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sábado, 22 de dezembro de 2018

Um Poder sem moderação alguma

São incontáveis as decisões inusitadas


As cortes supremas, nas democracias, garantem, em regra, um insumo indispensável à ordem institucional: a segurança jurídica. Como intérpretes da Constituição, firmam a jurisprudência e funcionam como poder moderadormais ou menos o contrário do que tem feito, [ EXATAMENTE  é mais adequado que o MAIS OU MENOS] já há alguns anos, o STF, fator de instabilidade não apenas jurídica, mas sobretudo política e institucional.

São incontáveis as decisões inusitadas, como a desta semana, em que o ministro Marco Aurélio, em decisão monocrática, quis atropelar o próprio plenário da Corte, mandando libertar todos os presos condenados em segunda instância. Seriam mais de 100 mil, contabilizados, além dos condenados na Lava Jato, criminosos de sangue, perigosos líderes de facções. Foi uma espécie de Simão Bacamarte, do conto O Alienista, de Machado de Assis, que chegou a prender e, em seguida, soltar toda uma cidade, para no fim internar-se a si mesmo como o único louco das redondezas. Essa sensatez de Simão faltou a Marco Aurélio, que considerou seu ato normal e necessário e estaria pronto a repeti-lo.

O ato insano não se consumou graças ao presidente da Corte, Dias Toffoli, que revogou a liminar. Mas isso não o poupou da suspeita de ter participado de um ato teatral.  Na semana anterior, Toffoli adiou para abril a sessão do plenário que examinaria pela quinta vez (isso mesmo: quinta vez), em dois anos, a jurisprudência a respeito da prisão em segundo grau.  Não houve um motivo objetivo para o adiamento. Diante disso, a canetada de Marco Aurélio pode ter sido e não falta quem disso suspeite – um balão de ensaio para avaliar a reação social à soltura de Lula. Absurdo? A tanto chegou o conceito do STF.  Jamais um tribunal mobilizou-se tanto em torno de um único personagem – no caso, Lula, condenado em segundo grau, prestes a ter nova condenação em primeiro grau e tornado réu pela sétima vez há duas semanas. Não bastasse, teve ainda seus pedidos de habeas corpus negados nas terceira (STJ) e quarta instâncias (STF).
O ex-ministro e ex-presidente do STF, Carlos Ayres Brito, diz que a Corte Suprema “é uma porta que só se abre por dentro”; ou seja, nem tudo que lá chega deve mobilizá-la. Isso, porém, não funciona para Lula e alguns de seus aliados.

Ter poupado, por exemplo, a ex-presidente Dilma Roussef, quando de seu impeachment, da perda de direitos políticos por oito anos, foi um ato de lesa-Constituição. E foi praticado por ninguém menos que o então presidente da Corte, Ricardo Lewandowski.  Em circunstâncias normais (que inexistem), seu ato seria considerado nulo de pleno direito pela própria Corte, que, no entanto, até hoje não se manifestou a respeito. O próprio Toffoli até hoje não explicou por que mandou soltar seu ex-patrão, José Dirceu (que, em face de suas relações pessoais, deveria considerar-se suspeito para julgar), condenado em segunda instância a 41 anos de prisão. Dirceu está solto e sem tornozeleira eletrônica, em condições de inclusive deixar o país. [o mais grave é que Toffoli usou para soltar o ex-chefe o absurdo e inexistente recurso 'habeas corpus' de ofício;
Dirceu, a exemplo do terrorista italiano Cesare Battisti,  na hora que quiser pode deixar o Brasil - não fez ainda, e, provavelmente, não o fará, por saber que não será preso.

Battisti conseguiu fugir - e tudo indica que não será preso - exatamente por um outro supremo ministro ter anunciado aos quatro ventos que o terrorista poderia ser preso e extraditado.
Battisti entendeu o anúncio e caiu fora.

A favor de Toffoli destaque-se que após ter se tornado presidente do STF tem agido com imparcialidade, um verdadeiro estadista. ]
Se é benevolente com esses personagens, o STF não o foi em relação ao presidente eleito, Jair Bolsonaro, aceitando denúncia de uma procuradora filiada ao PT de que teria incitado o estupro, quando é autor de projeto que inversamente agrava a punição daquele crime, estabelecendo castração química para os reincidentes.

