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quarta-feira, 18 de agosto de 2021

CORDA ESTICADA - Dagoberto Lima Godoy

Sinto estarmos muito próximos do ponto de ruptura. Sem um FATO determinante de mudança do rumo atual, a casa -- quer dizer, a ordem pública -- pode ruir, porque os seus esteios -- as instituições -- estão desmoralizadas pelas próprias autoridades que as representam, em grande parte corruptas e infratoras de mandamentos básicos da Constituição. Ainda há tempo para que esse fato seja gerado por iniciativa dos poderes constituídos de forma a restabelecer entre eles a harmonia e resgatar a prioridade devida ao interesse público. 


Há quem pense que a desobediência civil ou o povo nas ruas ou as duas coisas poderiam ser a resposta alternativa à anomia em que o país parece mergulhar, um estado social caótico, de moral abalada, em que impera o desregramento e a corrupção.  Mas, uma vez rompida a ordem vigente, o comando tende a ser assumido (ou “tomado”) pela facção mais bem organizada, capaz de conduzir ou MANIPULAR o movimento popular e levá-lo ao objetivo da própria facção. 
 
Lembro dos exemplos de três marcantes revoluções:  
na Rússia, foram os bolchevistas minoritários que instalaram o comunismo; 
na França, o caos levou ao terror; 
nos EEUU, lideranças sábias fundaram a democracia mais bem sucedida dos tempos modernos.
Neste momento, quem seriam as organizações brasileiras capazes de assumir a liderança pós-ruptura? Partidos políticos? Entidades empresariais? Igrejas? De minha parte, só vejo duas: 
1) a esquerda neo comunista e globalizante, que aparelhou as máquinas governamentais, minou as instituições constitucionais, infiltrou-se nas centrais sindicais, nas universidades e na mídia, quase toda; ou 
2) as Forças Armadas, sob o comando do Exército Brasileiro, assumidas como fiéis aos princípios republicanos, segundo a tradição brasileira. [pacífico que a esquerda não assumirá - já tentaram em 35, perderam, em 64, perderam e perderão mais uma vez e quantas tentaremagora, terão a certeza, que os erros de 35 e 64 não se repetirão.]

Então, de coração apertado, anseio por resquícios de bom-senso e patriotismo porventura existentes em Brasília que levem a algum tipo de solução de compromisso democrático. Ou teríamos, como únicas alternativas, repetir 64 ou amargar trágicos "remakes" bolchevistas ou robespierreanos?

Dagoberto Lima Godoy - Cidadão brasileiro.


sexta-feira, 15 de maio de 2020

Mourão assusta mundo político com espantalho da intervenção militar - Folha de S. Paulo

Igor Gielow 

Em artigo crítico aos Poderes e à imprensa, vice estimula teorias conspiratórias, mas que esbarram na realidade

O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, plantou um espantalho no meio do mundo político brasileiro nesta quinta-feira (14). Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, o militar da reserva fez uma longa admoestação de todos os envolvidos na crise tríplice na qual o país está imerso, com seus vetores sanitário, político e econômico. Houve um ensaio de autocrítica sobre a responsabilidade de seu chefe, Jair Bolsonaro, como um dos atores que se tornaram "incapazes do essencial para resolver qualquer problema: sentar à mesa, conversar e debater".
Houve duras críticas aos outros Poderes e à imprensa no artigo, que condensam de forma inteligível as queixas do governo nas últimas semanas, além da preocupação com a economia. A defesa federativa, com a devida citação à fundação dos EUA, não difere em essência da nota emitida pelo ministro Fernando Azevedo (Defesa) há duas semanas, que refletia a insatisfação da ala militar do governo com o que consideram cerco de Poderes ao Executivo.
Até aí, foi uma típica demonstração do pensamento militar brasileiro acerca da ideia de nação, que rejeita sentimentos autonomistas à la 1932, inclusive com o recibo passado no item Amazônia. Mourão reclamou do artigo de ex-chanceleres queixando-se de danos à imagem externa do país inclusive pela devastação da floresta, "uma acusação leviana" para ele.  O vice coordena o comitê federal que trata da região, xodó geopolítico dos fardados desde o começo do século 20. Foi talvez o ponto mais unânime entre oficiais-generais da ativa presente no texto, assim como a noção salvacionista que foi despertada do torpor pós-ditadura com o governo Bolsonaro.

