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terça-feira, 4 de julho de 2023

Nascido em 4 de julho - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Todo ano reproduzo esse meu texto antigo, pois ele cada dia parece mais atual. Precisamos resgatar os bravos dispostos a lutar pela liberdade:

“We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness.” (Declaração da Independência Americana, 4 de Julho de 1776)

Dizem que errar é humano, mas insistir no erro é burrice
O que falar então de uma insistência ininterrupta, ano após ano, por mais de dois séculos? 
Hoje é o aniversário daquilo que foi um dos marcos mais importantes do mundo, a Declaração da Independência Americana.
 Ali estaria selada, em poucas palavras, a função básica do governo, afirmando categoricamente a soberania do povo sobre o estado. 
Cada indivíduo seria livre na busca pela sua própria felicidade. 
As regras seriam iguais, não os resultados.
 
Infelizmente, o homem tem memória curta, e se esquece das aulas básicas de seus grandes pensadores
A visão de curto prazo, aliada à mentalidade de se dar bem explorando os outros, faz com que uma multidão troque a liberdade por algum favor do governo. 
A ignorância, somada ao desejo de ganho fácil, faz com que a massa deposite sua esperança num messias salvador, delegando função paternalista ao estado. A perfídia, com pitadas de romantismo utópico, faz com que uma elite formadora de opinião condene a meritocracia e pregue soluções coletivistas para os problemas do mundo, levando ao socialismo ineficiente e injusto.
 
O governo não está acima do povo, mas sim depende de seu consentimento para ser validado. E isso não quer dizer, de forma alguma, que uma maioria está livre para fazer o que bem entender. 
A democracia não deve levar a uma simples ditadura da maioria. 
Os direitos individuais deverão ser sempre respeitados, e era esse o foco da Declaração que fundou a República americana
Cada indivíduo deve ser livre para perseguir sua felicidade, sem invadir a liberdade do outro. 
Reparem que não há como um governo garantir a felicidade, mas apenas o direito de cada um buscar a sua, livre da coerção alheia. 
E notem também que nesse percurso, o direito de um não pode destruir o direito do outro. Essa valiosa lição é hoje amplamente ignorada, com governos prometendo cada vez mais, sem se importar que para dar algo a alguém, precisa antes tirar de outro.
 
Na sabedoria de homens como Benjamin Franklin, John Adams e Thomas Jefferson, construíram-se os pilares que criariam a nação mais próspera do mundo.  
Não há superioridade racial, não há fatores genéticos, não há maiores recursos naturais, não há sorte
Foram os princípios adotados por estes homens que possibilitaram um meio amigável ao progresso humano. 
Foi a liberdade individual que estimulou o empreendedorismo e a inovação. 
Foi o conceito de troca voluntária, básico do capitalismo, que permitiu tamanho avanço. Os Estados Unidos são o que são hoje por mérito de um modelo eficiente, justo e adequado à natureza humana. Infelizmente, até os americanos vêm se afastando do conceito original que tanto os distanciaram do resto do mundo. O Leviatã estatal tem crescido por lá, alimentando-se das liberdades individuais tão valiosas.
 
O pequeno texto da Declaração de Independência deveria ser relido com maior frequência, pois seus ensinamentos são constantemente esquecidos num mundo onde ideias coletivistas entram cada vez mais em moda. 
Trocam o objetivo conceito de justiça pelo abstrato termo “justiça social”, como se coubesse aos burocratas do governo decidir como configurar a sociedade, escravizando seu povo para isso. Ofuscam a liberdade individual em nome da visão coletivista, como se existisse um “interesse nacional” ou “bem público” que justificasse o sacrifício dos indivíduos.

A esperança é a última que morre. Mesmo que distante do ideal de liberdade individual e de isonomia de tratamento, vários países adotaram a democracia ou ampliaram as liberdades individuais nas últimas décadas. Vamos continuar sonhando – e lutando – para que aquelas sábias palavras proferidas há mais de dois séculos tenham profundo impacto nos indivíduos.

Hoje, dia 4 de Julho, o mundo todo deveria comemorar.  
Afinal, não se trata somente do aniversário de uma nação livre, mas sim da própria liberdade
Antes dos Estados Unidos, os países eram calcados em tradições coletivistas, sem este foco na liberdade individual. 
Como defensor da liberdade, fico muito feliz de ter nascido em 4 de Julho. Viva a liberdade!

Happy 4th of July, Land of the free and home of the brave! God bless 

 
Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

[aos que tem preguiça de acessar o Google Tradutor:

“We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness.”

"Consideramos estas verdades auto-evidentes, que todos os homens são criados iguais, que são dotados por seu Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade."

Happy 4th of July, Land of the free and home of the brave! God bless  

Feliz 4 de julho, terra dos livres e lar dos bravos! Deus abençoe!

Blog Prontidão Total 

 


domingo, 16 de outubro de 2022

Lobos em pele de cordeiros - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Não bastou o novo “crime de opinião”. Agora temos o “crime de conclusão”! Você vai ver fatos reais, ler notícias verdadeiras — mas não pode tirar suas próprias conclusões 

 Ditador da Nicarágua, Daniel Ortega e Luiz Inácio Lula da SIlva | Foto: Wikimedia Commons 
Ditador da Nicarágua, Daniel Ortega e Luiz Inácio Lula da SIlva | Foto: Wikimedia Commons  
 

Explicar o Brasil. Essa tem sido uma tarefa impossível de ser realizada no meu cotidiano nos Estados Unidos. Se já era difícil durante a Lava Jato, ela ficou ainda mais complicada durante a manobra companheira do Supremo Tribunal Federal para soltar um corrupto condenado em três instancias. Agora, durante a era Alexandre de Moraes/TSE, essa tarefa é praticamente inexequível.

Acho curioso quando os iluministros do STF/TSE citam os “Pais Fundadores da América” com a pompa de quem tem o mínimo respeito por tudo aquilo que eles defendiam. A história da América mostra que os Pais Fundadores da nação mais próspera do mundo discordavam em vários pontos na estruturação do novo país nos tempos pós-revolucionários. Thomas Jefferson, por exemplo, almejava maior independência e autonomia dos Estados. Alexander Hamilton acreditava que o governo federal deveria ser o centro do poder e das grandes decisões. As discordâncias entre eles eram comuns e, talvez por isso, na respeitosa e rica troca de ideias por um bem maior, a nação mais livre do mundo tenha se formado em pilares sólidos e inegociáveis.

