumo ao sul” — escreve Coutinho. “Segundo ele, além das intermediações de pagamentos do Irã para a Argentina, os chavistas patrocinaram campanhas de Evo Morales, na Bolívia, Pepe Mujica, no Uruguai, Fernando Lugo, no Paraguai, e de Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil (…) Os presidentes da Venezuela e do Irã sabiam que não bastava criar um corredor seguro entre os dois países. Para que a operação fosse ainda mais eficiente, o país latino-americano deveria funcionar como um hub, para que os passageiros pudessem alcançar o maior número possível de destinos estratégicos. Para isso, Hugo Chávez deu ordens expressas para que Nicolás Maduro, então ministro das Relações Exteriores, colocasse em prática dentro da chancelaria um plano para que o trânsito de extremistas fosse facilitado.” 

Em face desse histórico de acordos clandestinos envolvendo os membros do Foro de São Paulo e governos pró-terrorismo como o Irã — que incluíram a transferência, via instituições de fachada, de segredos nucleares —, é perturbador imaginar o que pode estar por trás da ancoragem dos navios iranianos em águas brasileiras. O evento foi, aliás, ocasião de uma solenidade ocorrida a bordo da fragata iraniana Iris Dena, da qual fizeram parte representantes do governo brasileiro. Terá sido palco também de novas “ações políticas entre companheiros”? É novamente nesse tipo de “eixo” que o Brasil aceitará ser inserido por obra de seu governo socialista? Em se tratando do relacionamento com um regime que, ademais de financiar o terrorismo ao redor do mundo, tem verdadeira obsessão com a construção de seu arsenal nuclear (um projeto que viola vários acordos internacionais dos quais nosso país é signatário), cabe à sociedade, por meio de seus representantes e de suas instituições, manter-se vigilante. 

Leia também “A morte do Carnaval”

 Flávio Gordon, colunista - Revista Oeste

 

sábado, 18 de junho de 2022

Lula pediu a FHC que libertasse sequestradores de Abílio Diniz

Revista Oeste

Segundo o petista, a liberação dos criminosos foi intermediada pelo senador e ex-ministro da Justiça Renan Calheiros (MDB) 
 O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revelou, na sexta-feira 17, que pediu ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) a libertação dos responsáveis pelo sequestro do empresário Abílio Díniz.

O caso relatado pelo petista teria ocorrido em 1998, quase dez anos depois de Diniz ter sido alvo dos criminosos, em 1989. Entre os sequestradores, estavam argentinos, chilenos, canadenses e um brasileiro. “Havia dez brasileiros presos”, disse Lula, em evento de pré-campanha realizado em Maceió (AL). “Foram presos em 1989, naquele sequestro do Abílio Diniz. Esses jovens ficaram presos por dez anos. E houve um momento em que fui conversar com Fernando Henrique, porque eles [os criminosos] estavam em greve de fome. Eles iriam entrar em greve seca, em que você fica sem comer nem beber. Aí, a morte seria certa.” [opinião sincera: se entrassem em greve seca, convidassem o descondenado petista e essa aceitasse, o mundo ficaria bem melhor.]

Em razão da greve, o petista intercedeu pelos sequestradores. “Então, fui procurar o ministro da Justiça, Renan Calheiros [MDB]. Ele disse: ‘Lula, vai conversar com Fernando Henrique, porque tenho toda a disposição para soltar o pessoal’. Falei para o FHC: ‘Fernando, você tem a chance de passar para a História como um democrata — ou como um presidente que permitiu que dez jovens, que cometeram um erro, morram na cadeia. Isso não apagará nunca.”

Segundo Lula, para libertar os criminosos FHC pediu a ele que os convencesse a acabar com a greve. “Fui até a cadeia, em 31 de dezembro, para conversar com os meninos. Falei: ‘Olha, vocês vão ter de dar a palavra para mim. Terão de garantir que vão acabar com a greve de fome. E vocês serão soltos’. Eles respeitaram a proposta e pararam a greve de fome. Não sei onde eles estão agora”, disse o petista.

