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sábado, 22 de julho de 2023

Preparai-vos, eleitores do Bolsonaro, ou sereis extirpados. - Valterlucio Bessa Campelo

 

       O quadro acima, que fiz questão de emoldurar, traduz bem o momento que estamos vivendo no Brasil, embora os lacaios da extrema imprensa insistam em olhar pro lado ou passar pano, como fizeram vergonhosamente nos últimos dias. É seguramente um período de exceção, o chamado “estado democrático de direito” foi pro brejo faz tempo.

Aos lulopetistas de cuecas vermelhas, isentões etc., pergunto: 
- Como vocês acham que começam os regimes totalitários? 
- Com o caminhão do ovo gritando na rua? 
- Com o pé na porta da igreja? 
É não, diria eu mesmo ao meu amigo bobinho. É assim, é solapando as instituições, dominando a imprensa por todos os meios, silenciando e cassando opositores, amaciando lentamente o cidadão como se fosse um bife sob o martelo, até que ele não se importe em ver as sombras se abaterem sobre seu futuro e o dos seus filhos ou, em muitos casos, decida fazer parte do esquema macabro.
 
Num dia, um ministro do STF, o mais progressista do grupo, aquele que quer mover a história e acha normal a Corte se transfigurar em órgão político, se dá ao desfrute de discursar em uma Assembleia Estudantil dominada há décadas por partidos de extrema esquerda e se declarar antibolsonarista, em flagrante atrito com a Constituição Federal, pelo menos, é o que pensam alguns PARLAMENTARES que assinaram contra ele um pedido de impeachment (entre eles, por enquanto, quatro corajosos acreanos – Alan Rick, Marcio Bittar, Coronel Ulysses e Eduardo Veloso). 
A CF veda a participação de ministros em eventos políticos e partidários. Convenhamos, no caso em tela, apenas a presença do Barroso, calado, sem soltar um sequer de seus barrosismos, ensejaria quebra do decoro. 
 
No outro dia, um importante jornalista, Ricardo Kotscho, ex-Ministro do Lula da Silva, esquerdista de carteirinha e bolsista da viúva na Comissão de Anistia, foi mais além. 
Segundo ele, a pacificação do país não é possível porque tem muito bolsonarista solto, ou seja, se quiser paz Lula da Silva deverá construir presídios para uns 58 milhões de adultos que votaram em Bolsonaro, o que, para quem aplaude Stálin, Mao Tse Tung, Pol Pot, Fidel Castro, Kim Il-Sung etc., não parece impossível. Aguardemos.
 
Concomitantemente, o próprio Lula da Silva, em momento inspirado, não se conteve.  
Não é possível saber se leu em algum lugar, o que seria duvidoso, ou se alguém (quem sabe a janja?) lhe falou ao ouvido ou, ainda, se ele mesmo pensou, [pensou??? ele consegue realizar tal ação? tem o órgão essencial para tanto?] o certo é que praticamente REPETIU as palavras NAZISTAS de um homem que ele mesmo já disse admirar. Sabe quem? Adolf Hitler. (VEJA AQUI). Segundo Lula da Silva, os bolsonaristas são ANIMAIS SELVAGENS que precisam ser EXTIRPADOS. 
Antes ele achava que deveriam ser “purificados”, seja lá o que isso signifique. Quem sabe, uma nova Inquisição política. 
 Se o leitor tem alguma dúvida do que se trata EXTIRPAR, nem se dê ao trabalho. 
No quadro abaixo tem uma listinha de sinônimos, que peguei do Google:

Extirpar

Assolar,abalar,abater,abolir,acabar,afligir,alhanar,aluir,aniquilar,anular,
apagar,arrasar,

Arruinar,aterrar,Avexar,bombardear,ceifar,cercear,consumir,demolir,
depopular,depredar,

Derribar,derrocar,derrotar,derrubar,desbaratar,desmoronar,desolar,
destroçar...
 
[um comentário:  na verdade, o cidadão  pretendia expor o propósito de eStripar (vivos) os bolsonaristas e, após, extirpá-los.]

Pronto. Se o leitor, por acaso, é um dos 62,5% dos eleitores acreanos que votaram no Bolsonaro, pode escolher aí no quadrinho o que pretende pedir ao carrasco vermelho. Tem pra todo gosto. Hitler, o admirado pelo Lula, não deu muita escolha aos inimigos que chamava de animais, com ele era tiro na nuca ou câmara de gás, Stálin tinha um leque de opções que variava entre um tiro na nuca e o frio da Sibéria (havia quem escolhesse o tiro), Mao Tse Tung preferia matar de fome mesmo, Pol Pot era extremamente cruel, gostava de ver o inimigo sofrer sob tortura, Fidel curtia um “paredón”, e por aí vão eles.

Enfim, a experiência de mais de 100 milhões de mortos por seu sistema poderá inspirar os comunistas, entre os quais um que disso se orgulha, ou seja, o próprio Lula. Sem nenhum remorso, eles executarão as ordens, afinal, os seus inimigos, os eleitores de Bolsonaro, foram desumanizados, não são gente, será um processo que visa o amor e a paz, né, Kotscho? Além disso, como cochichou o ministro do TSE ao ouvido do colega na diplomação do Lula, “missão dada é missão cumprida” (lembrei Adolf Eichmann em seu próprio julgamento em Nuremberg). Penso se não seria o caso de recorrer aos defensores dos animais, talvez os ambientalistas de coração bom resolvam salvar esses “animais selvagens” das garras dos extirpadores.

Feita a explicação do quadro pavoroso que encima este texto, talvez seja hora de chamar atenção para a necessidade que temos, todos os democratas, de enfrentar a barbárie anunciada. Aqui? Sim, aqui no Acre e em todos os lugares, em todos os municípios brasileiros. 
Como disse o jovem Étienne de La Bóetie no século XVI, em seu “Discurso da Servidão Voluntária”, a melhor coisa que se pode fazer contra o tirano é não entregar o que ele deseja. 
O que Lula mais deseja é ganhar as eleições para, sob a capa da incolumidade do processo eleitoral, levar adiante seu desiderato perverso, então, que perca. 
Já no próximo ano teremos uma oportunidade de derrotar os extirpadores nas eleições para prefeito
Milhares de pequenas vitórias em milhares de pequenos e grandes municípios farão uma grande vitória da verdadeira democracia, liberal, de respeito à vida, ao indivíduo e suas opções, à família, às religiões, à propriedade, às tradições e à nação. 
Se não somos extirpadores de ninguém, nem queremos ser extirpados, lutemos.

*        O autor, Valterlucio Bessa Campelo, escreve às sextas-feiras no site as24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Percival Puggina e outros sites.  

