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sexta-feira, 26 de junho de 2015

Carta aberta ao Cirino



O texto que se segue é do ex-ponta esquerda Zé Roberto Padilha. Leia-o bem, Cirino:
“Bom dia, Marcelo. Temos algo em comum: chegamos como promessas à Gávea, aos 23 anos. Eu vindo de um troca-troca com o Fluminense, você como destaque no Atlético Paranaense. Mesmo sendo tricolor, mas amante do futebol arte, juntei-me à nação rubro-negra para reverenciá-lo".

Sim, porque você parecia o atacante que está fazendo falta ao futebol brasileiro. E o Flamengo seria a porta que o levaria à seleção. Habilidoso e veloz, suas atuações celebravam o surgimento de um novo Jairzinho, um Müller, um Búfalo Gil que levantava a torcida em cada contra-ataque. Os grandes times do futebol brasileiro sempre contaram com um, pois os gênios que empunham a dez precisavam de uma flecha para acionar o seu habilidoso arco em direção ao gol adversário.

Você começou bem, mas foi caindo de produção e fui temendo pelas suas atuações na noite do Rio. De tão bonita e concorrida, é um colírio para o turista. E uma armadilha para os que chegam à Gávea e não encontram os atletas que encontrei. Outro dia, na Internet, havia sua foto entre Pico, Éverton e outros candidatos ao sumiço, com uma
“long neck" às mãos comemorando... a zona do rebaixamento?

Em 1976, com sua idade, saia da concentração do Flamengo, em São Conrado, para estrear no Fla-Flu do troca-troca. Não tinha dormido direito. Havia deixado meu time de coração, o que defendi desde os 16 anos até os profissionais, e estava ansioso, pensando como me comportaria defendendo uma camisa por profissão. Não mais como prazer e por paixão. Até que o ônibus, antes de ultrapassar o túnel Dois Irmãos, passou diante da favela da Rocinha. Pela janela, vi gente despencando por aquelas escadas em euforia em direção ao Maracanã. Gente simples, humilde, trabalhadora, que se dirigia ao estádio para dar sentido a sua vida. Uma vitória do Fla, e esta fé estava escancarada nos olhos de cada torcedor, era o combustível que precisavam para ser feliz. E a medida que nos aproximávamos do Mário Filho, mais gente vinha chegando, como numa procissão. Por respeito a eles, lutei 90 minutos como se o adversário fosse mesmo um adversário.

Não tive sorte dentro de campo. Na quinta partida defendendo o clube, fraturei o tornozelo direito, passei dois meses com gesso e quando voltei, pressionado e com botinha de esparadrapo, era cedo demais para a lesão e cumpri meu contrato capengando. Ao seu final, restou-me tentar a vida em Recife, no Santa Cruz. Mas tive sorte fora de campo. Nos vestiários, no dia a dia com meus companheiros.
Zico, Junior, Cantarele, Jaime, Rondinelli, Geraldo, Tadeu e Luisinho eram autênticos funcionários da nação. Treinavam em dois períodos, dormiam cedo, se cuidavam. Tinha samba no ônibus e cerveja gelada, mas apenas no domingo. Após o dever. Nos juniores, chegando, surgiam Adílio, Andrade, Leandro, Tita e Julio César. Era uma família que, quando se juntou, ganhou tudo. Viraram exemplos porque conquistaram o mundo. Mas, antes respeitaram sua nação. Honraram o futebol.

Permita-me um conselho, Marcelo. Largue esta turma. E volte a treinar e dormir cedo. Se cuidar. Brindar com “Stelinha” apenas quando atingirem o G-4. O anti legado que Ronaldinho Gaúcho deixou ao clube foi abrir sua mansão a semana toda para o pagode. Implantou o desrespeito com o torcedor, atrasou a vida de tantas promessas, como você, que poderiam chegar à seleção, mas que hoje não passam de “adrianos”. Dignos de pena pelos atletas que poderiam ser diante de dom concedido para reverter uma injustiça social. Só depende de você mudar este jogo

Um grande abraço. Zé Roberto”.

Fonte: Blog do Renato Mauricio Prado