E, mesmo com algumas profundas discordâncias filosóficas, aqueles homens tinham um ponto de convergência sagrado na formatação do que seria vital na nova nação. A absoluta e irrestrita liberdade de se expressar. 
A Primeira Emenda à Constituição dos EUA protege a liberdade de expressão, religião e imprensa. Também protege o direito a protestos pacíficos e a peticionar ao governo. 
A emenda foi adotada em 1791, junto com outras nove emendas que compõem a Declaração de Direitos (Bill of Rights) — um documento escrito que protege exatamente as liberdades civis. 
A emenda, com quase 231 anos, é uma das mais protegidas até hoje, diz: “O Congresso não fará nenhuma lei a respeito de um estabelecimento de religião ou proibindo o livre exercício do mesmo; ou abreviar a liberdade de expressão ou de imprensa; ou o direito do povo de se reunir pacificamente e de pedir ao governo uma reparação de queixas”.

Benjamin Franklin, um dos Pais Fundadores, escrevia constantemente em seus artigos que a liberdade de expressão é o principal pilar de um governo livre e, que quando esse apoio é retirado, a constituição de uma sociedade livre é dissolvida e a tirania é erguida em suas ruínas. E ainda acrescentou: “Se todas as impressoras estivessem determinadas a não imprimir nada até terem certeza de que não ofenderiam ninguém, haveria muito pouco para impressão”.

Crime de conclusão
Pois bem, nessa minha árdua tarefa de explicar o inexplicável para o norte-americano, no capítulo desta semana tive de acrescentar as absurdas censuras do TSE a veículos de imprensa no Brasil. Nas canetadas vermelhas do tribunal-jaboticaba, trechos da história de nossa política que são mostrados em documentários da Brasil Paralelo terão de ser excluídos. Segundo a corte, eles são verdadeiros, masPASMEM! — podem levar o telespectador a conclusões falsas! Não bastou o novo “crime de opinião”, criado recentemente por esses monstros jurídicos. Agora temos o “crime de conclusão”! Você vai ver fatos reais, ler notícias verdadeirasmas não pode tirar suas próprias conclusões, apenas aquelas que os deuses do olimpo eleitoral permitirem!

Ah! Não podemos também falar do conteúdo da delação de Marcos Valério à Polícia Federal em que ele descreve as ligações pra lá de próximas entre o PT e o PCC. E aproveitando a bondade da tirania eleitoral na feira de censura, essa semana o PT acionou novamente o puxadinho-companheiro do STF com um pedido de retirada de conteúdo do site do jornal Gazeta do Povo que explica assim como a Brasil Paralelo, com fatos históricos — a relação do ex-presidiário Lula com o ditador nicaraguense Daniel Ortega.  

O partido também quer a censura prévia para que o jornal seja impedido de fazer novas reportagens que demonstrem a ligação de Lula com ditadores. No início do mês de outubro, o ministro da corte eleitoral Paulo de Tarso Sanseverino (ou assessor de imprensa do PT, como queiram) já havia determinado a remoção do tuíte de uma notícia publicada pela Gazeta do Povo cujo título era: “Ditadura apoiada por Lula tira sinal da CNN do ar”.

Nas ações do partido mais corrupto da história do Brasil, os asseclas legais de Lula alegam que: “As publicações dessa natureza são compartilhadas e espalhadas em velocidade exponencial, de modo a aumentar significativamente o alcance das desinformações aos eleitores e às eleitoras, ampliando, desta forma, o impacto negativo das publicações objeto desta representação”. O partido também deseja “que o Twitter, o Instagram e provedores de internet adotem todas as providências cabíveis quanto ao ponto — de modo a excluir essas e outras publicações que também versem sobre a fantasiosa relação de Lula com o ditador Ortega”.

“…fantasiosa relação de Lula com o ditador Ortega”.

Nada para ver aqui. Circulando. Os laços entre o ditador nicaraguense e o líder do PT e do Foro de São de Paulo são apenas imaginação da sua e da minha cabeça. Aliás, o Foro de São Paulo foi, durante muito tempo, apenas uma invenção, uma teoria conspiratória, daquele velho doido que morava na Virginia, aquele tal de Olavo de Carvalho.  
Não leia o que está escrito no documento do movimento que o TSE pode não gostar. Eu vou deixar aqui um resumo do que está lá, mas leia por sua própria conta e risco.
Reunião de membros do Foro de São Paulo. O grupo apoia a eleições 
de candidatos de esquerda em qualquer lugar da América Latina - 
 Foto: Reprodução

Os objetivos iniciais do Foro de São Paulo estão expressos na “Declaração de São Paulo”, documento que foi aprovado no final do primeiro encontro, na cidade de São Paulo, em 1990: “(…) o objetivo do foro é aprofundar o debate e procurar avançar com propostas de unidade de ação consensuais na luta anti-imperialista e popular, promover intercâmbios especializados em torno dos problemas econômicos, políticos, sociais e culturais que a esquerda continental enfrenta após a queda do muro de Berlim”. O documento afirma que o encontro foi inédito por sua amplitude política e pela participação das mais diversas correntes ideológicas da esquerda. A declaração também diz encontrar “a verdadeira face do Império” nas renovadas agressões a Cuba e também à Revolução Sandinista na Nicarágua, no aberto intervencionismo e apoio ao militarismo em El Salvador, na invasão e ocupação militar norte-americana do Panamá, nos projetos e passos dados no sentido de militarizar zonas andinas da América do Sul sob o pretexto de lutar contra o “narcoterrorismo”. E, assim, eles reafirmam sua solidariedade em relação à Revolução Cubana e à Revolução Sandinista, como seu apoio em relação às tentativas de desmilitarização e de solução política da guerra civil de El Salvador, além de se solidarizarem com o povo panamenho e com os povos andinos que “enfrentam a pressão militarista do imperialismo”.

Ok, é um documento do Foro de São Paulo que liga a esquerda em toda a América Latina. Ah, mas dizer que há uma relação de Lula com o ditador Daniel Ortega? Ah! Não… isso é coisa da cabeça de quem só quer sujar a reputação do ilibado ex-presidiário que também foi acusado, por mais de uma vez, por Mara Gabrilli, vice na chapa de Simone Tebet que hoje apoia Lula de estar envolvido diretamente no assassinato de Celso Daniel. [Ana, a do vôlei,  concluímos a leitura;  só que surgiu uma dificuldade: a quem devemos perguntar que conclusão devemos tirar da leitura?]