Entre as imprevisibilidades que aguardam o novo governo, há ao menos algo bem previsível: a ação desestabilizadora do STF, adversário explícito do maior fator de unidade nacional – a Operação Lava Jato. Esta semana, não por acaso, a história do cabo e do soldado, como meios suficientes para fechá-lo, foi repetida em todo o país. E não como piada.

Ruy Fabiano,  jornalista - Blog do Noblat, Revista Veja

sábado, 8 de setembro de 2018

Como vai Lula

Vai mal


Desde que foi preso, apesar de os seus visitantes dizerem o contrário para efeito de propaganda, Lula convivia com três sentimentos: a raiva, o inconformismo e a esperança na libertação rápida e na candidatura a presidente.

A esperança se foi, embora ele saiba que o ministro Dias Toffoli, tão logo assuma a presidência do Supremo Tribunal Federal, tentará dar um jeito para soltá-lo a partir do início do próximo ano. Ou antes, se for possível.  Acentuou-se a inconformidade de Lula. Ele não cansa de repetir que venceria a eleição presidencial direto no primeiro turno.

Continua com raiva, muita raiva. Nem o PT escapa dela. Quase nada escapa.

Bolsonaro cresce
Efeito atentado

Sondagem eleitoral por telefone feita nas últimas 24 horas sob a encomenda de uma importante instituição do mercado financeiro trouxe duas boas notícias para o deputado Jair Bolsonaro (PSL).
A rejeição ao nome dele, a maior de um candidato a presidente da República segundo a mais recente pesquisa do Ibope, parou de crescer. A intenção de voto em Bolsonaro cresceu cinco pontos.

Geraldo Alckmin, candidato do PSDB, está onde sempre esteve. E Fernando Haddad (PT), que por enquanto Lula e o PT evitam chamar de seu, está na casa dos 8%.  É de vitória o clima que se respira na suíte do quinto andar do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde Bolsonaro se recupera do atentado sofrido em Juiz de Fora.

Bolsonaro torce para enfrentar Haddad no segundo turno. Haddad torce para enfrentar Bolsonaro. Um dos dois está errado. [os dois estão errados: Bolsonaro por excesso de modéstia - não quer admitir que ganha no primeiro turno - e Haddad por excesso de confiança: ousa pensar que irá para o segundo turno, que não vai ocorrer.]

Blog do Noblat - Veja
 

domingo, 9 de abril de 2017

O erro monumental do PT


Uma imensa fogueira consumiu razoável parte da imagem do Partido dos Trabalhadores nas últimas duas décadas

Depois de fundado em 10 de fevereiro de 1980, o PT envergou a bandeira de mudanças nos costumes políticos, na administração pública e até nos comportamentos sociais.

Encarnava o ideário da moral e da ética. Simbolizava uma fortaleza contra as injustiças. Tornou-se o protagonista, por excelência, da luta do bem contra o mal.  Lutou destemidamente para chegar ao assento principal no Palácio do Planalto. Depois de algumas derrotas, Luiz Inácio Lula da Silva, o pernambucano que comandou as lutas operárias no ABC paulista, na época da ditadura, chegou, ufa, ao comando da Nação.

Depois da grande vitória de 2002, o PT conseguiu outras em 2006, 2010 e 2014. Até que, sob o governo Lula, o partido começou a naufragar nas águas do mensalão e, mais adiante, afogou-se nos dutos da Petrobras. A Operação Lava Jato atingiu em cheio as principais lideranças do partido, incluindo ele mesmo, Lula, a ex-presidente Dilma, e os ex-poderosos ministros José Dirceu e Antônio Palocci.

Os escândalos em série corroeram a imagem do partido ético. Mas o PT cometeu um monumental erro ao longo de sua história. Não foram apenas os deslizes e desvios que tiraram o partido do caminho das vitórias. Foi também um discurso errático, voltado para dividir a sociedade brasileira: o discurso do “Nós e Eles”, trombeteado por Lula e seu entorno desde a criação do partido no colégio Sion, em Higienópolis, São Paulo.

Os bons e os maus
Só agora os petistas se dão conta da burrada que cometeram ao tentar erigir um muro entre as classes sociais. Uma recente pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, do próprio PT, e conduzida pelo competente professor Marcio Pochmann, exibiu o resultado que deve ter assombrado a cúpula partidária: não há cisão entre a “classe trabalhadora” e a “burguesia”, entre o que Lula e companhia designavam de “Eles”, os impuros e bandidos, e “Nós”, os éticos e mocinhos.

