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domingo, 11 de abril de 2021

Direito a dizer não - Ascânio Seleme

Senadores têm o direito, e neste caso também o dever, de dizer não ao presidente e também aos oportunistas, que são capazes de fazer qualquer coisa para ganhar uma vaga eterna no panteão da justiça nacional 

As instituições públicas valem mais quando exercem plenamente suas funções. Cumprir parcial ou burocraticamente designações legais ou constitucionais as tornam fracas e em alguns casos desnecessárias. Além de legislar e fiscalizar o Poder Executivo, foram dadas ao Senado Federal competências especiais que vão desde processar e julgar o presidente da República nos crimes de responsabilidade até aprovar previamente a indicação de magistrados para os tribunais superiores. Como não podem contar com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, cabe aos demais senadores barrar a escalada autoritária de Bolsonaro.

Sua primeira missão é impedir que Augusto Aras ou André Mendonça sejam aprovados para a vaga do ministro Marco Aurélio no Supremo Tribunal Federal, caso um deles venha a ser indicado por Bolsonaro. Os senadores têm o direito, e neste caso também o dever, de dizer não ao presidente e também aos oportunistas, que são capazes de fazer qualquer coisa para ganhar uma vaga eterna no panteão da justiça nacional. A sessão do STF que julgou legal a restrição de cultos e missas em igrejas e templos durante a pandemia não deixou qualquer dúvida, se ainda restava alguma, de que os dois são feitos da mesma matéria com que se modelou Kassio Nunes. Fizeram, fazem e farão qualquer coisa que o chefe mandar.

Parecia uma sessão de sabatina de alunos de segundo grau, cada um tentando provar ao mestre ser mais aplicado do que outro. Augusto Aras repetiu a frase óbvia “o Estado é laico, as pessoas não são” apenas para bajular o capitão e mostrar que ele é adequado para o cargo de Marco Aurélio porque “pensa” como Bolsonaro. André Mendonça foi mais longe, e despudoradamente indagou: “Por que só as igrejas? Por que a discriminação?”. Pois é exatamente o contrário o que rezam os decretos de interdição, também as igrejas e templos devem ser fechados, como bares, restaurantes, clubes, lojas e cinemas. Ao afirmar pateticamente saber que a Covid mata, Mendonça disse que “os cristãos estão dispostos a morrer para garantir o direito ao culto”.

Duvido que ele próprio esteja disposto a morrer em favor de cultos e missas. Pode até se sacrificar, mas apenas se for pelo seu estimado Jair Bolsonaro.

Os senadores têm poder e precisam usá-lo. Há duas semanas, derrubaram o estúpido negacionista ministro das Relações Exteriores. Fizeram um serviço ao Brasil. A nomeação do seu substituto, Carlos Alberto França, um homem equilibrado e devoto da diplomacia, provou o acerto da pressão que derrubou Ernesto Araújo. Há três meses recusaram a indicação de um diplomata arrogante para um posto no exterior, já que ao Senado cabe também aprovar estas nomeações do Executivo. Você pode dizer que no caso de ministro do STF é diferente, mais grave. Verdade. Ao longo da História, o Senado rejeitou apenas cinco indicações presidenciais para o Supremo, todas no governo do marechal Floriano Peixoto.

Das cinco rejeições, a mais polêmica foi de Cândido Barata Ribeiro. Ele já havia tomado posse, que ocorria antes mesmo da aprovação pelo Senado, quando seu nome acabou rejeitado. Conceituado médico e professor na Faculdade de Medicina do Rio, Barata Ribeiro foi defenestrado do Supremo por não ter formação jurídica, mas acabou virando nome de rua em Copacabana. O Senado também rejeitou a indicação de dois generais, Ewerton Quadros e Galvão Queiroz. A bravura daquele Senado era notória, pois enfrentava não um capitão baderneiro, mas o temido “marechal de ferro”.

Indicações para o Supremo precisam ser equilibradas. Não basta o nomeado ser terrivelmente evangélico ou enormemente puxa-saco. Ele tem que estar pronto para acrescentar conhecimento e sabedoria no colegiado que dá a última palavra sobre todas as questões legais e constitucionais no país. Aprovações sobre a perna resultam em nomes como o do bolsonarista Kassio Nunes Marques ou do ex-petista José Antonio Dias Toffoli. Constitucionalmente, o Senado tem o direito de dizer não. Precisa agora ter também coragem.