(Imaginou agora minha dificuldade em explicar a política do Brasil?)

Lula e Ortega
A desejada censura neste caso — com a ajuda do TSE e Alexandre de Moraes — se faz necessária porque os fatos que ligam Lula a Ortega são muito claros. 
Mais claro ainda é o regime totalitário do companheiro do PT que agora persegue e prende padres, freiras, persegue cristãos e fecha igrejas no país. A ditadura da Nicarágua está criminalizando a democracia, e a violência à qual os nicaraguenses estão sendo submetidos também está alimentando a migração ilegal desenfreada para os EUA, ajudando a causar a maior crise migratória da história norte-americana. 
Por que Lula não quer ser visto com o companheiro Ortega? 
Seria porque na Nicarágua de Ortega as empresas são extorquidas por policiais mafiosos, líderes católicos são perseguidos por apoiarem a democracia, moradores de todas as nacionalidades são detidos e condenados por décadas e organizações da sociedade civil foram fechadas? 
Ou porque essa dinastia familiar — assim como outra dinastia familiar companheira de Lula, os Castros — criminalizou a democracia, garantindo que a liberdade de expressão, a de participação política, movimento e crenças sejam legalmente eliminadas? Daniel Ortega e sua família transformaram a Nicarágua em um Estado pária.

O regime do amigo e parceiro de Lula eliminou todas as formas de pluralismo político e social. Cerca de 2 mil organizações sem fins lucrativos foram extintas por causa da proibição de liberdade de associação. Essas organizações trabalhavam em projetos de desenvolvimento social muito necessários, sendo que metade delas era focada na educação. As perdas materiais — em um país onde as crianças têm poucas oportunidades e a educação média está abaixo da 4ª série — chegam a pelo menos US$ 200 milhões por ano. Quase 60 organizações internacionais sem fins lucrativos também foram extintas e expulsas do país, afetando quase 1 milhão de beneficiários. No entanto, o impacto não é apenas material, mas ideológico. O regime redefiniu as regras da educação, subordinando o ensino à total obediência à ditadura, banindo livros, literatura e reescrevendo a história. Aqueles que desviarem do caminho imposto e ditado por Ortega são excluídos dos “direitos” aos serviços públicos (incluindo o acesso à saúde) e podem ser julgados por atos criminosos de conspiração contra o Estado.

As consequências do que o amigo do PT vem fazendo são terríveis para os nicaraguenses, que, através da imigração, fogem de maneira desesperada para os Estados Unidos. Desde 2018, pelo menos 200 mil pessoas escaparam da Nicarágua (em um cálculo conservador, quase 5% de sua população), especialmente após a fraude eleitoral em novembro de 2021. O inepto governo de Joe Biden testemunhou em primeira mão os ataques à imprensa, a autoridades religiosas, independência eleitoral, liberdade acadêmica e pluralismo, bem como ataques aos Estados Unidos. Dentre os vários mantras pregados por Ortega, o ditador acusa os Estados Unidos de conspirarem contra o regime. A resposta dos EUA incluiu sanções a 22 funcionários do governo de nível médio e menos de 100 tuítes condenando a repressão. Sim, tuítes… (Saudades do laranjão?)

Mas a caótica situação humanitária não é suficiente para um tirano que se preze. O revolucionário sandinista que se tornou ditador nunca foi favorável à Igreja Católica. A perseguição aos cristãos tem sido uma ocorrência comum em grande parte do Oriente Médio e na China, mas uma perseguição igualmente virulenta está exatamente sob o domínio do amigo de Lula — e com mínima atenção global.

Até hoje, os católicos espalhados pelo mundo, e atônitos diante das barbáries cometidas contra seus irmãos e irmãs na Nicarágua, aguardam uma palavra firme do papa Francisco contra as ações do ditador amigo de Lula

A Igreja Católica tem sido alvo comum de desprezo e acusações de minar o regime de esquerda, apesar das sementes firmemente plantadas da teologia da libertação e do ativismo pró-esquerda na Nicarágua. Ortega, que voltou ao poder em 2007 depois de governar a Nicarágua por mais de uma década na década de 1980, nunca foi favorável à Igreja Católica. Desde que o clero emprestou seu apoio aos manifestantes estudantis em 2018, no entanto, seu governo aumentou significativamente a perseguição contra qualquer setor da sociedade civil que se atreva a falar.                 E os católicos do país resolveram romper o silêncio para tantas barbaridades. Claro que por um preço alto. Até junho deste ano, Ortega mantinha mais de 200 presos políticos.

Perseguição aos católicos
Desde 2018, a Igreja Católica na Nicarágua enfrentou mais de 190 ataques distintos, desde incêndios criminosos, ataques paramilitares do governo e o exílio de proeminentes padres e figuras religiosas críticas ao regime de Ortega. 
Um total de 18 freiras católicas das Missionárias da Caridade foram destituídas de seu status legal em 28 de junho e escoltadas pela polícia para fora da Nicarágua e para o exílio na vizinha Costa Rica sob acusações de subversão política e apoio ao terrorismo. Em um relatório recente do Observatório Pró-Transparência e Anticorrupção, um grupo da sociedade civil da América Latina, a advogada Martha Patricia Molina Montenegro afirmou que o regime de Ortega “iniciou uma perseguição indiscriminada contra bispos, padres, seminaristas, religiosos, grupos leigos e a tudo o que tenha relação direta ou indireta com a Igreja Católica”.

Em resposta aos esforços da Igreja Católica para mediar os protestos em 2018 e defender os diretos civis, Ortega e seus aliados rotularam a igreja como “comprometida com os golpistas e parte do golpe”. Silvio Baez, monsenhor e um crítico proeminente do regime, foi forçado a fugir do país em 2019 depois de receber um telefonema da Embaixada dos EUA avisando-o de uma iminente tentativa de assassinato. Baez já havia sido espancado e esfaqueado por agressores desconhecidos. Antes de conseguir sair do país, ele recebia constantes telefonemas ameaçadores que falavam em tortura e morte. A Igreja Católica e seu clero têm sido críticos da corrupção e da violência do governo já há alguns anos, mas desde 2018 a violência tem sido mais direcionada, como visto pela situação com Baez. Embora os protestos que originalmente estimularam a repressão do governo nicaraguense tenham sido reprimidos em sua maior parte, o regime de Ortega continua a atacar a Igreja e seus crentes em uma busca para expurgar toda e qualquer dissidência.

