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segunda-feira, 26 de junho de 2023

Grandes Eleitores - O Globo

 Nos EUA, os eleitores são soberanos; no Brasil, soberanos são os juízes 
 

O plenário do TSE durante o julgamento de Bolsonaro

 O plenário do TSE durante o julgamento de Bolsonaro Evaristo Sá/AFP

Demétrio Magnoli  
 
Denunciado pela retenção ilegal de documentos sigilosos, Donald Trump pode ser condenado à prisão. 
Mesmo nessa hipótese, não perderá o direito de concorrer à Presidência. Jair Bolsonaro, que enfrenta julgamento no TSE sob acusações de ataques ao sistema eleitoral e às instituições democráticas, poderá se tornar inelegível, mas não corre risco de prisão. 
Nos Estados Unidos, os eleitores são soberanos; no Brasil, soberanos são os juízes. [Em nossa opinião, a soberania dos juízes, ocorre especialmente quando são ministros do STF ou TSE, situação em que muitas vezes uma decisão monocrática vale mais do que uma lei - sendo que tal lei foi aprovada no Congresso Nacional, por decisão da maioria dos representantes do povo que compõe as duas casas legislativas.] 
 
Um século atrás, em 1920, o líder socialista americano Eugene Debs, condenado por crime de sedição, concorreu à Presidência enquanto servia sentença numa penitenciária de Atlanta e recebeu 914 mil votos (3,4% do total)
Os Estados Unidos separam os domínios da Justiça e da política: o primeiro compete aos tribunais; o segundo, aos eleitores
Nada, nem mesmo a cadeia, anula os direitos políticos, que emanam da cidadania. 
 
No Brasil, cidadania é coisa secundária, incerta, precária. Daí que um tribunal especial, o TSE, tem a prerrogativa de decidir quem pode e quem não pode se candidatar a cargos eletivos. 
No fundo, os juízes operam com o poder de cassar a soberania popular. Os eleitores perdem o direito de votar nos candidatos de sua preferência.  
A tutela judicial dos eleitores ocorre sistematicamente nas disputas para cargos parlamentares. 
Desde 2018, transformou-se em fator decisivo nas eleições presidenciais.
Quem ocupará o Planalto? Perguntem, antes, aos Grandes Eleitores (os juízes), que dirão em quem os pequenos eleitores (o povo) podem votar. Bolsonaro chegou à Presidência numa eleição marcada pelo veto judicial à participação de Lula. [ [*] consequência de condenações recebidas pelo citado - o  petista foi preso por ter cometidos vários crimes, confirmados em várias sentenças condenatórias proferidas por 9 (nove) juízes distintos e confirmadas em três instâncias; tanto que o Supremo, em sua supremacia suprema não conseguiu inocentá-lo, apenas o descondenou. Depois, como os juízes mudaram de ideia, Lula retornou ao Planalto. Tudo indica que, em 2026, disputará a reeleição em pleito sem a presença de Bolsonaro, graças à decisão soberana dos juízes. 
 
O socialista Debs foi punido por conclamar à resistência contra o alistamento militar. Seus eleitores, porém, não foram punidos. Puderam exercer plenamente o direito de voto.  
No Brasil, entretanto, prefere-se punir os eleitores — os de Lula, [*] antes, e os de Bolsonaro, agora. Ao vetar candidaturas, sob o pretexto de punir indivíduos, os juízes cancelam direitos de vastas parcelas da sociedade. No fundo, é a democracia que vai para a cadeia.

A Lei Complementar nº 64, de 1990, elencou uma série de situações de inelegibilidade. Duas décadas depois, a Lei Complementar nº 135 (Lei da Ficha Limpa) adicionou dez outras situações capazes de barrar a candidatura de indivíduos condenados por um tribunal colegiado, mesmo em processos que admitem recurso. Voluntariamente, os políticos concederam aos juízes a tutela sobre os eleitores.