Homenzinho verde
André Mendonça não apenas andou passeando em Marte, como sugeriu Gilmar Mendes ao rebater seus argumentos em favor da abertura de igrejas e templos. Ele é um marciano, está na cara. Só alienígena seria capaz de dizer todas as tontices que Mendonça não se cansa de repetir. A menos, é claro, que o moço seja um terrestre terraplanista.

Pois é
Falando nisso, bispos, padres e pastores preferem dízimos presenciais do que digitais para não se incomodarem com bobagens como impostos, taxas e fiscalização.

Ele é novo, ele aprende
Na sessão da Segunda Turma do STF que julgou a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, o ministro Kassio Nunes disse que os brasileiros ainda terão 26 anos para conhecê-lo melhor. Trata-se do número de anos que ele pode ficar no Supremo até se aposentar. Esta semana, ao votar em favor da realização de cultos e missas abertas aos fiéis durante a pandemia, ele poderia acrescentar que ainda tem 26 anos para aprender o seu ofício.

Rodrigo II
Bolsonaro tem muita sorte com Rodrigos. Primeiro foi o Maia, que presidiu a Câmara nos dois primeiros anos de seu mandato e sentou em cima de mais de 30 pedidos de impeachment por uma dúzia de crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente. Agora foi o Pacheco, que arrumou um rosário de desculpas esfarrapadas para não abrir a CPI da Pandemia, apesar de ter mais assinaturas de senadores do que o necessário para tocar o inquérito. Teve de ouvir uma ordem do STF para cumprir sua obrigação. Nenhum dos dois faz jus ao seu nome. Rodrigo, do germânico Hrodric, significa “famoso pela sua glória”.

Lista de compras
Tem gente no Planalto achando exagerada a lista de cargos que o Centrão ainda pleiteia para seguir sustentando o governo. Segundo O GLOBO, Lira e companhia pediram Turismo, Educação, Minas e Energia, Infraestrutura, parte da Economia e a criação de uma nova pasta que poderia ser batizada de Integração Nacional para reunir verbas espalhadas por aí. Mas há também quem ache o preço barato para o peso que esta turma tem para carregar no Congresso.

Penteando macaco
Não é só quem usa cachimbo que tem a boca torta. Vejam o caso de Alexandre Ramagem, o delegado federal amigo de Jair Bolsonaro e de seus zeros, que foi impedido de assumir a PF e ganhou a Abin de consolação. Ao defender o órgão que dirige, acusado de dar assessoria a Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas, Ramagem resolveu atacar a imprensa. Na entrevista sobre a sindicância interna que apontou “falseamento” de dados para incriminar o zerinho, o delegado disse que “parcela da imprensa, de má-fé, constrói um método, cria um fato falso (...) joga para difusão geral (...) para a execração pública”. Ramagem faria melhor se fosse pentear macaco.


Ops, esqueci
Na entrevista que deu ao GLOBO esta semana, ao falar nos candidatos em que votou para presidente ao longo dos anos, Luiz Henrique Mandetta disse que esqueceu se votou em Collor ou em Lula em 1989. Ele deve ser o único brasileiro a se esquecer do seu primeiro voto para presidente. Fala sério, Mandetta.

Na posse de Anderson Torres no Ministério da Justiça, Bolsonaro elogiou o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Eduardo Aggio Sá. “Ele tem cumprido sua missão com galhardia”, disse o presidente. Duas horas depois, Aggio foi defenestrado do cargo por Torres. Galhardia, elegância e garbo não valem nada nesse governo, nem mesmo quando reconhecidos pelo capitão.

Bate igual
Claro que os efeitos da pandemia são muito mais graves entre a população de renda mais baixa, mas a percepção de que a crise piora a economia é alta entre todos. Pesquisa feita pelo Instituto Renoma no Rio identificou perdas entre os que vivem tanto em bairros de renda mais alta quanto nos de renda mais baixa. Entre os mais pobres, 62,3% dos entrevistados disseram que seus ganhos diminuíram. Entre os mais ricos, 64,7% perceberam perdas de renda. Sobre o custo de vida, 91,5% dos moradores de bairros de poder aquisitivo mais baixo sentiram que ficou mais caro. Nos bairros de maior renda, 85,3% perceberam que houve aumento generalizado de preços.