O grande vilão do povo é o Estado, apontou a pesquisa. E a política é um território locupletado de sujeira, de gente sem caráter. E figuras como Lula, João Doria e Silvio Santos são admirados menos pelo que pregam e mais pela condição de pessoas vitoriosas, que escalaram com sucesso os degraus da vida.  Por essa rápida leitura da pesquisa, pode-se aduzir que o PT, ao instigar a luta de classes, derramou tonéis de ódio pelos espaços das classes sociais, plantando no solo sementes de desagregação. Daí a rejeição que o próprio Lula possui, hoje, em torno de 60%.

Se exibe, ainda, o melhor índice de aceitação, leva, em contrapartida, a mais alta rejeição. Essa é a lição sobre a qual o petismo está debruçado no momento em que arruma a casa para tentar resgatar a força estiolada do seu partido.  Na verdade, a fera que ameaça a sociedade, pobres e ricos, feios e bonitos, é o Estado brasileiro, que ainda não se libertou das mazelas que assolam sua estrutura: o patrimonialismo e seus filhotes, o grupismo, o familismo, o caciquismo, o fisiologismo.        

As pessoas se queixam da inexistência de serviços públicos de qualidade, particularmente em áreas prioritárias como saúde, educação, mobilidade urbana, segurança pública. Quando o Estado implanta programas de maior impacto, como Bolsa Família, Prouni, Fies, utilização de recursos em contas inativas do FGTS, é reconhecido e aplaudido.  Ao contrário, quando aumenta a carga tributária, que é uma das mais altas do planeta, passa a ser execrado. Afinal, a elevação de impostos e tributos não resulta em melhores serviços à população. A reivindicação numero 1 das classes sociais é na direção do Estado eficiente, menos lerdo e burocrático, mais afeito às demandas das massas.

Todos são iguais
Já os partidos políticos são considerados todos iguais. O espaço partidário está contaminado pelo vírus da corrupção, razão pela qual os eleitores defendem a ideia de existência de um partido único, capaz de agregar os melhores quadros entre as siglas. Seria uma opção para evitar brigas entre partidos, a par da união de todos em prol das demandas do povo.

Os políticos são, na percepção dos pesquisados, usurpadores, eis que trabalham por seus interesses pessoais. Essa leitura é devastadora para o terreno da representação parlamentar. Sinaliza para a necessidade urgente e premente de uma reforma na política, a partir da reorganização partidária, hoje composta por 35 siglas. O fato é que o nosso sistema político-partidário reflete a instabilidade insti­tucional, com partidos que mais se assemelham a um ônibus em que qualquer pessoa pode entrar e sair, a qualquer hora e em qualquer estação. A criação de partidos é uma tarefa muito facilitada por nossa legislação, a ponto de termos mais de 30 pedidos de formalização, o que poderá duplicar a planilha partidária. Não mais que 5 ou 6 partidos representam as visões da sociedade. 

Nesse desenho, assume força o espaço da fulanização política, que transforma as entidades em blocos repartidos entre perfis pessoais. Essa é uma radiografia 3x4 da nossa política. O que fazer para corrigir tantas distorções? Dará tempo até 2 de outubro próximo de fazer algo para realizar o pleito de 2018 com padrões mais éticos e legitimadores da vontade social? Tempo daria, mas o que falta é vontade política. É possível que a Comissão de Reforma Política, cujo relator é o deputado petista Vicente Cândido, chegue a um consenso em torno de aspectos fundamentais. O fato é que o ciclo da velha política está morto, mas não foi enterrado.


Erro (Foto: Arquivo Google)
Urge que os partidos, a partir do próprio PT, que mastiga os ingredientes pinçados da pesquisa que mandou fazer, decidam realizar um programa mínimo de mudanças. Sem as quais, veremos o pleito de 2018 correr ainda nas águas sujas do ódio, da polarização entre classes, dos discursos bolorentos e do individualismo voltado para os votos em sicranos e beltranos. Ou será que Lula, por exemplo, ainda pensa em se apresentar como o Salvador da Pátria? Se olhar a fundo os anseios da sociedade, não se aventurará a querer ser o líder messiânico pregando a luta de classes.

