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quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Não há previsão de saída de brasileiros de Gaza, diz embaixador em Israel

O embaixador do Brasil em Israel, Fred Mayer, afirmou que o Itamaraty está em “compasso de espera” e que “inexiste previsão (por enquanto) do dia de retirada dos brasileiros de Gaza”. 

O diplomata deu as declarações em conversa com a coluna. Na nova lista de estrangeiros que podem deixar a Faixa de Gaza nesta quinta, 2 – através da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito -, não constam brasileiros. [Em nossa opinião, NÃO EXISTE A MENOR MOTIVAÇÃO para os brasileiros terem prioridade para voltar ao Brasil. Estavam na região como turistas e devem ser tratados como os turistas dos demais países. Além do mais o desempenho medíocre do Brasil na presidência do CS, só motiva a que os brasileiros não tenham qualquer preferência sobre os demais.Outro absurdo é que nós, os pagadores de impostos, estejamos bancando o regresso dos turistas brasileiros - nos demais países a passagem é cobrada normalmente, aqui é tudo de graça.]

São 576 pessoas autorizadas a atravessar a fronteira, sendo 400 dos Estados Unidos.

Cidadãos do Azerbaijão, Bahrein, Bélgica, Coreia do Sul, Croácia, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Macedônia, México, Suíça, Sri Lanka e Chade também poderão sair da região em guerra.

Segundo a embaixada do Brasil na Cisjordânia, 34 pessoas pediram a ajuda do Brasil para deixar a região controlada pelo Hamas, sendo 24 brasileiros e dez palestinos que pretendem imigrar para o Brasil. A guerra Israel-Hamas já matou ao menos 10 mil pessoas – em sua maioria civis.

Matheus Leitão, Blog em VEJA
 

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Capazes são, mas serão? - Revista Oeste

Flávio Gordon

Desumanização e criminalização do 'bolsonarismo' virou moeda corrente na velha imprensa, nos tribunais e nas bancadas de esquerda


Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Ricardo Stuckert

O governo insistia em afirmar reagir contra uma ameaça revolucionária [após o incêndio do Reichstag], a qual requeria medidas emergenciais de curto prazo. 
Assegurava constantemente o público de que, uma vez passada a crise, o império da lei e as liberdades seriam restituídos na Alemanha. 
Restava óbvio, porém, que, ao mesmo ao tempo que essas vagas promessas eram feitas, as inovações introduzidas seriam características permanentes da ditadura de Hitler.”(Robert Gellately, Backing Hitler: Consent and Coercion in Nazi Germany)

Proclamado presidente da República pelos amigos do Tribunal Eleitoral, obedecido por uma Suprema Corte inteiramente partidarizada e alheia à Constituição, legitimado por um “consórcio” midiático mais amestrado que o Pravda soviético, respaldado por uma Polícia Federal aparelhada agindo como polícia política, e por Forças Armadas a caminho da bolivarianização, o descondenado em chefe tem se sentido muito à vontade para dar vazão aos seus desejos de ditador. 

Semana passada, na Bélgica, aproveitou-se da suposta ofensa sofrida pelo camarada Alexandre de Moraes em Roma para adotar uma retórica (essa, sim!) genocida, ao proclamar abertamente seu projeto de “extirpar” os bolsonaristas, aos quais negou a qualidade de seres humanos, tratando-os como “animais selvagens”. 
 Dias depois, em discurso para sindicalistas em São Bernardo do Campo, voltou à carga. 
Possivelmente imaginando que a Alemanha continua sob o Terceiro Reich, regime no qual assuntos privados tornavam-se questão de Estado, disse ter “entregado” o nome do suspeito de ofender Moraes, um empresário de uma firma alemã, ao chanceler alemão Olaf Scholz.  
Além disso, conclamou seus camisas marrons (ou vermelhas) a uma missão politicamente purificadora. “Vocês têm que estar preparados, porque nós derrotamos o Bolsonaro, mas não derrotamos o bolsonarismo ainda” — berrou, com sua voz rascante de ódio. “Os malucos estão nas ruas”. Estava dada a senha para a atuação de “coletivos” de tipo chavista, empenhados no uso permitido da violência para a defesa do regime.

Já há algum tempo a desumanização e a criminalização do bolsonarismo virou moeda corrente na linguagem da imprensa, dos tribunais superiores e da bancada parlamentar filopetista. Os episódios são muitos. Lembro-me, por exemplo, de quando o blogueiro ultraesquerdista Ricardo Noblat descreveu uma participante do programa Big Brother Brasil como “suspeita de bolsonarismo”. Ou de quando o ministro já notoriamente mais boquirroto do Supremo, esse mesmo que o leitor está imaginando, conclamou “as instituições” e “as pessoas de bem” (e é curioso como, quando interessa à esquerda, o “cidadão de bem” volta a existir) a impor limites aos habitantes de “guetos pré-iluministas”, que questionavam as urnas eletrônicas. Ou ainda, mais recentemente, também surfando no caso Moraes em Roma, de quando o colunista petista Ricardo Kotscho (que em outros tempos talvez fosse descrito como “blogueiro de crachá” ou coisa que o valha) afirmou ser difícil pacificar o país “com tantos bolsonaristas soltos”, convocando toda a sociedade, e não apenas os governantes, a fazê-los “saírem de circulação”. Mas a coisa torna-se realmente preocupante quando ninguém menos que o presidente da República passa a desumanizar dessa forma uma fatia inteira do espectro político nacional, composta de dezenas de milhões de cidadãos. Quando a assim chamada “pacificação” proposta pelo mandatário e seus correligionários (e incluo nesse grupo a maior parte dos jornalistas autoproclamados “profissionais” e dos juízes dos tribunais superiores) passa a se parecer cada vez mais com uma “solução final”, é porque o país entrou num rumo muito perigoso.

Não exagero ao classificar de genocida a retórica do descondenado em chefe.
 
(...)
Pintura de Stalin no Museu Hermitage | Foto: Sophie Mahdavi/Shutterstock

Obviamente, muito embora os comunistas com orgulho que hoje governam o Brasil pertençam a uma cultura política totalitária que, a exemplo da Alemanha nazista e da URSS stalinista, perpetrou perseguições, violações dos direitos humanos e assassinatos em massa por onde passou (e o faz presentemente, como nas ditaduras venezuelana e nicaraguense, amigas do lulopetismo), a simples possibilidade de que o Brasil enverede por esse caminho infame nos parece, à primeira vista, inconcebível. Confesso que, apesar de familiarizado com a história do movimento revolucionário, circunstância que deveria me vacinar contra a perplexidade, a hipótese também me soa como inverossímil. Contudo, uma releitura recente tornou muito mais perturbadora a análise da situação brasileira, porque antes já se observou a mesma incredulidade em contextos que, de fato, terminaram em morticínio. Refiro-me aos diários do filólogo judeu Victor Klemperer.
 
(.....)

Abertamente desumanizados (e ora estrategicamente desarmados) (…), também os “bolsonaristas”, entre perplexos e conscientes, parecem sopesar suas chances.

Nos primeiros anos do novo regime, os registros no diário são todos marcados por esse misto de análise racional, com consequente prognóstico, e perplexidade, como se o espírito do autor andasse na corda bamba entre, por um lado, a convicção do analista de que os algozes seriam, sim, capazes de perpetrar os males mais inimagináveis e, por outro, a insistente e tênue esperança da vítima, segundo a qual não era possível que chegassem a tanto. Mais ou menos como começam a se sentir hoje todos os assim estigmatizados como “bolsonaristas”, ao notarem a ausência de qualquer anteparo institucional entre eles e os ditadores que os querem “extirpar”, Klemperer dá voz ao sentimento generalizado de perplexidade entre os judeus perseguidos, cada vez mais incrédulos, como num pesadelo sem fim, diante daquilo que o historiador do nazismo Ulrich Herbert viria a chamar de “a escalonada indiferença de seus conterrâneos”.

