Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Blackwater. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Blackwater. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 12 de junho de 2019

A Moro e Dallagnol ainda restará a opção pelo voto

Ministro da Justiça e procuradores foram vítimas da própria ilusão de impunidade

Esta semana começou com a divulgação de pretensos diálogos por Telegram entre o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e os procuradores da força-tarefa da Lava Jato, coordenados por Deltan Dallagnol, revelando um pretenso acordo entre eles na condução de um processo da operação. Se forem verdadeiras – e nada até agora pode ser dito em contrário, com a agravante de os acusados em suas manifestações não as terem negado –, essas conversas, só pelo que foi divulgado até agora, são nitroglicerina pura na política, na Justiça, no governo e no Brasil.

As alegações apresentadas são desprezíveis. O jornal online The Intercept Brasil, que publicou as mensagens, é veiculado no País, desde agosto de 2016, pela empresa americana First Look Media, criada e financiada por Pierre Omidyar, fundador da eBay. E editada pelo advogado também americano, especialista em Direito Constitucional e ex-jornalista do diário britânico The Guardian Glenn Greenwald; pela cineasta, documentarista e escritora Laura Poitras; e pelo jornalista investigativo (natural dos EUA) Jeremy Scahill, especialista em assuntos de segurança nacional e autor do livro Blackwater: The Rise of the World’s Most Powerful Mercenary Army. Greenwald é casado com o brasileiro David Miranda, eleito vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e, atualmente, deputado federal na vaga de Jean Wyllys, que renunciou à cadeira na Câmara para sair do País, onde se dizia ameaçado. Adversária do impeachment da petista Dilma Rousseff, a publicação não é certamente imparcial. E daí? A Constituição federal garante o direito de qualquer veículo de comunicação exercer livre manifestação de opinião, desde que não publique mentiras.

A parcialidade questionada pela notícia, que explodiu como uma bomba de efeito devastador domingo (9/6), à noite, é a do ex-juiz da 13.ª Vara Criminal de Curitiba, em teoria pilhado em combinações estratégicas com procuradores federais em ação sob seu julgamento. Conforme o que foi publicado até agora e na expectativa de que novos fatos venham a ser revelados pelo responsável pela divulgação, esse herói nacional, por mercê de seu desempenho na operação em tela, teria interferido no trabalho do MP. A iniciativa feriria o princípio básico da isenção do julgador, proibido de manifestar qualquer parti pris na tarefa de decidir quem tem razão: o Ministério Público, que, em nome do Estado, acusa o suspeito, e a defesa do acusado. Caso sejam mesmo autênticas as mensagens trocadas entre Moro e Dallagnol, levando em conta o fato de os outros diálogos até agora revelados não representarem abusos de conduta, mas apenas opiniões pessoais, a revelação é grave.

A eventual inclinação do juiz a aceitar os argumentos dos procuradores, em detrimento das negativas apresentadas insistentemente pelos defensores de Lula, os levará a pedir a anulação da sentença em primeira instância do processo sobre recebimento de propina e ocultação de patrimônio do triplex do Guarujá. Não implica, contudo, a automática inocência do réu, que dependerá de serem reformadas decisões unânimes de duas instâncias superiores, a segunda e a terceira, sobre o caso. De igual forma, a presunção tem sido contestada em outras varas. Há nova condenação do mesmo réu em idêntico juízo, da lavra da substituta eventual de Moro, Gabriela Hardt, e que o substituto permanente, Luiz Antônio Bonat, já encaminhou para ser julgada na Oitava Turma do Tribunal Federal Regional da 4.ª Região, em Porto Alegre. Assim, Lula responde a sete processos. No mais recente, o juiz Vallisney de Oliveira, da 10.ª Vara da Justiça Federal em Brasília, o tornou réu com Palocci e Paulo Bernardo, sendo o trio acusado de ter acertado receber US$ 40 milhões (R$ 64 milhões, à época) em propinas pagas pela empreiteira então presidida por mais um réu, Marcelo Odebrecht.

Ou seja, é bem longo e árduo o caminho perseguido pela defesa de Lula para soltá-lo. [caso ocorra o absurdo da soltura de Lula - poderá ser solto por progressão de regime (isso se até sua eventual mudança de regime do fechado para o semiaberto, a segunda condenação, prolatada pela juíza Gabriela Hardt, não tiver sido confirmada pelo TRF-4; confirmada, Lula automaticamente permanecerá em regime fechado, devido a nova sentença alterar o prazo para progressão;
 