Doutor jamais
O vereador Chico Alencar (PSOL) quer retirar formalmente o Dr. do nome do vereador Jairo Santos Souza Júnior, até aqui conhecido como Dr. Jairinho. O infame, você sabe, está preso sob a acusação de ter torturado e matado Henry, um menino de quatro anos. Chico vai ao CMRJ pedir a cassação do registro profissional do parlamentar que admite nunca ter exercido a medicina.
 
Diplomacia verdadeira
Vem aí um livro para se entender melhor a vida diplomática. Organizado pela Editora Francisco Alves, reúne artigos de 25 embaixadores de duas gerações de graduados diplomatas brasileiros. Grandes nomes como Rubens Ricupero, Roberto Abdenur, José Botafogo, Celso Amorim, Marcos Azambuja, Leda Camargo e João Almino colaboram com textos que contam histórias, experiências e vivências das suas carreiras, no Brasil e no exterior. São crônicas, episódios e exemplos edificantes da verdadeira diplomacia. Depois de dois anos do obscurantismo de Ernesto Araújo, é bom lembrar que há luz e vida inteligente no Itamaraty.
Nosso rio

O Rio registrou aumento de mais de 60% de casos de Covid nos últimos três dias. O atento prefeito da capital aproveitou para suspender as restrições de bares, restaurantes, quiosques, cinemas,teatros, shoppings. Mas manteve as rodas de samba proibidas, para não dizerem que está trabalhando em causa própria.

O Globo

 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

A passagem de comando

Manifestações recentes dos comandantes militares e do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, sobre a reforma da Previdência revelam um ativismo político preocupante”


De todas as solenidades já realizadas no governo Bolsonaro, com exceção da posse do próprio presidente da República, talvez nenhuma outra mereça mais atenção como a passagem de comando da Força Terrestre, hoje, no Clube do Exército, ocasião em que o general Eduardo Villas Boas passará o bastão de comando do Exército para seu colega Edson Leal Pujol. Não deveria ser assim, mas é o que a realidade nos mostra, em razão da presença hegemônica de generais de quatro estrelas no novo ministério e do próprio papel que Villas Boas desempenhou nos últimos quatro anos, como discreto fiador do impeachment de Dilma Rousseff e, sabe-se agora, de decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) durante o processo eleitoral, entre as quais a manutenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cadeia.

Villas Boas encerra sua carreira militar em precárias condições físicas, em razão de uma grave doença degenerativa, mas em pleno gozo de suas faculdades mentais. O que parecia ser um fator de desgaste e enfraquecimento de sua liderança, a deterioração de sua saúde, que o levou à cadeira de rodas, com o passar do tempo, aliada ao esforço de se fazer presente nos momentos mais importantes, se comunicar diariamente com a tropa e a sociedade pelas redes sociais e se manter em permanente diálogo com as principais autoridades do país, acabou aumentando o seu carisma na tropa e lhe reservou um lugar de honra na galeria de líderes militares reconhecidos e respeitados pela sociedade.

Por duas vezes, teve a História do país nas mãos. A primeira, durante a campanha do impeachment, quando impediu que a então presidente Dilma Rousseff decretasse o estado de sítio para reprimir a oposição; a segunda, mais recentemente, durante a campanha eleitoral, em pelo menos dois episódios que poderiam ter gerado insubordinação nos quartéis, o habeas corpus concedido ao ex-presidente Lula e a facada em Jair Bolsonaro. Nos bastidores da crise econômica, ética e política que o país enfrentou, reiterou o papel dos militares na manutenção da estabilidade, da legalidade e da legitimidade, bem como a defesa da Constituição Federal.

['caput' do artigo 142 da Constituição Federal:

"Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem."


O general Villas Boas em nenhum momento se afastou do integral respeito ao texto constitucional.] 


Entretanto, a história ainda julgará as consequências de sua intervenção no episódio do julgamento do habeas corpus de Lula, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 3 de abril do ano passado, quando deixou os bastidores para se manifestar publicamente sobre aquele momento político nas redes sociais: “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”, escreveu no Twitter oficial de comandante do Exército brasileiro. Depois, completou: “Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”.

Ovo da serpente
Essas declarações foram repudiadas pelo decano do Supremo, Celso de Mello, que comparou Villas Boas a Floriano Peixoto, o segundo presidente da República, que ficou conhecido como “marechal de ferro” por governar em regime de estado de sítio. Em seu voto a favor da concessão do habeas corpus, que acabou rejeitado pela maioria, o ministro disse que as declarações eram “claramente infringentes do princípio da separação de poderes” e pareciam “prenunciar a retomada, de todo inadmissível, de práticas estranhas (e lesivas) à ortodoxia constitucional”. [o que estava em julgamento era um habeas corpus para libertar um criminoso e não a conduta do comandante do Exército Brasileiro.
O comentário cabia em uma entrevista, jamais, no texto de um voto de um supremo ministro.]