A prerrogativa judicial de configurar as disputas eleitorais, eliminando de antemão certos candidatos, conduz à politização do sistema de Justiça. Magistrados, em todas as instâncias, sabem que são Grandes Eleitores. Suas preferências partidárias ou ideológicas tendem a contaminar suas decisões em processos cujos réus são políticos. 

Na ponta oposta, cria-se mais um forte incentivo para que os políticos articulem a indicação de amigos leais a vagas nos tribunais superiores.

Atrás da legislação sobre inelegibilidade esconde-se um intercâmbio tácito. Eis a barganha: em troca da concessão aos juízes do poder de tutela sobre os eleitores, os políticos esperam ser poupados de punições criminais. 
As acusações contra Bolsonaro envolvem crimes gravíssimos, [???] puníveis com a prisão. Contudo parecem escassas as possibilidades de que o ex-presidente conclua sua carreira política na cela de uma penitenciária. No fim, ao que tudo indica, apenas seus eleitores serão sentenciados.

Num país viciado no jogo da polarização, princípios políticos perderam valor. A saga de Lula, impedido arbitrariamente de concorrer ao Planalto, nada ensinou ao Brasil — nem mesmo ao PT. Se, anos atrás, a direita bolsonarista celebrou a inelegibilidade de Lula, hoje a esquerda lulista prepara-se para celebrar a inelegibilidade de Bolsonaro. Nos dois lados, o que se comemora, de fato, é a cassação da soberania popular.

Demétrio Magnoli, colunista - O Globo 

 


sábado, 14 de janeiro de 2023

Um Ministério do Esporte contra as mulheres - Revista Oeste

Ana Paula Henkel

Alinhada com a agenda da esquerda, Ana Moser defende incluir atletas trans em disputas esportivas femininas 

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock 

O novo velho governo subiu a rampa. Junto com a nova velha administração, o velho DNA petista de dezenas e dezenas de ministérios, que durante os próximos quatro anos serão aparelhados por sanguessugas ideológicos e serão usados apenas como vitrine política e moeda de troca de favores em Brasília.

Como manda o conhecido manual petista de abocanhamento geral e irrestrito da política nacional, uma das primeiras medidas na volta à(s) cena(s) do(s) crime(s) foi ressuscitar o famigerado Ministério do Esporte, extinto por Michel Temer, em 2018 (Amém, irmãos! Pena que durou pouco). A pasta, que já teve os comunistas Aldo Rebelo e Orlando Silva como ministros, deixa a categoria de secretaria — enxuta, eficiente e focada nos problemas do esporte de base, como sempre deveria ter sido —, e volta para as maravilha$ de um oceano de oportunidade$ em quase 40 ministério$.

Muitos podem pensar que uma pasta só para o esporte pode ser uma boa notícia. A verdade é que o ressurgimento do Ministério do Esporte não traz boas lembranças, nem sequer alguma esperança de que a pasta não será usada como mais um dos tentáculos em esquemas obscuros de patrocínios e favores. Em praticamente todos os anos do ministério, os “projetos” montados pelos administradores deixavam sempre na última ponta da cascata de recursos exatamente quem mais importava: atletas, principalmente os que deveriam receber incentivo e apoio nas categorias de base, em que futuros talentos olímpicos podem ser moldados e verdadeiras revoluções sociais podem acontecer.

A boa notícia da velha pasta poderia ser que ela agora vem com um nome ligado ao esporte: a ex-atleta Ana Moser. Porém, a má notícia se materializa diante do fato de que a medalhista olímpica não é companheira, mas “cumpanhêra”. Ideologicamente, ela não é muito diferente dos comunistas que já gerenciaram a pasta. Mas, antes de prosseguir, eu preciso deixar alguns pontos claros em relação ao nome “Ana Moser”.

