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quarta-feira, 6 de abril de 2022

Os iluminados dos gabinetes - Adriano Alves-Marreiros

 

You’re so vain

You probably think this song is about you

Carly Simon

Um dia desses eu vi em uma rede social pessoas que colocavam “sou desse pessoal dos Direitos Humanos” em repúdio a críticas.  Daí me lembrei de tudo que falam e achei que deveria lhes fazer uma homenagem.  Então seguem as loas:

Pela superioridade que eles possuem em relação às pessoas comuns que não só não compreendem suas ideias, mas sequer entenderiam uma explicação.

Porque são os que fugiram da Caverna e, vendo a verdadeira luz, as coisas como são, voltaram como seres luminosos que devem nos guiar.

Pois sabem que são apenas “especialistas” televisivos de Humanas e profissionais do Direito dentro de seus escritórios refrigerados – e agora virtualmente: podendo não se contaminar com o Povo nas audiências – que conseguem ver, do alto de sua sabedoria, a verdadeira realidade das ruas, já que a Polícia e a População é que vivem em um mundo paralelo, irreal, e por isso não conseguem perceber a verdade e nem ter empatia com os injustiçados bandidos...

Pois sabem a quem as Liberdades (principalmente a de expressão), a Constituição e a Lei devem ser negadas, pois Conservadores não querem o “progresso” que sempre vem a reboque do “progressismo” e devem ser impedidos de reagir, como o foram com o Muro de Proteção Antifascista que garantia a liberdade e a democracia da República DEMOCRÁTICA Alemã,

Pois seguem aquele italiano que não deve ser nomeado e que, em sua obra, seguidamente defende o fim da lamentável pena de prisão (propõe limitação imediata a 10 anos para crimes graves, mas com vistas a ser abolida) e quer uma Constituição Mundial para acabar com essas horrendas soberanias.

Pois querem que cortes internacionais sejam superiores às nacionais e colocam tratados acima das Constituições, relativizando apenas um ou outro, como o Código de Nuremberg.

***

Hoje estou muito sisudo... pra manter meu estilo, não posso deixar de dar uma passada pela cultura pop, coisa que o meu amigo Maurício curte tanto...

Louvemos esse pessoal que diz que X-Man é sobre discriminação e, desprezando o “estúpido e vendido” (?!) Xavier, assume a postura ideológica do Magneto.

Louvemos esse pessoal que, coerentemente, repete a toda hora que o Império era nazista em Star Wars e defende cada vez mais poder nas mãos do Estado, cada vez mais Estado, prisão para os discordantes, uma ordem 66 para os conservadores, tudo a ponto de tornar Imperador o Supremo Chanceler.

Louvemos esse pessoal que explica que Pantera Negra é sobre colonização e exploração, e apoia posturas como a do usurpador Erik Killmonger que pretendia subjugar os demais povos e etnias de forma violenta, querendo transformar aquela Sociedade, destruindo seus ideais pacíficos para se fazer superior.

Louvemos!!!

E aproveitemos apenas, para explicar pra eles que o POVO NÃO PENSA QUE DIREITOS HUMANOS SÃO SÓ PRA BANDIDO.  Ele sabe que são universais, que valem para as vítimas, que valem para minorias, que valem para maiorias, que valem até pra policiais...

Apenas ironizam vocês que, tão sábios, luminosos e orgulhosos: parecem não saber disso... 

(É, mesmo os mais simples e “distantes da realidade” podem ter algo a te ensinar...)

P.S.:Compre o livro de crônicas aqui

Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux 
Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana 
Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas

(Oração de São Bento cuja proteção eu suplico)

*       Publicado originalmente no excelente portal Tribuna Diária

* *      Adriano Alves-Marreiros (Que vem se decepcionando a cada dia...) é cronista, Mestre em Direito e membro do MCI e MP Pró Sociedade. Autor dos libros “2020 D.C. Esquerdistas Culposos e outras Assombrações” e “Hierarquia e Disciplinas são Garantias Constitucionais”.

 

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Putin já foi o motorista Vladimir - Elio Gaspari




Outro dia, antes do início da guerra na Ucrânia, o jornalista americano Thomas Friedman escreveu que o melhor lugar para se acompanhar a crise é tentando entrar “na cabeça de Vladimir Putin”. 
Diversas pessoas já tentaram mapear essa cabeça, da alemã Angela Merkel à ex-secretária de Estado americana Madeleine Albright. O presidente russo é frio como cobra.

Em dezembro de 1989 ele estava na sede da KGB, em Dresden, na falecida Alemanha Oriental, quando uma multidão se aproximou da casa. Ele foi para o portão, disse que era um intérprete e recomendou que fossem embora, do contrário seus compatriotas atirariam. Deu certo, mas não havia atiradores.

Dois anos depois a Alemanha Oriental se acabara, a União Soviética derretera e a Rússia perdera cerca da metade de seu Produto Interno. Putin havia voltado para São Petersburgo e trabalhava com o prefeito da cidade. Para fechar o orçamento familiar, fazia bicos como motorista. Lembrando essa época numa entrevista, foi breve: “É desagradável falar sobre isso, mas infelizmente foi o caso”. 

 
Folha de S.Paulo - 
O Globo

Putin é frio como uma cobra 

Esse anônimo burocrata, que viu o fim do império soviético e a exaustão do Estado russo, governa o país há 22 anos com mão de ferro.

Vendo-se a figura de Putin nos salões da Rússia imperial, vale a pena lembrar que Vladimir já teve que trabalhar como chofer para fechar as contas.

Mourão e 1938
A referência do vice-presidente Hamilton Mourão ao xadrez diplomático de 1938, quando o primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain e muita gente do andar de cima inglês defendiam uma política de “apaziguamento” com Hitler, ecoa um livro que saiu em 2019 nos Estados Unidos. Chama-se “Appeasement” (“Apaziguamento”), do historiador inglês Tim Bouverie. Magnificamente pesquisado, ele mostra friamente como e porque Chamberlain construiu a política que o levou a Munique, onde entregou parte da Tchecoslováquia aos alemães. Tinha o apoio da cúpula militar e dos principais jornais ingleses.

Faltava-lhe a simpatia de um leão: Winston Churchill. Ele assumiria o cargo de primeiro-ministro em 1940. [De Churchill sobre o apaziguamento:
Diante da política de “apaziguamento” com os nazistas, Churchill profetizou: “Entre a desonra e a guerra, eles escolheram a desonra, e terão a guerra”. Churchill sabia que um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado”. Essa percepção se aplica perfeitamente ao caso atual envolvendo a Ucrânia.]

