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sábado, 27 de agosto de 2016

PT quer tirar foco do julgamento do impeachment

Bancada lulopetista no Senado não discute de forma objetiva as acusações bem fundamentadas contra Dilma; prefere fazer proselitismo político

Pode-se dizer tudo do lulopetista militante, menos que não tenha disciplina e fé de sectário religioso. Nenhum fato da vida real abala suas convicções — vide as revelações devastadoras surgidas na Lava-Jato sobre seu líder e companheiros. Agora, por exemplo, o PT dá demonstrações de que deseja virar a página do impeachment o mais rápido possível, mas sua bancada no Senado atua com virulência em defesa de Dilma. Isso, apesar das provas fartas e sólidas de que a presidente cometeu crimes de responsabilidade na manipulação do Orçamento, passíveis de punição por impeachment. 

Há quem diga que o real objetivo, agora, é marcar posição para o ciclo oposicionista em que permanecerá o partido, com o afastamento definitivo da presidente. Não por acaso, profissionais de cinema estariam produzindo um documentário sobre o impeachment, por certo a ser usado à exaustão com fins de propaganda política, por um PT vitimizado.

A bancada continua a aplicar, nesta fase final do processo, a tática de ganhar tempo como faz desde o início —, agora pela desqualificação das testemunhas da acusação. Tudo também para não discutir o tema central do processo: a acusação, bem fundamentada, de que a presidente cometeu crimes de responsabilidade.

No início da madrugada de ontem, por exemplo, José Eduardo Cardozo, advogado de Dilma, traçou o criativo roteiro de uma fantasiosa conspirata feita no TCU pelo procurador do Tribunal de Contas Júlio Marcelo de Oliveira e o auditor Antônio Carlos Costa D’Ávila Carvalho Júnior, para induzir os ministros do tribunal a rejeitar as contas da presidente. Chegou ao ponto de dizer que a crise foi provocada por pareceres dos auditores, arrolados pela acusação como testemunhas. Devido aos ataques do PT, Júlio Marcelo virou “informante”. Mas falou o que se esperava dele, sem problemas.

Ora, Cardozo faz pouco-caso do discernimento da população, principalmente dos já mais de 12 milhões de desempregados, devido aos graves erros de política econômica de Dilma. Esquece que analistas brasileiros e estrangeiros, das agências de avaliação de risco, já alertavam para problemas fiscais na economia brasileira desde no mínimo 2013. A imprensa profissional registrou tudo.


Seguiu a mesma linha diversionista o convite da defesa ao economista Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos ícones do “desenvolvimentismo”, para, ontem, servir também ao estratagema de se evitar questões fundamentais postas no impeachment. Belluzzo, por sua escola de pensamento, desgosta de preocupações “neoliberais” com o equilíbrio fiscal, portanto não considera que Dilma incorreu em crimes ao atropelar a Lei de Responsabilidade. Até porque não gosta da lei. 

Cumpriu, na sessão, o papel de vocalizador de críticas a um necessário cuidado com a estabilização fiscal. Tanto que não respondeu a perguntas objetivas feitas pela advogada, e uma dos signatários do pedido de impeachment, Janaína Paschoal, sobre as denúncias feitas à presidente. Confessou que não leu o processo.  Tem-se a impressão de que a bancada petista aproveita mesmo o tempo para proselitismo com vistas ao futuro. Sintomaticamente, a maioria pelo impedimento, depois de mais um show de bate-bocas e destemperos, preferiu não levantar questões às testemunhas levadas pela defesa. É perda de tempo. Cumpre-se a tabela, como no futebol.

Fonte: Editorial - O Globo

sábado, 21 de maio de 2016

Chute ao cadáver

Entre mortos e afogados, flutua impávida a estrutura do poder real 

A produção nacional de cadáveres vai de vento em popa. Não falo dos milhares sucumbidos diante da violência explícita ou implícita que toma conta do País. Neste momento, o sistema de poder e do dinheiro, a fonte de toda a violência, prepara as exéquias de mais um cadáver notório. 