Muitos sabem que a minha história se entrelaça com a de Ana Moser nas páginas da inédita medalha olímpica do vôlei feminino de quadra em Atlanta, em 1996, evento que marcou uma geração de nomes e também de espectadores. A clássica semifinal contra Cuba é uma das partidas de vôlei mais vistas do YouTube. 
A rivalidade, a tensão, as discussões e a briga depois do jogo marcaram o esporte. 
Lembro-me de detalhes como se fosse hoje, mas isso eu deixarei para outro artigo. Havia alguns problemas pessoais no time, mas éramos extremamente unidas em quadra, e o nível de comprometimento e profissionalismo que tínhamos coroou nossa geração com a histórica medalha de bronze em outro jogo dramático contra a Rússia.
Aquela Olimpíada marcava o fim da carreira de algumas jogadoras, como Ida, Márcia Fu, Ana Flávia e Ana Moser. Depois de amargarmos um quarto lugar em Barcelona, em 1992, até Atlanta e a nossa medalha olímpica, foram muitos altos e baixos vividos individualmente e também em equipe: contusões, viagens, dramas, lágrimas, frustrações, brigas, tréguas, experiências e algumas importantes vitórias ao longo do caminho, como o vice-campeonato no Mundial de 1994, em São Paulo. Há certos momentos na vida de atletas de alta performance que são eternizados. 
 
(...)
 
Eu ainda acredito que é possível conviver muito bem com pessoas que têm visões diferentes para o mundo, seja em políticas sociais ou econômicas em qualquer governo. Apoiar candidatos que estejam mais à esquerda no espectro político é uma questão pessoal e justa. 
O problema, para mim, começa quando se apoia um condenado em três instâncias por corrupção, e, depois de tudo que o Mensalão e o Petrolão mostraram ao Brasil e ao mundo sobre do que Partido dos Trabalhadores é capaz, é difícil entender quem ainda faz o tal do “L”.

Para piorar, não basta apoiar aquele que “queria voltar à cena do crime”, como disse Geraldo Alckmin, agora vamos trocar um governo com pastas técnicas por um governo puramente ideológico — e a pasta do esporte já mostra que não será diferente. A nova ministra já defendeu incluir atletas trans em disputas esportivas e declarou que é preciso observar os “avanços que a ciência faz em torno do tema”. Posso imaginar a “ciência”. Provavelmente, é a mesma de quem apoiou o lockdown durante a pandemia. Ouvir da boca de uma ex-atleta feminina, que conhece todos os parâmetros e as obviedades da biologia humana como poucos, que passou por todas as etapas da (justa!) polícia médica para controle de dopagem durante anos, que SABE das vantagens genéticas de um corpo masculino no esporte e nem sequer mencionar que nesse assunto é preciso proteger as mulheres… É estarrecedor.

(...)

Exclusão de meninas

Caros amigos, vou me estender um pouco e por boas razões. A primeira delas é porque essa pauta ser preciosa demais para mim. Meninas com potenciais atléticos para bolsas em universidades estão perdendo seus direitos para que haja acomodação a uma agenda nefasta de ideologia de gênero. Quero deixar aqui, de forma bem didática e organizada, alguns pontos vitais para uma discussão madura e coerente, e sem a palavra “inclusão”, fantasiada de bondade e sem embasamento científico. Esse assunto é sobre EXCLUSÃO de meninas e mulheres que, além de toda a incontestabilidade da biologia humana, foram colocadas em uma espiral de silêncio e são ameaçadas de cancelamento se ousarem tentar proteger o esporte feminino.

Talvez a nova ministra precise refrescar a memória e, quem sabe, a proteção às meninas e às mulheres no esporte feminino será contemplada no velho novo Ministério do Esporte. Em qualquer debate sobre o assunto, precisamos levar em conta alguns pontos:

— Em 2016, o Comitê Olímpico Internacional (COI) estabeleceu novas regras para permitir que transexuais disputem em esportes femininos se sua testosterona estiver abaixo de 10 nanomoles por litro (nmol/L) por 12 meses — a cirurgia de redesignação sexual não é mais necessária;

— O nível permitido de testosterona para atletas trans ainda é extremamente alto para os padrões femininos — a média é de 2,6 nmol/L para mulheres (contra 10nmol/L para trans). Em outras palavras, o sistema já possui uma latitude excessiva incorporada — tanta latitude que, mesmo após a terapia de supressão hormonal, as atletas transgênero ainda podem estar na faixa masculina normal e mesmo assim “aptas” para a competição feminina;