 

 

quinta-feira, 29 de junho de 2023

O ressentimento como moeda - Revista Oeste

Theodore Dalrymple

A luta contra a hegemonia global do dólar pode levar a uma situação muito pior


 Foto: Shutterstock

Tanto na imprensa britânica quanto na francesa muito tem se falado recentemente, não sem certa satisfação maliciosa, sobre o declínio do dólar americano como a moeda de reserva do mundo
Afinal, a importância do dólar americano há muito tempo é um lembrete da substituição permanente da Europa como o centro do mundo depois da Primeira Guerra Mundial.

Claro, o ressentimento causado pela dominação do dólar americano não se restringe à Europa.  
Países, tanto quanto indivíduos, gozam de um status de subordinados. 
E a situação do dólar como moeda de reserva é o que permite aos Estados Unidos — ao que parece, indefinidamente — gastarem mais do que podem, ou seja, consumirem mais do que produzem à custa de outras nações. Enquanto a fé no dólar durar, e não existir outra moeda de último recurso em vista, isso deve continuar acontecendo.

A hegemonia do dólar também dá — ou dava — aos Estados Unidos um imenso poder político
De um só golpe, eles podem — ou podiam — eliminar países das linhas normais de crédito e dos meios de troca. 
Mas essas sanções não são fatais para as nações que as enfrentam. 
A necessidade de escapar das sanções econômicas afia e concentra a mente das pessoas, acaba com a rotina e encoraja governos sobre a necessidade de serem mais flexíveis. 
A primeira vez que me dei conta disso foi em Rodésia, que era como o Zimbábue ainda era conhecido na época, cujo regime colonizador branco basicamente transformou o país em pária internacional. Graças às sanções, a eficiência do governo e uma disposição para desobedecer às regras se tornaram uma questão de sobrevivência. Onde quer que existam sanções econômicas existirão pessoas dispostas a ganhar fortunas fugindo delas, inclusive nos países que as impuseram.

Isso posto, nenhum país quer ser objeto dessas sanções, e ser vulnerável a elas é uma das razões por que muitos países desejam desdolarizar a economia mundial — ou é isso que dizem. Se isso é verdade, é outra história. Foto: Shutterstock

O Brasil não vai ficar feliz em ser dominado por um regime asiático autoritário

Tanto a China quanto o Japão têm enormes reservas de dólares, cujo valor eles certamente não querem ver sofrer uma queda súbita e dramática. Um declínio semelhante na capacidade dos Estados Unidos de pagar por importações teria um sério efeito deletério na economia mundial como um todo.

Mesmo assim, fala-se muito sobre alguma forma de moeda do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Pelo que sei, só poderia ser o yuan chinês em tudo, menos no nome; pelo menos num futuro próximo.

A ideia de os países do Brics serem uma grande família unida e feliz em sua oposição à hegemonia norte-americana é absurda. Os indianos que conheço têm medo dos chineses e não gostariam de ser dominados por eles. 
Os russos também temem os chineses e estão preocupados com sua penetração na Sibéria, que já é em boa parte uma colônia econômica chinesa. 
A Rússia, que costumava tratar a China com condescendência, se tornou o sócio minoritário nessa suposta parceria. 
Seja qual for o resultado da guerra na Ucrânia, a inferioridade do poderio militar russo não vai passar despercebida para os indianos, que há tempos se armam com os mesmos equipamentos. 
 Quanto ao Brasil (ainda que eu possa estar errado), o país é culturalmente parte do Ocidente e não vai ficar feliz em ser dominado por um regime asiático autoritário.
Fala-se muito sobre alguma forma de moeda do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
 
 O ressentimento nunca é um bom conselheiro ou motivador de políticas, mesmo quando existe uma razão genuína para ele. A condição do dólar americano como moeda de último recurso é injusta, sem dúvida, e traz vantagens imensas aos Estados Unidos que eles não merecem. 
Essa é uma causa de ressentimento em muitas partes do mundo, inclusive na Europa, que ainda amarga sua destituição como potência hegemônica mundial e sua marginalização cada vez maior no globo, tudo em um doloroso contraste com sua autoimagem. 
O presidente Macron pediu diversas vezes que os europeus deixassem suas pequenas diferenças de lado para obterem uma independência estratégica em relação aos Estados Unidos, de cujo poder ele se ressente, mas deseja copiar. 
Mesmo assim, as diferenças culturais e políticas entre as nações e regiões europeias continuam emergindo, como água passando pela areia. 
A centralização de poder na Europa que o presidente francês gostaria de estabelecer com quase toda certeza causaria uma forte reação centrífuga e em pouco tempo levaria a um conflito potencialmente desastroso — a condição historicamente normal da Europa.

Em outras palavras, a Europa não pode ser um contrapeso independente para os Estados Unidos ou a China; ela precisa escolher se aliar a um ou ao outro. 
Por mais que o continente se ressinta da liderança norte-americana, e por mais incompetente ou moralmente dúbia essa liderança tantas vezes tenha provado ser, os Estados Unidos são preferíveis a qualquer outro; e na política o preferível é uma categoria muito mais importante que o bom.

Opor-se à hegemonia norte-americana, por mais injusta que ela seja, não é o suficiente para criar um mundo melhor, e é muito provável que crie um mundo pior

Entre a passividade e a fúria insensata
O ressentimento, pessoal ou em escala nacional, é uma emoção encantadora que, ainda que invariavelmente danosa, tem suas recompensas psicológicas. Primeiro, ele pode durar para sempre, ao contrário de praticamente todas as demais emoções. 
Ele convence quem o sente de sua própria superioridade moral em relação àqueles que supostamente o causaram. 
E reduz a necessidade de reflexão ao convencer a pessoa que se ressente de que todos os seus problemas e fracassos vêm de fora e de que, se não fossem os outros, ela teria sido brilhantemente bem-sucedida. O ressentimento permite que as pessoas sintam seu ódio em nome da própria virtude. 
E propõe soluções que costumam ser piores que a situação que deveriam melhorar. 
Ele coloca o foco no que é impossível, e não no que é possível, justificando assim a alternância entre a passividade e a fúria insensata. 
É uma das grandes causas da autodestruição.

Existe alguém que nunca foi tentado pelo ressentimento, ou que nunca respondeu ao seu canto de sereia? Existe alguém que não tenha causa nem motivo para se ressentir (o que é uma das razões para o seu potencial de longevidade)?

Muitos países se candidataram a fazer parte da “aliança” do Brics.  
É importante lembrar que uma perna não se fortalece quando fica inchada e edematosa. 
Opor-se à hegemonia norte-americana, por mais injusta que ela seja, não é o suficiente para criar um mundo melhor, e é muito provável que crie um mundo pior.
 

Leia também “O espetáculo sinistro das ditaduras”

 

Theodore Dalrymple é pseudônimo do psiquiatra britânico Anthony Daniels. É autor de mais de 30 livros sobre os mais diversos temas. Entre seus clássicos (publicados no Brasil pela editora É Realizações) estão A Vida na Sarjeta, Nossa Cultura… Ou o que Restou Dela e A Faca Entrou. É um nome de destaque global do pensamento conservador contemporâneo. Colabora com frequência para reconhecidos veículos de imprensa, como The New Criterion, The Spectator e City Journal.

