Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador açougueiros. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador açougueiros. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O mercado está errado

Não há indicação de que Temer, escapando de Janot, ganhe força política para comandar votação da reforma da Previdência

É tipo reflexo condicionado: qualquer situação que ajude o presidente Temer, a Bolsa ensaia uma alta. Especulação, claro, mas tem uma lógica disseminada no mercado. Assim: governo fortalecido é capaz de encaminhar a agenda econômica e votar a reforma da Previdência.  Dirão: e não é exatamente assim que acontece? A Bolsa caiu quando saiu a primeira notícia da delação da JBS e subiu quando a delação começou a melar e Temer se safou da denúncia no Congresso.

É que especulações também funcionam, ainda que por período limitado. Além disso, tem o comportamento de manada. Não raro, o mercado embarca numa delas — e a do momento é essa. Mas não é bem isso que acontece. Há muitas outras situações a observar. O primeiro ponto: não há nenhuma indicação de que o presidente Temer, escapando de Janot, ganha força política e credibilidade para comandar a votação da reforma da Previdência. [Temer já se livrou de Janot - os 'bambus' acabaram e com eles as flechas. Se Janot apelar para armas de fogo, mais modernas que flechas, suas armas estarão carregadas com cartuchos de festim = pum ...
Janot é quem tem que escapar  e não só de Temer; o absurdo do 'julgamento' - atribuição exclusiva do Poder Judiciário - e da 'concessão de anistia' - atribuição do Poder Legislativo - aos açougueiros da JBS foi, no mínimo, abuso de autoridade, pelo qual o procurador-geral deverá responder.] 

Ao contrário: a maior parte da base governista se sente mais confortável se não tiver que votar temas polêmicos. Trata-se de um projeto de emenda constitucional, que exige 308 votos na Câmara dos Deputados, um quórum muito longe da atual capacidade do governo.
Essa maioria teria que ser construída na base do argumento segundo o qual o setor público está quebrado, com déficits e dívidas em alta. Não há esse consenso na base governista. Nem interesse em discutir o ponto. O pessoal lá só quer saber de cargos e verbas para ganhar eleições.

Temos aqui, portanto, duas interpretações diferentes. Quando o presidente Temer escapa das denúncias, o mercado acha que ele fica forte para fazer reformas. Já a base governista quer ajudar o presidente para arrancar vantagens pessoais e/ou partidárias. Obtendo êxito, cobra não as reformas, mas o pagamento fisiológico. Considerem o caso da privatização da Eletrobras. No dia em que foi anunciada pela equipe econômica, conforme, aliás, um programa bem articulado, o mercado entrou em êxtase. Num dia, o valor de mercado da estatal saltou de R$ 20 bi para R$ 29 bilhões. 

Mas o que tem acontecido de lá para cá? Uma clara resistência da base política. A bancada de parlamentares de Minas esquece as divergências para se unir contra a privatização de Furnas, a principal subsidiária da holding Eletrobras. Nesta semana, governadores do Nordeste, apoiados pelos seus deputados e senadores, pediram formalmente ao presidente Temer que também retire a Chesf do programa de desestatização. E a base governista do Norte apresentou um plano para capitalizar e reforçar a Eletronorte, como estatal, claro.

Qualquer que seja o andamento dessa história, é uma longa e atrapalhada história. De onde tiraram que isso vale R$ 9 bilhões, assim na mão?  Estatais dão cargos e contratos, tal é a visão da área política. Estatais estão quase quebradas, precisam de capital privado, tal é a ideia da equipe econômica — e do mercado, claro.  Qual lado vai prevalecer para um presidente que precisa dos votos no Congresso para se salvar no cargo?

É verdade, por outro lado, que muita coisa passou no Congresso, especialmente o projeto que fixou o teto de gastos públicos, além da reforma trabalhista, incluída a terceirização.  Era outro momento — o momento imediatamente pós-Dilma, em que era preciso marcar diferenças. Além disso, a reforma trabalhista tinha bom trânsito num Congresso com forte presença de empresários e aliados. E também não se sabe ainda exatamente quais medidas Temer prometeu a dirigentes sindicais para “amenizar”, como se diz, pontos daquela reforma, incluindo o restabelecimento de algum modo de imposto sindical.