Apesar de Lula se referir aos sequestradores como “jovens” e “meninos”, todos eram maiores de idade. David Robert Spencer e Christine Gwen Lamont, ambos canadenses, tinham 38 e 41 anos, respectivamente. Os irmãos argentinos Humberto Paz e Horácio Paz, responsáveis pelo planejamento do sequestro, tinham 34 e 39 anos. Ulisses Acevedo, 33 anos; Maria Marchi Badilla, 43; Pedro Lembach e Héctor Collante, ambos com 35; e Sergio Urtubia, com 34 anos, fecham a lista dos chilenos sequestradores. Raimundo Roselio Freire, o único brasileiro da lista, tinha 24 anos de idade.

O sequestro
Abílio Diniz foi sequestrado em 11 de dezembro de 1989. Numa entrevista ao podcast Flow, ele deu detalhes dos seis dias em que permaneceu em cativeiro. “Na casa em que fiquei tinha um buraco, tipo um porão, e uma escadinha”, contou. “Dentro deste porão eles construíram um caixote grande e me puseram dentro dele”. Essa caixa tinha uma fechadura e era trancada por fora. “Fizeram um buraco em cima desse caixote, puseram um cano e um ventilador do lado de fora”, lembrou. “Esse era o ar que vinha de fora.” O empresário contou que não conseguia ficar totalmente de pé e se esforçava para pegar ar. “Tinha certeza de que iria morrer”, afirmou. “Para poder respirar melhor eu precisava me levantar, encostar o nariz no cano e puxar o ar”.

O local também tinha um dispositivo de luz e de som usado para torturá-lo. “Puseram um controle de luz, às vezes deixavam tudo escuro, às vezes mais claro, às vezes tudo claro. E música alta. Era para me deixar meio enlouquecido”. Os sequestradores pediam US$ 30 milhões para libertá-lo.

Diniz foi solto em 17 de dezembro, depois de um cerco policial que durou 36 horas. No início de 1999, os estrangeiros que ainda estavam presos foram extraditados. O brasileiro recebeu indulto.

Leia também: “FALA MAIS, LULA!”, artigo de Augusto Nunes publicado na Edição 107 da Revista Oeste


sábado, 18 de dezembro de 2021

SEGUNDO AS PESQUISAS ELEITORAIS, OS BRASILEIROS VIRARAM ARGENTINOS - Percival Puggina

Os números divulgados por pesquisas eleitorais influenciam a realidade. Saber em que proporção representam a posição dos cidadãos poderia, muito bem, ser uma das 12 penitências de Hércules
Requer esforço sobre-humano do qual me declaro incapaz. 
No entanto, sinto-me habilitado a afirmar que se as pesquisas mais recentes expressarem algo próximo da realidade, temos duas opções :

1ª) a maioria do eleitorado brasileiro é um fenômeno parapsicológico, cuja opinião e cujo querer só pode ser captado por pesquisadores dotados de poderes supranormais; ou

2ª) esses eleitores viraram argentinos (que é a hipótese menos absurda).  

Os brasileiros conservadores já deveriam estar acostumados ao fato de que as pesquisas erram e erram feio. Até quando colhidas em boca de urna. 
Já deveriam saber que muitas delas são a própria campanha eleitoral fora do período eleitoral. Os números anunciados pelas emissoras de TV são o palanque, e os comentários são os comícios nestes meses que antecedem o início das campanhas propriamente ditas. Em alguns casos, como nas análises da Globo em relação às avaliações do governo Bolsonaro, quase se ouve o espocar dos foguetes.  

É absurdo imaginar que essa maioria identificada pelas pesquisas, outrora formada por ruidosos militantes, tenha emudecido, cravado facão no toco, decidido votar em Lula e quer, literalmente, que tudo mais vá para o inferno. Esse notável movimento de massa faz, em silêncio, aquilo que os argentinos fizeram com mais ruído, encaminhando a nação vizinha para acelerada venezuelização.  

O sujeito oculto dessa revolução ou o objeto oculto de sinistra manipulação vestiu terno, colocou gravata, ajeitou o cabelo e isso, em nada contribuiu para dar-lhe um ar de gente séria. Na Europa, Lula tem sido paparicado pela esquerda que vê nele a possibilidade de retomar o poder e restaurar a hegemonia que tão caro custou e continua custando ao Brasil.