Com o tempo, a conta do apaziguamento foi toda para Chamberlain. Bouverie mostra que não foi bem assim. Em julho de 1938, Lord Halifax, ilustre conservador e ministro das Relações Exteriores, disse a um ajudante de ordens de Hitler que gostaria de ver o Führer em Londres, sendo aplaudido ao lado do rei George VI. Em setembro, Chamberlain foi a Munique e acertou-se com Hitler.

Dias depois a tropa alemã ocupou parte da Tchecoslováquia e em março de 1939 tomou o resto.

Problemas para amanhã
Na melhor das hipóteses, a invasão da Ucrânia criou dois problemas para amanhã. Cada um para um lado da questão:

Putin deverá lidar com o movimento de resistência dos nacionalistas ucranianos.
Os países europeus deverão lidar com centenas de milhares, senão milhões, de refugiados em busca de fronteiras que estiverem abertas para recebê-los.

(...)
 
Elio Gaspari, colunista - Folha de S.Paulo  e o Jornal O Globo 

domingo, 5 de dezembro de 2021

Empresário casado com deputada da extrema direita alemã é conexão entre Bolsonaro e Kast - O Globo

Recebido pelo mandatário brasileiro em julho, Sven von Storch atua nos bastidores da campanha do candidato à Presidência do Chile como assessor em temas internacionais

[Qual crime Bolsonaro cometeu,  ou comete,  por receber assessor de um candidato de extrema direita que não agrada aos inimigos do Brasil? É caso de impeachment? ou é um genocídio? ou ato antidemocrático?]

Os vínculos entre o presidente Jair Bolsonaro, parte de sua família e o candidato de extrema direita à Presidência do Chile, José Antonio Kast, são mais profundos do que quer admitir publicamente o ex-deputado chileno, que nos últimos dias reformulou (leia-se moderou) seu programa de governo na tentativa de cativar eleitores de centro para o segundo turno, no dia 19 de dezembro. Nessa conexão bilateral, existe uma pessoa central que esteve com Bolsonaro em julho deste ano, em Brasília. Trata-se do empresário chileno-alemão Sven von Storch, marido da deputada alemã Beatrix von Storch, vice-líder do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), investigada por declarações xenófobas.

Bolsonaro recebe o casal Von Storch: a deputada alemã Beatrix é investigada por declarações xenófobas Foto: Divulgação
Bolsonaro recebe o casal Von Storch: a deputada alemã Beatrix é investigada por declarações xenófobas Foto: Divulgação

Segundo fontes chilenas consultadas pelo GLOBO, o empresário conhece Kast há muitos anos e tornou-se um importante assessor do candidato em temas internacionais. Um de seus ídolos é Steve Bannon, ex-estrategista do ex-presidente americano Donald Trump e acusado criminalmente de ter desobedecido um mandado da comissão da Câmara que investiga a invasão do Congresso dos EUA, em 6 de janeiro deste ano.

Von Storch, no entanto, não é uma figura pública conhecida no Chile nem atua no comando de campanha de Kast. Pelo contrário. O empresário está nos bastidores e em contato, apenas, com o círculo mais íntimo do candidato chileno. Se até o primeiro turno, em 21 de novembro passado, Kast tinha um programa de governo que incluía, por exemplo, a retirada do Chile do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, proposta totalmente alinhada com o pensamento que Von Storch exibe entre os que combatem o que chamam de uma aliança entre a esquerda tradicional e os globalistas, agora o candidato da Frente Social Cristã suavizou suas posições. Fez “ajustes”, como explicou um acadêmico que está colaborando com sua campanha.

Artigo:A ascensão do candidato da extrema direita José Antonio Kast no Chile

(...)

Von Storch raramente aparece, mas a foto com o presidente brasileiro, em julho, confirma o que o próprio empresário gosta de comentar quando participa de programas de baixa visibilidade em redes sociais. Em conversa com o também empresário chileno Enrique Subercaseaux, que apresenta um programa de debates no YouTube, o marido da deputada de extrema direita alemã menciona em reiteradas oportunidades suas conversas com Bannon e fala em articulações com forças políticas no Brasil, na Colômbia e, na Europa, em países como Hungria e Polônia.

Em pouco mais de meia hora de programa, Von Storch apresenta sua visão de mundo e defende a eleição de Kast como tábua de salvação para que o Chile não seja destruído por uma “esquerda globalista, de ideologia marxista”.

Em carta recente divulgada entre conhecidos, o empresário, que foi recebido por Bolsonaro no Palácio do Planalto, afirma que “o Chile se encontra em um momento divisor de águas, em que se decidirá se o país se converterá em uma segunda Venezuela, na Suíça da América Latina ou em uma nova Hong Kong do Pacífico. Agora se decidirá se o futuro de América Latina se escreverá em Havana ou em Santiago do Chile”. Alguns chamaram o texto de “Carta de Osorno”, já que, quando a família Von Storch se instalou no Chile, em meados do século passado, optou pela província de Osorno, no Sul do país.

Uma das propostas mais ousadas de Kast durante a campanha foi a de retirar o Chile do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas: — As Nações Unidas estão integradas por países que não acreditam na democracia e violam os direitos humanos, como Nicarágua e Venezuela... queremos nos retirar.

Mundo - O Globo - MATÉRIA COMPLETA


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

A chefona da Europa queima largada na guerra das vacinas

Fiasco total: A racional e equilibrada Ursula von der Leyen tem que recuar de decisão intempestiva para “capturar” vacinas destinadas ao Reino Unido

[E os 'inimigos do Brasil' ainda cometem a suprema burrice de considerar o presidente Bolsonaro um estabanado. A propósito: a digna 'presidenta' da UE ainda teve a cara de pau de colocar desequipados soldados alemães para realizarem treinamento  conjunto usando cabos de vassouras como fuzis. Parece que a ojeriza aos militares não costuma ser acompanhada de inteligência, competência, bom senso.]

Pelo lado positivo, Ursula von der Leyen reconheceu rapidamente o tamanho do erro que estava sendo cometido sob sua gestão quando foi anunciado que a União Europeia bloquearia a exportação de vacinas da Pfizer feitas na Bélgica e destinadas ao Reino Unido. O lado negativo foi todo o resto. Tão escandalosamente negativo que surgiu até um certo clamor para que renunciasse pouco mais de um ano depois de assumir a presidência da Comissão Europeia, colocando uma boa dose de calma e equilíbrio no lugar da jocosidade algo excessiva de Jean-Claude Juncker.