“A nossa própria experiência histórica revela-nos — e também nos adverte — que insurgências de natureza pretoriana, à semelhança da ideia metafórica do ovo da serpente (República de Weimar), descaracterizam a legitimidade do poder civil instituído e fragilizam as instituições democráticas, ao mesmo tempo em que desrespeitam a autoridade suprema da Constituição e das leis da República!”, disse Celso de Mello, que completou: “As intervenções pretorianas no domínio político-institucional têm representado momentos de grave inflexão no processo de desenvolvimento e de consolidação das liberdades fundamentais”.

O general Leal Pujol, o mais antigo do Alto-Comando, assumirá o Exército num contexto completamente diferente. Entretanto, manifestações recentes dos demais comandantes militares e do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, sobre a reforma da Previdência, revelam um ativismo político preocupante, nem tanto pela defesa de privilégios, mas porque sinalizam certa tutela sobre o próprio governo e demais poderes, a partir de interesses corporativos. Historicamente, esse costuma ser o primeiro degrau da anarquia nas Forças Armadas.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB 



quarta-feira, 26 de setembro de 2018

O eleitor de Bolsonaro - Bolsonaro vence nas regiões Norte - Centro-Oeste e Sudeste

“Bolsonaro vence nas regiões Norte/Centro-Oeste (33%) e Sudeste (31%), mas começa a perder influencia no Sul do país, onde caiu de 38% para 30%. Perde feio no Nordeste para Haddad”

Qualquer que seja o resultado das eleições, a candidatura de Jair Bolsonaro é um fenômeno a ser estudado, por romper velhos paradigmas e afrontar o “politicamente correto”. Apesar do seu caráter disruptivo, do ponto de vista ideológico, frustra o surgimento de uma “nova direita” liberal-conservadora e assinala a recidiva da “velha direita” intervencionista e nacionalista, inspirada no antigo regime militar. Se quisermos traçar um paralelo histórico, somente dois militares governaram o país constitucionalmente: Floriano Peixoto (1891-1894) e Eurico Gaspar Dutra (1946-1950). Eram rechonchais e chegaram ao poder depois de uma longa carreira militar, ao contrário do ex-capitão do Exército, que trocou a caserna pelo parlamento.

Alagoano de Ipioca, Floriano Peixoto (1839-1895), o Marechal de Ferro, foi o segundo presidente da República, sucedendo Deodoro da Fonseca (1827-1892). Durante o governo provisório, em 1890, foi ministro da Guerra; no ano seguinte, foi eleito vice-presidente. Com a renúncia de Deodoro, assumiu a presidência em 23 de novembro de 1891. No poder, diminuiu os impostos, os preços dos produtos e dos aluguéis, o que lhe garantiu apoio popular, mas governou a maior parte do tempo com o país em “estado de sítio” e descontentou a elite política e econômica, principalmente os liberais e a elite cafeeira. Derrotou a Revolução Federalista (1893-1895), no Rio Grande do Sul, e a Revolta da Armada (1893), rebelião liderada pela Marinha, no Rio de Janeiro, que reprimiu duramente. Ao final de seu mandato, em 15 de novembro de 1894, se afastou da vida pública e passou o poder para o presidente eleito, Prudente de Moraes (1841-1902).

Natural de Cuiabá (MT), Eurico Gaspar Dutra (1883-1974) governou o país em 1946-1951. Pautado pela Guerra Fria, seu governo foi caracterizado pela perseguição aos comunistas, pela proibição dos jogos de azar e pela aproximação com os EUA. Era ministro da Guerra de Vargas, em 1936. Apesar de defender o apoio às potências do Eixo, Dutra foi o organizador da Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviada para lutar na Itália, ao lado dos Aliados, na Segunda Guerra Mundial. Acabou escolhido pela oposição para ser o candidato à Presidência. A deposição de Vargas por um golpe militar assegurou a eleição de Dutra. Foi sucedido por Getúlio Vargas (PTB), que derrotou o brigadeiro Eduardo Gomes (UDN), outro líder militar da época, e Cristiano Machado (PSD), e voltou ao poder consagrado pelas urnas. Até morrer, Dutra manteve influência no Exército, fazendo parte da Arena durante o regime militar.