Não existe regra no Comitê Olímpico Internacional, apenas uma recomendação baseada em apenas um único artigo da médica Joanna Harper, também transexual, e feito apenas com corredoras de longa distância;

— Não existem estudos comparativos a longo prazo para esta recomendação e que comprovem que não há diferença entre mulheres e atletas transexuais depois da terapia hormonal. É exatamente isso que mais de 60 atletas olímpicas pediram em um documento oficial ao COI: estudos a longo prazo sejam conduzidos de maneira séria para que as mulheres não sejam prejudicadas;

Homens têm corações e pulmões maiores, ou seja, maior capacidade cardiorrespiratória, melhor oxigenação sanguínea devido à grande produção de glóbulos vermelhos, fibras mais rápidas e densidade óssea superior. 
Há reversão de tudo isso com um ano de terapia hormonal? 
Não existe nenhuma pesquisa capaz de comprovar que a supressão hormonal neste período possa reverter todas as características físicas superiores da genética masculina depois de ultrapassar 20 ou 30 anos de exposição a altas doses de testosterona;

— Antidoping: o material colhido no passado para testes de todos os atletas continua guardado por dez anos (B sample ou contraprova) e pode ser novamente acessado e testado. Uma nova medição que constate níveis incompatíveis de testosterona num corpo feminino pode retirar títulos retroativamente, conquistas de anos ou décadas anteriores. Esse nível de rigor foi totalmente abandonado para acomodar transexuais, que até pouco tempo eram homens, alguns deles tendo competido profissionalmente como homens.

A politização radical do esporte, que tento combater em artigos, palestras e entrevistas no questionamento da injustificável incorporação de atletas transexuais no esporte feminino, homens biológicos com genética e estrutura física de homens, continua na sua agenda de desfigurar o que deveria ser o terreno do congraçamento

Guilhotina da patrulha ideológica
Martina Navratilova, tenista campeã, homossexual e ativista dos direitos gays de longa data, declarou em uma entrevista (e foi guilhotinada pela turba da “tolerância”): “É insano e trapaceiro. Fico feliz em me dirigir a uma mulher trans da forma que ela preferir, mas não ficaria feliz em competir com ela. Não seria justo. Para colocar o argumento em sua forma mais básica: um homem pode decidir ser mulher, tomar hormônios se exigido por qualquer organização esportiva, ganhar tudo e talvez amealhar uma pequena fortuna, e depois reverter sua decisão e voltar a fazer bebês se ele assim o desejar”. A ex-técnica de Navratilova, Renée Richards, uma mulher transexual desde os anos 1970, também é categoricamente contra a permissão de homens biológicos competindo com mulheres.

Vejam esses dados comparativos da Federação Americana de Atletismo, que mostram que nenhuma atleta feminina que participou dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, se classificaria paras as finais do Campeonato Estudantil Americano do Ensino Médio (garotos até 18 anos):

  1. Com base unicamente em seu desempenho nas Finais Olímpicas, para os 100, 200, 400 e 800 metros, NENHUMA das mulheres se qualificaria para competir no evento nacional do Ensino Médio Masculino (garotos até 18 anos);
  2. O melhor tempo feminino nos 400 metros livre nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, um recorde mundial, seria batido por três meninos, com idades 18, 16 e 16 anos;
  3. Para os 800 metros livre na mesma Olimpíada, o recorde mundial feminino seria batido por dois meninos, de 16 e 17 anos.

Essas tabelas lembram a nossa preparação para as Olimpíadas de Atlanta, em 1996, quando ganhamos nossa medalha de bronze. Era comum e fazia parte de nossos treinamentos jogar contra homens, garotos de 16, 17, 18 anos. Nossa faixa etária estava entre 25 e 30 anos e era praticamente impossível vencê-los. Não era raro também ver o Bernardinho, nosso técnico, pedindo para que os rapazes diminuíssem a força para não nos machucar. O mais curioso é que a nova ministra do Esporte, com toda a sua pompa sobre “ciência”, era uma das jogadoras dessa época e sabe mais do que ninguém o que a identidade biológica significa no esporte.