Fonte:  Gaudêncio Torquato - Blog do Noblat


sábado, 12 de novembro de 2016

Lula: carta fora do baralho

No desespero, Lula cospe fogo contra a Lava-Jato

Os devotos de Lula ainda ligam para ele, mas tais devotos escasseiam à medida que o tempo corre e que os fatos se sucedem. Condenado ou não, Lula é carta fora do baralho

 Quem ainda liga para Lula?

A imprensa, de quem ele se diz vítima, ainda liga, seja por se achar obrigada a divulgar tudo o que possa interessar a parcelas dos seus leitores, seja para driblar a acusação de que persegue Lula.  Os devotos de Lula ainda ligam para ele, mas tais devotos escasseiam à medida que o tempo corre e que os fatos se sucedem. Condenado ou não, Lula é carta fora do baralho. Como Dilma.

Tornou-se um fardo até mesmo para o PT. Parte do PT quer mais é livrar-se dele, refundar o partido e ir em frente. Outra parte, a que de fato manda, admite Lula por perto desde que ela siga mandando.  Quem tem mais votos para eleger uma nova direção do PT e ditar os rumos do partido? Os que atualmente mandam nele. Lula não tem. Nem os que advogam a refundação.

Ainda se empenham em ligar para Lula os que sempre viveram à sua sombra e a custa de sinecuras. E também as figurinhas carimbadas  que comparecem a atos em defesa dele.  Foi para tais figuras, as mesmas que subscreveram manifestos denunciando o “golpe” que derrubou Dilma e se cansaram de gritar “Fora, Temer”, que Lula falou, ontem à noite, em São Paulo.

O que Lula disse em sua defesa? Acusou o juiz Sérgio Moro, os promotores das Lava-Jato e a imprensa de comprometimento político e ideológico. Afirmou que é alvo de “um pacto diabólico”.  Para variar, bravateou.Mexeram com a pessoa errada”, disse em tom de ameaça. Para acrescentar:  – Não tenho problema em prestar quantos depoimentos forem necessários. […] Tenho preocupação é quando vejo um pacto quase diabólico entre a mídia, a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz que está apurando todo esse processo.
Por fim, proclamou: “Não tenho que provar minha inocência, eles é que tem que provar a inocência deles na acusação”.

De fato, Lula não tem que provar que é inocente. Cabe aos seus acusadores provar que ele é culpado. Mas, ao contrário do que Lula disse, não cabe a eles provarem a própria inocência.  Somente Lula e sua reduzida turma acusam Moro e os procuradores de “comprometimento político e ideológico”. E não se preocupam em provar o que dizem. Simplesmente dão por provado.

Triste performance, essa, a de um líder decadente derrotado por sua própria ambição.

 Publicado no Blog do Noblat

terça-feira, 11 de outubro de 2016

A guinada à direita da internet no Brasil

Durante uma visita recente ao Brasil, o ativista espanhol Javier Toret Medina provocou: “os movimentos de esquerda daqui são inúteis na Internet”. Essa “inutilidade” teria ficado clara pela tímida presença de organizações como o Movimento Passe Livre na Internet durante os protestos de 2013.

Ao fazer a crítica, o ativista espanhol exagera, claro. Mas, ao mesmo tempo, toca em um ponto que tem chamado muito a atenção dos estudiosos do ativismo nas mídias sociais no Brasil: a crescente presença de indivíduos e organizações auto-intitulados de direita. São várias organizações que chegam à casa do milhão (milhões!) de seguidores nas suas fan pages do Facebook, deixando para trás organizações com muito mais tempo de ativismo e com maior enraizamento na sociedade civil.

Se olharmos para partidos e, principalmente, para legisladores, a diferença também é gritante. Entre os deputados federais e senadores com maior presença na Internet, a grande maioria está filiada a partidos à direita do espectro político. São super usuários da Internet que utilizam as mídias sociais como plataformas para criar agenda, difundir informações, lançar campanhas e recrutar simpatizantes.

E a esquerda?
O que explica essa aparente indiferença de setores progressistas frente à Internet no Brasil? Ainda não temos boas pesquisas sobre o assunto, mas arrisco dizer que são várias as razões dessa diferença de comportamento com relação ao caso espanhol. Para começar, na Espanha a forte presença da esquerda na Internet era fruto de uma forte presença nas ruas e nas praças. No caso brasileiro, desde 2013 as ruas têm sido dominadas por setores mais conservadores. 

