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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A segunda chance do Brasil

Lincoln Gordon era um clássico liberal da Guerra Fria e, assim como Kennedy, ele viu no Brasil o próximo alvo para uma expansão da Revolução de Fidel Castro nas Américas
Em 2004, Lincoln Gordon escreveu um livro intitulado “A segunda chance do Brasil”, publicado pela Brookings Institution, em Washington. Gordon é mais famoso (ou notório) no Brasil por seu papel como embaixador americano durante o golpe militar de 1964. Ele foi obrigado a escrever um suplemento ao seu livro, em resposta aos novos documentos que vieram a público. Lincoln Gordon morreu em 2009, com 96 anos.
O regime ditatorial brasileiro antecede em uma década a onda de ditaduras que viria dominar a América do Sul, após Pinochet tomar o poder no Chile. Mas o que aconteceu no Brasil, assim como a reação americana ao regime militar brasileiro, provou-se um modelo para as ditaduras seguintes. Lincoln Gordon manteve que o seu objetivo teria sido (por mais bizarro que isso possa parecer) defender a democracia no Brasil, e não destruí-la. [nada de bizarro no pensamento de Gordon – o Governo Militar no Brasil se manteve dentro da democracia, com o pleno funcionamento do Poder Legislativo, através de suas duas casas e o Poder Judiciário em completo funcionamento.
Cumpre reconhecer que em algumas situações excepcionais,  instrumentos legais excepcionais tinham que ser usado, em nome da celeridade na consecução dos objetivos e compromissos do Governo Militar.] Ele sempre argumentou que Jango representava uma ameaça comunista e que isto justificava a maneira pela qual os americanos abraçavam o golpe com entusiasmo.
Lincoln Gordon era um ex-professor de Harvard e assumiu o cargo com ótimas credenciais. Ainda jovem, administrou o Plano Marshall em Londres e em Paris, onde envolvera-se na reconstrução da Europa no Pós-Guerra. Ele seria o principal agente no Brasil para a Aliança para o Progresso de Kennedy. E esta indicação demonstrava o quão central Gordon era para Kennedy e o seu plano de promover uma alternativa democrática.
Ora, Lincoln Gordon era um clássico liberal da Guerra Fria e, como tal, assim como o presidente Kennedy, ele viu no Brasil o próximo alvo para uma expansão da Revolução de Fidel Castro nas Américas. Gordon estava certo sobre uma coisa: o golpe militar não fora só bem recebido pelo governo dos EUA, governado por Lyndon Johnson, mas também por muitos brasileiros, incluindo políticos, que viraram a casaca depois: com o fim do regime militar, grande parte dos seus apoiadores se tornou participante ativa no restabelecimento do novo regime civil, incluindo José Sarney, que apenas mudou a sua posição ao fim da ditadura.
O ex-embaixador era relativamente otimista com relação ao futuro brasileiro em 2004. Achava que o Brasil iria vingar desta vez e baseou-se em uma análise técnica do que o país havia vivido economicamente desde 1964. Mas encerra o livro com uma ressalva: uma reforma política seria necessária para consolidar estes ganhos. Ele não fala em corrupção, mas sobre a estrutura política do país.
O irônico em tudo isso é que a crise atual no Brasil ressurge no momento em que outro democrata liberal e graduado em Harvard está na Casa Branca. Barack Obama não é, absolutamente, um liberal da Guerra Fria como John Kennedy ou Lyndon Johnson.  Ele é muito retraído quando se tratam assuntos exteriores, pelo menos para os seus críticos republicanos, e também, evidentemente, para Vladimir Putin. No entanto, Obama foi o presidente que deu os primeiros passos para encerrar o embargo a Cuba.  A presença americana no Brasil hoje em dia se realiza, para o bem ou para o mal, menos pela Casa Branca, e mais pelas cortes federais e procuradores, todos agindo muitas vezes de forma independente, para não mencionar o papel das agências de crédito.
Eduardo Campos encerrou a sua última entrevista dizendo: “Não vamos desistir do Brasil”. Teria o otimismo de Gordon em seu livro sido deslocado? Certamente, muitas das velhas ambiguidades sobre a democracia no Brasil ressurgiram fortemente. Assim como ressurgiram os velhos males da amnésia coletiva e as posições que certos sujeitos tomaram antes, durante e após o regime militar.
E que também levaram a uma perigosa justificação daqueles que, como Gordon, acreditavam estar defendendo a democracia, enquanto efetivamente a condenavam. Isto mostra, por fim, como a elite brasileira tem uma capacidade infinita de negociar o inegociável e fingir que, ou nada se passou, ou tudo é passado.
Por: Kenneth Maxwell, historiador