 

Theodore Dalrymple, colunista - Revista Oeste

 

 


sábado, 15 de outubro de 2022

Cheque em Branco? - Carlos Alberto Sardenberg

 Coluna publicada em O Globo / Economia / Política
 
Há diversas maneiras de solapar a democracia. A mais tosca é o golpe militar. Um exército liderado por generais, mas também por políticos civis, simplesmente fecha as instituições.
Isso está fora de moda. Mesmo em 64, aqui, o regime tornou-se militar, mas sempre buscando ares de legalidade.
         
O primeiro presidente general, quer dizer, marechal, Castello Branco, foi eleito no Congresso Nacional, inclusive com o voto de muitos parlamentares que viriam a ser cassados. Juscelino Kubitschek, por exemplo.
Os demais presidentes também foram eleitos no Congresso, depois que os generais escolhiam um colega. A oposição permitida, o MDB, até apresentava candidatos, como a anti-candidatura de Ulysses Guimarães ou a candidatura de fato do general Euler Bentes.
 
Quando a oposição parecia crescer, era simples: o regime fechava o Congresso por um período, cassava parlamentares e juízes, censurava a imprensa e, pronto, logo voltava à rotina controlada. [Comentário: todas as punições aplicadas eram por violações aos ditames da legislação vigente - ninguém era punido sem o ato punitivo elencar as razões, incluindo as violações às leis.]
         
Hoje em dia, há modelo mais sofisticado. O exemplo perfeito está na Rússia de Vladimir Putin. Olha-se pelo alto e parece [se percebe que as normas democráticas são seguidas, respeitadas.] uma democracia: o presidente é eleito pelo voto direto da população, tem mandato fixo, o parlamento aprova as leis, os tribunais julgam, jornais circulam, rádios e tevês estão no ar.
 
Houve, é verdade, casos extremos. Adversários do regime que aparecem mortos, mas vejam a situação do mais popular líder oposicionista, Alexei Navalny. Ele sofreu um atentado, envenenado num voo da Sibéria para Moscou, mas foi salvo num hospital alemão.
Voltou para a Rússia e  aí foi preso, com mandato judicial e tudo, sob duas acusações: violação da liberdade condicional e fraude
Foi julgado num tribunal, que ouviu seu advogado, e condenado a nove anos de prisão.
 
Outro exemplo, o magnata do petróleo Mikhail Khodorkovski, que enriqueceu na era Putin, mas violou duas regras estabelecidas pelo presidente: não abrir meio de comunicação independente; não fundar partido político liberal.
Foi preso e condenado por fraudes contra o imposto de renda, em julgamento aberto e com direito a defesa.
 
Qual o truque? Controlar as instituições republicanas por dentro. Um passo essencial é controlar os tribunais, afastando juízes independentes e nomeando os amigos do rei. A ditadura brasileira fez isso: aumentou o número de juízes do STF, nomeou sua turma e depois ainda cassou “os outros”.
Repararam? Sim, o presidente Bolsonaro cogita exatamente disso: aumentar o número de ministros da Supremo para nomear os novos e fazer a maioria.
 
Só ele? Não. Em 2013, a então deputada Luiza Erundina, com apoio de advogados ligados ao PT, apresentou proposta de emenda constitucional que transforma o STF em Corte Constitucional e amplia o número de ministros de 11 para 15.
Outra forma de solapar a democracia é controlar/intimidar a imprensa. Na Venezuela, Chávez e Maduro não renovaram o direito de transmissão de emissoras independentes. É o que deseja fazer Bolsonaro. [nos parece - pensamos que o articulista se refere à renovação da concessão da TV Globo; dia 5, ao que sabemos, venceu a concessão e a emissora pediu sua renovação. O processo está sob exame e certamente até o final deste ano o presidente Bolsonaro, tomará  a decisão que lhe compete.] 
 
O PT, no governo, propôs controle social da mídia, ideia abandonada depois de reação da sociedade civil. Mas Lula já tentou expulsar o jornalista Larry Rohter, do NY Times. [entre outros comentários o jornalista destacou o estado permanente de porre que o petista vivia.] Mais, como ex-presidente, pediu publicamente a demissão de uma economista do Santander que, em análise técnica, disse que a perspectiva de reeleição de Dilma derrubava a economia. Prefeituras ligadas ao PT ameaçaram fechar contas no banco.
 
O Santander demitiu a economista, cujas previsões se realizaram inteiramente.
Eleitores de centro dizem que Lula e o PT estão em outra e que Bolsonaro é ameaça imediata de solapar a democracia.
Verdade. A prova é a tentativa do presidente de usar a PF e o Cade para ameaçar os institutos de pesquisa. [ameaçar??? quem não deve, não teme; se os institutos foram socorridos pelo TSE - sempre decide pró Lula -  o correto seria investigar e seria comprovado, nas eleições 2022,  o que foi provado em 2018 = as pesquisas mentem.] 

         Mas incomoda a resistência de Lula em acertar contas com aquele passado, incluindo a corrupção. Esse acerto e mais a definição de uma política econômica responsável, acho, consolidariam a vantagem do ex-presidente. [vantagem???baseada  em pesquisas realizadas por institutos que se apavoram em terem suas pesquisas 'pesquisadas]?].
Mas preocupa Lula querer ganhar com um cheque em branco.
 

domingo, 12 de junho de 2022

Lojas do McDonald’s reabrem na Rússia com novo nome

Quinze unidades retomaram operação sob a nova marca, Vkusno & Tochka

Antigas lojas do McDonald’s reabriram na Rússia neste domingo, 12, com novo nome e sob administração de um grupo local após a rede americana ter deixado o país por causa da guerra na Ucrânia. A nova cadeia de restaurantes, batizada de Vkusno & Tochka (Delicioso e ponto final), também tem novo logo, que mostra um hambúrguer e fritas em um fundo verde. [alguém acreditou que o boicote era para valer? Dinheiro não tem pátria e a necessidade não tem preferência política. 
É viável que o  petróleo e gás russos consumido por países europeus, tais como Alemanha, Polônia, Bélgica  e outros  se tornem dispensáveis em questão de meses ou possam ser substituídos por petróleo e gás trazido de outras fontes a milhares de quilômetros de distância por navios? 
É possível construir milhares de quilômetros de oleodutos para substituir os navios em meses?  
Os únicos prejudicados nessa guerra são o povo ucraniano e os países que dependem dos grãos produzidos pela Ucrânia. 
O ex-comediante montou uma gigantesca comédia em que os ucranianos morrem, os aliados de palanque mandam armas, mas não mandam soldados para usá-las e as mortes de militares ucranianos fazem com que grande parte do armamento seja usado.
É uma verdade dolorosa mas que tem que ser dita.]