Repito: o debate honesto sobre esse assunto não pode ser embasado na identidade social de um indivíduo, que, obviamente, deve sempre ser respeitada. Como as pessoas decidem viver suas vidas é uma questão de foro privado. Mas decisões sociais e particulares não criam direitos automáticos e imaginários. O combate ao preconceito contra transexuais e homossexuais é uma discussão justa e pertinente. A inclusão de pessoas transexuais na sociedade deve ser respeitada, mas incluir homens nascidos e construídos com testosterona, com altura, força e capacidade aeróbica de homens, sai da esfera da tolerância e constrange, humilha e exclui mulheres. Esse assunto é exclusivamente sobre a clara exclusão de meninas e mulheres no esporte feminino, é sobre ciência e sobre identidade biológica, pilar sagrado e justo nos esportes. Esse assunto é sobre honestidade.

Ex-jogadora de vôlei Ana Moser assumiu o comando do Ministério 
do Esporte | Foto: Júlio Dutra/MDS
(...)

Há uma frase atribuída a Voltaire que diz que quem pode fazer você acreditar em absurdos pode fazer você cometer atrocidades. Um homem não pode se tornar uma mulher diminuindo sua testosterona. E os direitos das mulheres não devem terminar onde os sentimentos de alguns começam.

Leia também “Uma agressão às mulheres”

CLIQUE AQUI, PARA MATÉRIA INTEGRAL 

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


sábado, 15 de janeiro de 2022

Licença para matar - Revista Oeste

Gabriel de Arruda Castro

Um dos pontos de inflexão na taxa de homicídios nos Estados Unidos parece ter acontecido logo depois da morte de George Floyd durante uma abordagem policial desastrada 

 
Ilustração: Revista Oeste/Shutterstock

Eram 23h54 de um sábado, 4 de setembro de 2021, e o jovem João Pedro Elisei Marchezani, de 23 anos, estava no banco de trás de um Hyundai Sonata, ao lado da namorada. Ambos pegavam carona com um casal de amigos. De repente, João Pedro foi surpreendido por um homem que desceu de uma motocicleta e atirou em sua direção oito vezes. Um disparo atingiu a cabeça do rapaz. Seria mais uma vítima do crime no Brasil, não fosse por um detalhe: o brasileiro João Pedro estava em Chicago, a mais de 8 mil quilômetros de distância da terra natal.

João Pedro sobreviveu e agora tenta superar as graves sequelas do crime. Quatro meses depois, a polícia ainda não conseguiu prender o responsável pela tentativa de assassinato — nem entender completamente a motivação do ataque. A suspeita é que o autor dos disparos seja membro de uma gangue.

O episódio está longe de ser uma exceção
Estatisticamente, os moradores de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Cuiabá, Campo Grande e Belém estão mais seguros do que os de Chicago, Filadélfia, Atlanta, Washington e Detroit. Pelo menos quando o critério é a taxa de homicídios, algumas das maiores cidades dos Estados Unidos têm hoje uma situação muito pior do que as de muitas metrópoles brasileiras.

Em tensão com a Otan, Rússia não descarta enviar militares a Cuba e Venezuela'Depende das ações de nossos colegas americanos', disse o vice-chanceler da Rússia, Sergei Ryabkov

Embora diversas cidades americanas já viessem sendo afetadas por um crescimento da violência, de 2020 para cá houve um aumento agudo e generalizado. Foi o maior salto no índice de homicídios em quase 60 anos, segundo o FBI. Um crescimento de 29%, na comparação com 2019. Ao que tudo indica, 2021 foi ainda pior. Nos últimos três anos, o aumento foi de 28% em Chicago, 52% em Nova Iorque, 52% em Los Angeles, 58% na Filadélfia, 64% em Atlanta e 71% em Houston. Em Mineápolis, o total de pessoas assassinadas dobrou em apenas dois anos.