Em 31 de março de 1933, véspera do Judenboykott, Klemperer descreveu o seu estado de espírito: “Cada vez mais desesperançoso. O boicote começa amanhã. Cartazes amarelos, homens de guarda. Nenhuma resposta à impressionante carta dos judeus ao presidente do Reich e ao governo”. Assombrava-o a ausência geral de reação, e até mesmo de percepção, por parte de tantos dentre os seus parceiros de infortúnio. “Ninguém ousa fazer qualquer movimento. Ninguém ousa escrever uma carta ou dar um telefonema. Visitamo-nos uns aos outros e sopesemos nossas chances. Um funcionário do ministério disse isso; um outro, aquilo. Mas ninguém sabe se aquele com a opinião mais favorável restará no cargo, ou em que medida está mesmo no cargo. Nem as feras selvagens têm menos direitos e são mais acossadas (…) Na guerra eu estava sujeito à lei militar, mas a alguma lei ainda assim; agora, estou à mercê de um poder arbitrário”. Trilhos que levam à entrada do campo de concentração de Auschwitz, em Oświęcim, na Polônia | Foto: Rafael Cavlaz/Shutterstock

Abertamente desumanizados (e ora estrategicamente desarmados) por um chefe de Estado vingativo e notoriamente amoral, emboscados por um ministro da Justiça e da Segurança Pública cuja única missão no cargo parece ser inventar pretextos para os encarcerar, destituídos de seus direitos básicos por militantes radicais e serviçais lulopetistas fantasiados de toga, diariamente estigmatizados por uma imprensa que se comporta como alcaguete e propagandista do regime, também os “bolsonaristas”, entre perplexos e conscientes, parecem sopesar suas chances.

Já terá chegado a hora do exílio, ou ainda é cedo? Vale a pena ficar, enfrentando a ditadura de peito aberto, ou escapar com a família antes que seja tarde? Há ainda algum resquício de solução institucional para evitar o expurgo (ou a “extirpação”)? Alguma voz ainda se levantará contra as arbitrariedades de que são vítimas? Haverá um limite para a perfídia? Ora, que os algozes são capazes, racionalmente todos o sabem, pois a proposta de um morticínio purificador é da própria natureza da mentalidade revolucionária. Mas — esta a dúvida inclemente — serão mesmo capazes? Na Alemanha nazista, muitas vezes o maior ou menor tempo de permanência na pergunta significou a diferença entre a morte e a sobrevivência. E, dentre os que se mantiveram perplexos por um prazo excessivo, poucos sobraram para contar a história. Resta saber como será no Brasil sob a ditadura lulopetista. Resta avaliar o prazo-limite para a perplexidade, essa faca de dois gumes anímica, a qual, como diria Primo Levi, ao mesmo tempo que angustia, deprime e retarda-nos qualquer reação, também “desvia a cada instante a nossa atenção da desgraça que pesa sobre nós, tornando a sua percepção fragmentária e, portanto, suportável”.
 
 

Coluna Flávio Gordon - Revista Oeste


quinta-feira, 13 de julho de 2023

Escolas cívico-militares e os três inimigos históricos de Lula - Percival Puggina

         Não resta dúvida de que o PT foi trazido de volta ao poder para cumprir seu destino histórico e destruir o país
Eu sabia – já escrevi tanto a respeito! – mas era consequência do que podia ler nos fatos; agora, Lula verbalizou tudo, audível e claramente, aos amigos da sua Pátria Grande reunidos no Foro de São Paulo. Disse ele:Aqui no Brasil nós enfrentamos o discurso do costume, o discurso da família, o discurso do patriotismo, ou seja, o discurso de tudo aquilo que a gente aprendeu historicamente a combater”.
 
Qual a principal trincheira desse combate? 
Onde a frente ampla da desgraça nacional avança sem encontrar resistência alguma? 
Onde, num total desequilíbrio de forças se estabelece o domínio dos corações e das mentes
É nas salas de aula do país, convertidas em crematório do futuro ao longo de toda a cadeia produtiva do ensino.
 
Não surpreende o entendimento entre o MEC e o Ministério da Defesasim, você leu certo que acabou com as escolas cívico-militares criadas em 2019
Afinal, os três inimigos contra os quais a liderança esquerdista do continente “aprendeu historicamente, etc., etc” estão presentes nesses educandários: 
1º) as famílias, que junto com os professores, em assembleia e por votação decidem adotar esse modelo; 
2º) os bons costumes, porque traficantes, malfeitores e desordeiros mantêm distância e os alunos são orientados para condutas civilizadas voltadas ao aprendizado
3º) o patriotismo, porque nessas escolas, o sadio e produtivo amor à pátria não é reprovado, mas estimulado.
 
De um modo gradual, elas serão absorvidas pela mesmice de um sistema cujos péssimos resultados gritam nas aferições internas e rankings internacionais que avaliam o desempenho escolar em todos os níveis de ensino. “É que não se faz Educação sem dinheiro!”, exclamarão em coro as salas de professores. 
No entanto, em 2019, o Brasil ocupava o 6º lugar no investimento em Educação, medido na proporção com o PIB, perdendo apenas para os países nórdicos e para a Bélgica.
 
Mas é só isso que a esquerda no poder combate historicamente e põe as escolas cívico-militares de joelhos com a nuca exposta? Não, tem muito mais. 
Ela substitui o moralmente correto pelo “politicamente correto”, a História por um elenco de narrativas capciosas, a solidariedade pelo antagonismo, o amor ao pobre pelo ódio ao rico.
 
Essa esquerda combate a estrutura familiar pela condenação do suposto patriarcado, como se a paternidade fosse apenas poder e não amor, responsabilidade, serviço e sacrifício.  
A sala de aula não pode ser o vertedouro das frustrações de quem detém o toco de giz.
 
Ela desrespeita a inocência das crianças. Contra a vontade unânime dos parlamentos do país, introduz pela janela a ideologia de gênero nas salas de aula enquanto os valores saem pela porta.  
Como alavanca ideológica, não estimula o respeito à propriedade privada, nem o empreendedorismo, nem o valor econômico do conhecimento e das competências individuais.  
 
Poderia prosseguir pois nada há de meu apreço que não seja combatido pela esquerda em sua guerra cultural ou contra o Ocidente, ou por uma nova ordem mundial. O desejado pluralismo de ideias é substituído pela exclusão da divergência
O Estado que deveria servir a sociedade põe a sociedade a seu serviço. 
O Estado e a política que os camaradas da Pátria Grande querem precisa dos necessitados de seu auxílio, sem os quais desaparecem politicamente.
 
Vejam o quanto essa esquerda é dependente de um sistema de ensino que não ensine, cujo foco não esteja no aluno e sua aprendizagem, mas em difusos e sinistros objetivos político-ideológicos. 
Tal sistema, quando fala em escola de tempo integral, mais me assusta do que me alegra!

PS – Os muitos bons e valiosos professores têm meu louvor e sabem contra o que também se empenham.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sexta-feira, 7 de julho de 2023

Extinção ou mudança imediata (já tarde) do Mercosul - Samir Keedi

         Uma vez mais voltamos nossos olhos ao famigerado Mercosul. Já escrevemos muitos artigos sobre ele, mas nada muda. Não vamos desistir. O Mercosul é um câncer que corrói as possibilidades de desenvolvimento de um país que insiste em fazer tudo errado e temos que extingui-lo ou mudá-lo. [OPINAMOS pela extinção sumária; máximo que  os gênios conseguem propor para crescer, é convidar países insignificantes e cuja união ao Mercosul é geograficamente desaconselhável.
Também não pode ser olvidado que a SOMA de muitos NADA  só fortalece o resultado final: NADA.]