O McDonald’s fechou suas lojas na Rússia em março e, em maio, anunciou que deixaria o país definitivamente. As unidades, então, foram vendidas para o grupo do empresário Alexander Govor, que já operava mais de vinte restaurantes da rede na região da Sibéria.

A chegada do McDonald’s ao país, com a abertura de sua primeira loja na Praça Pushkin, em Moscou, em janeiro de 1990, se tornou símbolo da abertura da União Soviética para o Ocidente.

Neste domingo, quinze unidades foram reabertas em Moscou e no entorno da cidade. O plano, segundo anunciado pelo CEO da rede, Oleg Paroev, em coletiva de imprensa, é que 200 restaurantes retomem o atendimento até o fim de junho e todos os 850 estejam operando até o fim do verão (no Hemisfério Norte, inverno no Brasil).

De acordo com Paroev, o maquinário do McDonald’s continua em uso pelas lojas e a composição dos sanduíches não mudou.

Economia - Revista VEJA


domingo, 6 de março de 2022

Em 1917, o czar não entendeu nada - Elio Gaspari

O Globo 

Não se sabe o que se passa na cabeça de Vladimir Putin, mas sabe-se bem o que acontecia nos palácios de Nicolau II em 1917

Não se sabe o que acontece no Kremlin, muito menos o que se passa na cabeça de Vladimir Putin. Passados 105 anos, sabe-se bem o que acontecia nos palácios do czar Nicolau II em 1917.

No dia de hoje, pelo calendário gregoriano, a Rússia Imperial estava em guerra contra a Alemanha e ia mal. A vida doméstica de Nicolau ia pior. Uma de suas filhas e o príncipe herdeiro, Alexei, estavam doentes (era sarampo). A czarina Alexandra ainda não havia se recuperado do assassinato, em dezembro, do monge Rasputin, curandeiro de seu garoto hemofílico. Ela vivia chapada por tranquilizantes. A Corte russa era um serpentário de intrigas e pensava-se até num golpe. Num desses planos, Alexandra seria mandada para um mosteiro.

Nos últimos dois anos, além de Rasputin, a Rússia tivera quatro primeiros ministros, cinco ministros do Interior, três chanceleres, outros três ministros da Guerra e quatro da Agricultura.  Bailava-se nos palácios, mas faltava comida em São Petersburgo e formavam-se longas filas diante das lojas num inverno que levava a temperatura a quinze graus abaixo de zero. Como aconteciam alguns protestos e greves, Alexandra aconselhou o marido: “Eles precisam aprender a ter medo de você. O amor não basta.”

No dia seguinte, 8 de março, o tempo estava bom (cinco graus abaixo de zero), e dezenas de milhares de trabalhadores, a maioria mulheres, tomaram as ruas de São Petersburgo. Se o negócio era botar medo, veio um mau sinal: os soldados relutaram em reprimir a manifestação. Muita gente cantava a “Marselhesa”. Nada a ver com os bolcheviques, que eram poucos. Lênin estava na Suíça, Trotsky, em Nova York, e Stalin, na Sibéria. Essa data de março marca o início da Revolução de Fevereiro. Era o dia 23, pelo calendário juliano, vigente à época na Rússia.

As greves alastraram-se, paralisando 200 mil trabalhadores, e começaram casos de confraternização de soldados com operários. Com novas manifestações, dessa vez com cerca de 200 mil pessoas, a czarina disse ao marido que aquilo era coisa de desordeiros e, se a temperatura caísse, eles ficariam em casa. Um chefe bolchevique da cidade achava coisa parecida: bastaria que houvesse mais pão. O czar descansava a cabeça lendo Júlio César. Nisso, adoeceu mais uma filha, e na cidade saqueavam-se padarias, mas os teatros funcionavam.

Nicolau mandou atirar, e morreram duzentas pessoas. Três regimentos de elite da cidade amotinaram-se, varejaram o arsenal, levaram 40 mil rifles e seguiram para a cadeia onde estavam os presos políticos, libertando-os. Um general que passava de carro a caminho de um almoço no palácio ficou a pé. Indo para a costureira, a poeta Anna Akhmatova reclamava porque não conseguia um táxi. São Petersburgo foi tomada pela revolta, o chefe de polícia foi morto. A bailarina Mathilde Kschessinska, que muitos anos antes tirara a virgindade de Nicolau, foi avisada que a coisa ia mal, juntou algumas coisas e abandonou seu palacete. No dia seguinte, a casa foi saqueada. (Meses depois, ela veria uma bolchevique, com seu casaco de arminho.)

No dia 12 de março (27 de fevereiro, pelo calendário juliano), os motins tomaram conta dos quartéis. Segundo o historiador Richard Pipes, esta deveria ser a data da Revolução de Fevereiro. Quando a notícia chegou a Nicolau, ele disse que eram maluquices que “nem me incomodei de responder”. Sua mulher achava que estavam acontecendo “coisas terríveis” e passou pela sepultura de Rasputin. Ele previra que se morresse ou se o czar o abandonasse, perderia a coroa em seis meses.
Passaram-se apenas dois meses, e o regime caíra. Os ministros foram presos e levados para uma fortaleza, escoltados por um rebelde que lá estivera preso.

Na noite de 15 de março, Nicolau II abdicou. Como não havia entendido o que acontecia, passou a coroa para um irmão, achando que mais tarde iria para a Inglaterra. Nada disso aconteceu. Stalin chegaria a São Petersburgo em março, Lênin, em abril, e Trotsky, em maio. Em outubro, com um golpe, os bolcheviques tomaram o poder, e a Revolução de Fevereiro ficou fora de moda.

Hungria 1956
A repulsa dos Estados Unidos e das nações europeias diante da invasão da Ucrânia honra a nova ordem mundial, mas o estímulo à resistência armada deve levar em conta um mau precedente. Em 1956, o povo húngaro foi estimulado para rebelar-se contra a invasão soviética e deixado à própria sorte. O primeiro-ministro Imre Nagy asilou-se na embaixada da Iugoslávia. Foi deportado, devolvido e acabou enforcado. 

(...)

Madame Natasha

Natasha está tentando transformar seus frascos de perfume em coquetéis molotov para defender o idioma. Ela concedeu mais uma de suas bolsas ao ministro Ricardo Lewandowski. Trancando a ação que o lavajatismo moveu contra Lula pela compra dos caças suecos, ele disse o seguinte: “Não há como deixar de levar em conta a incontornável presunção de que a compra das referidas belonaves ocorreu, rigorosamente, dentro dos parâmetros constitucionais de legalidade, legitimidade e economicidade mesmo porque, até o presente momento, passados mais de sete anos da assinatura do respectivo contrato, não existe nenhuma notícia de ter sido ele objeto de contestação por parte dos órgãos de fiscalização, a exemplo da Controladoria-Geral da União, do Ministério Público Federal ou do Tribunal de Contas da União.”