E quanto ao teto de gastos? Sinceramente, acho que a maior parte da base governista não entendeu direito o que estava votando. Tanto que, de lá para cá, essa base só tem reivindicado o contrário, mais gastos. E está levando. O governo aceitou aumentar o déficit previsto para este ano e o próximo. Déficit maior autoriza mais gastos. Repararam como a nova meta foi aprovada rapidamente no Congresso, mesmo em meio à confusão dos últimos dias?

E, finalmente, tem os fatos. Mesmo que caia a delação da JBS, os fatos não caem. Aliás, até pioram. Se Joesley era “esse salafrário”, como diz a defesa de Temer, como é que o presidente aceitou recebê-lo às escondidas? E pelo teor da conversa gravada, Temer sabia perfeitamente do que fazia Joesley.  A maleta de dinheiro do Rocha Loures virou troco diante das malas e caixas encontradas no apartamento cedido a Geddel. E, convém lembrar, na tal conversa com Joesley, Temer indicou Loures para substituir o já caído Geddel como interlocutor da maior confiança na relação JBS/Planalto.

Vem aí a delação do Funaro, os processos contra os PMDBs do Senado e da Câmara, ou seja, a Lava-Jato não para. O presidente escapa de uma, e já imediatamente precisa dos votos e do Congresso para escapar de outra e assim vai.  Resumindo, a Bolsa subiu porque a economia está em recuperação. Trata-se de uma recuperação cíclica, cuja principal causa é a queda da inflação e dos juros, que favorece o consumo. Isso, a despeito da política. [é necessário ter presente que mesmo considerando Temer culpado de tudo que é ruim - até mesmo dos furacões que causam danos nos EUA, das bombas do Kim Jong-un e outras mazelas - se o deixarem governar ele continuará adotando medidas que favorecem a recuperação da economia, em consequência, a queda do desemprego, da inflação, do aumento do consumo.
Se Temer deve, que seja investigado, processado, julgado e condenado a partir de 31 de janeiro de 2019.
Essa perseguição ferrenha, até mesmo descontrolada, feita por Janot e outros só PREJUDICA ao Brasil e aos brasileiros.]

Por - Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 

quinta-feira, 23 de março de 2017

Sempre foi assim mesmo. E daí?

Acusar a polícia de idiotice não trará de volta compradores de nossa carne no exterior

Na sexta-feira, o Brasil recebeu a chocante notícia de que muitos frigoríficos nacionais – entre os quais, os maiores protagonizavam um escândalo que atingia ao mesmo tempo o bolso e o estômago dos brasileiros: a maquiagem de carne podre com ácido ascórbico e a mistura de papelão e outros ingredientes indesejados nos embutidos nossos de cada dia. O País é o maior exportador mundial de carne. Et pour cause, a venda de alimentos contaminados com o beneplácito da fiscalização federal, além de nociva à saúde do consumidor interno, prejudica as receitas de exportação num momento de penúria causada pela maior crise econômica da História.

Numa reação inédita, o presidente Michel Temer, que até hoje não se dignou a visitar os presídios conflagrados no início do ano em Manaus, Boa Vista e Nísia Floresta, na Grande Natal, chefiou uma série de reuniões para anunciar medidas como compor uma força-tarefa para reforçar a fiscalização da pecuária. [Temer agiu corretamente ao não visita presídios e optar por priorizar a defesa dos interesses comerciais do Brasil, especialmente a exportação,  que passaram a correr grande risco em função da malfadada 'operação carne fraca'; inadmissível seria Temer perder tempo indo visitar presídios.
Presídio é assunto da Justiça e da Polícia.]  

Além disso, o episódio provocou uma reação indignada do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que, em defesa de seus parceiros da agroindústria, condenou a investigação policial. Numa entrevista em que esquartejou a pobre língua portuguesa com uma sequência atroz de barbarismos inaceitáveis num aluno de grupo escolar, reclamou da ausência dos investigados na avaliação técnica da investigação. E classificou de “idiotice” insana a interpretação do uso de papelão na carne, atribuindo-o à embalagem e esquecendo-se de informar desde quando frigoríficos exportadores embalam carne com o dito material.