O epitáfio de Eduardo Cunha é estampado em editoriais que alteiam a voz do moralismo para esconder a cumplicidade do defunto, um servidor fiel daqueles que agora promovem a sua liquidação moral e política. Diria o personagem de Lampedusa no Leopardo: “É preciso mudar para que tudo continue como está”. O transformismo à brasileira é mais cruel: “É preciso assassinar os súditos mais nobres para preservar a reprodução das engrenagens do poder”. Os porta-vozes do establishment nativo se encarregam do conhecido esporte, o chute ao cadáver. 

No Congresso e fora dele, os maganos e maganões da República já preparam requintados pontapés na carcaça de quem, afinal, serviu e serve tão bem aos seus interesses e apetites. Foi assim, diga-se, que escaparam do naufrágio do regime militar e foram entronizados na democracia como corifeus das liberdades.    

Os fâmulos de Eduardo enfrentam, porém, uma dúvida terrível: não sabem se, de fato, o cadáver está bem morto. Sendo o defunto notório e possuidor de amplos e reconhecidos saberes sobre as mazelas da política nativa, os estragos de uma ressurreição ou de um último suspiro podem ser pavorosos. Imagino as angústias que nesta hora oprimem os corações de alguns acusadores de ocasião. Como pistoleiros de aluguel, só vão sossegar o espírito quando convencidos de que o cadáver está completamente morto. Não podem fazer outra coisa senão esperar sua defunção definitiva. Mas aqui só há uma certeza possível: não há como evitar o estrebucho político do moribundo. 

Então caberia pesar as conveniências do assassinato de um personagem tão emblemático, uma encarnação perfeita dos vícios e das virtudes do sistema dominante. Os vícios são muitos. Deixo à imaginação do leitor o trabalho de enunciar o elenco. Quanto às virtudes, dentre as poucas sobressai a capacidade de reproduzir as alianças de poder à custa da descaracterização humilhante e trágica dos que alegam se opor a tal estado de coisas. Aí estão, prostradas e subjugadas, estraçalhadas, as instituições incumbidas de promover a mediação democrática. 

A democracia dos patrícios, observada de uma perspectiva realista e sombria, revela a enorme capacidade de sobrevivência dos poderes dos donos. Governo após governo, mudam os métodos, mas não os rumos, sequer os pretextos. Há que se admirar o requinte dos poderosos nos cuidados de preservar pessoas notoriamente comprometidas com a truculência e as malfeitorias do passado. Aí estão os sobreviventes de outros naufrágios da República a perorar sobre as virtudes da dita-cuja.   

Elementar, meu caro Watson, entre mortos e afogados flutua impávida a estrutura do poder real, esse contubérnio entre o dinheiro e a política. Mandam e desmandam os mesmos grupos de sempre, reforçados agora pela presença dos yuppies cosmopolitas da finança globalizada. A grande inovação dos tempos, além da internet e do celular, é a porta giratória entre as mesas de operação das instituições financeiras e as burocracias econômicas executoras dos projetos e programas da privataria. Nesse bloco hegemônico não faltam os serviçais da mídia, infatigáveis em apresentar esses companheiros de jornada como portadores de um saber superior, o único capaz de assegurar, aos olhos dos mercados financeiros, a credibilidade da política econômica. 

Mais do que isso, as normas do mercado passaram a ditar as regras da vida política. No Brasil de hoje, essa lógica fatal vem contaminando as instâncias decisivas do poder estatal. O sistema partidário e o financiamento das campanhas eleitorais parecem engendrados com o propósito de transformar o Congresso num mercado de balcão, onde os gritos de “compro” e “vendo” tornam ridícula a hipocrisia dos discursos moralistas dos plenários. 

O arbítrio, o favorecimento, o segredo, a obscuridade e o nepotismo eram os demônios que os valores da República restaurada pretendiam exorcizar. Pois os curupiras da Pátria Amada estão aí, livres e folgazões, gargalhando sobre as nossas incríveis esperanças.  Nesta coluna, reescrevo um artigo publicado por ocasião da renúncia do então senador Antonio Carlos Magalhães. Mudam as máscaras, mas os personagens são os mesmos. Ao contrário do que se divulga, os senhores tornaram-se mais ferozes. Mas aprenderam a usar métodos mais sutis e eficientes para torturar coletivamente os cidadãos com as técnicas da desinformação, do massacre ideológico e da “espetacularização” da política.  

Por: Luiz Gonzaga Belluzzo - Carta Capital