Ele quis dizer que a compra dos aviões foi legal e ninguém reclamou. Não precisava de uma frase com 79 palavras. Natasha e o dicionário Houaiss são do tempo em que belonave era navio e não voava. [o ministro Lewandowski, talvez, tenha aderido ao fachinês  = idioma da Dilma adaptado criativamente pelo ministro Fachin. 
É uma linguagem mais prolixa que a utilizada por este escriba - recentemente, o ministro Fachin utilizou 959 palavras para responder, sucintamente,  duas perguntas apresentadas em uma entrevista.  
Este escriba não usa o fachinês - pelo grave defeito que o idioma dilmês x fachinês apresenta: só serve para fugir da pergunta, por conseguir complicar o que já é complicado - pelo uso de um palavreado que nada explica.
Ao nosso ver,  só é conveniente o seu uso quando o dilúvio de palavras trava os neurônios do entrevistador e dos seus leitores.
Mil perdões, cochilei e caí no fachinês.]

(.....) 

Folha de S. Paulo - Jornal O Globo - Elio Gaspari - MATÉRIA COMPLETA


terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Como Putin converteu Rússia em 'potência masculina mundial' e inspirou líderes como Trump e Bolsonaro - BBC

  • Mariana Sanches - @mariana_sanches
  • Da BBC News Brasil em Washington
Putin e Bolsonaro se cumprimentam durante encontro em 2019

Crédito, Marcos Corrêa/PR - Putin e Bolsonaro já se encontraram anteriormente, em novembro de 2019

Presentes eróticos para comemorar o aniversário de Putin, no poder na Rússia há mais de duas décadas, são apenas um elemento da exaltação pública costumeira a uma característica central na personalidade do líder russo. Putin se tornou um modelo de virilidade e masculinidade a inspirar políticos ao redor do mundo, como o americano Donald Trump, o húngaro Viktor Orban e o brasileiro Jair Bolsonaro, que embarcou nesta segunda-feira (14/2) para Moscou com objetivo de se reunir com o chefe de Estado russo.

Além do episódio do helicóptero dos bombeiros, Putin já se deixou fotografar em uma série de situações másculas. Derrubou adversários num tatame em lutas de judô. Examinou os dentes de um urso polar no Ártico e de um tigre na Sibéria, ambos anestesiados. Pilotou um submarino e um barco e voou em uma espécie de asa delta motorizada

Posou de rifle em punho (e sem camisa) durante caçada na Sibéria. Surgiu de dorso nu em cavalgadas e pescarias. Preparou um churrasco. Exibiu-se com uma pistola em um estande de tiro ao alvo. Ou apenas apareceu em roupas esportivas enquanto treinava os músculos do peitoral, na academia. 

Nenhum dos registros foi fortuito, fruto do trabalho de fotógrafos paparazzi. "É um trabalho de imagem pensado e executado pelo Kremlin. E, como a internet ainda é largamente livre na Rússia, se algo escapa ao controle e ofende ou desagrada, o governo russo pune", disse à BBC News Brasil Valerie Sperling, professora da Clark University, em Massachussets, e autora do livro Sex, Politics and Putin (Sexo, Política e Putin, em tradução livre).

Com altas taxas de popularidade, mesmo quando descontada a possível coerção sobre a população em um regime crescentemente autoritário, especialistas argumentam que Putin deve ao menos em parte ao perfil "machão" a admiração que inspira nos russos.

 Da comida à religião: as semelhanças entre Rússia e Brasil

Matrix: a origem e o polêmico legado do filme no mundo real

Putin

Putin já se deixou fotografar em uma série de situações másculas - Getty Images

Ao chegar ao poder, no fim dos anos 1990, Putin passou a comandar um país que tentava se reerguer dos escombros da União Soviética. O bloco soviético implodira em 1991, e os russos se viam diante de questionamentos de identidade profundos, tendo que se acostumar ao capitalismo, lidar com o fracionamento do território e com a perda do status de potência global. 

"Havia uma sensação de derrota generalizada, uma instabilidade econômica forte, com a desvalorização da moeda russa, e a derrota na Guerra Fria. A fragilidade era ainda mais evidente entre os pais de família russos, gente em seus 30, 40 e 50 anos que tinha perdido suas economias e seus empregos, que já não conseguia mais sustentar a família enquanto via jovens enriquecendo em novos negócios, e que era alvo de abertas críticas, por sua ausência na vida familiar, por violência doméstica e por problemas como o alcoolismo", afirma Amy Randall, professora de História da Santa Clara University, na Califórnia, e organizadora da edição especial "Masculinidades soviéticas", da publicação acadêmica Estudos Russos em História.

De acordo com Randall, a humilhação e o constrangimento russos perante o mundo nos anos 90 acabaram personificados pelo então líder do país, Boris Yeltsin, flagrado bêbado e em atitudes embaraçosas em eventos internacionais. Ele chegou a fingir que regia uma orquestra em uma solenidade militar e deu declarações sobre o desejo de desarmamento nuclear russo depois de passar da conta na bebida, tendo que ser desmentido por seus auxiliares.

Relativamente desconhecido do grande público, Putin surge no cenário político russo pelas mãos de Yeltsin, a quem viria a suceder. "Putin oferece aos russos essa imagem sóbria de agente durão, das artes marciais, egresso da KGB (o serviço secreto soviético). Se apresenta como o homem que iria levantar a Rússia, então de joelhos, e reestabelecer sua força no cenário internacional", diz Sperling.

É claro que não só de imagem se construiu a trajetória de Putin. Sob seu comando, o Exército russo retomou o controle da Chechênia, invadiu a Geórgia e anexou a Crimeia. Agora, o país vive às voltas com a possibilidade de um conflito armado com a Ucrânia. Desde o fim do ano passado, Putin mantém mais de cem mil soldados na fronteira entre os dois países e exige que a Ucrânia não seja admitida na Organização do Tratado do Atlântico Norte, a OTAN, uma aliança militar liderada por EUA e Europa Ocidental que Putin vê como ameaça à segurança de seu país.Putin e TrumpSegundo professora Amy Randall, Trump tomou seu slogan ("fazer os EUA grandes outra vez) de empréstimo de Putin 

"Sob a liderança de Putin, a Rússia tem se estabelecido como uma potência masculina mundial, exibindo sua virilidade política, sua independência econômica e seu poderio tecnológico e militar. Putin deve sua popularidade - e sua habilidade de se manter por tanto tempo no poder - a mecanismos como seu nacionalismo masculinizado, à ambição de fazer a Rússia grande outra vez, ao seu uso de ideais patriarcais e à noção das diferenças de papéis sociais entre gêneros, além da aberta homofobia".