Outra coisa importante, que separa o caso brasileiro do espanhol como um abismo, é que metade da população brasileira ainda não está conectada à Internet. Sem falar das limitações de acesso e uso daqueles que estão conectados. Portanto, qualquer comparação tem que ser feita com cuidado.

Exageros e diferenças à parte, o ativista espanhol tem razão na sua crítica, porque parte da ausência (ou melhor, da presença tímida) na Internet não tem a ver com a exclusão digital e nem com a crise da esquerda. Tem a ver com decisões tomadas por ativistas e por organizações, que refletem uma visão equivocada dos impactos da Internet. Por exemplo, é comum escutarmos um certo desprezo nas análises sobre os impactos das mídias sociais. O ativismo “de verdade” seria o velho ativismo das assembleias, das reuniões presenciais, do corpo-a-corpo das campanhas. O ativismo na Internet seria limitado ao “ativismo do sofá”, aquele que não passa do clique no teclado. E pior: o ativismo no Internet contribuiria para esvaziar as organizações e os espaços de debate presenciais.

Como já discutimos nesta coluna, a Internet não é a panacéia. Está longe de ser a solução para todos os problemas de ação coletiva. E nem dá para generalizar os seus impactos: as plataformas digitais são usadas de maneiras diferentes, e esse uso muda com uma rapidez que só as gerações mais jovens conseguem acompanhar, enquanto os mais velhos correm atrás do prejuízo.

No entanto, dar as costas para os novos tipos de ativismo que estão surgindo via Internet é tapar o sol com a peneira. É ignorar que a tecnologia pode, sim, ser instrumento de mudança social. É deixar de ocupar um campo de disputa, no qual o ativismo político está se reinventando.

Fonte: Marisa von Bülow,  Doutora em ciência política - Blog do Noblat 

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Falta Dilma

Perplexos e assustados, deputados, senadores e juristas se indagavam ontem à noite em Brasília em diversas rodas de conversas: o que mais poderá acontecer depois da mais contundente e arrasadora denúncia jamais oferecida pelo Ministério Público Federal contra um político?
 
Referiam-se menos à denuncia por corrupção contra Lula, e mais, muito mais, aos termos empregados pelos procuradores da República no ato de apresentá-la. Estavam chocados. E propensos a acreditar que a Lava Jato atingiu seu cume.  Foi um espetáculo digno de ser encenado na Praça da Apoteose do Sambódromo, no Rio de Janeiro. Depois dele, por mais que a Lava Jato ainda posse durar, a tendência é de que ela se esgote. E que os procuradores de dispersem aos gritos de “já ganhou, já ganhou”.

Talvez não seja assim. Falta alguém em Curitiba. E esse alguém pode ser a ex-presidente Dilma Rousseff. Ela já foi citada por delatores. E por mais que se diga honesta, honestíssima, e por mais que ninguém tenha ousado até aqui duvidar de sua honestidade, ela está sendo investigada. Não só pelos procuradores acampados em Curitiba, mas também por aqueles que obedecem às ordens de Rodrigo Janot, Procurador-Geral da República. Ela e Lula, por exemplo, foram denunciados por Janot por tentativa de obstrução da Justiça.

Segundo Janot, esse é o crime no qual eles incorreram quando Dilma, às pressas, nomeou Lula ministro-chefe da Casa Civil da presidência da República para livrá-lo de uma eventual prisão decretada por Moro. Na denúncia, Janot aponta Lula como o líder de uma organização criminosa. De Dilma, na delação premiada que negociou, o marqueteiro João Santana disse que ela sabia, sim, que dinheiro desviado do saque à Petrobras pagara despesas de sua campanha à reeleição. Marcelo Odebrecht está disposto a confessar que pagou despesas de Dilma com dinheiro sujo.

O ex-senador Delcídio Amaral, então líder do governo no Senado, contou que advertira Dilma sobre o uso de dinheiro ilegal em sua campanha. E que a pedido dela, peitou um ministro do Superior Tribunal de Justiça para votar a favor da libertação de Odebrecht. A compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, causou grave prejuízo à Petrobras, bem como a compra de plataformas para extrair petróleo do fundo do mar. Dilma era presidente do Conselho de Administração da Petrobras quando parte desses negócios foi feita.

Ela de fato ignorava que esses e outros negócios serviram para irrigar os bolsos de diretores da empresa e de políticos, e os cofres de partidos? Ela era tão desinformada assim, logo ela dada a minúcias e a meter-se com tudo, que simplesmente não sabia o que se passava ao seu redor?