Cobrou, como já havia feito, a exposição do contraditório favorável às visões do governo na mídia. Perto dos impropérios usuais de seu chefe, foi cordato e reverenciou o papel da imprensa, um contraponto que gosta de estabelecer. O debate seria quase acadêmico, não fosse uma advertência inicial, nada casual, de que a pandemia da Covid-19 pode se tornar uma crise de segurança.

O passado de Mourão tornou, aos olhos de muitos, preocupante sua colocação. O corolário dela pode ser aquilo que, enquanto candidato, definiu como a possibilidade de um autogolpe por parte do presidente em cenário de anomia ou anarquia. [alguém conhece outras formas, que não seja a propiciada  por um governo central forte, de restabelecer o império das leis e da ordem?]

Nunca é demais lembrar as assertivas de cunho golpista do vice, hoje visto como uma espécie de contraponto ponderado à balbúrdia representada por Bolsonaro. Em 2015, ele sugeriu o "despertar de uma luta patriótica" ao falar do processo de impeachment de sua comandante suprema, Dilma Rousseff (PT). Dois meses depois, autorizou, sob seu comando na região Sul, uma homenagem após a morte de Carlos Alberto Brilhante Ustra, ídolo de Bolsonaro e torturador de Dilma na ditadura. [o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, é um militar injustiçado, que merece com todas as honras estar no Panteão dos Heróis da Pátria - com exclusão prévia de alguns que lá estão, colocados imerecidamente e por abuso da maldita esquerda que governou o Brasil;
ainda que fosse um torturador e tivesse torturado a escarrada Dilma, já seria o suficiente para ser anistiado, honrado e lembrado como herói da Pátria Amada.] Isso lhe custou o cargo, e foi encostado em uma posição burocrática em Brasília.

Em 2017, já no meio da crise política do governo Michel Temer (MDB), Mourão sugeriu em uma palestra que a intervenção militar seria possível caso o Judiciário não desse conta da situação. [a Constituição Federal prever, com clareza meridiana e em combinação com o  artigo 15, 'caput' da Lei Complementar nº 97, a intervenção militar.
Por complementação da LC 97, os pedidos de intervenção devem ser dirigidos ao presidente da República - comandante supremos das Forças Armadas.] 

Era no fundo, assim como na questão do autogolpe, uma leitura distorcida do artigo 142 da Constituição, que prevê ações fardadas a pedido dos Poderes sob a égide da Carta, nada a ver com a ideia de "intervenção militar constitucional" que frequenta grupos de WhatsApp bolsonaristas. Imunizado pela quarta estrela sobre o ombro, Mourão deslizou para a reserva em 2018, de onde saltou para o barco bolsonarista.

Pelo grau do temor apresentado na praça, o objetivo político primário do texto foi alcançado. O supracitado espantalho é o temor de uma intervenção militar. Isso alimenta a teoria de que Bolsonaro estaria tratando a pandemia com desdém para que a crise social se agudizasse tanto a ponto de dar o referido autogolpe.

Uma visão conspiratória alternativa vê no texto de Mourão algo diferente: ele mesmo se coloca como a alternativa à anarquia, com um suposto apoio das Forças Armadas pelo simples fato de ser quem é. [caso ocorresse o 'impeachment' de Bolsonaro, com forte reação popular, estaria configurado uma situação de anarquia.
Um dos caminhos para conter essa situação e elidir eventual situação de anomia, seria empossar o vice-presidente da República = general de exército Hamilton Mourão.
Caso houvesse embaraços a sua posse, estaríamos diante da necessidade de fazer cumprir as leis  e a Carta Magna,para  empossar o vice-presidente e só as FF AA tem condições objetiva da restabelecer o império da LEI e da ORDEM.
As Forças Armadas estão prontas a cumprir a Constituição vigente e cumprir a Constituição não é ser golpista.]

Ambas as visões esbarram na realidade, neste momento ao menos. Não existe coesão fardada para qualquer movimento golpista real. Como a Folha já mostrou, Forças como a Marinha e a Força Aérea não são entusiastas nem da simbiose com o governo, nem do protagonismo do Exército no processo. [o Exército é mais moderno que a Marinha e mais antigo que a Força Aérea - mas as três Foças estão irmanadas na defesa da Pátria, da Lei e da Ordem.] O necessário apoio das elites empresariais a qualquer empreitada antidemocrática não parece sair dos nichos mais bolsonaristas.