 'Melhores qualidades masculinas'
Foi a partir dessa perspectiva que Putin disse, em novembro de 2020, que Jair Bolsonaro apresentava "as melhores qualidades masculinas" no comando do Brasil. O elogio aconteceu durante o discurso do mandatário russo no encontro dos BRICS, bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e fazia referência ao modo como Bolsonaro lidou com a pandemia de covid-19. 

"Você até foi pessoalmente infectado por essa doença e resistiu à provação com muita coragem. Sei que aquele momento não deve ter sido fácil, mas você o encarou como um verdadeiro homem e mostrou as melhores qualidades masculinas, como força e força de vontade", disse Putin, segundo transcrição que o próprio governo brasileiro postou.

No léxico de Putin, esse é um elogio típico de quem pretende agradar e conhece bem o interlocutor. Bolsonaro já repetiu a performance de Putin em situações altamente fotografáveis: ele nadou em mar aberto, comandou motociatas, praticou tiro ao alvo, pilotou uma churrascada, jogou futebol, deu cavalo de pau em carro de competição. Quando a covid surgiu, disse que, no seu caso, uma eventual infecção seria leve "graças ao seu histórico de atleta".

Mas, de acordo com Sperling, "apenas mostrar que é durão não esgota as possibilidades de obter legitimidade política a partir da masculinidade".Ela afirma que as demonstrações públicas de tais habilidades costumam se somar também com questionamentos sobre a masculinidade dos oponentes. "E isso é feito, por exemplo, sugerindo que seu adversário não é homem o suficiente, ou é gay, ou ainda dizendo que a mulher dele é feia, não desejável", diz Sterling, que mapeou o comportamento masculino em diferentes líderes mundiais.

Há uma semana, Putin chamou a atenção do mundo com uma declaração em que censurava o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, crítico dos acordos de paz de Minsk. "Goste ou não, minha linda, você tem que aturar", disse Putin, usando uma expressão em feminino para se dirigir ao líder da Ucrânia. 

Já Bolsonaro, no auge de suas discussões com o presidente Emmanuel Macron acerca das queimadas na Amazônia, em 2020, republicou uma postagem que comparava a primeira-dama Michelle Bolsonaro, de 39 anos, com Brigitte Macron, de 68. A postagem dizia: "entende agora por que Macron persegue Bolsonaro?". E o próprio presidente comentava "Não humilha, cara Kkkkkk". 

Outra tática comum é fazer "piadas" com estupro e misoginia. Em 2014, em discussão com a colega Maria do Rosário, do PT, o então deputado Jair Bolsonaro afirmou que "Jamais estupraria você, porque você não merece." Bolsonaro explicou que Rosário seria feia demais para seu gosto. Já Putin, em 2006, teria dito a um repórter israelense, a propósito de acusações de estupro contra o então presidente de Israel Moshé Katsav: "Diga olá a seu presidente. Ele se mostrou um sujeito muito poderoso. Estuprou dez mulheres. Estamos todos surpresos. Todos o invejamos". Depois da repercussão negativa do episódio, o Kremlin culpou uma falha na tradução pelo teor do comentário.

Em 2014, quando a então secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, comparou a invasão da Crimeia ao assalto do alemão Adolf Hitler sobre a Polônia, Putin foi sucinto: "Melhor nem discutir com mulheres". Disse ainda que o comentário de Hillary revelava "fraqueza". E que "fraqueza não é algo necessariamente ruim em mulheres". Já Bolsonaro, em 2017, afirmou sobre sua filha Laura: ""Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher".

Sperling nota que esse tipo de recurso à masculinidade para legitimar - ou deslegitimar - políticos não é uma exclusividade da direita. Mas que talvez fique mais evidente entre políticos direitistas cuja pauta é socialmente conservadora, categoria em que tanto Bolsonaro quanto Putin se enquadram. 

Putin e Orban

Crédito, EPA - Putin se tornou um modelo de virilidade e masculinidade a inspirar políticos ao redor do mundo como Donald Trump, Viktor Orban (foto) e Jair Bolsonaro

Putin se coloca como feroz defensor da família nuclear tradicional. "Quanto a esse papo de 'pai número 1' e 'pai número 2', já falei publicamente sobre isso e vou repetir novamente: enquanto eu for presidente isso não vai acontecer. Haverá papai e mamãe", disse Putin, em 2020. Em 1997, quando era deputado, Bolsonaro afirmou: "ninguém gosta de gay. A gente suporta".

Ao contrário do Brasil, no entanto, na Rússia o casamento homossexual é ilegal. Casais homoafetivos também não podem adotar crianças em conjunto. Se feita, a adoção é registrada apenas no nome de um dos pais.

Quanto à questão da violência doméstica, no Brasil, a Lei Maria da Penha completou 15 anos. Já na Rússia, a agressão de companheiros contra mulheres foi descriminalizada em 2017. A partir de então, apenas agressões dos maridos que provoquem graves lesões corporais nas esposas são passíveis de punição legal.

A mudança legislativa representou um ganho do governo Putin, que tem ficado cada vez mais conservador com o passar dos anos. "Putin e Bolsonaro se admiram e juntos reforçam esse senso de orgulho em relação à masculinidade. Bolsonaro tem claramente tentado emular Putin em suas posturas misóginas e homofóbicas, e em sua confrontação de lideranças europeias e multilaterais. Ele claramente vê em Putin um homem forte. E essa imagem do homem forte tem se tornado mais e mais popular e prevalente no mundo atual", diz Randall.

BBC News Brasil -  Mariana Sanches 

 

 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Os limites democráticos - Revista Oeste

Adolf Hitler e Joseph Stalin | Foto: Montagem Revista Oeste/ Wikimedia Commons
Adolf Hitler e Joseph Stalin  -  Foto: Montagem Revista Oeste/ Wikimedia Commons
 
Pode existir um partido nazista numa democracia? 
E um partido comunista?  
Essas questões estão na ordem do dia e cabe uma reflexão mais profunda aqui, para fugir do “debate” tribal das redes sociais. O primeiro ponto a ser abordado é o argumento libertário de que não pode haver qualquer restrição à liberdade de expressão, logo, essa ideologia prega o direito de grupos se organizarem para defender as maiores atrocidades e bizarrices.

Quem defende essa posição não está necessariamente endossando cada uma dessas bizarrices, claro, mas, sim, o direito de néscios pregarem estultices, por mais ofensivas que sejam. É um posicionamento que encontra algum espaço na trajetória do liberalismo mais radical, por excesso de medo da censura e do controle. Esses libertários entendem que essa postura vai permitir todo tipo de ideia abjeta no debate público, mas o receio que sentem de abrir exceções e, com isso, delegarem ao Estado o poder de definir o que é ou não permitido supera a preocupação com a circulação dessas ideias nefastas.