O Brasil comete erros demais, em infinitos aspectos, e ainda não descobriu que a "roda" já foi criada e é só usá-la
Mas, não, fica tentando criar o que já existe, como aconteceu com a criação do Mercosul. Pobre país, riquíssimo, o melhor do mundo fisicamente, como já colocamos em muitos artigos. Tanto na superfície quanto abaixo dela, mas, que insiste em ser pobre. Por sua pura determinação e não por não existir alternativas, que aqui abundam.

O Mercosul é apenas mais um dos nossos graves erros. Um bloco que, do ponto de vista teórico, pode e deve ser elogiado. Todo agrupamento de países para cooperação, redução de impostos, melhoria das condições de vida das respectivas populações, é sempre bem-vindo.

Mas, do ponto de vista prático, é apenas mais um dos nossos desastres. Uma escolha totalmente errada na sua gestação e criação. Com falta de inteligência extrema. A criação de blocos econômicos deve ser feita com critério, com sabedoria, e não apenas pela simples criação de um.

Todos os que militam no comércio exterior sabem - ou deveriam saber - sobre a lógica dos acordos econômicos. E a atual União Europeia deu o tom em seu início, em 1944, com a criação de uma área de livre comércio entre três países, a saber, Bélgica, Países Baixos (Netherlands e não Holland) e Luxemburgo, denominado Benelux, que foi consolidado em 1948.

Mais tarde, com a entrada da Itália, França e Alemanha Ocidental, foi criada a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço - CECA. Com a posterior inclusão, em várias etapas, de muitos outros países, chegamos à União Europeia com 28 países. Agora 27 após a saída do Reino Unido. Pode ter havido erros, e certamente ocorreram. Mas, seguiram uma lógica. Deixando claro a inteligência com que o bloco econômico foi criado. A lógica determina que se crie algo de sucesso aos poucos, e com o tempo, passo a passo.

Assim, qualquer bloco deve ser iniciado e seqüenciado como: 
1) área ou zona de preferências tarifárias; 
2) área ou zona de livre comércio; 
3) união aduaneira; 
4) mercado comum; e 
5) união econômica. 
Alternativamente, pode-se suprimir a primeira etapa e partir logo para a segunda, se for julgado conveniente e os países preparados para tal. Mas, só. O restante é uma sequência natural.

E como o pedante e "auto-suficiente" Mercosul foi iniciado? Da pior maneira possível para países nas nossas condições. No meio do processo, ou seja, como uma união aduaneira. Em que todos os membros, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai devem ter a mesma alíquota de importação de mercadorias importadas de terceiros países. Isso é uma união aduaneira.

Como um bloco econômico que tem as nossas condições, pode começar pelo meio, sem as fases anteriores, iniciais, sem uma base? 
Não tem como se fazer isso com sucesso. 
O Mercosul já existe há 32 anos, desde março de 1991, quando os presidentes dos quatro países assinaram, em Assunção, no Paraguai, o documento de criação do Mercosul. 
Ainda mais um bloco que, se fosse um único país, estaria entre as 10 maiores economias do planeta. Portanto, nada desprezível, em que a falta de inteligência não poderia estar presente.

E qual a consequência dessa inconseqüência armada pelos quatro países do bloco? Simples, a destruição da liberdade econômica de cada um deles. E o mais prejudicado, claro, e certamente, é o Brasil.

Este acordo de união aduaneira impede que cada país faça seu acordo com quem quer que seja, um país ou bloco econômico. Ele amarra todos os países aos demais três, ou seja, qualquer acordo só pode ser feito se os quatro países estiverem de comum acordo. Isto é o famigerado "4 + 1".

Esta é uma situação muito difícil. É necessário que todos tenham as mesmas ideias, objetivos, interesses, etc. Imagine um acordo do Mercosul com a União Europeia. De um lado 27 países com interesses diversos, e de outro lado, quatro países também com interesses e ideologias diversas. Em especial países tão diversos quanto os quatro do Mercosul. E isso ocorre com todos os acordos, com todos os países com quem o Brasil deseje ter um acordo econômico.

Isso tem que acabar. O Brasil tem que recuperar sua independência e soberania para fazer acordos com quem desejar. E isso não é possível, repetimos, com o "4 + 1".

Para isso temos que: 
1) acabar com o Mercosul; ou 
2) o que talvez seja mais conveniente, já que acordos são sempre bons, como colocamos no início, retroceder de união aduaneira para a segunda etapa, uma área de livre comércio. 
Com isso, nada mudará quanto ao relacionamento no grupo, em que as mercadorias continuarão entrando em cada país com eliminação do I.I. (imposto de importação), e cada país terá sua liberdade de fazer acordo com quem desejar.
Ah! Ainda em tempo. 32 anos de união aduaneira e até hoje ela não está completa. Foram criadas listas de convergência (exceções) para cada país, em que uma determinada quantidade de mercadorias está fora da união aduaneira.   
Assim, que união aduaneira é essa que nunca existiu integralmente em mais de três décadas? 
E cuja lista vai mudando ao bel-prazer de cada país?

*O autor, Samir Keedi, é professor técnico e universitário de pós-graduação, palestrante, bacharel em Economia, mestre em Administração, autor de vários livros em comércio exterior, entre eles o "ABC do comércio exterior". 

e-mail: samirskeconsultoria@gmail.com.br

É acadêmico titular da Cadeira Nº 4 da APH-Academia Paulista de História e sócio propietário de de SKE Consultoria Ltda.


terça-feira, 9 de maio de 2023

Licença para gastar - Revista Oeste

Branca Nunes


O arcabouço fiscal de Lula e Fernando Haddad permite ao governo esbanjar dinheiro público sem risco de punição 

 

 Ministro da Fazenda, Fernando Haddad | Foto: Montagem Revista Oeste/Lula Marques/ Agência Brasil/Shutterstock


Enquanto o PL 2630, também conhecido como Lei da Censura, espera na Câmara o momento de votação, outra ameaça acampada no Congresso espreita o bolso dos brasileiros. Batizado de arcabouço fiscal, o protótipo de projeto econômico apresentado por Fernando Haddad em 30 de março tem mais de 3 mil palavras, centenas delas rigorosamente incompreensíveis, que em resumo conferem ao governo federal licença para gastar — muito, e sem nenhum risco de punição.

A maior inovação do texto é de ordem linguística. Se quisesse facilitar a vida do brasileiro comum, o governo batizaria a novidade de plano fiscal, ou sistema fiscal
A opção por arcabouço confirma que governantes em dúvida não estão aí para explicar. Preferem confundir. 
Fundamentalmente, a lei de Haddad aposenta duas regras essenciais para manter a economia do país no rumo certo. Uma é a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), aprovada em maio de 2000, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. A segunda é o teto de gastos, que começou a vigorar em 2016, na gestão Michel Temer.

“A LRF criou regras mais duras de como os governos deveriam lidar com as contas públicas e tornou ilegal a irresponsabilidade fiscal”, explica o economista Hélio Beltrão. “Com essa lei, o governo ficou obrigado a estabelecer com antecedência — e a respeitar — a meta de gastos para os três anos seguintes.” O desrespeito à LRF pode custar uma série de punições, que incluem o impeachment ou a prisão de prefeitos, governadores e do presidente. Ignorar esses riscos foi um dos erros que encurtaram o mandato de Dilma Rousseff, por exemplo. Ministro da Fazenda, Fernando Haddad | Foto: Agência Brasil

O teto de gastos criou outra regra essencial para o equilíbrio das contas: o aumento das despesas para o ano seguinte deve limitar-se à inflação do ano corrente. “Antes do teto, os governos costumavam aumentar as despesas em média 6% acima da inflação”, lembra Beltrão. “O argumento de que tal limite compromete gastos com educação e segurança, por exemplo, é mentiroso”, complementa a economista Marina Helena, que ocupou a Diretoria de Desestatização do Ministério da Economia. “O problema do Brasil nunca foi falta de dinheiro, mas dinheiro gasto da forma errada. O teto obriga o governo a gastar melhor.”
 