O próprio presidente tentou dar a receita, tomando carona nos efeitos econômicos da pandemia, falando em live da Fiesp na manhã desta quinta: "É guerra, tem de jogar pesado com governadores", a começar por seu adversário figadal, o governador João Doria (PSDB-SP). Não se imaginam soluções fora da Carta com a atual geração da cúpula militar. Mas impeachment está na regra, e Mourão é a tal alternativa constitucional sempre lembrada em conversas.

Nesse sentido, seu artigo corre o risco de ser lido como um esboço da versão verde-oliva da Ponte para o Futuro, o programa liberal do MDB que cimentou a viabilidade de Temer entre a elite.  Se ele teve tal intenção, o tempo dirá. Por ora, é conveniente a Bolsonaro que o espantalho permaneça onde está, enquanto ceva o centrão para dizer que impeachment é impossível. De quebra, visa intimidar um ameaçador Supremo, com inquéritos que ouvem [regidos por um ministro-relator que ofende, constrange e tenta humilhar oficiais generais.] generais e decisões incômodas.

Igor Gielow - Folha de S. Paulo





Mourão em evidência - Caminho do entendimento - Merval Pereira

“Todos cobram do PR (presidente da República), mas ninguém busca um caminho para o entendimento”, me disse o vice-presidente da República, General Hamilton Mourão ao definir o que o levou a escrever o artigo que publicou ontem no jornal Estado de S. Paulo. Em resumo, não seria uma crítica, mas um convite à reflexão e ao entendimento, para todos, como resumiu um de seus assessores mais próximos.

O artigo provocou diversas interpretações, desde a de que se tratava de uma necessidade de demonstrar apoio público ao presidente Bolsonaro neste momento de crise, até mesmo que estaria enviando um recado a seus companheiros de tropa, garantindo que, mesmo em caso de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, ele continuaria uma linha de governo ao gosto dos militares, nacionalista e desenvolvimentista, na definição do cientista político Christian Edward Lynch, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ.

O convite para que o presidente da Câmara Rodrigo Maia fosse ontem ao Palácio do Planalto para conhecer o gabinete de crise montado para o combate à Covid-19 foi um primeiro passo importante para distender o ambiente político. Dele saiu o encontro do presidente com Maia, momentos depois de Bolsonaro ter dito para empresários, em uma live, que ele parecia estar querendo liquidar com a economia do país. E uma combinação entre os dois de que a decisão sobre vetos de artigos da lei de socorro dos Estados sairá de uma videoconferência com os governadores.

Conversei com o próprio General Mourão para saber suas reais intenções, e ele me disse que “o artigo é auto-explicativo, pois aponto os problemas que tornam o ambiente em que vivemos, com discussões que não levam a nada. Se cada um assumir suas responsabilidades dentro dos seus limites poderemos baixar as tensões e buscar o entendimento. Minha intenção foi alertar que está na hora de pensar mais no conjunto e não nas partes individuais e interesses menores”.
Perguntado se não achava que faltou um mea culpa do próprio governo, se não quisesse personalizar no presidente da República, ele respondeu: “Considero que os erros do governo já estão sobejamente demonstrados pela critica”.

Depois de conversar com o vice-presidente, fiquei convencido mais ainda de que o artigo reflete um ambiente conturbado no Palácio do Planalto, e nasceu da necessidade de prestar apoio público ao presidente Bolsonaro, ainda mais agora que ele se vê acuado por processos no Superior Tribunal Federal (STF). No inicio do governo, Mourão surgiu como uma alternativa mais sensata aos arroubos de Bolsonaro, a ponto de ser vítima de intrigas palacianas. Carlos Bolsonaro, o vereador filho 02, chegou a publicar no Twitter indiretas sobre o suposto interesse de Mourão pelo cargo de seu pai.