Foi Lula que nomeou os diretores da Petrobras personagens do petrolão. Dilma não sabia a quem eles serviam, e para o quê? O cortejo da Lava-Jato ainda está distante da Praça da Apoteose.

Fonte: Blog do Noblat - Ricardo Noblat
 

terça-feira, 14 de junho de 2016

Um Congresso acuado, um governo frágil e uma Justiça que extrapola seus poderes

Tudo o que um ministro da Fazenda disser poderá ser usado contra ele e seus objetivos. Logo, compreensível que Henrique Meirelles tenha dito que a situação econômica do Brasil não será afetada pela crise política, deste ontem, agravada com os pedidos de prisão de quatro cabeças coroadas do PMDB – Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e Eduardo Cunha. — A crise econômica foi gerada pela questão fiscal e será resolvida pela questão fiscal – decretou Meirelles.

De fato, foi por gastar muito mais do que podia que o governo Dilma provocou a crise responsável pelo estúpido número de 11 milhões de brasileiros desempregados. Mas se não lhe faltasse apoio político, Dilma teria se mantido no poder mesmo assim. Perdeu-o, antes de tudo, porque não soube e não quis fazer política.

O presidente interino Michel Temer sabe tudo ou quase tudo de política no que ela tem de mais antigo, de mais tradicional. E ama o que faz.  Completará, em breve, um mês no cargo. Conseguiu montar uma ampla coligação de partidos capaz de garantir sua permanência no cargo para além do impeachment definitivo de Dilma. Mas ela garantirá, por tabela, a aprovação das duras e impopulares medidas econômicas que Temer será obrigado a remeter ao Congresso? E a que preço? Ao preço da reafirmação de velhos males responsáveis pela ruína da Era do PT, tais como o loteamento de cargos no governo e a tolerância com a corrupção?

Um Congresso corrompido e corruptor se renderá a um governo que se pretenda decente? Ou o contrário parece ser mais factível? Essa é a questão à procura de uma resposta. Se ela não for bem resolvida nem por isso permitirá a volta de Dilma, mas tampouco que Temer governe até 31 de dezembro de 2018.

A situação econômica do país será afetada, sim, pela crise política. Temos um Congresso acuado à medida que a Lava-Jato descobre seus podres; um governo frágil e, dado às circunstâncias, dependente de um sistema partidário que já implodiu; e uma Justiça que cada vez mais vai muito além dos seus chinelos.

É um quadro indigesto e refratário à luz.

Fonte: Blog do Noblat

domingo, 29 de maio de 2016

Pela saúde do Brasil

...Topou ser monitorado em tempo real por agentes federais. Eles o equiparam com aparelhos de escuta. E o seguiram para as tais conversas com uma Van que estacionava a certa distância dos endereços ...


A primeira coisa que me veio à mente ao ouvir os trechos das conversas entre Sergio Machado e alguns senadores, foi: "será possível?". Homens experientes, sabichões da política que alimenta Brasília, falar assim livremente ao telefone?


Dos interlocutores de Machado, o que mais me impressionou foi José Sarney. Para quem é tido como ardiloso, Sarney estava com a matraca aberta, não é não?  E mais incrível ainda era a impressão que Sergio Machado estava pescando dados, não estava só batendo papo com os amigos, não, mas cavando informações. Ele chega a fazer perguntas muito óbvias, a tal ponto que surpreende suas "vítimas" não perceberem, e não desligarem logo o telefone.


Apesar de saber que as gravações foram feitas em março, antes da queda de Eduardo Cunha ou do afastamento de Dilma Rousseff, ficou aquela pulga atrás da orelha até ler o Blog do Noblat de ontem, onde Ricardo Noblat revela como Sergio Machado gravou suas conversas.


Parece roteiro de Francis Ford Coppola: o ex-presidente da Transpetro, sabedor que uma delação premiada tem que ser rica em informações, que só repetir o que outros já disseram, ou criar fantasias que logo os investigadores desmontariam, não ia resolver seu caso, ofereceu-se para gravar conversas que ia ter com seus amigos, em Brasília.  Mas nada de telefones. Isso seria muito arriscado, pois ele não ia lidar com ingênuos. O negócio foi bem mais sofisticado.