O episódio mais recente dessa perseguição foi a prisão do monsenhor Rolando José Álvarez, bispo de Matagalpa, que está em prisão domiciliar desde 4 de agosto, quando a polícia da ditadura Ortega o impediu de ir à Catedral para celebrar a missa. Como alguns andam querendo apagar ou reescrever as páginas da história, não custa apontar que não é a primeira vez que acontece todo esse pesadelo na Nicarágua. A marca local do comunismo, através do sandinismo, já perseguia os cristãos na década de 1980. Em 2003, Ortega pediu desculpas por isso quando estava na oposição. Uma vez que ele voltou ao poder, o líder comunista recuperou a campanha anticatólica. Parece familiar? Alô, Brasil!!

João Paulo II
Para quem me acompanha aqui em Oeste ou em outras mídias, faço sempre questão de expressar meu mais profundo respeito àquele que foi, em minha opinião, não apenas um líder religioso de histórica magnitude, mas um dos homens mais importantes da humanidade: o papa João Paulo II. E foi exatamente na Nicarágua que o santo pontífice demonstrou sua coragem e seu propósito. Em 4 de março de 1983, o papa pousou em Manágua para uma visita oficial. As autoridades da Junta Governativa Sandinista esperavam pelo líder religioso, incluindo o coordenador da junta, Daniel Ortega, e sua esposa, Rosario Murillo. O papa polonês havia chegado ao país que estava em uma época em que seus cidadãos estavam à beira de uma guerra civil.

No aeroporto, havia uma faixa que dizia “Bem-vindo à Nicarágua livre graças a Deus e à revolução”. Nesse cenário, Ortega fez um discurso de apoio ao regime sandinista. João Paulo II cumprimentou as demais autoridades que o esperavam, bem como Ernesto Cardenal, padre e ativista marxista da teologia da libertação que ocupava um importante cargo público como ministro da Cultura do regime, algo incompatível com o ministério dos padres católicos.

Papa João Paulo II, no Vaticano em 1991 | Foto: Wikimedia Commons

Quando Joao Paulo II chegou aonde Cardenal estava, o marxista tirou sua boina e ajoelhou para beijar o anel do pontífice. Joao Paulo II não deixou que ele beijasse o anel e, com dedo em riste, chamou a atenção, em absoluto tom de reprovação, do ativista disfarçado de padre. O vídeo correu o mundo logo após seu discurso de chegada em que o papa disse que “em nome Daquele que deu sua vida por amor pela libertação e redenção de todos os homens, desejo dar minha contribuição para que cesse o sofrimento dos povos inocentes desta região do mundo”.

Na época, Cardenal era um dos quatro padres que trabalhavam para o regime. Ele e seu irmão, o jesuíta Fernando Cardenal, serviam ao governo revolucionário sandinista além de Miguel d’Escoto, como ministro das Relações Exteriores, e Edgar Parrales, um diplomata. Cardenal acreditava que seu serviço como ministro da Cultura era uma extensão de seu ofício sacerdotal. João Paulo II, que viu e viveu de perto as dores do comunismo, discordava veementemente e fez questão de não esconder isso — mesmo em público.

O corajoso ato de Joao Paulo II foi uma prévia do restante da viagem do papa. Ele também não escondeu sua oposição ao governo sandinista que pregava a integração dos ideais cristãos e marxistas (absolutamente incompatíveis!), e sua desaprovação daqueles cristãos, como Cardenal — que, abjetamente, viram na revolução nicaraguense uma oportunidade para promover a nefasta doutrinação marxista através da “caridade”.

Quando os padres do governo da Nicarágua recusaram a exigência do papa de que deixassem seus cargos, eles foram excomungados e privados de suas faculdades sacerdotais. No caso de Cardenal, essa situação continuou até 2020, quando o papa Francisco lhe concedeu a “absolvição de todas as censuras canônicas”. Até hoje, os católicos espalhados pelo mundo, e atônitos diante das barbáries cometidas contra seus irmãos e irmãs na Nicarágua, aguardam uma palavra firme do papa Francisco contra as ações do ditador amigo de Lula.

A visita de João Paulo II à Nicarágua, em 1983, deixa lições até hoje — principalmente para o Brasil, que enfrenta a tentativa de total ruptura de um possível estado de ordem e liberdades, mesmo com a atual insegurança jurídica perpetuada pelo STF, a um absoluto caos revolucionário proporcionado pela possível volta do lulocomunismo ao poder. Durante a homilia de João Paulo II em Manágua, além dos fiéis aplaudindo o papa, grupos de sandinistas também gritavam slogans a favor de sua revolução: “Entre o cristianismo e a revolução não há contradição”, “Poder ao povo”, “O povo unido nunca será vencido”, “A Igreja do povo” e “Queremos a paz” foram algumas das palavras de ordem que gritavam.

Os gritos enfureceram o papa, que pediu silêncio mais de uma vez e finalmente lhes disse: “Silêncio. A Igreja é a primeira a querer a paz”. João Paulo II então saiu do roteiro e disse: “Cuidado com os falsos profetas. Eles se apresentam em pele de cordeiro, mas por dentro são lobos ferozes”.

Ah, santo homem… que falta o senhor faz entre nós.

João Paulo II tinha um profundo amor pelo Brasil. João de Deus, nessa hora de aflição e medo do mal que pode devorar nossa nação e nosso futuro, rogai por nós.

Leia também “A proteção à vida em 2023”

Ana Paula Henkel (@AnaPaulaVolei

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 


terça-feira, 1 de março de 2022

4 tragos de vodca

Gazeta do Povo - Revista Oeste

As coincidências de um mundo que dá voltas

Sete reflexões, ou “tragos de vodca”, sobre a guerra na Ucrânia

Na semana passada, logo depois de iniciada a invasão da Ucrânia pela Rússia, comecei a anotar algumas reflexões sobre o conflito. Chamei a série de “Tragos de Vodca“.

Os quatro primeiros “tragos” publiquei na Revista Oeste e estão na sequência dos outros três, que trago hoje para minha coluna da Gazeta do Povo. Espero que essas sete anotações ajudem o leitor a entender melhor o ataque à Ucrânia.