Anteriormente, outro dos filhos presidenciais explicara a escolha de Mourão com a necessidade de “ter um cara cascudo lá” para mostrar que o impeachment não é uma alternativa para a oposição. O próprio Bolsonaro, certa vez, referindo-se aos que supostamente querem derrubá-lo, disse que Mourão é “muito mais tosco” que ele. Em qualquer dos casos, ou apoio a Bolsonaro ou aceno aos militares de que garantirá a continuidade com menos turbulência, o artigo colocou o General Hamilton Mourão novamente em evidência. Devido a declarações pregressas, a intenção implícita de Mourão dá margens a muitas especulações , sobretudo se não seria uma abertura a um “autogolpe”, que aliás ele foi o primeiro a citar como uma possibilidade real na famosa entrevista na Globonews durante a campanha presidencial.

Quando ainda estava na ativa, certa vez numa palestra traçou uma hipotética situação em que a ação das Forças Armadas seria imperiosa, na sua opinião. "Pois é, mas quando a gente vê que pode ocorrer uma anomia. Nós estamos falando aqui de uma situação hipotética, né, isso é hipotético. Quando você vê que o país está indo para uma anomia, na anarquia generalizada, que não há mais respeito pela autoridade, grupos armados andando pela rua...". O General Hamilton Mourão foi advertido naquela ocasião, e transferido de posto. Hoje, com a responsabilidade de vice-presidente da República, garante que o objetivo de seu pronunciamento é a busca da união politica. Uma maneira mais democrática de ver as coisas.

Merval Pereira, jornalista - O Globo


sábado, 15 de dezembro de 2018

O desafio dos direitos humanos

“Os direitos humanos são basicamente para os humanos direitos”

[Direitos humanos para todos, impõe a revogação de leis, o que levará qualquer país  à anomia.]


O tema dos direitos humanos, complexo a partir de sua conceituação, permeia há anos o debate público. A rigor, há séculos, desde que a Revolução Francesa os consignou – e os descumpriu. Foi um dos carros-chefes da eleição de Jair Bolsonaro, que questiona os termos em que a esquerda o formula, e há de acompanhar, em ambiente controverso, o curso de sua gestão, que tem a segurança pública como um de seus eixos.  Há dias, numa entrevista a um canal de televisão, o general Augusto Heleno, futuro ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, foi instado, mais uma vez, a falar sobre ele.
E reiterou seu ponto de vista de que “os direitos humanos são basicamente para os humanos direitos”. O dito se contrapõe à tendência, ainda dominante, de ver na polícia instituição violadora desses direitos, quando, a rigor, tem como missão garanti-los.

A frase do general, que está longe de ser mero jogo de palavras, pressupõe critério e hierarquia na aplicação desses direitos, a cuja plenitude só pode aspirar quem os respeita. Não é o caso dos bandidos, cujo ofício consiste exatamente em violá-los.  Qualquer direito pressupõe uma instância que os garanta – em regra, o Estado, via polícia. O direito humano fundamental é, por óbvio, o de garantir a vida, já que sem ele nenhum outro subsistirá: o da integridade física, o de ir e vir, o de propriedade etc. Quem os viola submete-se (ou pelo menos deveria) aos rigores da lei.

Mas, se, como quer parte dos militantes da causa, esses direitos são indistintamente para todos os humanos, deve-se, antes de mais nada, revogar o Código Penal, que, mediante determinadas práticas, suprime alguns deles, a começar pelo de ir e vir, podendo chegar ao da própria vida, em caso de legítima defesa. A visão idealizada do bandido, como vítima da sociedade, e uma espécie de revolucionário em estado bruto, levou o Estado brasileiro, sobretudo no período PT, a nele focar prioritariamente sua ação humanitária. A vítima torna-se persona secundária, alguém no lugar errado, na hora errada. Um azarado, sem qualquer glamour.

Criou-se, entre outros direitos, o bolsa-bandido, que garante, aos delinquentes inscritos na Previdência, repasses de pensão à família, além de benesses como o “saidão” (que libera presos em datas festivas para visitas à família); progressão penal (que, por bom comportamento, reduz o tempo de prisão); e, até (caso do Rio de Janeiro), vale-transporte para que familiares dos presos os visitem.  O Estado garante ainda assistência psicológica à família e ao preso. E, como coroamento, há a audiência de custódia, criada pelo ministro Ricardo Lewandowski, quando na presidência do STF.

Ela obriga o policial a levar o preso em flagrante, 24 horas após a prisão, perante um juiz para que avalie o tratamento que recebeu. O réu passa a ser a autoridade coatora, que pode sofrer processo e ser até demitido, e não o infrator, que será liberado caso o juiz, por razões de ordem subjetiva, não considere o ato grave. O STF professa a tese do desencarceramento para pequenos delitos (sem defini-los), ecoando princípio programático do PT.