De acordo com uma pesquisa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil gasta 5,6% do PIB em educação, perdendo apenas para Suécia, Bélgica, Islândia, Finlândia e Noruega. O valor médio dos demais países fica em 4,4%. Ao mesmo tempo, o Brasil é um dos 20 piores entre os 80 países que participam do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).

O projeto de Haddad substitui o teto de gastos por um “piso de gastos”, permitindo o aumento das despesas em no mínimo 0,6% e no máximo 2,5% acima da inflação

Em contraponto ao argumento de que o teto de gastos já foi ultrapassado em outras ocasiões, como ocorreu durante a pandemia de covid-19, Beltrão pondera: “Para que o teto fosse furado, foi preciso aprovar uma emenda constitucional no Congresso. Houve uma longa discussão. O teto já sofreu reformas, mas nunca ocorreu a derrubada completa, como Lula e Haddad querem agora”.
 
Irresponsabilidade fiscal
Depois de atravessar a campanha presidencial sem divulgar um único projeto econômico, Lula conseguiu, em dezembro de 2022, que o Congresso aprovasse uma Proposta de Emenda à Constituição aumentando o limite do Orçamento em quase R$ 200 bilhões. Duas das “justificativas sociais” apresentadas pelo governo eleito: o aumento do salário mínimo e a manutenção em R$ 600 do Auxílio Brasil, novamente rebatizado de Bolsa Família.Foto: Reprodução/Google

A proposta da vez provocará um rombo ainda maior no Orçamento. Com o codinome Lei de Responsabilidade Fiscal 2.0, o arcabouço autoriza o governo a gastar mais e elevar o peso dos impostos. Embora limite a despesa a 70% do aumento da arrecadação, o projeto substitui o teto de gastos por um “piso de gastos”, permitindo o aumento das despesas em no mínimo 0,6% e no máximo 2,5% acima da inflação.

“O plano de Haddad é focado na arrecadação”, resume o economista Alan Ghani. “O governo pretende aumentar a arrecadação seja via impostos, seja via endividamento, seja via inflação”, acrescenta Marina Helena. “Caso a arrecadação cresça, gasta-se mais. Caso não cresça, gasta-se menos. Mas sempre se gasta. Assim, o dinheiro das famílias e das empresas, que deveria ser investido, vai para o governo.”Economista Alan Ghani | Foto: Reprodução Rumble

Entre os impostos já criados está a taxação, a partir de 2024, de brasileiros com investimentos no exterior. Para rendimentos entre R$ 6 mil e R$ 50 mil, a tributação será de 15%. Acima desse valor, o imposto alcançará 22,5%. Rendimentos de até R$ 6 mil estão isentos. Outra proposta que não avançou nos moldes originais taxava empresas varejistas como Shopee e Shein.

Apesar dos novos impostos, todos os economistas ouvidos por Oeste consideraram inatingívela arrecadação prevista pelo governo. “A projeção de crescimento de despesas e receitas é incompatível com a realidade”, conclui Marina Helena. “Para cumprir uma, não conseguirá cumprir a outra.”

O futuro do atraso

O plano econômico de Haddad ignora qualquer tipo de punição para o governo federal. “Na prática, o governo revoga o crime de responsabilidade”, afirma Beltrão. Marina Helena emenda: “O arcabouço fiscal se resume a entregar ao governo um cheque em branco para ele gastar à vontade, sem a menor responsabilidade”.

O medo de sofrer penalidades favoreceu a aprovação de projetos importantes cujo objetivo era o controle dos gastos públicos, caso da Reforma da Previdência e da minirreforma administrativa. “O principal problema do Brasil é a organização das contas públicas”, reitera Beltrão. “O governo tem muitos gastos e não quer parar de gastar. Cortar despesas nunca é uma opção.” O excesso de gasto público e o gigantismo do Estado sempre bloquearam o crescimento sustentável da economia brasileira.

Segundo Beltrão, o arcabouço é uma guinada que pode aproximar o Brasil da Argentina. Para o economista, é decepcionante ver o país destruir normas que vinham tentando corrigir as contas públicas há mais de 20 anos. “Voltar à gastança de antes é catastrófico, decepcionante, perigoso e irresponsável.” Ubiratan Jorge Iorio, colunista econômico de Oeste, sintetiza o sentimento em seis palavras: “O Brasil está andando para trás”. 
O arcabouço é uma guinada que pode aproximar o Brasil da Argentina  - [caso isto venha a ocorrer, os brasileiros estão f ...; ]-  Foto: Ricardo Stuckert/PR

Confrontado com tais horizontes, as bolsas de valores caíram e os investidores aguardam apreensivos a votação no Congresso, que pode acontecer a qualquer momento. A proposta do governo confirma o que Fernando Haddad confessou, em tom de brincadeira, num vídeo que circulou pelas redes sociais antes de assumir o Ministério da Fazenda: “Apesar de dar uns pitacos, eu estudei dois meses de economia”. Tradução: Haddad acabou de assumir a chefia do exército federal num tipo de batalha que nunca travou. 

Leia também “O Brasil visto pelos arqueólogos do futuro”
 
 

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Fúria do governo contra armas paralisou indústria de blindagem de carros - Alexandre Garcia

VOZES - Gazeta do Povo

Decreto de Lula tinha como alvo os CACs, mas também acabou inviabilizando atividade de blindagem de automóveis.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Os da minha idade vão lembrar que o presidente Jânio Quadros – que foi meu primeiro voto na vida – proibiu biquíni nas praias e rinha de galo. Por que lembro disso? Porque o atual presidente está impedindo a blindagem de automóveis.  
Em vários estados do Nordeste, as empresas de blindagem já estão paradas há mais de três semanas. 
É que saiu um decreto, já no dia 1.º de janeiro, revogando um outro decreto do governo anterior, e com isso deixou na mão a blindagem dos carros, que precisa ser autorizada pelo Exército, mas agora não há mais essa autorização, isso em um país inseguro como o nosso.
 
Para quem quiser pesquisar no doutor Google, falo do Decreto 11.366, que revogou o Decreto 10.030. 
É um decreto contra os CACs, que são 670 mil brasileiros, incluindo caçadores – a caça só é permitida para controlar a população de javalis, e isso é controlado pelo Ibama –; colecionadores de armas, que são muitos; e atiradores, que fazem parte de 2 mil clubes de tiro e entre os quais há até atletas olímpicos, pois o tiro é modalidade olímpica que, aliás, deu o primeiro ouro para o Brasil, em 1920, em Antuérpia (Bélgica). 
Todos eles movimentam uma indústria que gera 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos, segundo dados do Ministério da Defesa. São cerca de US$ 4 bilhões, ou 4,46% do PIB. Pagam imposto de 71,6%, e pagam antecipadamente.

E é mentira que essas armas, licenciadas pelo Exército, caiam na mão de bandidos. De 48.658 apreensões feitas em um ano, segundo a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, só 83 armas tinham registro legal, ou 0,17%. Outra mentira é a de que as armas aumentam o número de mortes. Pelo contrário: os homicídios caíram de 57 mil por ano para 30 mil. É preciso registrar isso.

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    Será que Alexandre de Moraes conhece a Lei Antiterrorismo?

Sérgio Cabral quase solto e viagem a NY: retratos da Justiça brasileira
Cabral, condenado a 415 anos, está solto, enquanto em Brasília tem gente presa sem nem saber o motivo
Como também é preciso registrar que um sujeito, sem usar arma em seus crimes, foi condenado a 415 anos de prisão por corrupção em 35 ações. Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, foi solto pelo Tribunal Regional Federal do Rio por 4 a 3. 
Ele vai passear pelas ruas do Rio apenas com tornozeleira, só não pode sair do país. Já estava em prisão domiciliar desde dezembro. 
Uma maravilha, não? Enquanto isso, a cozinheira do acampamento na frente do QG do Exército está presa. Nem pôs os pés na Esplanada dos Ministérios, mas foi levada naqueles ônibus, naquela coisa de Hitler que faz lembrar os tempos dos judeus na Alemanha. 
Cabe ao acusador o ônus da prova, mostrar que todas aquelas pessoas agiram com vandalismo, destruindo patrimônio público no Congresso, no Supremo e no Palácio do Planalto; precisam mostrar as provas para prender tanta gente. E aí comparamos uma coisa com outra: 
Sérgio Cabral solto apesar de ter sido condenado a 415 anos, e pessoas que nem sabem por que estão nos presídios da Papuda (masculino) e da Colmeia (feminino), aqui em Brasília.
 