Além disso, alguns argumentam que é melhor deixar as ideias nefastas circularem livremente para combatê-las, em vez de mantê-las à sombra com o charme do tabu proibido. Ou seja, traga toda podridão à luz que assim será mais fácil expor a podridão e rebater as ideologias totalitárias. É um ponto de vista a ser colocado, sem dúvida, apesar de eu não concordar muito com ele. E vale notar que, nos Estados Unidos, existe um partido nazista. Como existe um partido comunista também. [no Brasil ser comunista, especialmente o novo comunismo que a esquerda está tentando implantar, é chique; estranhamente, o nazismo - do qual o antigo comunismo ganhou em perversidade, capacidade genocida - não pode ter representação política.]

Acredito, porém, que numa democracia alguma restrição será necessária, apesar de compreender o risco desse precedente. Basta ver como tem até jornalista querendo equiparar nazismo à crítica de vacinas contra a covid-19, para justificar, com essa comparação esdrúxula, a censura aos comentários “anticientíficos”. Essa turma nem sequer percebe que seus métodos é que se assemelham ao controle exercido por nazistas em nome da “purificação” da sociedade e da saúde coletiva, com a qual os seguidores de Hitler eram obcecados.

Não é compatível com uma democracia civilizada, porém, a presença de partidos que abertamente defendem extermínio, totalitarismo, medidas claramente antidemocráticas que tratam indivíduos como meios sacrificáveis. E aqui entra a segunda questão: se é para vetar nacional-socialistas, então é para vetar comunistas também? A confusão desses dias nas redes sociais suscitou esse debate, e muitos à esquerda expuseram sua incoerência. Para eles, o nazismo deve ter proibido, mas nada dizem sobre o comunismo. Isso não faz sentido. A semelhança entre ambas as ideologias genocidas é evidente historicamente falando.

“Que significa ainda a propriedade e que significam as rendas? 
Para que precisamos nós socializar os bancos e as fábricas? 
Nós socializamos os homens.” 
Quem teria dito isso? Adolf Hitler, citado por Hermann Rauschning, em 1939. Ensinada desde os tempos de Lênin, muitos socialistas usam a tática de acusar os opositores daquilo que eles mesmos são ou fazem. Tudo que for contrário ao socialismo vira assim “nazismo”, ainda que o nacional-socialismo tenha inúmeras semelhanças com o próprio socialismo.

Tanto o nazismo como o marxismo compartilharam o desejo de remodelar toda a humanidade de cima para baixo. Marx defendia a “alteração dos homens em grande escala” como necessária. Hitler pregou “a vontade de recriar a humanidade”. Qualquer pesquisa séria irá concluir que nazistas e socialistas não eram, na prática e no ideal coletivista, tão diferentes assim. Não obstante, para os socialistas, aquele que não for socialista é automaticamente um “nazista”, como se ambos fossem grandes opostos.

Assim, além de banalizar o que foi o terror nazista, os liberais, que sempre condenaram tanto uma forma de coletivismo como a outra, e foram alvos de perseguição dos dois regimes, acabam sendo rotulados de “nazistas” pelos socialistas, incapazes de argumentar além dos tolos rótulos de “extrema esquerda” e “extrema direita” (lembrando que, para a imprensa esquerdista, nem existe extrema esquerda, expressão ausente nos jornais).

Os liberais, entrave para ambas as ideologias coletivistas, acabam num campo de concentração de Auschwitz ou num Gulag da Sibéria

Tal postura insensata coloca, na cabeça dos socialistas, uma “direitista” como Margaret Thatcher mais próxima ideologicamente de um Hitler que este de Stalin, ainda que Thatcher tenha lutado para defender as liberdades individuais e reduzir o poder do Estado, enquanto Hitler e Stalin foram na linha oposta. O fim da propriedade privada de facto foi um objetivo perseguido tanto pelo nazismo como pelo socialismo, que depositaram no Estado o poder total. O liberalismo, em sua defesa pela liberdade individual cujo pilar básico é o direito de propriedade privada, é radicalmente oposto tanto ao nazismo como ao socialismo, que em muitos aspectos parecem irmãos de sangue.

A conexão ideológica entre socialismo marxista e nacional-socialismo não é fruto de fantasia, e Hitler mesmo leu Marx atentamente quando vivia em Munique, tendo enaltecido depois sua influência no nazismo. Para os nazistas, os grupos eram as raças; para os marxistas, eram as classes. Para os nazistas, o conflito era o darwinismo social; para os marxistas, a luta de classes. Para os nazistas, os vitoriosos predestinados eram os arianos; para os marxistas, o proletariado.

Além da justificativa direta para o conflito, a ideologia de luta entre grupos desencadeia uma tendência perversa a dividir as pessoas em parte do grupo e excluídos, tratando estes como menos que humanos. O extermínio dessa “escória” passa a ser desejável, seja para o paraíso dos proletários seja da “raça” superior. Os liberais, entrave para ambas as ideologias coletivistas, acabam num campo de concentração de Auchwitz ou num Gulag da Sibéria, fazendo pouca diferença na prática.

A acusação de que a Alemanha nazista era uma forma de capitalismo não se sustenta com um mínimo de reflexão. O “argumento” usado para tal acusação é que os meios de produção estavam em mãos privadas na Alemanha. Mas, como o economista austríaco Mises demonstrou, isso era verdade somente nas aparências. A propriedade era privada de jure, mas era totalmente estatal de facto, da mesma forma que na União Soviética. O governo não só nomeava dirigentes de empresas como decidia o que seria produzido, em qual quantidade, por qual método e para quem seria vendido, assim como os preços exercidos.

Para quem tem um mínimo de conhecimento sobre os pilares de uma sociedade capitalista liberal, não é difícil entender que o nazismo é o oposto desse modelo. Para os nazistas, assim como para os socialistas, é o “bem comum” que importa, transformando indivíduos de carne e osso em simples meios sacrificáveis para tal objetivo. Existem, na verdade, vários outros pontos que podemos listar para mostrar que o nazismo e o socialismo são muito parecidos, e não opostos como tantos acreditam. O fato de comunistas terem entrado em guerra com nazistas nada diz que invalide tal tese, posto que comunistas brigaram sempre entre si também, e irmãos brigam uns com outros, ainda mais por poder.

Apesar de o liberalismo se opor com veemência a ambos os regimes, os socialistas adoram repetir, como autômatos, que liberais são parecidos com nazistas, apenas porque associam erradamente nazismo a capitalismo ou “direita”. Se ao menos soubessem como é o próprio socialismo que tanto se assemelha ao nazismo!

Em suma, se há limites numa democracia, e creio que deva haver, então é preciso tratar nazismo e comunismo da mesma forma, vetando ambas as ideologias da formação partidária oficial. 
Entendo a sensibilidade do tema aos judeus, povo perseguido desde sempre. Vivemos em tempo de cancelamento e asfixia da liberdade de expressão, mas deixo uma reflexão: se você fizesse parte da minoria mais perseguida da história, e que recentemente passou por um extermínio, ficaria mais revoltado com qualquer suposta alusão ao regime responsável por tal extermínio. Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça.

