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quinta-feira, 7 de maio de 2015

SUSPEITOS DE SEMPRE: Condenar primeiro, julgar depois.



As diferenças são monumentais: Lula, mesmo para o mais fanático de seus admiradores, não tem a menor semelhança com Humphrey Bogart; Beto Richa, por mais que se admire no espelho e repita orgulhoso a pergunta da madrasta de Branca de Neve, jamais poderia ser confundido com o galã Claude Reins. Dilma, definitivamente, não é Ingrid Bergman – embora Ingrid Bergman tenha dito que “felicidade é boa saúde e má memória”. Ninguém espera que, ao contrário do que ocorreu no filme Casablanca, esteja se iniciando uma bela amizade entre os personagens.

Mas há coisas em comum entre o filme de 1942 e o Brasil de 2015. Primeiro, a Casablanca do filme é uma cidade dividida entre os cidadãos em dificuldades (lá, por causa da guerra) e os que têm dinheiro e prestígio para frequentar os melhores lugares, onde flui a boa bebida e a elite dos derrotados confraterniza com os vencedores, apenas com uma ou outra divergência. Segundo, as rusgas entre os bem-nascidos, mesmo quando terminam em morte, se resolvem de maneira socialmente adequada: sejam quem forem os envolvidos, quem leva a culpa são os suspeitos de sempre.

No Brasil, nós, jornalistas, somos os culpados de sempre. Na opinião dos políticos, claro: Lula já disse que juntando todos os jornalistas de Veja Época não chegam a 10% da ética dele (ambas as revistas, completa, “são um lixo e não valem nada” – embora Veja fosse ótima e válida quando estava a seu lado nas denúncias contra Fernando Collor). Em compensação, abra as redes sociais e há duras críticas ao Grupo Globo por seu apoio aos petistas (ao lado de duras críticas ao Grupo Globo por seu ódio aos petistas). Acusa-se a Folha de S.Paulo de ser tucana e de ser antitucana.  

Os petistas acusam a imprensa por dar pouco espaço à pancadaria policial contra manifestantes em Curitiba, os tucanos dizem que a imprensa só divulgou uma parte da história, evitando mostrar quem iniciou a guerra, e que a Globo não leva as imagens que comprovariam este fato para o Jornal Nacional (naturalmente, de seu ponto de vista, quem provocou o problema todo foram agitadores infiltrados na multidão, e a polícia só liberou seus pitbulls, todos mansos, em legítima defesa).

Engraçado? Em termos lógicos, é engraçado. Em termos práticos, é perigoso: fanáticos convencidos de que grupos de imprensa são poderosos o suficiente para barrar seus planos para o futuro do país podem repetir a besteira que fizeram não há muito tempo, de depredar o prédio da Editora Abril, ou de agredir repórteres durante manifestações de rua. A demonização dos jornalistas, especialmente nas redes sociais, chega a delírios pessoais, como acusar William Waack, profissional de primeira linha, de ser espião, por ter almoçado com diplomatas americanos (e, esquecem-se, russos, chineses, alemães, franceses, argentinos, israelenses, cubanos). E de atribuir a outro profissional de primeiríssimo time, Ali Kamel, o poder de comandar os proprietários dos maiores grupos de comunicação do Brasil e levá-los a uma ação conjunta contra o governo.

É importante, para quem não está interessado na divisão do país entre bons e maus, entre nós e eles, entre Fla e Flu, rejeitar esse tipo de acusação. A informação tem de ser difundida da melhor maneira possível, da maneira mais honesta possível, doa a quem doer. Que as posições ideológicas e partidárias se reflitam, mas não a ponto de distorcer a informação e difamar os adversários, pelo simples motivo de serem adversários. Ponto final.

Um grande escritor americano, John dos Passos, definiu bem a questão: “Não nos convidem para condenar meia guerra. Unam-se a nós para condenar a guerra inteira”.

 Fonte:  Carlos Brickmann é jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação - http://www.brickmann.com.br/