A maioria do eleitorado não pode votar em Lula e, ao mesmo tempo, querer liberdade, defender princípios e valores morais, proteger a instituição familiar e a inocência da infância,  desejar o combate à corrupção e o fim da impunidade...

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


domingo, 11 de novembro de 2018

O mundo de Bolsonaro

“Os efeitos das tarifas impostas por Trump às importações chinesas, assim como das restrições de acesso a tecnologias americanas, já desaceleram o comércio mundial, o que não é bom para o Brasil”


Na montagem de sua equipe, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, já deu pistas de como a banda vai tocar no seu governo em relação a alguns temas da agenda nacional. Por exemplo, ninguém pode dizer que se enganou em relação ao futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, cuja pasta combaterá o crime organizado e a corrupção. A mesma coisa pode-se dizer quanto ao superministro da Fazenda, Paulo Guedes, que o mercado conhece muito bem. Idem para a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS), indicada pelo agronegócio de exportação. O futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também não engana ninguém: seu estilo e modo de operar no Congresso são conhecidos.

O que permanece uma incógnita é a relação do futuro governo com a política mundial. Os sinais de Bolsonaro eram no sentido de um alinhamento automático com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Deu várias declarações nessa direção, seja em relação aos acordos multilaterais, como o Mercosul e o de Paris, seja em questões mais específicas, como as relações comerciais com a China e a intenção de mudar a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Ocorre que essas declarações tiveram repercussão muito negativa, e as eleições norte-americanas de 6 de novembro mostraram que o vento mudou em relação a Trump. Com os democratas conquistando a maioria na Câmara, nada será como antes.

Nos bastidores da transição, com o roque do Ministério da Defesa para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), as quatro estrelas do general Augusto Heleno passaram a brilhar mais do que todas as outras, inclusive as do vice-presidente, general Hamilton Mourão, que é mais “moderno”. Essa mudança tem impacto no posicionamento estratégico de governo sobre vários temas, um deles é a política externa. Desde a Guerra das Malvinas, quando os EUA deram apoio logístico aos ingleses e, inclusive, inviabilizaram a utilização de seus mísseis pelos argentinos, a velha Doutrina Monroe caducou.

Vigorava desde 2 de dezembro de 1823, quando o presidente James Monroe, no Congresso norte-americano, disse que o continente não deveria aceitar nenhuma intromissão europeia: “América para os americanos”, proclamou. De uma só vez, os EUA rechaçaram a criação de novas colônias no continente, a interferência de nações europeias em questões internas e a neutralidade norte-americana em conflitos envolvendo países europeus. Esses princípios funcionaram contra a Espanha e a antiga União Soviética, mas não contra o principal aliado dos EUA no Atlântico, a Inglaterra. A guerra das Malvinas aprofundou o chamado “pragmatismo responsável” dos chanceleres Azeredo da Silveira e Saraiva Guerreiro. Durante os governos Geisel e Figueiredo, respectivamente, o Brasil abandonou o alinhamento automático aos Estados Unidos.

Guerra comercial
Nessa época, o redirecionamento da política externa para as relações Norte-Sul mirava principalmente a África e os países árabes; o eixo do comércio mundial não havia se deslocado do Atlântico para o Pacífico, como acontece agora. Mas, com essa mudança, a China acabou se transformando no principal parceiro comercial do Brasil, desbancando os Estados Unidos. Ocorre que nossa infraestrutura de comércio exterior e logística está voltada para o Atlântico, não temos escala de investimentos para redirecioná-la ao Pacífico com a eficiência e a rapidez necessárias. Quem paga o preço é a nossa indústria.


É nesse contexto que o jovem chefe do Departamento de Estados Unidos, Canadá e OEA do Itamaraty, o ministro de primeira classe Ernesto Henrique Fraga Araújo, encantou Bolsonaro com um artigo “presbítero” publicado na revista do Itamaraty, intitulado “Trump e o Ocidente”. No texto, afirma que o presidente norte-americano está salvando a civilização cristã ocidental do islamismo radical e do “marxismo cultural globalista”, ao defender a identidade nacional, os valores familiares e a fé cristã. Música para os ouvidos de Bolsonaro.