Tendo presidido as iniciativas lentas e burocráticas da Comissão de Saúde para a aquisição de vacinas destinadas aos 27 países da União Europeia, Von der Leyen despertou para o tamanho da crise quando os dois grandes laboratórios que estão fornecendo o grosso das vacinas para os países desenvolvidos, Pfizer e AstraZeneca, tiveram problemas de produção. “A Europa está enfrentando um desastre em termos de vacina”, resumiu, algo dramaticamente, a revista Der Spiegel.

Para piorar, a Grã-Bretanha, recém-saída do bloco (num processo em que contou a racionalidade da alemã), está colhendo os frutos por ter sido mais ágil e mais rápida na aprovação e compra das vacinas. Pela narrativa dominante, deveria ser o contrário: os pérfidos ingleses amargariam no fim da fila, enquanto a nobre e solidária União Europeia dava um exemplo do valor do trabalho conjunto.

Vendo o tamanho da encrenca, os burocratas europeus resolveram agir. Foi aí que Ursula Von der Leyen fez o “gol contra” – metáfora futebolística usada por praticamente toda a grande imprensa europeia.  Recorrendo a um dispositivo reservado a grandes emergências, a presidente resolveu bloquear a entrada de vacinas no Reino Unido através da fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte.

Quem acompanhou as torturantes negociações para permitir a saída dos ingleses talvez se lembre que resolver a situação pós-Brexit essa fronteira foi um dos maiores problemas.  Pelo acordo de paz que encerrou a luta armada dos católicos na Irlanda do Norte, a linha divisória com os irmãos da república independente deve ser aberta ao livre trânsito de pessoas e mercadorias.  Para manter o status quo entre as duas partes da ilha irlandesa, uma remanescente na União Europeia e outra levada, de má vontade, ao Brexit, foram necessários vários e sofridamente negociados malabarismos regulatórios.

A decisão impensada, que durou apenas algumas horas, de Ursula von der Leyen, de interferir exatamente nesse ponto de alta sensibilidade, provocou o impossível: ingleses e irlandeses, normalmente cheios de animosidade mútua, reagiram furiosamente dos dois lados da fronteira. O governo de Boris Johnson não demorou a vazar que, em dois telefonemas “apimentados” com a presidente da Comissão Europeia, o primeiro-ministro disse que a intervenção nos contratos com a Pfizer, afetando o fornecimento de 3,5 milhões de doses de vacina, poderia ser diretamente responsabilizada pela morte de idosos que aguardavam a segunda dose da imunização.

Levar a culpa por matar avozinhos aposentados não é exatamente uma perspectiva promissora. A condenação à decisão atabalhoada da presidente da Comissão Europeia foi unânime entre os grandes jornais europeus, de esquerda ou de direita. Como uma pessoa com o nível de preparo de Ursula von der Leyen não percebeu as dimensões catastróficas de uma intervenção ditada pelo “nacionalismo supranacional”, em tudo oposta aos valores mais fundamentais da União Europeia?

Pertencer à casta da alta burocracia europeia, sem nunca ter precisado fazer algo tão banal como ganhar eleições, pode ter sido um dos fatores. Economista interrompida e médica, Ursula von der Leyen, é democrata-cristã, o partido de centro-direita de Angela Merkel, com quem está desde o primeiro dia de governo, tendo servido em vários ministérios.

Foi a primeira mulher a ser ministra da Defesa da Alemanha, com atuação criticada, principalmente depois que desequipados soldados do Exército alemão participaram de treinamentos conjuntos europeus com cabos de vassoura no lugar de fuzis, episódio de um ridículo doloroso. Nascida e criada na Bélgica, onde seu pai era funcionário do incipiente Mercado Comum Europeu, e com sete filhos já adultos, certamente um curso intensivo de administração de conflitos, Ursula von der Leyen parece talhada desde o berço para ocupar o topo das vasta burocracia da UE.

É justo culpá-la pela crise das vacinas, com um componente importante causado pelos laboratórios que não conseguem honrar as encomendas? “A Comissão foi pega totalmente de surpresa”, escreveu a Spiegel, geralmente alinhada mais com a centro-esquerda. “Frustração e indignação têm crescido através da UE. A Europa, uma das regiões mais ricas do mundo, está se mostrando incapaz de proteger seus cidadãos de uma doença mortal”.

A revista ouviu o secretário-geral da Social Democracia, Lars Klingbeil, que desceu o chicote: “Estou absolutamente chocado com a negligência de Ursula von der Leyen no comando do início da vacinação nos últimos meses”. Detalhe: os social-democratas fazem parte, no sistema de coalizão, do governo de Angela Merkel, a grande eleitora de von der Leyen para a Comissão Europeia. Pois são os social-democratas que estão pedindo a cabeça dela, em termos nada gentis. “Enquanto outros países, como a Grã-Bretanha, encomendavam grandes quantidades de vacinas meses antes, a UE sob o comando de Ursula von der Leyen fracassou em agir a tempo e depois se enrolou em cláusulas contratuais com companhias farmacêuticas”, fuzilou Jörg Meuthen, um dos líderes dos social-democratas.

“Ser responsável também significa assumir a responsabilidade. Isso é o que Frau von der Leyen deveria fazer agora. Ela causou muitos prejuízos não só à Alemanha, mas a toda a União Europeia”. Enquanto isso, os tabloides ingleses deitam e rolam com a oportunidade imperdível de espetar os alemães, em particular, e europeus, em geral. “Nossos vizinhos e amigos”, como diz Boris Johnson, cujos pecados estão sendo temporariamente perdoados, estão se dando mal. Schadenfreude, a alegria secreta sentida quando os próximos de ferram, nunca foi tão pouco secreta.

Blog MundialistaVilma Gryzinski, jornalista  - Revista VEJA

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Na fila da vacina - Carlos Alberto Sardenberg

Coluna publicada em O Globo - Economia 28 de janeiro de 2021

Vamos falar francamente: ainda neste ano, mais para o segundo semestre, hospitais e clínicas particulares estarão oferecendo vacina contra a Covid-19, em caráter suplementar ao Plano Nacional de Imunização – e tudo de acordo com a Constituição.  Um pouco de história: a Constituinte de 1988 tinha um viés claramente estatizante. Por isso temos o Sistema Único de Saúde – e o “único” aí não era apenas um modo de falar. A ideia era essa mesma: um sistema estatal, universal e gratuito. E obrigatório, vetando-se a medicina privada.