Nesses termos, o banditismo prosperou e o Brasil ostenta o título de um dos mais violentos países do mundo, com mais de 60 mil homicídios anuais (contabilizados aí apenas os que morrem no local do crime), que ultrapassa os índices de países em guerra.  Há quem argumente que a leniência do Estado em relação ao crime decorre do desastre humanitário que é o sistema penitenciário, verdadeira sucursal do inferno. Em vez de humanizá-lo, o Estado opta por evitar o aumento de seus habitantes – não combatendo o crime, mas, inversamente, estimulando-o pela impunidade.
Eis um dos maiores – senão o maior – dos desafios do futuro governo Bolsonaro.


Ruy Fabiano, jornalista -  Blog do Noblat, Revista Veja

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Marcola versus Fernandinho Beira-Mar

Como a guerra entre PCC e Comando Vermelho vai afetar a sua segurança

Incontável número de vezes pergunto a ladrões e traficantes, presos, por que enveredaram pelo mundo do crime. Espero por respostas que me transportem a novas e profundas reflexões sociológicas e psicossociais. Profundas? Tolice. O que vem é raso: “sou zoião”. Não é difícil compreender que esse chulo aumentativo da palavra olho, utilizado nas cadeias, significa então o indivíduo que quer ter muito, sem trabalhar nada.  
ZOIÃO: Marcola, a penitenciária de Boa Vista, em Roraima, e Fernandinho Beira-Mar: eles voltam à guerra, após três anos de parceria, pela conquista de US$ 150 milhões anuais


Pergunto também por que bandidos se matam tanto entre si, uma irracionalidade, já que têm a lei que desacatam como inimiga em comum – isso não significa o delinquente adquirir a dimensão da consciência política nem se transformar no “rebelde primitivo” descrito pelo historiador britânico Eric Hobsbawm. A resposta, novamente, é pouco original: “bandido mata bandido porque é zoião”. Trata-se, mais uma vez, de um querendo tomar o que é do outro. Pois bem, essa é a causa das atuais rebeliões no País, sobretudo em penitenciárias de Roraima, Rondônia e Acre, e que até a quinta-feira 20 deixavam um rastro de 30 presidiários mortos por degola, fogo ou facada – todos assassinados pelos próprios presos.

Desde que o mundo é mundo e desde que ladrão é ladrão, são frequentes as disputas entre quadrilhas, nas ruas ou em instituições fechadas. Há, no entanto, perigosas diferenças entre os conflitos corriqueiros e a guerra nacional que agora toma corpo no sistema penitenciário, opondo as famigeradas organizações criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), figurantes entre as mais poderosas da América Latina. O PCC é comandado por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, condenado a 234 anos de prisão; o CV é liderado por Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, com condenação de 430 anos. Ambos se abastecem do narcotráfico pesado, ambos são donos de poderio bélico que inclui armamentos capazes de abater helicópteros e pequenos aviões. Em suma: em relação a tais facções, os demais conflitos viram coisa de transgressor rastaquera.

O embate do PCC com o CV ocorre pelo domínio do tráfico na fronteira com Colômbia, Bolívia e Paraguai, e está-se falando de uma movimentação financeira anual na casa dos US$ 150 milhões (sedutora menina dos olhos para qualquer “zoião”). O mais assustador a nos ameaçar com a “anomia social” (Émile Durkheim), no entanto, é o fato de que essa guerra vai engolfar praticamente todas as cadeias do Brasil (700 mil presidiários), e isso é inevitável porque elas são dominadas ou por uma ou por outra dessas organizações. 

Mais: a guerra virá para as ruas, e também isso torna-se inevitável, porque, aqui fora, é que o narcotráfico se organiza para abastecer as penitenciárias. O perigo maior, assim, não são os líderes do PCC e do CV – eles estão presos e que briguem. O grave são seus tentáculos que atravessam os muros, porque é aqui, nas ruas, que se dá o choque armado pelo monopólio das biqueiras (local que vende drogas): lembremos de Ipanema encoberta por recente tiroteio nos morros do Pavão-Pavãozinho.