Só que isso vale para as vítimas do comunismo também. Eu estive no Museu do Holocausto em Israel e chorei. São cenas muito fortes. Mas, se as imagens do Holodomor* fossem mais divulgadas, será que não haveria a mesma comoção coletiva? O comunismo é tão nefasto quanto o nazismo! E nenhum dos dois deve ter espaço numa democracia.[*Holodomor - a grande fome que causou a morte de milhões de ucranianos e imposta pelo comunismo.(em torno de 12.000.000.]

Leia também “Ação de Graças”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste

 


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Biden, dá uma 'baidada' e aproxima mais China e Rússia contra os EUA - Macron recebe de Putin um sanduíche de vento - Blog Mundialista

Frustração: Macron descobre os perigos de tentar fazer acordo com Putin

Em busca de uma vitória diplomática que revertesse em ganhos eleitorais, o presidente francês sai de Moscou com sanduíche de vento na mão

Geopolítica não tem nada a ver com moralidade e tudo a ver com o uso efetivo do poder”. Assim o historiador e colunista Dominic Green definiu a palavra que está sendo ressuscitada diante dos lances dramáticos que tanto a China quanto a Rússia estão fazendo no tabuleiro mundial.

Com um cacife muitas e muitas vezes menor, a Rússia tem o destaque do momento porque parece ter ido além de suas capacidades ao colocar 130 mil soldados cercando a Ucrânia por três lados. Como sair dessa sem passar carão e sem nenhuma vantagem obtida para seu objetivo primordial, redesenhar o status quo vigente desde o fim da União Soviética?

A resposta está em em interlocutores como Emmanuel Macron. Extremamente bem preparado e inteligente, Macron avaliou que se daria bem se aparecesse como o líder político que desativou a bomba armada por Vladimir Putin na Ucrânia. Já que Putin não quer invadir a Ucrânia, mas garantir que os americanos, via Otan, fiquem longe de suas fronteiras, por que não oferecer uma porta de saída a ele, foi o raciocínio por trás da missão diplomática que levou Macron a uma reunião de emergência no Kremlin, “num salão frio como a Sibéria”, na definição de um político oposicionista, com cada um numa cabeceira de uma mesa que acomodaria metade de uma corte czarista?

Macron saiu da mesa gigantesca achando que tinha conseguido a concordância de Putin para “não empreender novas iniciativas militares” – diplomatês para não desencadear a temida invasão.  “Essencialmente, é falso”, qualificou o gélido porta-voz de Putin, Dmitri Peskov. “Moscou e Paris não puderam selar nenhum pacto. É, simplesmente, impossível”.

A faca foi revirada sem piedade. “A França ocupa a presidência da União Europeia. A França é membro da Otan, onde Paris não tem a liderança. Neste bloco, a liderança é de outro país. Que acordos podemos discutir?”.

Tapinha adicional: mal acabou o encontro do qual Macron saiu dizendo que a Rússia tinha se comprometido a congelar a situação atual e foram anunciadas novas manobras perto da fronteira com a Ucrânia.

Qual a jogada de Putin?

Nas interpretações mais pessimistas, ele está conseguindo tudo o que queria. “Os Estados Unidos foram expostos como um protetor não confiável, incapaz de defender uma posição avançada demais como a na Ucrânia, na porta de entrada da Rússia”, escreveu Dominic Green. “A Otan está dividida e enfraquecida, uma sombra da projeção imperial”.

Pode haver exagero nessa análise, mas é verdade que França e, principalmente, Alemanha fazem uma espécie de reação passiva-agressiva aos Estados Unidos na questão da Ucrânia. O novo primeiro-ministro alemão, Olaf Sholz, foi a Washington para manifestar apoio aos Estados Unidos, mas se recusou a repetir as palavras de Joe Biden. O presidente americano garantiu que o gasoduto Nord Stream 2 entrará nas sanções contra a Rússia se a Ucrânia for invadida.

A dependência alemã do gás russo é o tipo de fragilidade geoestratégica que Putin sabe explorar muito bem. Como mestres na arte da propaganda, os russos também identificam a tática americana de propalar em tom estridente todos os possíveis e até as impossíveis –  desenvolvimentos que significariam uma intervenção russa.

Um deles: uma operação de “bandeira falsa” que simularia um ataque contra ucranianos de origem russa, justificando a intervenção armada.

A armação é notavelmente parecida com um episódio infame da Alemanha nazista. Para justificar a invasão da Polônia, homens das SS simularam um ataque polonês à rádio da cidade fronteiriça de Gleiwitz. Prisioneiros do campo de trabalhos forçados de Dachau foram vestidos com fardas polonesas, mortos e mutilados (curiosidade histórica: quem forneceu os uniformes foi Oscar Schindler, colaborador da inteligência militar e depois salvador de 1 200 judeus que trabalhavam em sua fábrica). Serviram para “provar” a falsa agressão da Polônia.

A operação Gleiwitz foi no dia 30 de agosto de 1939. Em 1º de setembro, foi desfechada a invasão da Polônia – e começou a II Guerra Mundial. Os russos emulariam um episódio tão conhecido, com suas tétricas consequências?  Não é provável – mas também não é impossível. Operações assim têm por objetivo convencer a opinião pública interna, que não constitui um problema grave para Putin. A máquina de propaganda já convenceu a maioria dos

A máquina de propaganda já convenceu a maioria dos russos que a Otan é o agente agressor.  Com um Putin irredutível, Macron partiu para o lado mais fraco e foi a Kiev pressionar o mais azarado dirigente mundial, o presidente ucraniano Volodimir Zelenski. As propostas de Macron implicariam, em última instância, em tirar da constituição ucraniana a cláusula que estabelece como objetivo nacional entrar para a Otan e passar a desfrutar da proteção garantida a todos os seus membros.  “Temos uma visão comum com o presidente Macron sobre as ameaças e os desafios à segurança da Ucrânia, a toda a Europa e ao mundo, de forma geral”, esquivou-se diplomaticamente o ex-comediante.

Emmanuel Macron não é bobo e sabe bem com quem está lidando. Sabe também que tem uma eleição a ganhar em abril e qualquer coisa que pareça com uma acomodação na Ucrânia poderá ser usada a seu favor. Muitas das exigências da Rússia para desarmar a bomba ucraniana são tão absurdas que foram feitas justamente para cair numa eventual mesa de negociação. Se Macron conseguiu nada ou muito pouco com sua arriscada viagem é porque Putin quer, pelo menos por enquanto, manter a pressão. E ver até onde os aliados europeus dos Estados Unidos não entram em pânico.

Blog Mundialista - Vilma  Gryzinski - VEJA