Só não ficou assim por dois motivos. Primeiro, porque seria preciso estatizar hospitais, clínicas e mesmo consultórios privados. E não havia dinheiro para isso – já que não se poderia simplesmente confiscar tudo, como se fosse uma ditadura. O segundo motivo vai na mesma linha: teria o Estado os recursos necessários para esse sistema gratuito? Está lá no artigo 196: que a “saúde é direito de todos e dever do Estado” e que será garantido “acesso universal e igualitário”.

Reconhecendo isso, os constituintes incluíram o artigo 199, dizendo que a assistência à saúde é “livre à iniciativa privada”. Como isso estava em contradição com o contexto, colocaram-se  várias ressalvas: essa atuação seria “complementar” e controlada pelo SUS, seria vedada a empresas estrangeiras e se daria preferência às instituições filantrópicas em relação àquelas com fins lucrativos.

O entendimento dos estatizantes era simples: com o tempo, dada a qualidade e gratuidade do SUS, o sistema privado desapareceria ou ficaria apenas para os poucos milionários. O mundo andou e como estamos hoje? Mais de 40 milhões de contratos particulares com planos e operadoras de saúde, muitas de capital estrangeiro. E um sistema privado de qualidade internacional.  Isso já funciona no caso da Covid. Os hospitais e clínicas particulares atendem os doentes e aplicam os testes. Aliás, os altos dirigentes da República se tratam nesses hospitais.

Por que, portanto, não podem vacinar?  Por questões econômicas, éticas e políticas. Na economia: ainda há escassez de vacinas em relação à demanda mundial. As farmacêuticas que já têm o imunizante estão vendendo apenas para governos e instituições multilaterais, como a OMS. A entrada do setor privado no negócio, no mundo, aumentaria ainda mais a demanda e elevaria os preços. Assim, se cairia onde os líderes mundiais de respeito tentam evitar: que os ricos passem na frente.

Mas, para falar francamente, de novo, ricos, no cenário mundial, estão tentando passar à frente
A União Européia encomendou 400 milhões de doses à AstraZeneca, para entrega neste primeiro trimestre. A farmacêutica avisou, nestes dias, que não conseguirá entregar nem metade disso. Qual a reação de parte dos líderes da União Européia. Proibir a AstraZeneca, que tem sede na Europa, de exportar sua vacina antes de atender toda a demanda da comunidade. [são a esses democratas de araque que os traidores brasileiros querem entregar a Amazônia do Brasil. Foram comprados para vender a ideia, aos incautos, que a democracia desses países é a democracia secular. 
União Europeia, Estados Unidos e outros do mesmo naipe cultivam a democracia em que eles possuem o controle, o domínio total.]

Ainda bem que líderes como a alemã Angela Merkel se opõem ao que consideram falta de solidariedade global. Mas, veremos. A questão ética vem na sequência. Não se pode vacinar os ricos, aqui e lá fora, antes dos grupos prioritários, pobres ou não.  A questão política decorre das anteriores. Claro que os hospitais e clínicas privadas, assim como as grandes empresas, poderiam estar no mercado comprando vacinas, se é que já não o fizeram. Mas não estão querendo vacinar neste momento justamente por temor da reação da sociedade, dos clientes e dos parceiros comerciais.

Tudo considerado, no momento, no Brasil e no mundo, cabe aos governos comprar e aplicar as vacinas, seguindo a fila dos mais para os menos vulneráveis.  Não há problema onde os governos estão cumprindo isso. Não é o caso do Brasil. Como o governo Bolsonaro desdenhou da doença, está muito atrasado na busca dos imunizantes. Se não fosse o governo paulista, tudo o que teríamos seriam dois milhões de doses vindas da Índia.[não podemos esquecer:  
dois milhões de doses vindas da Índia, vacinam dois milhões de pessoas, com eficácia de 71%;  
dois milhões de doses da vacina chinesa, vacinam um milhão de pessoas, com eficácia de 51%.
Estupidamente, a turma do Doria quer usar as doses destinadas a segunda aplicação, nos que já receberam a primeira, e deixar para realizar a segunda aplicação  mais para a frente. O problema é que a bula da CoronaVac - como recomenda a Anvisa o documento que deve ser seguido - determina que a segunda dose deve ser aplica na 3ª/4ª semana. Os milhões vacinados no estado de São Paulo, correm o risco de não receberem a segunda dose a tempo e passarem à condição de semi vacinados.
Cabe perguntar: os que receberem a segunda dose com atraso, passarão à condição de imunizados, ou terão que receber outra dose?]

Saída de momento? O setor privado financiar o público e, sobretudo, apoiar na organização. Quando o Plano Nacional estiver funcionando normalmente, aí vai aparecer a vacina no sistema privado. E se o governo nem assim conseguir vacinar? Aí os mais ricos vão se vacinar à sua maneira.

Carlos Alberto Sardenberg,  jornalista


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A desistência da Ford - O Estado de S. Paulo

Celso Ming

As condições para esse desfecho vêm do excessivo protecionismo, da incapacidade de competir no mercado internacional e do alto custo Brasil

fechamento das três fábricas da montadora americana Ford, depois de mais de cem anos de presença no Brasil, é um Boeing que despenca. Outros desastres o precederam. Em outubro do ano passado, a mesma Ford fechou a fábrica de caminhões de São Bernardo do Campo. E, em dezembro, a alemã Mercedes-Benz encerrou as atividades de sua montadora de automóveis em Iracemápolis, interior de São Paulo.

A indústria automobilística do Brasil sofre ainda mais do mesmo mal de que sofrem as montadoras dos Estados Unidos. Ficaram para trás em tecnologia, enfrentam custos excessivos, são mal administradas e dependem demais do balão de oxigênio fornecido pelos governos.

Já em 1990, o então presidente Collor se referia ao setor no Brasil como “produtores de carroças”. Bolsonaro agora está dizendo que a Ford quer tetas por onde se dependurar. Pelas contas do Ministério da Economia, em dez anos, as montadoras do Brasil foram alimentadas pelo governo federal em nada menos que R$ 43,7 bilhões. A essa conta precisam ser acrescentados outros favores velhos de guerra: isenções e créditos de ICMS, doações em terrenos e infraestrutura, proteção alfandegária, acordos comerciais que atuam como reservas de mercado...