Jogo de palavras
O Ministério da Defesa – do Ataque? – russo teceu duras críticas à Ucrânia pela iniciativa de armar sua população civil. O major-general, porta-voz da pasta, afirmou que “o regime nacionalista de Kiev distribui massiva e incontrolavelmente armas leves automáticas, lançadores de granadas e munição para moradores de assentamentos ucranianos”, acrescentando que “o envolvimento da população civil da Ucrânia pelos nacionalistas nas hostilidades levará inevitavelmente a acidentes e baixas” – talvez como aquela ogiva russa armada e parcialmente enterrada num parque infantil...

A escolha de palavras do Kremlin requer tradução: “regime nacionalista de Kiev” é putinês para o governo democraticamente eleito da Ucrânia, capitaneado por um Presidente, Volodymyr Zelensky, que obteve mais de 70% dos votos em 2019. Já as hostilidades supostamente incentivadas pelos nacionalistas nada mais são do que a resistência heroica e patriota de cidadãos livres, de um país independente, lutando por sua autonomia – não se trata de moradores de assentamentos, mas de residentes nacionais de um povo em pleno gozo da sua autodeterminação.

O PT e sua indisfarçável simpatia pelo autoritarismo
Como a Ucrânia se desfez do seu arsenal nuclear, num acordo que só ela respeitou

O porta-voz russo insiste: “Pedimos ao povo da Ucrânia que seja consciente, não sucumba a essas provocações do regime de Kiev e não se exponha e seus entes queridos a sofrimento desnecessário”. Pegar em armas contra uma força estrangeira invasora não requer muita provocação, nem parece sintoma de ausência de consciência; mas será que o sofrimento de civis e militares da resistência é fútil ou desnecessário?

“Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança” disse Benjamin Franklin, na época em que os EUA eram o farol da humanidade, onde abundavam lideranças de verdadeira envergadura moral – como são os anônimos da resistência ucraniana.

País desarmado, povo refém
O pronunciamento oficial da Rússia sobre a distribuição de armas em Kiev veio um dia após o Ministério da Defesa e do Interior da Ucrânia solicitar a colaboração dos moradores da capital: “nos informem sobre movimentos de tropas, façam coquetéis molotov e neutralizem o inimigo”. Nas redes sociais, o governo publicou um passo-a-passo para a fabricação caseira de bombas de gasolina e, segundo fontes oficiais, 18 mil armas foram distribuídas.

O descontentamento da força invasora com o armamento voluntário da população violada sinaliza a potencial efetividade da estratégia de formação de milícias civis e do combate de guerrilha. Muitas batalhas já foram vencidas dessa maneira, inclusive durante a sanguinária incursão nazista na Rússia. Obrigar o inimigo a lutar por cada esquina, rua e prédio – apreensivo a cada palmo que avança em território hostil – abala a moral do exército intruso; além disso, nada como o combate homem a homem para materializar a violência (e a estupidez) do conflito, tanto para quem participa, quanto para quem assiste.

Daí a insatisfação do porta-voz e major-general russo, cujas palavras desbordam para o campo da ameaça ao citar uma inevitável escalada de baixas e de sofrimento entre os civis ucranianos. Por outro lado, o exército russo pareceu não se incomodar com a (nobre) tentativa de civis desarmados de barrar o avanço de tanques blindados na cidade ucraniana de Chernigov – o metal prevaleceu sobre a carne-e-osso, assim como a força prepondera sobre a razão em situações de guerra.

Velhos hábitos
Vladimir Putin tem um andar característico, flagrado em múltiplas filmagens, que já foi até objeto de artigos científicos. Em vez de movimentar os braços livremente, utilizando-os como contrapeso aos seus passos, o presidente russo caminha de forma assimétrica, com a movimentação reduzida em seu lado direito, dos ombros à mão.

Essa forma peculiar de marcha apelidada (e glamourizada) pela imprensa internacional como “gunslinger’s gait” (o passo do pistoleiro, em tradução livre) é atribuída ao treinamento de agentes da KGB, o serviço secreto soviético, onde Vladimir Putin chegou à patente de tenente-coronel.

Segundo os pesquisadores, a proximidade do braço ao corpo favoreceria o acesso mais rápido ao coldre e a agilidade no saque da arma numa eventual situação de emergência. Assim caminham o líder russo e seus velhos hábitos.

Tempos difíceis e seus homens
Spiridon Putin, avô paterno do presidente da Rússia, era cozinheiro pessoal de Lenin e outros líderes da Revolução Russa — uma informação que, por algum motivo, foi mantida em sigilo até 2018. Quando Stalin tomou o poder e perpetrou a carnificina dos expurgos, chef Putin e sua esposa foram poupados: “Eles eram, provavelmente, valorizados por serem pessoas de confiança”, comentou Putin, o neto, nascido em 1952 em Leningrado, onde viveu com a família em um apartamento comunitário.

Putin, o pai, nasceu em 1911, com o país sob domínio czarista. Ainda na infância, testemunhou uma revolução, uma guerra mundial e a fome russa, que matou cerca de 5 milhões dos seus conterrâneos. Lutou na Segunda Grande Guerra e foi gravemente ferido por um tiro de metralhadora; sobreviveu, assim como sua mulher, que resistiu ao cerco a Leningrado, um morticínio que vitimou ao menos 2 milhões de russos, entre militares e civis. Vladimir Putin é o filho mais velho desse casal — mas só porque seus irmãos, nascidos antes, faleceram na infância.

Reza o provérbio oriental:Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes”… Onde estaremos?

Tempos fáceis e seus homens
Emmanuel Macron nasceu em 1977, formou-se em filosofia e graduou-se em administração com mestrado em políticas públicas. Tornou-se sócio do Rothschild & Cie Banque, que o fez milionário antes dos 35 anos. Já como presidente da França, lançou mão de uma estratégia velada e intelectualmente desonesta de protecionismo agropecuário contra o Brasil, amealhando quase 150 mil coraçõezinhos em sua postagem lacradora sobre a Amazônia em 2019, ilustrada pela foto de um incêndio de décadas atrás: “Nossa casa está queimando. Literalmente. A Floresta Amazônica — os pulmões que produzem 20% do oxigênio do nosso planeta — está pegando fogo. É uma crise internacional”. Claro que pulmões não produzem oxigênio, absorvem — exatamente o que faz a floresta, que consome a maior parte do gás liberado pela fotossíntese, embora contribua de outras formas para a ecologia e o clima do mundo. Mas o que salta aos olhos é a definição do presidente francês de crise internacional.