Copio do artigo do Noblat: "Mas não o fez armado com um celular ou gravador de bolso. Topou ser monitorado em tempo real por agentes federais. Eles o equiparam com aparelhos de escuta. E o seguiram para as tais conversas com uma Van que estacionava a certa distância dos endereços daqueles a serem visitados por Machado. De dentro da Van, escutavam tudo o que Machado falava e ouvia. Como nos filmes".


Palmas para a PF!

O Globo de ontem publicou alguns trechos das conversas. Um em especial chamou minha atenção. É quando o tal Machado menciona o juiz Sergio Moro e Renan Calheiros retruca com palavra inaudível. Machado completa: "Renan, esse cara é mau, é mau, é mau, é mau".


Pois graças a Deus o Brasil conta, nestes tempos horrorosos em que estamos vivendo, com o juiz que Sergio Machado qualifica de "mau". O que seria de nós sem a força do Ministério Público, da Polícia Federal e sem a firmeza do juiz Sergio Moro?


Temos o exemplo da Itália para seguir. O Mani Pulite, que tanto bem fez àquele país, acabou vencido pelo Parlamento que estava nas mãos de políticos interessados em liquidar com os Procuradores italianos e legislar sempre em favor do crime! O que desaguou no Berlusconi.


Nós não podemos deixar o mesmo acontecer com o Brasil. Não podemos mais continuar nessa situação nojenta, quando o presidente interino tem dificuldade em montar sua equipe já que são raros os competentes e corretos que ele pode convocar. E, sobretudo, pelo amor de Deus, jamais permitir que as notícias vindas de Curitiba sirvam como pretexto para a anulação do processo de impeachment de dona Dilma!


O Brasil está muito doente e cabe a nós, seus cidadãos, zelar para que ele se recupere sob a batuta de um presidente constitucionalista, Michel Temer.


Fonte:  Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - Publicado originalmente no Blog do Noblat

terça-feira, 3 de maio de 2016

Dilma (“coração valente”) escolhe o seu destino



Lula faltou ao ato público de 1º de Maio, em São Paulo, não por que estivesse rouco, quase sem voz. Mas porque Dilma não gostou do que ele pretendia falar. Foi por isso que Dilma falou sozinha para menos de 50 mil militantes de movimentos sociais arrebanhados pela Central Única dos Trabalhadores.

O que Lula pretendia dizer poderia ter sido interpretado como uma admissão prévia de que o impeachment de Dilma é jogo jogado. Como de resto é. Ele se valeria do discurso do golpe para anunciar que o PT e seus aliados irão desde já para a oposição ao governo Temer, e se oferecer, se fosse o caso, como candidato a presidente em 2018.

Dilma discordou da linha do discurso de Lula. Ela não quer dar o impeachment como liquidado. Acha que liquidado ele está na Comissão Especial formada por 21 senadores que na próxima sexta-feira deverá aprovar a admissibilidade do impeachment, remetendo o processo para votação em plenário no dia 11 ou 12 do mês corrente.

Reconhece que o plenário também aprovará a abertura do processo contra ela. Mas imagina que ainda terá chances de retomar o cargo, mesmo se afastada dele por um prazo máximo de 180 dias. Tudo irá depender, conforme os cálculos de Dilma, do placar no plenário e, depois, do desempenho dos primeiros meses do governo Temer.  

São 81 os senadores. Até ontem, pelo menos, Dilma achava que poderia contar apenas com 21 votos para barrar a admissibilidade do impeachment no plenário. Mas tinha esperança de amealhar mais alguns na votação final, lá por setembro, quando precisará de 27 votos para vencer. Temer espera derrotá-la desde já com 60 votos contra 21.

Uma fora do cargo, e mesmo sabendo que dificilmente será absolvida pelo Senado quando for julgada finalmente, Dilma terá tempo para tentar reescrever a história dos seus governos malsucedidos. Sua defesa final seria menos técnica e mais política. E ela poderia construir uma narrativa para opor-se à narrativa que por ora predomina. É nisso que ela pensa quando nega a hipótese de renunciar, e quando teima em dizer que lutará até o fim. 

A renúncia esvaziaria o discurso de que ela foi vítima de um golpe parlamentar. E não combinaria com a imagem que ela tanto preza de mulher de coração valente, capaz de enfrentar toda a sorte de sofrimentos sem se acovardar.

Fonte: Blog do Noblat