Vejam o que o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama escreveu no seu último livro (Uma terra prometida) sobre as matrizes das montadoras lá instaladas: “O mal que aflige as três principais fabricantes americanas de automóveis (Ford, GM e Chrysler) é má administração, produtos medíocres, concorrência estrangeira, planos de aposentadoria com mais passivos do que ativos, custos altíssimos com saúde, dependência excessiva na venda de SUVs, com alta margem de lucro e grande consumo de gasolina”. 

E não para por aí. Lá pelas tantas, deixa escapar um curto lamento: “Não consigo entender por que é que Detroit (capital da indústria de veículos nos Estados Unidos) não consegue produzir um maldito Corolla”. Se a situação por lá é essa, o que não dizer das filiais brasileiras?

Essas e outras razões explicam por que uma única montadora moderna, a Tesla, dos Estados Unidos, que só vendeu 500 mil carros elétricos em 2020, tem um valor de mercado superior ao de todas as montadoras do mundo reunidas, cálculo que inclui a japonesa Toyota, a sul-coreana Hyundai e também as três tradicionais americanas que se dedicam à tecnologia convencional de carro a combustão.

Não é a queda do consumo em consequência da covid-19 nem a concorrência agressiva dos modelos japoneses, chineses e sul-coreanos que derrubaram a Ford no Brasil. Esse é um enfarte programado há anos e que não vai parar apenas nesse caso. É de uma inutilidade atroz o que disse o vice-presidente Hamilton Mourão: que a Ford poderia esperar um pouco mais para tomar essa decisão. É pretender que a agonia seja prolongada. 

Tem razão o governador da BahiaRui Costa (PT), quando afirma que o Brasil está virando um fazendão, querendo com isso advertir que a indústria de transformação, e não só a de veículos, está ameaçada. Costa culpa a política industrial dos últimos cinco anos, querendo disso isentar o período petista no governo. Mas as condições para esse desfecho vêm de há mais tempo. Vêm do excessivo protecionismo, da incapacidade de competir no mercado internacional e, também, do alto custo Brasil: do sistema tributário escorchante, da infraestrutura insuficiente em rápido processo de sucateamento.

Se o diagnóstico é esse, o que teria de vir em seguida é claro. É preciso rumo. O País precisa saber o que quer. Se quer continuar a ter uma indústria que vive de espasmos graças a favores fiscais (estratégia que se mostrou fracassada); ou se quer uma indústria competitiva, capitalizada e independente. E têm de vir as reformas e a construção de um ambiente saudável, e não a artificialidade que está aí.

Celso Ming, colunista - O Estado de S. Paulo


sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Mourão diz: "Ustra era homem de honra que respeitava os direitos humanos dos seus subordinados".

O Globo

Vice-presidente também declarou à Deutsche Welle  que não concorda com tortura

Carlos Alberto Brilhante Ustra foi condenado por tortura na ditadura militar [condenações que nada significam, tendo em conta que não transitaram em julgado.]

Em entrevista à Deutsche Welle, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos responsáveis por perseguições, tortura e morte de opositores ao regime militar no Brasil, [a afirmação destacada nunca foi comprovada - o coronel Ustra, herói nacional, foi absolvido em alguns julgamentos em primeira instância e nos que foi condenado, a sentença não transitou em julgado.] era um "homem de honra que respeitava os direitos humanos dos seus subordinados".

— O que posso dizer sobre o homem Carlos Alberto Brilhante Ustra, ele foi  meu comandante no final dos anos 70 do século passado, e era um homem de honra e um homem que respeitava os direitos humanos de seus subordinados. Então, muitas das coisas que as pessoas falam dele, eu posso te contar, porque eu tinha uma amizade muito próxima com esse  homem, isso não é verdade — disse.

Na entrevista, Mourão afirmou governo brasileiro não concorda ou simpatiza com a prática da tortura, mas comentou que muitas pessoas que lutaram contra guerrilhas urbanas nos anos 1960 e 1970 foram "injustamente acusadas de serem torturadoras". Em primeiro lugar, não estou alinhado com a tortura, e, claro, muitas pessoas ainda estão vivas daquela época, e todas querem colocar as coisas da maneira que viram. É por isso que eu disse antes que temos que esperar que todos esses atores desapareçam para que a história faça sua parte. E, claro, o que realmente aconteceu durante esse período ... esse período passou — disse na entrevista ao veículo alemão.

Ainda segundo o vice-presidente, durante a ditadura, os militares "fizeram coisas muito boas pelo Brasil e outras coisas não foram tão bem". Ele também disse que a "história só pode ser julgada com o passar do tempo" e afirmou que a democracia é um dos objetivos nacionais permanentes e que o governo quer tornar o Brasil a "democracia mais brilhante do hemisfério Sul".

Ustra era conhecido nos porões da ditadura como "Dr. Tibiriçá" e foi o único militar brasileiro declarado torturador pela Justiça.  O Dossiê Ditadura, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos,  relaciona o coronel com 60 casos de mortes e desaparecimentos em São Paulo. [relaciona nada significa, especialmente quando as acusações não geram condenações definitivas; 

aliás, o título da comissão que expeliu o dossiê diz tudo sobre a sua parcialidade.]

A Arquidiocese de São Paulo, por meio do projeto Brasil Nunca Mais, denunciou mais de 500 casos de tortura cometidos dentro das dependências do Doi-Codi no período em que Ustra era o comandante, de 1970 a 1974. [denúncias não provadas não passam de injúrias, calúnias e difamações.] Em 2015, o Ministério Público Federal (MPF), fez denúncia contra Ustra, apontado como responsável pela morte do militante comunista Carlos Nicolau Danielli, sequestrado e torturado nas dependências do Destacamento de Operações e Informações do (DOI), em São Paulo, em dezembro de 1972.

Atos contra a democracia

O vice-presidente disse ainda que a participação do presidente Jair Bolsonaro em atos que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) também não eram uma ameaça à democracia, e que disse que a afirmação do governador de São Paulo, João Doria, que viu "agressões gratuitas à democracia" na ocasião, eram ocasionadas pela "polarização na política".

Questionado se essa era uma conversa perigosa, o vice-presidente afirmou que não, já que "ninguém tem poder de fazer o que quer aqui no Brasil": — Não, isso acontece porque há polarização na política. O governo de São Paulo se opôs a Bolsonaro. Isso é muito mais conversa do que, digamos, ação. Não, não é perigosa. É perigoso quando você tem poder de fazer o que quer, mas ninguém tem poder de fazer o que quer aqui no Brasil.