Parece que os líderes do mundo livre finalmente depararam com uma crise internacional de verdade

Outro que já usou a Amazônia para bravatear e capitalizar politicamente foi o commander in chief Joe Biden, que, num debate eleitoral, sugeriu o pagamento — estamos aguardando! — de algo como US$ 20 bilhões para que o Brasil parasse de destruir a Amazônia. O então candidato até ameaçou: Se não parar, vai enfrentar consequências econômicas significativas”.

Parece que os líderes do mundo livre finalmente depararam com uma crise internacional de verdade, que requer sanções concretas contra agentes políticos realmente antagônicos aos valores do Ocidente. E agora?

O mundo dá voltas
Há dez anos, Mitt Romney, candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, foi entrevistado pela CNN e afirmou: “A Rússia é, sem dúvida, nosso maior inimigo geopolítico”. Romney acrescentou: “Quem sempre se alinha aos piores atores globais? A Rússia, geralmente com a China ao seu lado”.

Ato contínuo, em sua campanha pela reeleição, o presidente Barack Obama fez questão de zombar seu adversário por essa resposta: “Quando você foi perguntado qual era a maior ameaça geopolítica contra a América, você respondeu Rússia, não Al-Qaeda [grupo terrorista de extremistas islâmicos responsável pelos ataques de 11 de Setembro]. E os anos 1980 estão na linha solicitando sua política externa de volta, porque a Guerra Fria acabou há 20 anos”.

Barack Obama, o sarrista, foi o único presidente americano na história a completar oito anos de gestão com as tropas do seu país em combate ativo no exterioruma contradição flagrante à sua plataforma eleitoral, que contemplava o encerramento de conflitos e o retorno das Forças Armadas ao lar. Durante seu governo, em 2014, os russos invadiram e anexaram o estratégico território da Crimeia, antes pertencente à Ucrânia.

Embora a anexação não seja reconhecida pela ONU, a unificação ao território russo é dada como fato consumado. Especialistas avaliam que a incursão pela Crimeia foi o balão de ensaio para um movimento mais ousado de Putin na Ucrânia, que ocorreu tão logo um democrata voltou a ocupar o Salão Oval. São as coincidências de um mundo que dá voltas…

A guerra, a fome e o sofrimento desnecessário
No terceiro dia de guerra, o número de fatalidades permanece desconhecido e sigiloso. Um relatório das Nações Unidas dá conta de, ao menos, 64 mortes entre os civis ucranianos – suspeita-se que o número de baixas entre os militares já esteja na casa de centenas, em ambos os lados. Esses óbitos vão pra conta de um governo russo de pretensões imperialistas, que violou tratados internacionais e tem pouca tolerância a regimes democráticos, exceto quando alinhados ao Kremlin. Putin já declarou que “o colapso da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século [XX]” – sim, por incrível que pareça, ele se referia ao mesmo centenário que assistiu a duas guerras mundiais e aprisionou centenas de milhões de pessoas na escuridão da cortina de ferro socialista.

Há menos de 100 anos, no alvorecer da URSS, outro governo russo impôs aos ucranianos sua visão de mundo enviesada e ideológica. Entre 1932 e 1934, a Ucrânia foi devastado pela Grande Fome, ou Fome Terror, ou ainda Holodomor (“matar pela fome”) que massacrou 3.9 milhões de ucranianos étnicos por inanição – para muitos, um genocídio levado a cabo pelo governo soviético, que impôs políticas isolacionistas, coletivistas e de confisco agrícola aos camponeses, muitos dos quais recorreram até ao canibalismo na tentativa desesperada de sobrevivência.

Os horrores do Holodomor levaram décadas para chegar ao conhecimento do Ocidente. [informação:o Holodomor aconteceu  quando Stalin presidia a Rússia - o tirano soviético conseguiu ser pior que uma hipotética soma de Mao Tsé-Tung, Kim Jong-Un, Pol Pot - porém, o pior de todos foi o chinês Mao  - que superou a soma de todos em número de mortos.]. Só após a queda da União Soviética – a tal catástrofe geopolítica – o mundo livre conheceu a verdade sobre a fome, a miséria e a violência do comunismo e suas doutrinas derivadas. Putin até que se esforça para imitar seus antecessores, dificultando a livre circulação da informação e restringindo o acesso às redes sociais; mas o mundo de hoje é muito mais conectado e talvez mais sensível ao “sofrimento desnecessário”, como diria o major-general russo. Bastam as mortes – e não milhões de mortes – para alertar e mover a opinião pública. Na zdoróvie.

Leia também “‘Bolsonazismo’ e a banalização do mal”

Caio Coppolla, colunista - Gazeta do Povo - Vozes - Revista Oeste


quinta-feira, 15 de julho de 2021

NÃO PISE EM MIM! - Harley Wanzeller

Liberdade! Liberdade! São estas as palavras usadas por mais um povo que, há muito, sofre como bicho da fazenda de Orwell.

Alguns veículos de informação amanheceram noticiando que os cubanos estão botando para fora aquilo que qualquer pessoa minimamente esclarecida já sabe existir – a revolta interna do cubano com a opressão imposta pelo regime revolucionário comunista dos irmãos Castro.

Novidade? Nenhuma!

Aliás, se fosse Cazuza (1), diria estar vendo “um museu de grandes novidades”. Mas não. Sou apenas um brasileiro que teme o fetiche idiota pelo comunismo, insistentemente alimentado em rodas estudantis enfeitadas com camisas e bottons que estampam a cara de verdadeiros genocidas, como Che Guevara e “seus blue caps”.

Não há beleza no comunismo! Se belo fosse, sua política não enfrentaria a natureza humana. E antes que algum crítico venha em defesa do marxismo, usando de cinismo para arrotar o bordão “o comunismo nunca foi implantado realmente”, esclareço que, de certa forma, concordo (com o crítico). Com a licença da necessária redundância, pois nem todo mundo consegue discernir o significado do que lê ou escreve, afirmo ao “papagaio de pirata” que o comunismo não passa de uma utopia nefasta de impossível implantação, justo porque nasceu como um devaneio teórico cujo fim é manter sua vítima eternamente inebriada e presa ao sonho do amanhã que nunca acontecerá. A teoria é essa, mas a prática mostra que um cubano sabe muito bem o que é o comunismo quando precisa ficar calado para sobreviver, ou sobrevive reduzindo seus sonhos a um prato de comida para o filho, esquecendo o significado da palavra dignidade, e esperando a morte chegar. Isso é o comunismo, papagaio!