“Temo confrontos dentro e fora dos presídios, e com dimensões nacionais”, diz o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. “A harmonia entre PCC e CV acabou”, sentencia um dos mais eficientes penitenciaristas do Brasil, Lourival Gomes, quatro décadas de experiência nessa área e secretário da Administração Penitenciária de São Paulo. Ainda que fosse possível isolar em presídios federais os principais membros das duas facções, como dar conta dos integrantes do PCC e do CV na sociedade em geral? Corremos, sim, o risco de ficarmos emparedados por tiroteios e atentados. O crime organizado passeia em praça pública e até já tenta a sorte nas urnas eleitorais da vereançacomo tentou o PCC quando também era Partido da Comunidade Carcerária.

O CV nasceu no presídio de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, fruto podre do contato entre presos comuns e presos políticos da luta armada, na década de 1970. Os muito românticos da esquerda daquela época julgaram que surgia um movimento em prol da justiça social. Bobagem, o CV traficou desde bebê. O PCC veio à luz em 1993, na Casa de Custódia da cidade paulista de Taubaté, em resposta ao massacre do Carandiru. Seu lema “igualdade, liberdade, fraternidade, paz e justiça” (pobre Revolução Francesa!) foi apenas fachada para também traficar. Ambas tiveram diversos chefões, mortos em sucessivos banhos de sangue, até que Fernandinho Beira-Mar e Marcola tomaram o poder. O primeiro desentendimento entre eles veio em 2005, quando o PCC expulsou o CV da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, e só em 2013 a paz foi refeita numa reunião de lideranças. Estabeleceu-se então nova parceria comercial, agora mais uma vez rompida. Os integrantes dessas facções se tratam por “irmão” e chamam de “população” os presos que as rejeitam. Trabalhador honesto é designado como “otário”. Sem dúvida, tal classificação do crime organizado ajuda a medir o risco que estamos correndo. Como disse o secretário Lourival Gomes, “a guerra recomeçou”.

Sequestro e Dia das Mães
O terror tomou conta de São Paulo e de diversas cidades paulistas na noite de 12 de maio de 2006, uma sexta-feira, antevéspera do Dia dos Mães – essa data, a do Dias das Mães, é importante nessa história porque ela irá desconcertar, como ao final revelaremos com exclusividade, algumas autoridades. Materializado numa série de atentados que seguiram a tática de guerrilha urbana (atuar em diversos pontos ao mesmo tempo), o terrorismo foi promovido pelo PCC sob as ordens de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, condenado há 234 anos de prisão por roubos a bancos, tráfico de drogas e assassinatos. O triste saldo: 90 mortos somente em São Paulo, 298 se contarmos Espírito Santo, Bahia, Paraná, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Na capital paulista centenas de ônibus foram incendiados. A motivação, segundo investigação de órgão ligado a ONU, é que policiais sequestraram um enteado de Marcola e extorquiam-lhe dinheiro. Numa das negociação com o criminoso, autoridades pediram-lhe que interrompesse os ataques porque o domingo, 14 de maio, era Dia das Mães. Marcola respondeu: “Mãe? Eu nunca soube o que é ter mãe na vida”. O diálogo nasceu morto.

Fotos: Rogério Cassimiro/Folhapress; REUTERS/JPavani; Ricardo Borges/Folhapress

Fonte: Isto É

 

terça-feira, 15 de março de 2016

Lula já está preso



Apenas em Cuba, Venezuela e na Coreia do Norte Lula será um visitante dispensado de responder perguntas que não quer ouvir.
Não é possível olhar para o PSDB e achar que ali está o Batman do Coringa petista. O PSDB é apenas o maior partido fora do governo.

Existem diferentes tipos de prisão. O ex-presidente brasileiro está enquadrado num deles. É uma prisão diferente, restritiva de várias liberdades, que ele mesmo se impôs como decorrência do estrago causado pela ambição à sua imagem. A lista das coisas que nosso ex-presidente está impedido de fazer é significativa para alguém como ele.