e ocorrendo a confirmação, estando Lula no semiaberto, volta para o fechado pela mesma motivação.] A ser provado em processo judicial, que costuma ser lento e complicado, o que foi revelado até agora mais prejudica Moro e os procuradores da Lava Jato, em especial Dallagnol, do que beneficia o presidiário mais famoso do Brasil, pilhado em vários passeios pelo Código Penal. Mesmo que The Intercept Brasil não tenha esgotado sua munição contra o ex-juiz da Lava Jato, será difícil a escalada do Himalaia de acusações por Lula, a não ser que a divulgação tenha sido autorizada por um juiz. Aí, a permanência de Moro no Ministério da Justiça ficaria insustentável. E isso dependerá menos da reação da opinião pública, que o idolatra e não confia nas instâncias superiores do Judiciário, às quais caberá julgá-lo, mas das circunstâncias políticas, que poderão levar o presidente Jair Bolsonaro a abrir mão do justiceiro, se passar a ser considerado suspeito de parcialidade. [com a devida vênia ao ilustre articulista, consignamos que as provas sendo ilegais, visto sua obtenção por meios criminosos, não possuem validade .
Também há sérias dúvidas sobre a veracidade do conteúdo, já que sua publicação não é suportada por uma das mais elementares formas de garantia de autenticidade - captura de tela, além do fato de que é comum a conversa ampla entre juízes, procuradores, advogados, etc.
Abaixo pequeno trecho do despacho exarado pelo ministro Fachin,STF,  em voto proferido em processo referente ao presidiário petista:
 
"Cumpre consignar que ninguém está acima da lei, especialmente da 
 
Constituição: nem administradores, nem parlamentares, nem mesmo juízes. 
Procedimentos heterodoxos para atingir finalidade, ainda que legítima, não devem ser beneplacitados."  
 
 
Se for institucionalizado no Brasil o costume de praticar crimes para punir outros, estaremos sob, para dizer o mínimo, a Lei de Lynch.]
 
 Assim, até novembro de 2020, daqui a um ano e meio, quando o decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, se aposentar, é de duvidar que mesmo uma mão forte do chefe do governo bastaria para alçá-lo ao pináculo da Justiça, mantendo a promessa que até agora, tudo indica, mantém. Até então, o herói popular das manifestações de rua de 2016 para cá terá muitas noites para lamentar a mistura de infantilidade, soberba e senso de impunidade que conduziu seus surtos de adolescência leviana e bastante tardia. Seu companheiro em travessuras virtuais, o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, também lastimará o instante em que acreditou na lorota de que o aplicativo russo é um meio de comunicação pessoal à prova de hackers. Estes dificilmente serão identificados. Pois, talvez seja de bom alvitre avisar que a experiência pregressa não autoriza expectativas favoráveis no caso.

A seus carrascos, que ora comemoram, é útil lembrar que restará a Moro e Dallagnol a saída pelo voto, pois parecem manter a devoção popular. [ excelente o transmitido por este parágrafo, visto que o até agora liberado não fornece motivos para os que apoiadores de Moro e procuradores deixem de apoiá-los e o povo avaliará que o que eles fizeram era necessário para combater a corrupção.
Como bem disse o ministro Barroso: "a corrupção ocorreu...".]
 
 

domingo, 29 de novembro de 2015

O faroeste é global

“A indústria militar privada tornou-se global, legitimada pelos Estados Unidos” e a "contratação de latino-americanos sinaliza para onde caminham as guerras”

Pouca atenção se prestou à notícia divulgada esta semana sobre mercenários latino-americanos atuando no Iêmen a serviço dos Emirados Árabes Unidos (EAU). 
 Blackwater, a maior empresa militar privada dos EUA, foi contratada por governos do Golfo Pérsico para apoiar a luta dos rebeldes contra Bashar Al-Assad (Foto: Portal Forum)

Compreende-se. São guerras em demasia para acompanhar.  E com protagonistas bélicos da musculatura e retórica de um Vadimir Putin, François Hollande, Barack Obama ou Recep Erdogan, a existência de uma brigada de 1.800 latino-americanos suando no deserto empalidece.

Contudo, a notícia é relevante para se entender o faroeste global em que vivemos. Guerreiros de aluguel existem desde a Idade Média, contratados por monarcas ou cidades-estado, poderosos e papas. Só foram perdendo utilidade com a formação das nações-estado e a criação dos exércitos a serviço da pátria. Ressurgiram com força em tempos recentes depois que muitos países aboliram o serviço militar obrigatório.

Os Estados Unidos, por exemplo, foram buscar no setor militar privado metade do pessoal deslocado para a zona de combate no Iraque. No Afeganistão, essa proporção já está mais próxima dos 70%. Também a Nigéria recorre a mercenários para enfrentar o grupo terrorista Boko Haram e a Arábia Saudita paga sudaneses para lutar no Iêmen.

Há quem garanta a presença de combatentes de aluguel atuando na Ucrânia, sob contrato da Rússia. Além disso, a indústria militar privada protege oficialmente empresas petrolíferas em zonas de conflito e faz as vezes de escudo bélico ou policialesco em países onde forças regulares são omissas, escassas ou sem apetite para morrer.