Mas ainda que por instinto animal, o ser humano tende a lutar pela manutenção de sua natureza sabendo que dela depende para viver, segundo suas características próprias. E aqui entro no fator liberdade!  O grito cubano por liberdade já existe há muito. Está entalado na garganta e, mais do que nunca, é esbravejado por um povo que entendeu, na pele, o que representa ideologia marxista bem como a urgente necessidade de engajamento na luta contra o totalitarismo, sob pena de ser dizimado. A falta de opção popular é fator bastante para encerrar o ciclo dos movimentos totalitários, dado que a resposta ao dilema “lutar ou morrer” nunca deixou um tirano de pé.  Assim caminhou a humanidade. E assim sempre será.

Exemplo disso foi a guerra de independência dos EUA, pela qual os founding fathers uniram-se pela preservação do império da lei em solos americanos em uma luta franca contra o totalitarismo da coroa britânica que, à época, afrontou os direitos mais básicos dos ingleses-americanos. Esta verdade fica lastreada por alguns símbolos, como o próprio discurso de Thomas Jefferson no texto separatista abaixo transcrito:

“Na realidade, a prudência recomenda que não se mudem os governos instituídos há muito tempo por motivos leves e passageiros; e, assim sendo, toda experiência tem mostrado que os homens estão mais dispostos a sofrer, enquanto os males são suportáveis, do que a se desagravar, abolindo as formas a que se acostumaram. Mas quando uma longa série de abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo objeto, indica o desígnio de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, bem como o dever, de abolir tais governos e instituir novos Guardiães para sua futura segurança. Tal tem sido o sofrimento paciente destas colónias e tal agora a necessidade que as força a alterar os sistemas anteriores de governo. A história do atual Rei da Grã-Bretanha compõe-se de repetidas injúrias e usurpações, tendo todos por objetivo direto o estabelecimento da tirania absoluta sobre estes Estados.”(2)

 Outro símbolo foi a conhecida Bandeira de Gadsden, predominantemente amarela com uma serpente em posição de alerta para ataque, seguida da inscrição “Dont´ Tread on Me”, cuja tradução significa “Não pise em mim”.  Esta bandeira, inclusive, foi inspirada em uma charge publicada anos antes no Pennsylvania Gazette, que teve como editor ninguém menos que Benjamin Franklin, um dos pais fundadores. Nesta Charge, encontramos a cobra composta por diversas partes acompanhadas das siglas das 13 colônias insurgentes. O desenho tinha como mensagem destaque a frase “Join or Die”, que podemos traduzir como “Junte-se ou Morra”.

Este era o espírito que unia os ingleses em solo americano – lutar para garantir valores naturais do ser humano, traduzidos na vida, na liberdade, e no direito à busca da felicidade. A Bandeira de Gadsden precisa ser erguida pelo povo cubano! A nós, cabe a oração pelos oprimidos e o exercício da sabedoria, para evitarmos a repetição dos erros políticos alheios que resultaram na catástrofe humanitária do comunismo. 

Referências:

1.       Referência ao trecho da música “O tempo não para”, de Cazuza.

2.       Declaração de Independência dos Estados Unidos da América - 04.07.1776. (https://pt.m.wikisource.org/wiki/Declaração_da_Independência_dos_Estados_Unidos_da_América)

3.       A Bandeira de Gadsden é leva o nome do seu criador, o general e político americano Christopher Gadsden (1724-1805), que a projetou em 1775 durante a Revolução Americana.

Cascavel como símbolo das Colônias Americanas foi proposta por Benjamin Franklin, por lhe parecer um animal vigilante e magnânimo, que entretanto ataca fatalmente, se provocado ou desafia.

*     Texto publicado originalmente em Tribuna Diária

Harley Wanzeller

domingo, 11 de dezembro de 2016

Felicidade roubada

Criação de uma indenização para turistas que viessem a ter bens roubados no Rio é ideia de jerico

Quem ainda se lembra das duas semanas de felicidade roubada que contagiou os cariocas quatro meses atrás? O governador Sérgio Cabral, que capitaneara os Jogos para a cidade, está preso em Bangu. O prefeito maravilha Eduardo Paes, do Rio Olímpico, acaba de ter os bens bloqueados pela Justiça. O orçamento do estado de 2017 tem um rombo de pelo menos R$ 15 bilhões, acabando com a efêmera harmonia entre forças da ordem e cidadãos civis degustada durante os Jogos. Hoje, policiais e servidores disputam aos tapas os vinténs ainda disponíveis para receber salários em atraso.

A semana do prefeito eleito Marcelo Crivella, que assumirá o comando da cidade à deriva na virada do ano, começara com um almoço no Copacabana Palace. Mas pouco do que o burgomestre dizia parecia animar os cerca de 200 empresários à mesa. Até que lhe ocorreu uma ideia, meio de improviso, para turbinar o setor de turismo na cidade: a criação de uma indenização para turistas que viessem a ter bens roubados no Rio. Viu-se aplaudido com entusiasmo, segundo relato de alguns comensais.

O próprio autor da ideia qualificou-a de “utopia”, “sonho” e “ousada”. Na verdade é uma ideia de jerico. Ao que se saiba, nenhum prefeito de nenhuma cidade do mundo, turística ou não, violenta ou não, cogitaria atrair turistas fazendo-os pagar uma taxa a ser convertida em fundo para indenizar quem venha a ser assaltado durante a estadia.  Para ser ressarcido do roubo do celular, por exemplo, caberia ao visitante registrar o aparelho no posto de entrada na cidade e, uma vez assaltado, retornar ao mesmo posto para fazer a reclamação da perda. Imagine-se o incômodo e dificuldade do mecanismo para um forasteiro.

Vale lembrar que o Rio de Janeiro é o município brasileiro campeão de roubo de celulares, com 27 casos a cada hora, segundo pesquisa de uma seguradora que cruzou dados do IBGE com órgãos de Segurança.  Além de outros detalhamentos da proposta, ficou em aberto o cálculo da indenização que seria paga ao turista roubado em terras cariocas. Mas e se o visitante atraído à Cidade Maravilhosa tiver perdido não um objeto, mas a vida?

Três dias depois do anúncio-utopia de Crivella, os primos viajantes Roberto Bardella e Rino Polato, italianos cinquentões num giro de motocicleta pela América do Sul, foram emboscados por oito traficantes no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa. O horário era inocente, onze da manhã, o roteiro, turístico par excellence voltavam do Cristo Redentor e rumavam para um último mergulho na Princesinha do Mar antes de seguirem viagem. Mas entraram por engano na favela.