Os votos
Bolsonaro protagoniza o ressurgimento de uma direita com votos, o que não acontecia desde a eleição de Fernando Collor de Mello, em 1989. Lidera a disputa eleitoral, sobretudo entre os jovens. Está em empate técnico com Fernando Haddad (PT) nas faixas etárias de 35 a 44 anos e acima de 55 anos. Entre os homens, é líder absoluto, com 35%; apesar da grande rejeição, entre as mulheres está empatado com Haddad. Lidera disparado entre os eleitores de maior escolaridade (ensino médio e superior), mas perde feio para o petista, ex-ministro da Educação, no eleitorado de baixa escolaridade. 


 Com exceção dos que têm renda abaixo de um salário mínimo, que votam em Fernando Haddad, provavelmente por causa do Bolsa Família, a liderança de Bolsonaro cresce progressivamente na medida em que aumenta a renda, passando de 26% dos eleitores que recebem de um a dois salários mínimos para 42% dos que recebem acima de cinco salários mínimos.  Em termos geográficos, é avassaladora a vantagem de Bolsonaro nas regiões Norte/Centro-Oeste (33%) e Sudeste (31%), mas começa a perder influencia no Sul do país, onde caiu de 38% para 30%. Perde feio no Nordeste para Haddad, que tem 38% das intenções de votos. Bolsonaro tem 34% de apoio entre os evangélicos e 29% entre outras religiões, mas está ligeiramente ultrapassado por Haddad entre os católicos (25% a 24%). Tem larga vantagem entre os eleitores brancos (33%), ligeira vantagem em relação a Haddad entre os negros e pardos (25% a 24%) e perde entre os demais, também para Haddad, por 28% a 25%.

Apesar de liderar as pesquisas de opinião, a rejeição a Bolsonaro subiu para 46% dos eleitores e chega a 50% entre as mulheres. Esse é o seu calcanhar de Aquiles, que está sendo explorado pelos adversários, principalmente o tucano Geraldo Alckmin, que aposta na desconstrução da imagem de Bolsonaro. Entretanto, quem se aproxima de Bolsonaro é o petista Fernando Haddad. Na pesquisa do Ibope de segunda-feira, que aqui serviu de referência, pela primeira vez Bolsonaro deu sinais de estagnação, permanecendo no mesmo patamar de 28%, enquanto o petista subiu de 19% para 22%. Ciro manteve-se em 11%, Alckmin oscilou de 7% para 8% e Marina, de 6% para 5%. Apesar da volatilidade do cenário eleitoral, a resiliência de Bolsonaro é um fato.

Nas Entrelinhas - Blog Luiz Carlos Azedo - CB
 

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Presidente diz, com razão, que é preciso tomar cuidado com inclinação para o autoritarismo

No ato em comemoração à Proclamação da República, Temer lembra as tentações autoritárias que nos rondaram e ainda nos rondam

O presidente Michel Temer transferiu nesta terça, simbolicamente, o seu governo para a cidade de Itu, no interior de São Paulo, onde se realizou, em 1873, a primeira convenção em favor da República. É claro que o presidente estava, com o gesto simbólico, saudando a República, proclamada no dia 15 de novembro de 1889, mas resolveu fazê-lo sem jogar conversas ao vento. Aliás, de todos os nossos hinos, apesar do “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”, o da República é o que mais me incomoda. Foi publicado no Diário Oficial em 1890, ano seguinte à Proclamação. E há lá um trecho inacreditável, a saber: Nós nem cremos que escravos outrora
Tenha havido em tão nobre País…
Hoje o rubro lampejo da aurora
Acha irmãos, não tiranos hostis.
Somos todos iguais! Ao futuro
Saberemos, unidos, levar
Nosso augusto estandarte que, puro,
Brilha, avante, da Pátria no altar!

Como é? “Nós nem cremos que escravos outrora/ tenha havido em tão nobre país”? Outrora? A escravidão acabara havia dois anos. E como é que “nós não cremos”? Tanto cremos que a escravidão, embora oficialmente extinta, perdurou na prática por muito tempo e, como afirmou Joaquim Nabuco, abolicionista, monarquista e liberal, “a escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”. Permaneceu. E, em muitos aspectos, permanece ainda.