Primeiro, não pode mais virar mundo fazendo rentáveis palestras sobre as supostas maravilhas que seu partido e seu governo teriam realizado no Brasil. Não há maravilhas a mostrar. Como até os feitos do governo foram malfeitos, o país anda para trás mais rapidamente do que avançou. O exterior, bem antes do público interno, percebeu que caíra na conversa fiada do parlapatão de Garanhuns. As agências de avaliação de risco estão lá fora e sinalizaram ao mundo, passo a passo, as sucessivas explosões da bolha publicitária petista. Apenas em Cuba, Venezuela e na Coreia do Norte Lula será um visitante dispensado de responder perguntas que não quer ouvir. Acabaram-se, se de fato as fez, as palestras mais bem pagas do mundo. A fonte secou. Tony Blair, Nicholas Sarkozy e Kofi Annan já não lhe telefonam. 

Periodicamente, dentro de uma garagem qualquer, Lula entra num automóvel blindado, com vidros escurecidos além do limite legal, e desembarca noutra garagem qualquer, longe dos olhos dos brasileiros de bem. Há bom tempo vive oculto do grande público, com hábitos furtivos, evitando ser detectado pela imprensa. Suas últimas fotos mostram um homem com ar assustado e abatido.

Lula tem um sítio que não pode mais frequentar, onde há pedalinhos que seus netos não podem usar, uma adega inacessível e uma esplêndida cozinha que traz saudades à sua esposa. Ele tem três andares do mais apurado requinte num apartamento com frente para o mar na praia de Guarujá. Mas não pode nem pensar em chegar perto do prédio. Que dizer-se da praia!

Claro, há o apartamento de São Bernardo do Campo, que ele pode chamar de minha casa, minha vida. É seu refúgio protetor. Até prova em contrário. E é, também, sua prisão domiciliar, onde, diariamente, o ex-presidente acorda e olha o relógio para saber se já são mais de seis.

Inédito: vácuo no governo e na oposição
Em outro artigo, que será publicado na edição de Zero Hora deste próximo final de semana, escrevi sobre a anomia que acometeu o Brasil neste inicio de século, relegando a nação a uma condição selvagem em pleno ambiente urbano. Tal condição se caracteriza pela insegurança, pelo medo, pela decadência do respeito à lei e aos poderes constituídos, e pela quase inutilidade do setor público, incapaz de dar solução adequada às mais rudimentares de suas atribuições.  Na política, repete-se como axioma que ela não convive com vácuos.

Em tese, todo vazio é rapidamente preenchido. Pois a anomia se instalou no Brasil muito gradualmente já no segundo mandato de Lula, quando o presidente, para efeitos públicos, assumiu-se como mito. E mitos não governam. Mitos são taumaturgos, anunciam quimeras. Governar é para os mortais. Depois, quando Dilma foi eleita e reeleita, o vazio do poder instalou-se de vez. A presidente da República é aquilo que a ciência define como perfeito e impossível - o vácuo absoluto, a total ausência de conteúdo. Quando se instala algo assim no espaço intergaláctico, forma-se o fenômeno conhecido como buraco negro, capaz de devorar galáxias inteiras. No Brasil, não. Fica vazio e pronto.

Não bastasse uma governança politicamente oca, verdadeiro infortúnio, produziu-se entre nós, simetricamente, um outro vazio tão ou mais surpreendente na oposição política. O tucanato, apresentado pelo petismo como seu arqui-inimigo, não corresponde à ideia comum que se tenha de um partido de oposição. Não é possível olhar para o PSDB e achar que ali está o Batman do Coringa petista. O PSDB é apenas o maior partido fora do governo. Não é sensato tomar como conduta de partido de oposição aquilo que, na ordem dos fatos, são apenas manifestações desconexas de divergência em relação ao governo.

Temos, portanto, dois fenômenos que, em tese, não poderiam existir. E que talvez só possam ocorrer exatamente por serem simétricos e equivalentes. Dois vácuos políticos aguardando provimento, no governo e na oposição. Não será difícil encontrar na situação descrita uma das causas determinantes da crise multiforme que, como nação, estamos enfrentando.

No dia 13 ocorrerá no Brasil a maior manifestação popular de nossa história. É diante desse cenário que ela vai acontecer. O povo irá às ruas não para substituir-se às instituições, mas para sacudi-las de sua letargia. Irá às ruas por uma questão de saneamento moral básico, de honra nacional, para recuperar valores que foram pisoteados pelos cavaleiros do Átila de Guarujá. Ainda assim continuaremos precisando de algo tão parecido quanto possível com um governo e uma oposição.

http://www.puggina.org/