Bardella morreu na hora, baleado na cabeça. Rino foi obrigado a circular com os bandidos durante mais de duas horas num carro em cujo porta-malas estava o cadáver do primo.  “O Rio não pode mais tratar o seu turista como se fosse uma coisa qualquer”, dissera Crivella aos comensais no Copa, ao anunciar a meta de fazer saltar os atuais um milhão de visitantes/ano para algo entre quatro milhões e seis milhões. (A municipalidade do ainda prefeito Eduardo Paes enviou condolências à família de Bardella e se colocou à disposição).

Sobretudo, a cidade também não deveria mais tratar seus 6,4 milhões de não turistas, ou seja, os moradores da cidade, como se fossem uma coisa qualquer.  Uma reportagem do repórter Caio Barretto Briso publicada no mesmo dia em que os italianos foram tocaiados retrata outra felicidade roubada — a da doméstica Teresinha Maria de Jesus. Ela é a mãe do garoto Eduardo, que brincava com o celular na porta de casa no feriado da Páscoa de 2015, no Complexo do Alemão, quando um tiro de fuzil o atingiu na cabeça disparado a não mais de cinco metros de distancia.

“Legítima defesa”, concluiu o inquérito, uma vez que Eduardo, de 10 anos, ficara no meio de uma fuzilaria entre PMS e traficantes. Processo arquivado. “Esses desembargadores fizeram isso porque não foram obrigados a ver o crânio do filho deles no meio da sala”, disse Teresinha ao repórter. Ela retornou à terra natal, o Piauí, com uma indenização do estado de valor não divulgado.  Bardella e Eduardo se cruzaram por acaso no noticiário da semana de um país doente. Um país em que a cada nove minutos alguém é vítima de algum tipo de assassinato. Há mais de 200 anos Benjamin Franklin já dizia: “Aqueles dispostos a abrir mão da liberdade essencial para obter um pouco de segurança temporária merecem nem liberdade nem segurança”. O contexto era outro, mas serve como bom ponto de partida para qualquer novo secretário de Segurança do Rio.

Fonte: O Globo - Dorrit Harazim, é jornalista


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Que o “Mein Kampf” seja publicado, debatido. E seu ideário, combatido, pelos que assim desejarem.

O espectro do Mein Kampf 

Setenta anos após a sua morte, o fantasma de Adolf Hitler volta à baila.  

Seu livro “Minha Luta” (Mein Kampf) caiu em domínio público e é estopim de debates acalorados em vários países. Por aqui, foi pego na rede da censura judicial, no Estado do Rio.

A polêmica acontece quando se questiona se é correto, ou não, publicar o manifesto nazista; se isto não disseminaria as ideias de ódio, racismo, de uma “ideologia universal” (Weltanschauung) e do “espaço vital” (Lebensraum), que pretenderam ser embasamentos teóricos para justificar o extermínio de milhões e milhões de judeus, homossexuais, ciganos, pessoas com deficiência, eslavos e outros povos tidos como inferiores pela concepção totalitária do nazismo.

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O caminho da proibição, da censura, é absurdo. Nunca deu certo em época alguma, em lugar algum do mundo. Quem a ele se contrapõe argumenta, com razão, que a melhor maneira de combater as ideias pregadas por Hitler é debatê-las. Assim pensa a ministra da Educação da Alemanha, Johanna Wanka, que recomendou os estudos do “Mein Kampf” nas escolas.

Queiramos ou não, Hitler é história, seu manifesto também. As ideias contidas em seu panfleto estão descritas em várias obras e o “Minha Luta” está disponível na internet, podendo ser acessado por qualquer um.   Ora, se somos contra a censura e se já há esse acesso na web, como enfrentar as ideias malignas do nazismo sem se estabelecer o confronto pela via do debate? 

O mais saudável é a publicação do livro de Hitler, preferencialmente acompanhado por esclarecimentos sobre a barbárie em que resultou o ideário nazista. Importa trazer o “Minha Luta” à luz do dia, como pretende fazer a editora Geração com uma edição que irá trazer o texto original do manifesto hitlerista acompanhado de mais de 300 comentários.  Isto não nada tem a ver com incitação ao ódio, como, infelizmente, entendeu um juiz do Rio de Janeiro ao proibir a publicação do livro.

O debate sobre publicar ou não a obra de Hitler também remete a outra discussão, tão ou mais importante, pertinentemente abordada pelo professor da Unicamp Leandro Karnal: “O problema é decidir, algo que era discutido por Benjamin Franklin no século XVIII, quem seria a pessoa capaz de selecionar o que o mundo deve ler. Quem seria o ser acima dos dramas humanos e mesquinharias da nossa espécie?”

Por aí se retrocede aos tempos do censor, “o legislador de preconceitos, defensor da baixeza e da mediocridade, ou melhor, da vulgaridade”, para citar a brilhante descrição de Orson Welles, em um artigo de 1952.  A humanidade já enfrentou esse dilema em muitos momentos de sua história. Na Idade Média o saber, o monopólio da leitura, estava nos mosteiros, como descreveu Umberto Eco em “O Nome da Rosa”.

Nos Estados Unidos deste século XXI, pasme-se, um grupo de estudantes universitários reivindica que determinados livros da literatura, clássicos que constam dos programas curriculares, tenham uma advertência na capa, por representar “perigo” para o “bem estar moral”. Um desses livros perigosos, “Metamorfoses”, do poeta Ovídio, foi publicado em latim no ano 8 D.C.. Ovídio era contemporâneo de Horácio, Virgílio e do imperador Augusto.

Os tutores do que deve ou não ser lido estão em toda parte. Aqui no Brasil, recentemente, Monteiro Lobato quase foi esvurmado do currículo escolar porque alguns “educadores” esquerdopatas entendiam que sua obra estimulava o racismo.  Quanto ao espectro de Hitler, ainda que seja pouquíssimo provável que nos dias de hoje seu ideário totalitário empolgue a maioria de um povo, o melhor é conhecê-lo e não escondê-lo.

Mas o que está mesmo em jogo é um valor do qual não se pode abrir mão: o livre circular das ideias. Que o “Mein Kampf” seja publicado, debatido. E seu ideário, combatido.

Fonte:  Hubert Alquéres