A volta dos caminhões-pipa no Nordeste 
E falei de empresas de blindagem de carros no Nordeste, pois o Congresso está investigando um outro problema por lá, que está beneficiando empresas de caminhão-pipa. 
De repente parou a água do Rio São Francisco, que estava circulando pelo Nordeste, e os caminhões-pipa voltaram. 
Agora, os deputados, que voltaram das férias, querem investigar para saber o que está acontecendo, e nisso fazem muito bem.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

As lições de 1940 para 2023 - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Muitos passaram por eventos muito piores e a vitória veio em algum momento, porque estavam do lado certo da história. Como nós estamos 

Gary Oldman, como Winston Churchill, no filme <i>Darkest Hour</i> | Foto: Divulgação

Gary Oldman, como Winston Churchill, no filme Darkest Hour | Foto: Divulgação 
 
Não foi apenas todo o ano de 2022 do brasileiro que foi conturbado, o final do ano foi um caos.  
Eleições nada transparentes, sistema eleitoral comprometido com juízes ativistas que, claramente, favoreceram um candidato corrupto, inconstitucionalidades sendo chanceladas por ministros com o “novo normal jurídico”…  
A lista de absurdos no Xandaquistão aumenta em uma velocidade alarmante. Sem contar as semanas de “Sobe a rampa. Não sobe a rampa”.
 
Mas e aí? Como entraremos em 2023? Sento-me para escrever o último artigo de 2022 e penso: esta edição sairá no dia 30 de dezembro de 2022, mas o que será do dia 31? O ex-presidiário vai subir a rampa?  
O presidente Bolsonaro acionará algum artigo constitucional para restabelecer as leis e a ordem no país, destruídas por militantes da Suprema Vergonha?

Ninguém sabe. Ok, mas então o que podemos levar para o ano que está para nascer já com medo de nascer velho, se não sabemos o que esperar desse parto? Creio que entraremos em rota de inúmeros medos e também certezas que são de arrepiar. Aquelas que, se concretizadas, trarão o período mais nefasto da nossa história. A pior gangue política que o Brasil, quiçá o mundo, já viu e agora de volta à cena do crime com requintes de crueldade e vingança.

Saio do computador. Faço um café e volto. Não posso encerrar o ano escrevendo um texto “para baixo”, apesar do cenário devastador sendo pintado — com ou sem rampa para o ex-presidiário. Mesmo nesse tabuleiro do medo sendo formado, precisamos arrancar as lições de tudo o que passamos até aqui, de tudo o que foi dito e feito desde 2018. Um ciclo presidencial se fecha automaticamente, e as lições agora se abrem para o aprendizado. E elas não são poucas.

Seria impossível desenrolar todas as nuances dos eventos dos últimos quatro anos e tocar em suas cicatrizes, para o bem ou para o mal. Nesta semana, a conexão do que passamos no Brasil foi me apresentada através de uma obra do cinema que retratou páginas inesquecíveis da história da humanidade. É impressionante como exemplos de líderes em certos eventos, até cronologicamente distantes do mundo atual, podem ressoar de maneira profunda até hoje.

O espírito divino
O filme O Destino de uma Nação (Darkest Hour, 2017) é uma daquelas obras a que você pode assistir três, quatro, cinco vezes. Toda vez que sentarmos diante dessa obra, vamos notar alguma coisa que pode ter passado de maneira tímida ou até despercebida, mas que, por alguma razão, vai saltar aos olhos no último repeteco como se você nunca tivesse visto o filme antes.

Recentemente, escrevi sobre a histórica operação em Dunquerque, batizada oficialmente de “Operação Dynamo”, quando 200 mil soldados britânicos e 140 mil soldados franceses e belgas foram salvos numa evacuação maciça das praias e do Porto de Dunquerque, na França, com a ajuda de centenas de embarcações navais e civis. O filme Dunkirk, um sucesso do cinema que nasceu com etiqueta de clássico, retrata com maestria as aflições humanas em meio a uma guerra, e a beleza do espírito divino que pode se manifestar em todos nós diante do medo e do horror.

Às vezes, esse espírito se manifesta organicamente, sem uma liderança específica, como uma ferramenta de sobrevivência das massas. Às vezes, ele é despertado por almas pinçadas a dedo no espectro especial na humanidade para que lições de liderança se eternizem — e os bons prosperem. Dunkirk é espetacular, assim como Darkest Hour, ou como poderíamos chamar, “Os bastidores de Dunkirk”. A performance de Gary Oldman como Winston Churchill foi agraciada com inúmeras premiações e sua atuação foi também coroada com o Oscar de melhor ator em 2018.

Darkest Hour oferece o lado diplomático do que vemos em Dunkirk. A história se desenrola com o drama da ascensão do primeiro-ministro britânico Winston Churchill ao poder durante a invasão nazista da França, em maio de 1940. O antecessor de Churchill, Neville Chamberlain, havia perdido a confiança do povo inglês e do governo britânico. Sua fracassada tentativa de uma conciliação com Adolf Hitler e os desastrosos primeiros nove meses da Segunda Guerra Mundial pareciam ter feito a Grã-Bretanha perder todas as possibilidades de vitória no conflito.

“Você não pode argumentar com um tigre quando sua cabeça está na boca dele”

Churchill, mesmo não sendo o nome preferido dentro do Partido Conservador, foi convidado a se tornar primeiro-ministro no mesmo dia em que Hitler invadiu a França, a Bélgica e a Holanda. Os exércitos das três democracias, que juntos eram maiores do que as forças militares da Alemanha, entraram em colapso em poucas semanas. Cerca de 200 mil soldados britânicos foram milagrosamente salvos pela ousada decisão de Churchill de arriscar evacuá-los pelo Mar de Dunquerque, para onde a maior parte do que restava da Força Expedicionária Britânica havia recuado. Mas o maior problema de Churchill não era apenas salvar o Exército britânico, mas enfrentar a realidade de que, com a conquista alemã da Europa, o Império Britânico não teria aliados. A União Soviética quase se juntou à Alemanha de Hitler sob o infame “Pacto de Não Agressão” de agosto de 1939, e os Estados Unidos estavam determinados a permanecer neutros a todo custo. O triste telefonema de Churchill com o presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, retrata a sinuca entre os líderes: FDR garante a Churchill que, em teoria, ele queria ajudar, embora na verdade não havia nada que ele pudesse fazer, já que o Congresso Americano havia votado pela neutralidade.

Com Hitler espalhando o terror pela Europa com suas violentas conquistas territoriais, um paralisante temor se espalhou por todo o governo britânico. Membros do novo gabinete de guerra de Churchill queriam pedir a paz. Chamberlain e Edward Wood (conhecido como Lord Halifax) acreditavam que Churchill estava desordenado por acreditar que a Grã-Bretanha poderia sobreviver à barbárie de Hitler. Ambos os apaziguadores acreditavam que o ditador italiano Benito Mussolini poderia ser persuadido a implorar a Hitler que cancelasse sua planejada invasão da Grã-Bretanha. Eles queriam acreditar que Mussolini poderia salvar um fragmento da dignidade inglesa por meio de uma rendição britânica arranjada. Mas Churchill, não.