É o caso dos sete Emirados Árabes Unidos, cuja população é rarefeita e tem em Abu Dhabi e Dubai as vitrines mais ofuscantes de seus petrodólares. Segundo o “New York Times”, data de 2010 a fundação da primeira base a abrigar e treinar tropas estrangeiras de aluguel.  Essa legião estrangeira incluiria panamenhos, salvadorenhos e chilenos, mas, ao que se saiba, nenhum brasileiro por enquanto. Os mais eficazes seriam os colombianos, pela experiência de décadas de enfrentamento com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias (Farc) de seu país. Egressos do Exército colombiano regular, embolsam nos Emirados um salário de cinco a dez vezes maior do que o soldo que recebiam em casa. “A indústria militar privada tornou-se global, legitimada pelos Estados Unidos”, explica o americano Sean McFade, autor de “O mercenário moderno”, “e a contratação de latino-americanos sinaliza para onde caminham as guerras”. McFade serviu na 82ª Divisão Aerotransportada do Exército americano antes de migrar para a Dyn Corporation International, uma das maiores do setor privado.

Conhece bem os dois lados, portanto, e se insurge contra a péssima reputação do setor. Meio ano atrás, quatro seguranças da temida Blackwater, cuja extensa folha corrida de abusos obrigou-a a mudar de nome para Academi, foram condenados a 30 anos de prisão por terem assassinado 17 civis iraquianos em Bagdá, no ano de 2007. Estavam a serviço das tropas americanas, e sua condenação nos tribunais dos Estados Unidos foi recebida com alívio pelos liberais.

Dois anos antes, porém, ocorrera outro tenebroso massacre, também no Iraque, só que praticado por um esquadrão da 1ª Divisão de Fuzileiros Navais dos EUA. Eles teriam surtado com a morte de um companheiro explodido por uma mina em Haditha, e se puseram a vingá-lo. Ali, na hora. Primeiro fuzilaram os cinco pedestres mais próximos. Em seguida, foram de casa em casa e assassinaram outros 19 civis, alguns com vários disparos à queima-roupa. Entre as vítimas, de 3 a 76 anos de idade, havia um cadeirante.

Julgados em tribunais do Pentágono, todos os envolvidos no massacre foram inocentados exceto um, penalizado com redução da patente e corte no soldo. Conclusão do ex-soldado, ex-mercenário e ex-aluno de Harvard Sean McFate: decorridas quase duas décadas de guerras coalhadas de abusos, nenhum oficial americano até hoje recebeu pena severa.

Há, porém, um aspecto mais sombrio do que a aplicação de códigos de honra, justiça e ética distintos para membros das Forças Armadas e “terceirizados”: o fato de práticas comumente atribuídas a mercenários terem contaminado as fileiras dos exércitos regulares. Nesta guerra global contra o terrorismo que a revista “Foreign Policy” define como “custosa, autoperpetuante, sem rumo e sem fim”, os desvios só tendem a se multiplicar.

Na França recém-saída dos múltiplos atentados terroristas de duas semanas atrás, registra-se um surto de fervor patriótico. As filas de jovens nos postos de recrutamento quintuplicaram: a média de 300 voluntários antes da sexta-feira 13 saltou para 1.500 por dia. Afirmam que o inimigo a abater é o Estado Islâmico, mas poucos saberiam definir o que é, onde fica, o que quer e como vencer esse inimigo. Pior: seus comandantes e o chefe da nação também tateiam.

Saudade dos tempos igualmente ferozes, porém mais simples, da Guerra Civil espanhola. Quisera o mundo de hoje ser tão compreensível como o descrito por George Orwell em “Homenagem a Catalunha”, no qual o escritor relata seu engajamento naquele conflito de ideais do final dos anos 1930. Para lá acorreu uma legião estrangeira desarmada com apenas uma certeza na cabeça: a de se juntar à “luta do povo contra a tirania”. “Era a única coisa concebível a fazer”, escreveu o autor.

Eles vieram de todos os cantos do mundo, trazendo seus nomes consagrados — além de Orwell, Arthur Koestler, André Malraux, John dos Passos, Ernest Hemingway, entre tantos outros. Chegaram e pegaram em armas por uma causa. Todos, em graus variados, emergirem da luta profundamente desiludidos com o que testemunharam nas próprias fileiras. Orwell nunca se arrependeu de ter combatido, apesar da desilusão com o comunismo e do tiro que lhe furou a nuca e por pouco atingiu a carótida.

No atual faroeste de alianças letais e interesses mercenários, é torcer para que esse estado de guerra permanente e sem fronteiras não engula uma geração a mais da que já engoliu.

Fonte: Dorrit Harazim, O Globo