Ainda segundo Mourão, "há um excesso de 'tribalismo' (no país) e os lados políticos estão muito polarizados": 

— Há muita polarização na política, mas a nossa administração está conduzindo bem o país e as coisas estão melhorando.

Pandemia

O vice-presidente também minimizou o comentário que havia feito em abril a repórteres. Na ocasião em que o governo enfrentava a saída do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, Mourão afirmou: "está tudo sob controle. Só não sabemos de quem". Segundo o vice-presidente, a fala foi "uma piada".

Mourão defendeu a atuação do atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e disse não ser necessário ser médico para ser ministro da Saúde: — É preciso alguém que entenda administração pública e que não seja conivente com a corrupção. O ministro Pazuello sabe muito sobre logística, que era nosso principal problema com o ministro da Saúde.

O Globo - ZHGaucha


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

'Time' inclui Bolsonaro na lista de 100 mais influentes do mundo em 2020

 G 1 e VEJA

Presidente brasileiro aparece na categoria 'Líderes' e tem números negativos de seu mandato destacados por publicação. 

 O presidente Jair Bolsonaro é um dos brasileiros  na lista de 100 pessoas mais influentes do mundo em 2020 elaborada pela revista 'Time'. Os eleitos foram divulgados na noite desta quarta-feira (23).

Na categoria "Líderes", o perfil de Bolsonaro informa números negativos de seu mandato, como os 137 mil mortos pelo coronavírus no Brasil, a "pior recessão em 40 anos" e os "mais de 29 mil incêndios na floresta amazônica apenas em agosto", mas também o apoio de 37% dos brasileiros. 

O editor de internacional da revista, Dan Stewart, que escreveu o perfil do presidente brasileiro, atribui o percentual de apoio a Bolsonaro, o maior desde que ele assumiu o cargo no início do ano passado, à ajuda emergencial paga aos mais pobres durante a pandemia e aos seus seguidores fervorosos. [deve ter sido complicado para o editor de internacional da revista Time,  ter que colocar o nome do presidente Bolsonaro na lista dos mais influentes do mundo - se percebe que o citado e grande parte da mídia não gostaram do destaque recebido merecidamente pelo presidente do Brasil.

Alguns órgãos chegam a chamar os apoiadores do presidente Bolsonaro - entre os quais estamos desde o primeiro momento, condição da qual nos orgulhamos  - de fervorosos, adoradores, etc.]

Bolsonaro foi citado ao lado de nomes como dos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden.

A lista dos 100 mais influentes é publicada pela revista “Time” desde 2004. Bolsonaro também havia sido incluído na lista dos cem mais influentes em 2019. Dilma Rousseff foi citada em 2011 e 2012, e o ex-presidente Lula, em 2004 e 2010. 

 G 1 e VEJA



domingo, 22 de março de 2020

Vamos vencer a batalha? Depende (por Gaudêncio Torquato) - VEJA - Blog do Noblat



quarta-feira, 18 de março de 2020

De Rodrigues.Alves@com para Bolsonaro - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo


A varíola foi extinta, mas a ambição dos homens é mal incurável

É o presidente quem desafia as autoridades sanitárias, buscando fortalecer-se politicamente pelo menoscabo de uma pandemia 

Senhor presidente,
No domingo esteve aqui o Oswaldo Cruz, assombrado. Ele viu como o senhor vem se comportando diante da pandemia do coronavírus. Repito o que ouvi dele: “Coisa de pajé, de benzedeira”. O Oswaldo, com sua formação alemã, é um homem de palavras duras, mas creio que ele não exagera.


Escrevo-lhe com autoridade. Vosmecê está na cadeira em que estive de 1902 a 1906. Eu deveria ter voltado à Presidência em 1918, mas peguei a Gripe Espanhola e morri. Durante meu governo, com a ajuda do Oswaldo, instituí a vacina obrigatória contra a varíola e livrei o Rio de Janeiro dessa moléstia. Hoje isso pode lhe parecer coisa trivial. Havendo uma doença, vacina-se o povo, e está tudo resolvido. Vosmecê não tem ideia do que enfrentamos. Misturaram-se pajés de segunda, médicos renomados, políticos oportunistas e até mesmo militares indisciplinados, formando aquilo que veio a ser chamado de a “Revolta da Vacina”. Atente, capitão, em 1904 nosso Brasil teve uma revolta popular contra uma vacina.

Seria razoável supor que a plebe não entendesse a importância da medida, mas lembro-lhe que jornalistas de prestígio e até mesmo Rui Barbosa combateram a iniciativa. Faziam-no porque tinham interesses políticos. Queriam enfraquecer, ou até mesmo derrubar o presidente. Planejaram dinamitar meu trem, e chegaram a recrutar um cadete para o atentado. Em novembro eles tentaram um golpe, e duas colunas de soldados aproximaram-se do palácio. Houve quem me propusesse abandoná-lo. Dispensei meus familiares e mandei atirar. Morreram 30 pessoas, e a revolta esvaiu-se.

Para Vosmecê, que não gosta de ativismos populares, vale a memória de que a maior revolta popular ocorrida no Rio de Janeiro derivou de uma articulação oportunista que manipulou a ignorância. A vacina era um pretexto. O que eles queriam era o poder. A varíola foi extinta, mas a ambição dos homens é mal incurável.  Agora, pelo que me mostrou o Oswaldo, estamos numa situação inversa, é o presidente quem desafia as autoridades sanitárias, buscando fortalecer-se politicamente pelo menoscabo de uma pandemia. Regredimos, capitão. Duvido que o senhor tenha tomado suas atitudes por conhecimentos médicos. O senhor deve entender de vírus tanto quanto os pajés entendiam de vacina.

O Oswaldo era um homem de ideias modernas. Eu não, nunca fui abolicionista nem republicano, mas isso não significava que fosse um ignorante. Tinha perdido duas filhas, uma para o tifo e outra para a febre. Muitos anos antes, o tifo matara o Marquês de Paraná, e a febre levara Bernardo Pereira de Vasconcelos, dois brasileiros maiores que nós.  Quis o Padre Eterno que eu morresse numa epidemia. Logo eu, que dei mão forte ao Oswaldo para sanear o Rio de Janeiro. A vacina abateu a varíola. Os mata-mosquitos, autorizados a entrar nas casas, controlaram a febre amarela. Em um ano o número de vítimas caiu de 548 para 54.