Diferentemente de Dunkirk, com cenas apenas ao ar livre, Darkest Hour ocorre quase exclusivamente em ambientes fechados durante as sessões do Parlamento, reuniões privadas e cenas entre Churchill e sua igualmente brilhante esposa, Clementine. Os diálogos são fascinantes, e as atuações soberbas. E foi em uma cena de uma reunião com seu gabinete de guerra no bunker britânico que um diálogo saltou aos meus olhos nessa quarta ou quinta vez assistindo ao filme.

Perigo mortal
Naquele dia, havia apenas um tópico a ser discutido entre os presentes: a abordagem sugerida para que a Itália fosse uma intermediária de um acordo de paz. Lord Halifax, que demonstrava veemente oposição aos planos de Churchill de continuar lutando na guerra, precisava mostrar força a um gabinete acuado, sugerindo que o papel da Itália como mediadora entre o Reino Unido e a Alemanha em um acordo de paz com Hitler seria a melhor opção para os britânicos. A troca entre Halifax e Churchill em 1940 nunca foi tão útil e preciosa em 2022. Empenhado em desafiar Churchill e mostrá-lo como um arrogante e irresponsável, Halifax inicia o discussão:

Primeiro-ministro, a questão das conversações de paz.

— Devemos segurar nossos nervos. Sinalizar apenas que pretendemos lutar até o fim. Uma oferta de paz telegrafa nossa fraqueza.  — Churchill responde.

E continua de maneira mais enfática:

— E, mesmo que fôssemos derrotados, não estaríamos em situação pior do que estaríamos se abandonássemos a luta. Se o pior acontecer, não seria uma coisa ruim para este país cair lutando por outros países que foram vencidos pela tirania nazista. Evitemos, portanto, ser arrastados pela ladeira escorregadia com conversas sobre paz negociada!

“Ladeira escorregadia”? A única ladeira escorregadia é…

Churchill, esbravejando, então interrompe Hallifax:

— Lord Halifax, a abordagem que você propõe não é apenas fútil, mas nos envolve em um perigo mortal.

Halifax mostra que não está disposto a desistir de sua estratégia:

O perigo mortal aqui é essa fantasia romântica de lutar até o fim. Qual é o fim? Se não a destruição de todas as coisas! Não há nada de heroico em cair lutando se isso puder ser evitado! Nada remotamente patriótico em morte ou glória, se as probabilidades estiverem firmes no primeiro. Nada inglório em tentar abreviar uma guerra que estamos claramente perdendo!

Churchill tenta argumentar que não estão perdendo e que a Europa… Quando é interrompido por Halifax que grita:

— A Europa está perdida!! E antes que nossa força seja completamente aniquilada, agora é a hora de negociar, a fim de obtermos as melhores condições possíveis! Hitler não insistirá em termos ultrajantes. Ele conhecerá sua fraqueza. Ele será razoável.

Churchill permanece em silêncio, se ajeita na cadeira depois de uma breve pausa e, enfurecido, explode diante de todos:

— Quando a lição será aprendida?!

E com um murro na mesa, repete:

— Quando a lição será aprendida?! Quantos ditadores mais deverão ser cortejados, saciados, com imensos privilégios concedidos antes de aprendermos?!

E em uma brilhante frase, resume o que devemos levar para inúmeras situações da vida:

— Você não pode argumentar com um tigre quando sua cabeça está na boca dele!!

Sozinho, Churchill viu um caminho para a vitória contra todas as adversidades. Como observa o filme, Hitler poderia ter tido o maior Exército do mundo na primavera de 1940, mas ainda não tinha como transportá-lo através do Canal da Mancha, devido ao domínio naval britânico esmagador. Churchill assumiu que, se a Grã-Bretanha e seu império ultramarino pudessem resistir, um Hitler frustrado poderia se voltar para outro lugar — e assim ganhar novos inimigos, e os britânicos, novos aliados.

E foi exatamente isso o que aconteceu em junho de 1941, um Hitler frustrado invadiu a União Soviética. Mais tarde, ele declararia guerra aos Estados Unidos e, em dezembro de 1941, a Alemanha estava em guerra contra a maior economia do mundo (americana), a maior marinha (britânica) e o maior Exército (soviético) ao mesmo tempo.

Neste final de semana, quero convidá-los a preparar um futuro além de 2023. Peguem as crianças já em idade escolar capazes de entender a história mundial, tirem os adolescentes do TikTok, comprem pipoca, limonada e sentem para ver Dunkirk e Darkest Hour juntos. Além da especial maratona cinematográfica juntos, nada substitui um tempo com a família e amigos. Podemos — e devemos! — colocar sementes importantes nesses jovens corações para que eles entendam o sacrifício a que homens e mulheres se submeteram para que a atual liberdade pudesse ser desfrutada.

O magistral Churchill do ator Gary Oldman lembra a uma geração de jovens globais amnésicos que, há mais de 80 anos, o desafio obstinado de um inglês resmungão de 66 anos e com pouco mais de 1,50 metro salvou a civilização ocidental da barbárie nazista. E que tudo, absolutamente tudo sobre aquela geração, pode — e deve! — ser aproveitado em 2023.

Para nós, adultos, exauridos com tudo a que fomos submetidos neste ano, eu sei, estamos cansados. Foi uma pancada atrás de pancada e a sensação de derrota é acachapante e dolorida demais. Mas vamos olhar a história: no final da batalha de Dunquerque, 235 navios foram perdidos, com pelo menos 5 mil soldados. Os alemães conseguiram capturar 40 mil soldados. Embora a operação milagrosa tenha sido considerada uma “derrota” militar, a retirada com pesadas baixas e o resgate de quase meio milhão de soldados de Dunquerque passaram a ser uma das vitórias mais importantes e inspiradoras da guerra — e podem muito bem ter mudado seu resultado de tudo. Dunquerque foi o começo do fim do Terceiro Reich.

Esperança! Muitos passaram por eventos muito piores e a vitória veio em algum momento, porque estavam do lado certo da história. Como nós estamos.

Obrigada pela preciosa companhia de todos toda semana aqui em nossa Revista Oeste durante mais um ano de parceria e confiança. Vamos seguir mais firmes do que jamais estivemos.

Leia também “Um Natal na cozinha, e não nas redes sociais”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 


terça-feira, 1 de novembro de 2022

E agora? - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Há inspiradoras páginas na história que precisam ser reabertas hoje para que possamos seguir de cabeça erguida diante dessa eleição presidencial, talvez [talvez? alguma dúvida?]a mais suja da história do país 

Cena do filme <i>Dunkirk</i> | Foto: Divulgação

 Cena do filme Dunkirk | Foto: Divulgação
 
E agora seguimos.

Sim, a ressaca moral hoje não está fácil. Mas nós precisamos seguir. Há inspiradoras páginas na história que precisam ser reabertas hoje, 31 de outubro de 2022, para que possamos seguir de cabeça erguida diante dessa eleição presidencial, talvez a mais suja da história do país.

Para mim, em um dia terrivelmente triste que pode nos deixar sem esperanças e sem boas perspectivas para o futuro, acessar nossa assembleia de vozes pode nos ajudar a sair desse transe de não querer acreditar que o país elegeu um ex-presidiário para presidente do Brasil com a ajuda de nossa Suprema Corte.

No final da primavera na Europa de 1940, as potências europeias ainda estavam engajadas no que havia sido apelidado de “Phoney War”, um período de oito meses no início da Segunda Guerra Mundial, durante o qual houve apenas uma operação militar terrestre limitada na Frente Ocidental, quando as tropas francesas invadiram o distrito de Saar, na Alemanha. 
Apesar da invasão da Polônia pela Alemanha em setembro de 1939, a França e a Grã-Bretanha fizeram pouco mais do que reunir tropas do seu lado das linhas defensivas e olhar com raiva para as de Adolf Hitler. Mas em 10 de maio, os alemães lançaram um ataque blitzkrieg à Holanda e à Bélgica; em 15 de maio, eles romperam as defesas francesas e viraram para o Canal da Mancha. Dentro de uma semana, cerca de 400 mil soldados aliados — compreendendo a maior parte das Forças Expedicionárias Britânicas, três exércitos franceses e os remanescentes das tropas belgas — foram cercados na costa norte da França, concentrados perto da cidade costeira de Dunquerque. (Vale a pena assistir a cada segundo do extraordinário Durnkirk, filme de 2017, dirigido pelo inglês Christopher Nolan.)