O presidente Michel Temer defendeu a Polícia Federal (PF), que, num desvario dos desesperados ante os efeitos maléficos da divulgação da investigação, foi comparada aos responsáveis por um dos maiores erros policiais, com cumplicidade dos meios de comunicação, da História: o caso da Escola Base, em São Paulo. Nenhum dos acusadores, contudo, se lembrou de apontar uma causa lógica para tamanha irresponsabilidade da PF.

Nervoso e confuso, Temer adotou a desculpa usada pelos pecuaristas, que também participaram da reunião dele com a imprensa e 40 diplomatas das embaixadas de 27 países compradores: das 4.837 unidades sujeitas à inspeção federal, apenas 21 foram acusadas de irregularidades.E dessas 21, seis exportaram nos últimos 60 dias.” Para provar sua convicção, o presidente convidou os presentes no encontro para comer carne de boi, postando em seu Twitter: “Todas as carnes servidas ao presidente Temer e embaixadores na churrascaria Steak Bull eram de origem brasileira”. Mas a Coluna do Estadão foi informada pelo gerente, Rodrigo Carvalho, que tinham corte europeu, uruguaio e australiano. Um papelão!

Vexames do tipo poderiam ser evitados se o governo tratasse o escândalo com a transparência sugerida pelo ministro Maggi, “rei da soja”, citado nas delações premiadas da Odebrecht e tido como responsável por metade da devastação ambiental brasileira entre 2003 e 2004, segundo o Greenpeace. Não será com truques de malandro campainha (que se anuncia antes de assaltar) que os governantes e pecuaristas brasileiros manterão seus mercados, invejados por outros grandes e poderosos produtores de carne. De Genebra, Jamil Chade relatou que, se o Brasil não retirar essas companhias da lista de exportação, a União Europeia vai bloquear a entrada dos produtos. E China, Hong Kong e Chile informaram oficialmente ao Ministério da Agricultura a suspensão de importação de nossa carne.

Não é desprezível a afirmação do delegado Maurício Moscardi Filho de que a propina que a PF diz ter sido paga a fiscais irrigava contas do PMDB e do PP. Esses partidos – antes aliados de Dilma e agora, de Temer – ocupam a pasta há 18 anos. Maggi trocou o PR pelo PP para assumi-la na atual gestão. E esse não é o primeiro dano provocado pelo loteamento do governo federal.

Não faltará quem lembre que se compram fiscais nestes trágicos trópicos desde o desembarque de Cabral em Porto Seguro. Já há também quem lembre que corrupção na política não é uma exclusividade brasileira, uma jabuticaba, como se usa correntemente. Pois sim! E não disse Otto Eduard Leopold von Bismarck-Schönhausen, duque de Lauenburg, unificador da Alemanha sob o punho da Prússia, morto antes da chegada do século 20, que “os cidadãos não dormiriam tranquilos se soubessem como são feitas as salsichas e as leis”? Pois então…

A sábia sentença vale como nunca no Brasil destes nossos idos de março, nos quais não faltam também trágicos avisos, como o que o general romano Júlio César ouviu, nas ruas de sua Roma, de um vidente anônimo sobre os punhais que o esperavam na escadaria do Senado. A não ser que a PF tenha cometido barbaridade similar à da Escola Base, em que um casal de educadores perdeu tudo pela acusação cruel de uma criança que viralizou na imprensa, a onda de lodo que se abateu sobre toda a República não terá poupado a galinha de ovos de ouro da economia nacional: nossa produtiva, próspera e moderna agroindústria. Se a polícia exagerou, o caso merece punição pesada.

Mas se a polícia contou, como parece lógico, a verdade, não dá para cair na lorota do empreiteiro Emílio Odebrecht, que desonrou a memória do pai, Norberto, que construiu e deu nome à maior empreiteira do Brasil, pretendendo conquistar o perdão para o filho, Marcelo, e seus comparsas. E, para tanto, adotou o mantra sórdido de Tavares, o canalha cínico encarnado por Chico Anysio: “Eu sou, mas quem não é?”. Ou seja, “não foi?”.  A Operação Carne Fraca, que deveria chamar-se Carne Podre ou Carniça, precisa abrir a caixa-preta onde se guardam mistérios como o milagre da multiplicação das picanhas, em que uma família de pequenos açougueiros de Anápolis hoje controla a empresa campeã na produção de proteína animal neste mundão todo.

Fonte: Estadão - Blog do José Nêumanne