É verdade que, aos 70 anos, eu era um velhinho e vivia resfriado. No seu Brasil, gente como eu precisa de orientação e isolamento. Pelo que me contam, os governadores e seu ministro da Saúde estão agindo direito. A única voz dissonante tem sido a sua.

Despeço-me respeitosamente, do seu

Francisco de Paula Rodrigues Alves.

Folha de S. Paulo - O Globo - Elio Gaspari, jornalista




quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Afinal, o nazismo é de esquerda ou de direita? - O Estado de S. Paulo

Demissão de Roberto Alvim

'Quem protesta contra os nazistas não é de esquerda, mas normal', diz cartaz reproduzido em vídeo da embaixada alemã no Brasil

Apesar de Jair Bolsonaro (sem partido) declarar "não ter dúvidas" de que o nazismo é de esquerda, a história e estudiosos da ideologia que marcou o Terceiro Reich da Alemanha contradizem o presidente do Brasil. Em abril do ano passado, o chanceler Ernesto Araújo havia retomado essa discussão quando afirmou que o nazismo era de esquerda - opinião corroborada por Bolsonaro. Agora, a demissão do secretário de Cultura, Roberto Alvim, após a polêmica causada por um vídeo com referências nazistas, trouxe a questão de volta à tona. 

Uma das justificativas apresentadas pelo presidente está no nome do partido de Adolf Hitler.  "Não há dúvida (que o nazismo foi de esquerda). Partido Socialista... como é que é? Partido Nacional-Socialista da Alemanha", disse Bolsonaro. Já o chanceler disse em entrevista ao canal Brasil Paralelo, do Youtube, que o nazismo e o fascismo são resultados de “fenômenos de esquerda”. Segundo Araújo, regimes totalitários distorceram o sentimento de nacionalismo, o que, para ele, seria uma tática da esquerda.  
Nazismo
Uniformes nazistas confiscados pela polícia de Berlim  Foto: Fabrizio Bensch/Reuters
As declarações vão de encontro ao que o Museu do Holocausto, visitado por Bolsonaro, diz em seu site: que o Partido Nazista da Alemanha era um entre vários "grupos radicais de direita". Para o historiador Marcos Guterman, o nazismo não pode ser qualificado como de esquerda em nenhuma circunstância. "Não tem nada a ver com o socialismo marxista. Tem a ver com o sentido da totalidade da sociedade alemã”, afirmou ele.
Para ele, o argumento de que o nazismo é de esquerda é insustentável e tem um único objetivo: mobilizar a militância. “Ele está respondendo a um pensamento do eleitor.” Em entrevista à Deustche Welle no ano passado, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, chegou a afirmar que essa discussão “não tinha base honesta”. 

O nazismo foi uma corrente política alemã que surgiu na esteira da ascensão do fascismo na Europa. Fundamentou o Estado totalitário de Adolf Hitler. Assim como o fascismo, se caracterizou pelo nacionalismo, autoritarismo e anticomunismo. O historiador Uzi Rabi, da Universidade de Tel-Aviv, ao ter contato com as declarações de Bolsonaro, demorou para entender a linha de raciocínio do presidente. "Eu nunca ouvi isto antes. Não sei do que eles estão falando." 

embaixada alemã no Brasil publicou em 2018 um vídeo em sua conta oficial no Twitter em que afirma que alemães "não escondem seu passado". Com imagens de arquivo, o vídeo expõe:
"O pensamento é: 'conhecer e preservar a história para não repeti-la'. Na Alemanha, é crime: negar o Holocausto, exibir símbolos nazistas, fazer a saudação 'Heil Hitler'. E quando o extremismo de direita volta a acontecer no país?" A embaixada coloca no vídeo uma imagem de um protesto antinazista onde é possível ler um cartaz com a mensagem: "Quem protesta contra os nazistas não é de esquerda, mas normal."
No Brasil, o extinto Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), órgão de repressão política e social ativo durante a ditadura, classificou o nazismo como um extremismo da direita. "Vigilantes estamos para todas as formas de extremismo aqui alimentadas, sejam da esquerda, como o comunismo, sejam da direita, como o fascismo e o nazismo", apontou o órgão em nota registrada nos arquivos do Acervo Estadão, datada de 27 de julho de 1949.

Como publicou o Estado, o brasileiro Avraham Milgram, que trabalhou como pesquisador do Museu do Holocausto, atribui a declaração de Bolsonaro à política brasileira. "Esta teoria não tem base histórica nenhuma. Acho que tem mais a ver com o presente do que com o passado. É uma ignorância, mas que talvez seja uma reação ao fato de a esquerda ter ligado Bolsonaro a Hitler."

Matheus Lara - Colaborou Bruno Nomura - O Estado de S. Paulo

 

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Fanfarronadas têm um preço

A capitã do navio de africanos expôs o risco político do radicalismo xenófobo de Matteo Salvini

[os governantes tem como dever primeiro defender os seus governados e a capitã fez um ato que para ele pode ter sido exibicionismo, fanfarronice, bravata, mas, de fato foi um ATO DE GUERRA e a embarcação agiu como os piratas da Somália.

Ainda que desesperadora a situação dos 40 africanos, a capitã poderia ter escolhido outro porto, outro país; próximo ao porto invadido a brava capitã dispunha de portos em outros países que abrigam refugiados - qual a razão dela escolher o de um país que está dando preferência a cuidas dos seus naturais.

Aqui mesmo no Brasil, cada emprego que é dado a um venezuelano é um emprego a menos para um brasileiro.]

O retumbante Matteo Salvini, ministro do Interior da Itália, aprendeu uma lição. Quando o barco Sea Watch 3 entrou à força no porto de Lampedusa com 40 refugiados líbios, ele anunciou a prisão da capitã Carola Rackete com a teatralidade do radicalismo fanfarrão. A entrada do navio no porto teria sido um "ato de guerra" praticado por uma embarcação "pirata".

Os 40 africanos que haviam sido resgatados pelo Sea Watch em alto-mar seriam mais um lote de desesperados e Carola Rackete, mais uma ativista dessas ONGs que azucrinam os poderes estabelecidos. Nunca se sabe quando o vento da história sopra em cima de um poderoso da ocasião. O vento soprou em cima de Salvini.