Em 4 de junho de 1940, conhecido hoje como o dia da sobrevivência para milhares de soldados britânicos, a tripulação do navio Medway Queen estava levando uma carga extraordinariamente grande de suprimentos para sua próxima missão. Walter Lord, autor do inspirador livro O Milagre de Dunquerque, conta que o assistente do cozinheiro chegou a comentar que havia comida suficiente a bordo para alimentar um exército. Mal sabia a tripulação, mas o Medway Queen estava prestes a ser enviado através do Canal da Mancha em uma das missões de resgate mais ousadas da Segunda Guerra Mundial: a Operação Dynamo, mais conhecida como a evacuação de Dunquerque.

Quando a Operação Dynamo começou, no final de 26 de maio, os oficiais britânicos encarregados de organizar a fuga frenética estimaram que apenas 45 mil homens poderiam ser salvos. Mas, nos oito dias seguintes, quando mais de mil navios britânicos — militares e civis — cruzaram o Canal repetidamente para resgatar mais de 330 mil pessoas, enquanto a Royal Air Force lutava contra a Luftwaffe nos céus. Outros 220 mil soldados aliados foram resgatados dos portos franceses de Saint-Malo, Brest, Cherbourg e Saint-Nazaire pelos britânicos.

(...)

A evacuação de Dunquerque inspirou um dos discursos mais dramáticos da história da humanidade. Quando `entrou na Câmara dos Comuns em 4 de junho de 1940, ele tinha muito o que discutir. Os Aliados tinham acabado de realizar o “milagre de Dunquerque”, resgatando cerca de 338 mil soldados de uma situação terrível na França. 
Depois de operações que encurralaram os soldados aliados na costa francesa, os nazistas estavam a poucos dias de entrar em Paris. 
Churchill sabia que precisava preparar seu povo para a possível queda da França. Ele também sabia que tinha de enviar uma mensagem impactante de resiliência diante da aflição da clara derrota, mesmo que momentânea, para todos.
(...)

Sim, hoje é um dia difícil para todos os brasileiros que alertaram e lutaram contra um projeto de poder nefasto que pode engolir o Brasil com a volta de um ladrão, corrupto, descondenado, ex-presidiário e chefe de organização criminosa ao poder. 
 Mas é nas páginas da história que podemos dar o correto senso de proporção de uma ressaca moral que pode receber uma injeção de perspectiva de reação, e o que bravos homens passaram para que pudéssemos estar aqui gozando de plena liberdade, mesmo em tempos perigosos de tirania judiciária no Brasil.

No final da batalha de Dunquerque, 235 navios foram perdidos, com pelo menos 5 mil soldados. Os alemães conseguiram capturar 40 mil soldados. Mas, embora a operação tenha sido uma retirada com pesadas baixas, o resgate de quase meio milhão de soldados de Dunquerque passou a ser uma das vitórias mais importantes e inspiradoras da guerra — e pode muito bem ter mudado seu resultado. Dunquerque — uma derrota histórica foi o começo do fim do Terceiro Reich.

Pelo legado de cidadãos comuns que atravessaram o Canal da Mancha para salvar outros bravos homens, nossa defesa do Brasil começa HOJE – 31 DE OUTUBRO DE 2022.

Pela herança que recebemos de hombridade, coragem e resiliênciae que devemos proteger e passar aos nossos filhos para que façam o mesmo nós não devemos enfraquecer ou fracassar. Iremos até ao fim.

E agora?

Agora lutaremos nos mares e oceanos. Lutamos com confiança e força. Lutaremos nas praias, lutaremos nos terrenos de desembarque, lutamos nos campos e nas ruas, lutaremos nas colinas, lutaremos nas escolas, nos jornais, nas redes sociais. Lutaremos no Senado e na Câmara. E nunca, jamais nos renderemos.

Leia também “Uma facada na democracia”

  Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


quinta-feira, 6 de outubro de 2022

A imprensa mandou o jornalismo às favas - Edilson Salgueiro

Revista Oeste

O ativismo de esquerda nas redações jornalísticas se tornou implacável desde que Jair Bolsonaro vestiu a faixa presidencial

 Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

 Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock 

Desde 22 de julho de 2018, quando o extinto Partido Social Liberal (PSL) confirmou a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República nas eleições daquele ano, a velha imprensa decidiu mandar o jornalismo às favas. A fidelidade aos fatos, elemento basilar da atividade jornalística, deu lugar à militância política desenfreada. Esse ativismo nas redações, inédito na história brasileira, se tornaria implacável a partir de 1º de janeiro de 2019, quando o ex-capitão de Exército vestiu a faixa presidencial.

De lá para cá, os escândalos de festim “bombardearam” os jornais, as revistas e os programas de televisão. Bolsonaro foi responsabilizado, entre outras coisas, pelos efeitos da pandemia de covid-19, pela recessão econômica resultante da crise sanitária, pela destruição da Floresta Amazônica, pelos esquemas de corrupção que jamais existiram e pelos golpes imaginários à democracia. [sem esquecer que queriam o impeachment dele por suposta prevaricação em uma compra de vacinas que sequer foi efetuada.] A realidade, no entanto, absolveu o chefe do Executivo dessas acusações.

O “genocida negacionista”
Segundo o portal Our World in Data, o Brasil está na 19ª posição no ranking mundial de mortes proporcionais pelo coronavírus — 3,1 mil a cada 1 milhão de habitantes. 
Peru (6,4 mil a cada 1 milhão de habitantes), Bulgária (5,4 mil a cada 1 milhão de habitantes) e Bósnia e Herzegovina (4,9 mil a cada 1 milhão de habitantes) estão no topo da lista.

A política de vacinação do Ministério da Saúde, também alvo do consórcio de imprensa, obteve resultados satisfatórios. O Brasil é o quinto país que mais vacinou no mundo, em termos absolutos: quase 188 milhões de pessoas. Apenas Indonésia (204 milhões), Estados Unidos (263,8 milhões), Índia (1 bilhão) e China (1,3 bilhão) apresentam taxas superiores.

O Brasil também é o quinto país com a maior taxa da população com esquema vacinal completo (87%), à frente de Espanha, Itália, Japão, França, Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, México, Israel e Rússia. Uruguai (88%), China (91%), Vietnã (92%) e Chile (93%) lideram o ranking. Apesar de os números serem positivos, o chefe do Executivo é constantemente tachado de “genocida” e “negacionista”.

Em 15 de abril de 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) atribuiu aos Estados e aos municípios a responsabilidade de decretar medidas restritivas contra a disseminação do coronavírus. 
Em 11 de março, o Distrito Federal amparou-se na decisão do STF e estabeleceu políticas de distanciamento social. 
Por meio de um decreto, o governador Ibaneis Rocha (MDB) suspendeu as aulas da rede pública e privada por cinco dias. 
Na semana seguinte, todas as atividades de atendimento ao público foram paralisadas.
Restaurantes, bares, lojas, salões de beleza e cinema fecharam as portas. Esse seria o pontapé inicial da prática de confinamento da população brasileira e do estrangulamento da economia do país.

Os efeitos das medidas restritivas foram praticamente imediatos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE), em pesquisa divulgada em 16 de julho daquele ano, mais de 700 mil empresas faliram. Do total de negócios fechados temporária ou definitivamente, quatro em cada dez — um total de 522 mil empresas — disseram ao IBGE que a falência ocorreu em razão da pandemia de coronavírus.

A imprensa não só atribuiu ao presidente da República a responsabilidade pela mazela da pandemia, como também “patrocinou” a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, que, durante seis meses inteiros, não foi capaz de produzir uma única acusação que se sustentasse do ponto de vista judicial. O relatório definitivo da CPI, com mais de mil páginas, não teve solidez para incriminar ninguém.