Muito bem! O que isso tudo tem a ver com Temer?
Ao discursar em Itu, o presidente afirmou que o país tem certa tendência “a caminhar para o autoritarismo”. Disse mais: “Se nós não prestigiarmos certos princípios constitucionais, a nossa tendência é sempre caminhar para o autoritarismo, para uma certa centralização. Nós, o povo brasileiro, temos até, digamos, uma certa tendência para a centralização”.

E então não é verdade? Temer está coberto de razão. Nenhum país nasce vocacionado para a democracia e a grandeza. Isso é coisa de hino. A depender de sua história, determinados valores terão mais importância ou menos. Do ponto de vista administrativo, a herança portuguesa nos deixou o apreço pela centralização e pela burocracia. Estão nas nossas raízes. Mas já poderíamos ter feito algo diferente do que fizeram de nós. E, no entanto, no que concerne ao amor pelo autoritarismo, andamos bastante errado ao longo dos tempos.

Querem ver? Um dos períodos considerados fundadores do país e da política contemporânea é, pasmem!, o Estado Novo. Entre 1937 e 1945, vivemos sob um regime policial que prendeu, matou, esfolou. Getúlio Vargas havia chegado ao poder em 1930. Logo, ficou 15 anos no poder, dos quais menos de três sob os auspícios de uma Constituição de 1934. Portanto, a ditadura getulista não durou apenas oito anos, mas mais de 11.

E, no entanto, o homem é saudado como um verdadeiro “Pai da Pátria” em razão de algumas leis que fez aprovar em plena ditadura — e, entre elas, está justamente a Consolidação das Leis do Trabalho, mudada no governo Temer. O Estado Novo foi o período institucionalmente mais violento da República. Não obstante, Getúlio é saudado pelas esquerdas como um inspirador das lutas nacionalistas e trabalhistas. Retornou ao poder, pelas urnas, em 1951 e se mata em 1954. A frase dura a ser dita é a seguinte: na ditadura, matou em penca; na democracia, se matou.

Dez anos depois, aconteceu o golpe militar de 1964, do qual, curiosamente, também foi personagem, é bom que a gente se lembre. João Goulart era um herdeiro político seu. Se é fantasiosa, e é, a história de que preparava um golpe para transformar o país numa república sindical, de que o Partido Comunista seria o esteio, é absolutamente verdadeira a afirmação de que nunca entendeu o regime democrático e que levou a desordem para dentro do governo.

E, veio, então, o golpe militar em favor justamente da ordem. Como esquecer, de resto, que foi um golpe a inaugurar a República, liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca? A ele no poder se seguiu outro, este com a alcunha de “O Marechal de Ferro”: Floriano Peixoto. O primeiro presidente civil será o ituano Prudente de Moraes, que assume em novembro de 1894, cinco anos depois do golpe da República.

Olhem o quadro eleitoral que temos pela frente, tudo o mais constante. O candidato que lidera as pesquisas de opinião é Luiz Inácio Lula da Silva. Seu partido ficou 13 anos no poder. Sim, governou segundo as regras da democracia, mas buscou se estruturar como partido único. O PT se organizou para tornar irrelevantes os mecanismos de alternância de poder. Mensalão e petrolão foram mais do que simples assaltos aos cofres públicos. Eram uma forma de entender o poder. Lula se considera uma versão atualizada de Getúlio — não, claro!, do líder fascistoide, mas daquele que seria o pai do povo. Seu oponente mais próximo nas pesquisas é Jair Bolsonaro, que reivindica, ainda que de forma imprópria, a herança da ditadura militar.

Tendência ao autoritarismo, sim, infelizmente! A República antifederativa inaugurada em 1930, com Getúlio, está aí, com a sua tendência à centralização. Sim, é preciso tomar muito cuidado. O início da República traz a marca da crueldade. Como esquecer que, entre1896 e 1897, ela travou a sua maior batalha armada, em Canudos, contra uma horda de miseráveis, analfabetos, e vítimas da miséria.  A Guerra de Canudos matou ao menos 20 mil revoltosos e cinco mil soldados. Tinha-se a fantasia, útil para a época, de que se tratava de um movimento monarquista, que ameaçaria a República. Não! Era só um dos gritos que a miséria e a exclusão dão de vez em quando. Morreram a tiros, degolados, queimados.  Sim, há paixões renitentemente autoritárias no pais. A própria Lava Jato, com sua tendência de primeiro atirar para depois perguntar quem vem lá, dá testemunho disso. E Temer faz bem em chamar a atenção para elas.

Blog do Reinaldo Azevedo