O Sea Watch tem a bandeira holandesa e Carola Rackete é alemã. O ministro das Relações Exteriores de Berlim, Heiko Maas, pediu a libertação da marinheira: "Quem salva vidas não pode ser chamado de criminoso" —exatamente o que achou a juíza que ordenou sua soltura nesta terça (2). O governo da França classificou o ato de "histeria" e o presidente italiano recomendou que se baixasse a bola. Duas vaquinhas internacionais arrecadaram mais de 1 milhão de euros para ajudar a ONG do Sea Watch. [independentemente da bandeira do navio e da nacionalidade da comandante, o Sea Watch desrespeitou a soberania de um país, invadiu um porto. Com certeza esse um milhão de euros seria bem mais útil ajudando ao refugiados, do que ser doado a mais uma ONG.]

Os refugiados não precisam ficar na Itália e não era razoável que 40 pessoas ficassem à deriva no Mediterrâneo. As leis italianas pretendem conter o êxodo de refugiados africanos, na defesa dos interesses do país, e quando a marinheira desceu no cais de Lampedusa, populares chamaram-na de "vendida". Um deles gritou que ela devia ser estuprada pelos negros que transportou. Coisa dos tempos de hoje. No século passado os europeus fizeram coisas piores e em 1944 o governo italiano colou cartazes mostrando um soldado simiesco com o uniforme americano saqueando obras de arte. Deixar barcos em alto mar, chamando os tripulantes de piratas metidos em atos de guerra, é um triste retorno, e Salvini percorreu-o.

Isso era o que acontecia em 1947. O governo inglês capturava navios com judeus que seguiam para a Palestina. Depois, quando a saga do navio Exodus (com Paul Newman no papel principal) tornou-se um marco na vida de Israel, tiraram o corpo fora. Por trás do Sea Watch e das ONGs há uma rede de apoios e cumplicidades. A tripulação do barco tinha jovens franceses, holandeses e espanhóis. Nada de novo: havia uma rede clandestina e multinacional por trás de navios como o Exodus. (Nela militava Samy Cohn, que se tornou banqueiro e morreu no Brasil.) Há diferenças entre os refugiados judeus de 1947 querendo ir para a Terra Santa e os africanos de hoje querendo entrar na Europa, mas o ministro alemão que defendeu a libertação de Carola Rackete foi ao essencial: "Quem salva vidas não pode ser chamado de criminoso". Os líbios do Sea Watch poderiam ter morrido no Mediterrâneo e, segundo a capitã, ameaçavam jogar-se ao mar, como faziam os africanos dos navios negreiros do século 19. Calcula-se que neste ano 600 africanos afogaram-se no Mediterrâneo.

As falas de Salvini, repudiadas na terça pela juíza, foram uma fanfarronice demagógica. O ministro tinha motivos para saber que a marinheira, uma "fora da lei", segundo ele, não ficaria muito tempo presa. Sendo alemã, poderia ser deportada. Sabia também que os africanos não ficarão em Lampedusa. Jogou para sua plateia, mas subestimou a reação de outros países e das próprias instituições italianas. Nos dias de hoje, isso é comum.
Elio Gaspari, jornalista - O Globo e Folha de S. Paulo


segunda-feira, 3 de setembro de 2018

CR7, Modric e Salah concorrem ao prêmio de melhor do mundo da Fifa - Neymar, mais uma vez, fora. Tite também ejetado.



Messi fica fora depois de dez anos; Marta é finalista entre as mulheres


A Fifa anunciou, nesta segunda-feira, os finalistas do "The Best", que premiará, em 24 de setembro, os melhores da temporada 2017/2018. E, na categoria principal, um desfalque de peso: depois de dez anos, Lionel Messi não concorrerá ao posto de melhor jogador. Ele está fora do seleto grupo, este ano representado por Cristiano Ronaldo, Modric e Salah.

Entre as mulheres, a brasileira Marta, que já conquistou o prêmio cinco vezes, é finalista mais uma vez. Ela concorre com a norueguesa Ada Hegerberg e a alemã Dzsenifer Marozsan, destaques do Lyon.

O peso da Copa do Mundo foi sentido principalmente na disputa entre os técnicos. Campeão com a França e vice com a Croácia, respectivamente, Didier Deschamps e Zlatko Dalic foram indicados. E, depois de três títulos consecutivos na Champions com o Real Madrid, Zinedine Zidane também está na lista.

Já o prestigiado Prêmio Puskas terá os nomes de peso de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, mas também contará com um representante do futebol brasileiro. O uruguaio De Arrascaeta está entre os dez finalistas por um golaço marcado com a camisa do Cruzeiro contra o América-MG, no Mineirão. Essa categoria é aberta ao público no site da Fifa

OS FINALISTAS DO THE BEST
Melhor jogador:
Cristiano Ronaldo (Real Madrid, hoje na Juventus/Portugal)
Luka Modric (Real Madrid/Croácia)
Mohamed Salah (Liverpool/Egito)

Melhor jogadora:
Ada Hegerberg (Lyon/Noruega)
Dzsenifer Marozsan (Lyon/Alemanha)
Marta (Orlando Pride/Brasil)

Melhor técnico de futebol masculino:
Zlatko Dalic (Croácia)
Didier Deschamps (França)
Zinedine Zidane (Real Madrid)

Melhor técnico de futebol feminino:
Reynald Pedros (Lyon)
Asako Takakura (Japão)
Sarina Wiegman (Holanda)

Prêmio Puskás:
Gareth Bale
Denis Cheryshev
Lazaros Christodoulopoulos
De Arrascaeta
Riley McGree
Lionel Messi
Benjamin Pavard
Ricardo Quaresma
Cristiano Ronaldo
Mohamed Salah

Melhor goleiro:
Thibaut Courtois (Chelsea, hoje no Real Madrid/Bélgica)
Hugo Lloris (Tottenham/França)
Kasper Schmeichel (Leicester/Dinamarca)

Tite fica fora da lista de 11 melhores técnicos do mundo; veja indicados

Tite fica fora da lista de 11 melhores técnicos do mundo; veja indicados... - Veja mais em https://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2018/07/24/tecnicos-concorrentes-premio-fifa-futebol-masculino.htm?cmpid=copiaecola
Concorrem ao prêmio Massimiliano Allegri (Juventus), Stanislav Cherchesov (Rússia), Zlatko Dalic (Croácia), Didier Deschamps (França), Pep Guardiola (Manchester City), Jurgen Klopp (Liverpool), Roberto Martinez (Bélgica), Diego Simeone (Atlético de Madri), Gareth Southgate (Inglaterra), Ernesto Valverde (Barcelona) e Zinedine Zidane (ex-Real Madrid)

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