O falso incendiário
Bolsonaro também foi responsabilizado por supostos retrocessos nas políticas de preservação ambiental
. A realidade, contudo, mostra que o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera com folga o ranking de queimadas na Floresta Amazônica. Entre 2003 e 2010, quando esteve na Presidência da República, o Brasil registrou 2,4 milhões de focos de fogo. Na média mensal, os números ultrapassam a marca de 25 mil.

Se o atual governo continuar com a média dos primeiros 44 meses, chegará ao fim do mandato registrando pouco mais de 780 mil queimadas. A média mensal de cerca de 16 mil prova que há menos focos de fogo na atual administração do que havia na época em que Lula dava as cartas no Planalto. Michel Temer (15,7 mil), Fernando Henrique Cardoso (14,6 mil) e Dilma Rousseff (14,4 mil) completam a lista.

A despeito das críticas infundadas, o Brasil apresenta uma expressiva diminuição no número de incêndios e queimadas em 2022. De 1º de janeiro a 15 de agosto, o país registrou 49,6 mil queimadas, contra quase 59 mil no mesmo período de 2021. Uma diminuição de 15%, enquanto no restante da América do Sul o aumento foi de 19%. Nos últimos dois anos, o país reduziu em torno 25% da incidência de incêndios e queimadas em seu território.

O “vilão” do desmatamento
Além de incendiar o Brasil, o presidente também é acusado de desmatá-lo como nunca antes na história deste país. Neste caso, os números também falam por si. Nos primeiros 36 meses do atual governo, a média mensal de desmatamento na Amazônia brasileira registrou a marca de 945 quilômetros quadrados. Esse número é inferior ao verificado nas gestões de Lula (média mensal de 1,3 mil) e FHC (1,6 mil). Dilma, que sofreu impeachment e não concluiu o segundo mandato, e Temer, sucessor da petista, apresentam resultados melhores: 444 e 610 quilômetros quadrados, respectivamente.

Em números absolutos, FHC é o recordista. Durante os oito anos de governo tucano, entre 1995 e 2002, 153 mil quilômetros quadrados foram desmatados no país. Essa área é equivalente aos territórios de Suíça, Bélgica, Holanda e Moldávia juntos. Na vice-liderança aparece o ex-presidente Lula: 125 mil quilômetros quadrados, de 2003 a 2010. Se tiver a oportunidade de concluir dois mandatos e permanecer com a média anual de hoje, Bolsonaro acabará com a medalha de bronze: 90,7 mil quilômetros quadrados.

O “Orçamento secreto”
Ao longo do primeiro mandato de Bolsonaro, o consórcio de imprensa buscou implacavelmente um escândalo de corrupção que pudesse ser equiparado ao Mensalão e ao Petrolão, do Partido dos Trabalhadores (PT). Houve diversas tentativas, até que uma delas fez sucesso entre os representantes da velha mídia: a existência de um “Orçamento secreto”. “É um esquema tão sofisticado que nem os próprios jornais conseguem comprovar os crimes”, escreve o jornalista Silvio Navarro, em reportagem publicada na Edição 125 da Revista Oeste.

É importante ressaltar que a peça orçamentária é manejada e aprovada pelo Congresso Nacional. Cabe ao Executivo enviar seu planejamento de despesas e arrecadação, mas o ajuste é realizado pelo Legislativo. E mais relevante: esses recursos são legais, previstos na legislação brasileira. “É prática recorrente dos governos atender a pleitos dos parlamentares para manter a fidelidade de sua base no Congresso”, explica Navarro. “Goste-se ou não do modelo, é algo que se chama articulação política. No governo Bolsonaro, passou a ser tratado pelo consórcio de imprensa como um escândalo de compra de apoio parlamentar.” Por não haver irregularidades nessa prática, a história do “Orçamento secreto” mantém-se relevante apenas para os políticos da oposição.

A novilíngua da imprensa
Depois de produzir as manchetes de festim da covid-19, das “catástrofes” ambientais e dos esquemas de corrupção que não existiram, a imprensa engajada partiu para o noticiário econômico.

O país reagiu de maneira consistente ao lockdown político de governadores, determinados a sangrar o governo federal. O fôlego da economia surpreendeu bancos e consultorias de investimentos, e, apesar dos prognósticos dos “especialistas”, não houve a anunciada recessão. Pelo contrário. O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve crescer mais de 3% neste ano, segundo o Bank of America.

E houve ainda mais avanços. O desemprego, por exemplo, recuou para 9%. O volume de empregos com carteira assinada está aumentandoapenas em julho, 218 mil vagas foram abertas. As contas públicas também estão em ordem: em 12 meses, encerrados em julho deste ano, o país acumulou superávit primário de R$ 230 bilhões o equivalente a 2,5% do PIB. Esses números mostram a resistência brasileira ante a inflação galopante, uma herança da pandemia e do conflito no Leste Europeu.

“É aí que começa o festival de conjunções adversativas que precede algo desagradável”, escrevem Branca Nunes e Silvio Navarro, em reportagem publicada na Edição 117 da Revista Oeste. Tornou-se quase impossível encontrar uma manchete sem “mas”, “porém”, “entretanto”. Surgiram aberrações como “despiora” da economia e a tristeza no semblante da apresentadora da CNN ao comunicar que, “infelizmente”, teria de trazer notícias positivas para a população brasileira.


(...)

O escritor e antropólogo Flávio Gordon acredita que a ideologia perverteu a prática jornalística. “Se antes, pela falta de termo de comparação, o público talvez não notasse os truques sujos e as manipulações perpetrados diariamente pela imprensa autoproclamada ‘profissional’, hoje ele percebe”, observou. “Quando a redação se torna uma bolha na qual o radicalismo ideológico de uns retroalimenta o dos colegas, o senso de cumprimento de uma missão política em vista de um mundo melhor sobrepuja qualquer preocupação com a prática jornalística tradicional, que, nessas condições, passa a ser vista até mesmo como reacionária.”

Crise de audiência
O resultado da militância nas redações não está surtindo efeito. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, a circulação de 15 jornais impressos caiu 7,7%. Em números absolutos, pouco mais de 430 mil exemplares foram colocados em circulação nesse período. Há sete anos, eram 1,3 milhão. O Super Notícia é a publicação de maior destaque — fechou o primeiro semestre com média de 7,5 mil exemplares. Mas registrou queda de 8,5%, em comparação com dezembro de 2021. A pior retração é da Folha, de 66,1 mil para 55 mil (-16%).

Tampouco as revistas impressas vão bem das pernas. Segundo o Instituto Verificador de Comunicação (IVC), a circulação sofreu uma queda de 28% ao longo de 2021. A Veja, por exemplo, já foi a terceira maior do mundo ao imprimir 1,2 milhão de exemplares. O tombo mais recente levou-a a perder 51 mil — e amargar, pela primeira vez desde o nascimento, uma tiragem que mal atinge a faixa dos 90 mil. Todas as revistas hoje lutam pela sobrevivência. Menos a Piauí, que não depende de leitores. Depende da herança do dono, o banqueiro João Moreira Salles. A bolada parece muito longe do fim. Tanto assim que, mesmo bancando os rombos mensais da revista, tem dinheiro de sobra para figurar na lista dos dez maiores doadores da campanha de Lula.

Os brasileiros escolheram no domingo 2 de outubro seu candidato à Presidência da República. A imprensa brasileira, por sua vez, decidiu em 1º de janeiro de 2019 que Bolsonaro não poderia ser o chefe do Executivo — a despeito da vontade popular. Nas eleições de 2022, os jornalistas militantes não só manifestaram suas preferências políticas, como também participaram da campanha. Como se ninguém estivesse vendo.

Leia também “Pandemia de intolerância”

Edilson Salgueiro, colunista - Revista Oeste