Entretanto, o cargo de ministro das Relações Exteriores exige muito mais do que uma visão religiosa de mundo. Outros nomes já foram sugeridos a Bolsonaro, entre os quais o atual embaixador no Canadá, Paulo Bretas, e os ex-embaixadores em Washington Roberto Abdenur, Sergio Amaral e Rubens Barbosa. A escolha de um deles definirá os rumos da política externa de Bolsonaro, num momento em que o Brasil, como outros emergentes, pode virar marisco na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Os efeitos das tarifas impostas por Trump às importações chinesas, assim como das restrições de acesso a tecnologias americanas, já desaceleram o comércio mundial, o que não é bom para o Brasil, a não ser que os Estados Unidos voltem a reduzir a sua taxa de juros, o que enfraqueceria o dólar e beneficiaria os emergentes. Mas aí já é adivinhação.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB
 

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Deputados apresentam requerimento para convocar Lula na CPI da Petrobras



Eles acusam Lula de ter viajado como garoto propaganda da Odebrecht, para fazer negócios com dinheiro do BNDES
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está na mira da CPI da Petrobras. Na terça-feira (5), os deputados federais Efraim Filho (DEM-PB) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS) apresentaram uma proposta para convocar o petista para prestar esclarecimentos sobre o escândalo do petrolão. “Tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto a então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Vana Rousseff tiveram todas as condições de adotar medidas concretas no sentido de estancar a série de desvios de vultosas quantias que estavam ocorrendo no seio da Petrobras. Todavia, tudo leva a crer que optaram por manter a execução de obras sabidamente superfaturadas, o que terminou por causar estratosféricos prejuízos à companhia e, indiretamente, ao Erário”, diz o requerimento, que deverá ser colocado em pauta na reunião da comissão na quinta-feira (7).

Segundo o deputado Efraim Filho, o pedido de convocação de Lula ganhou força após a última edição de ÉPOCA – que revelou com exclusividade que o ex-presidente do Brasil está sendo investigado pelo Ministério Público Federal por suspeita de tráfico de influência internacional em favor da construtora Odebrecht, investigada na Lava Jato e responsável por obras financiadas pelo BNDES em países africanos e latino-americanos. A relação entre Lula, Odebrecht e BNDES é retratada em documentos oficiais e telegramas internos do Itamaraty publicados na reportagem de ÉPOCA. “Depois que ele saiu do governo, Lula viajou como garoto propaganda para a Odebrecht fazer negócios com dinheiro do BNDES”, diz Efraim Filho, que diz que pedirá esclarecimentos sobre o suposto lobby feito por Lula em favor da construtora brasileira.

Irritado com a repercussão da investigação do MPF, o ex-presidente Lula declarou no dia 1º de maio, em evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que as revistas ÉPOCA e Veja são um “lixo e não valem nada”. "Peguem todos os jornalistas da Veja e da ÉPOCA e enfiem um dentro do outro que não dá 10% da minha honestidade neste país", disse Lula. A revelação feita por ÉPOCA ganhou destaque nos mais respeitados veículos internacionais, como os americanos CNN, New York Times, Wall Street Journal e Washington Post; os ingleses Guardian e BBC; o francês Groupe Le Monde; o espanhol El País; as agências de notícias Reuters, Bloomberg e AP; no português Correio da Manhã; no turco Finans Gündem; nos argentinos Clarín e La Nacion; no cubano Diario de Cuba.

O núcleo de Combate à Corrupção do MPF do Distrito Federal, que confirmou a investigação, decidirá nos próximos 90 dias se abrirá um inquérito criminal contra o ex-presidente da República e um processo cível contra o BNDES se houver evidências de improbidade administrativa. A diligência está em fase inicial – e, portanto, as provas começarão a ser coletadas nos próximos dias. O Instituto Lula, em nota divulgada em seu site, negou as suspeitas relatadas em despacho do MPF, apresentadas em reportagem de ÉPOCA.  A Odebrecht e a BNDES também negaram que o ex-presidente Lula tenha feito tráfico de influência.