Em comum, as cidades da lista têm um governo comandado por membros do Partido Democrata, que recentemente adotou uma agenda hostil à polícia e abandonou métodos que, nas décadas anteriores, se haviam demonstrado eficazes no combate ao crime. Nos Estados Unidos, as polícias são comandadas pelo governo local (cidade e condado), ao contrário do Brasil, onde o governo estadual é o responsável. Com isso, mesmo em Estados mais conservadores, as grandes cidades por vezes adotam políticas chamadas de progressistas no campo da segurança pública. A “tolerância zero”, por exemplo, ficou no passado — superada por abordagens que priorizam a “justiça social” e o combate ao “racismo estrutural”.

A pressão da esquerda prejudicou a polícia
Um dos pontos de inflexão na taxa de homicídios nos Estados Unidos parece ter acontecido logo após um episódio trágico. Em 2020, depois da morte de George Floyd durante uma abordagem policial desastrada na cidade americana de Mineápolis, formou-se uma onda de protestos no país comandados por organizações como o Black Lives Matter, um grupo radical de esquerda. Dentre as pautas, estava a redução do orçamento das polícias e a adoção de novas regras para evitar o que, na visão deles, era uma política discriminatória contra os negros. Na maior parte das cidades, eles foram bem-sucedidos em suas reivindicações. Pressionadas, prefeituras e assembleias locais cederam: reduziram os fundos para a polícia (para aplicá-lo em “serviços sociais”) e aprovaram normas que incluem treinamentos sobre minorias étnicas e reduzem o poder do policial de abordar pessoas suspeitas sem um mandado. Em algumas cidades, como Denver, a polícia passou a ser impedida de atuar em escolas públicas.

A primeira da lista a cortar significativamente o orçamento da polícia foi Mineápolis. Também foi a primeira a recuar. Meses depois de eliminar US$ 8 milhões do valor previsto para a polícia local, o Conselho Municipal (equivalente à Câmara de Vereadores) decidiu enviar US$ 6,4 milhões para financiar a corporação. Em Nova Iorque, algo parecido aconteceu. Ainda assim, o recuo foi apenas parcial. As políticas progressistas continuam em vigor. E os resultados são evidentes.

Na avaliação de George Felipe Dantas, consultor em segurança e doutor pela Universidade George Washington, na capital americana, a pandemia se juntou a outros fatores para trazer uma “tempestade perfeita”. Mas as políticas públicas são uma parte importante da equação. “Sem nenhuma ideologia influenciando minha fala, os republicanos são conhecidos pelo endurecimento em questões de lei e ordem, e os democratas, muito sensíveis a esses grupos minoritários que têm uma voz desproporcional na política americana”, diz Dantas.

Quem é pego na Califórnia levando até US$ 950 em produtos precisa assinar um termo de responsabilização, mas não vai para a cadeia

Coincidência ou não, uma das poucas cidades a ter um bom resultado em 2021 é comandada por um republicano. Administrada por Francis Suarez, que resistiu à pressão de movimentos à esquerda, Miami contabilizou uma redução de 15% no número de homicídios, em comparação com 2021, apesar de ter registrado alta no ano anterior. Para Dantas, entretanto, a variação nos números pede cautela, já que é muito recente. “A gente precisa ver, no longo prazo, se esse não é um fenômeno sazonal ou algo temporário”, afirmou.

Combinação de fatores
Michael Parker, consultor de segurança e ex-comandante na Polícia de Los Angeles, explicou a Oeste que o salto na criminalidade desde 2020 se deve a uma conjunção de fatores. Com a pandemia, muitas cidades passaram a prender menos criminosos. Usando a justificativa de que as prisões não podiam abrigar mais presos devido aos protocolos sanitários, o equivalente local do Ministério Público passou a adotar posturas mais lenientes e parou de encarcerar alguns tipos de criminosos. Além disso, sob o mesmo pretexto, algumas das grandes cidades libertaram presos considerados de menor periculosidade antes do cumprimento da pena. Em Nova Iorque, 1.500 detentos (um em cada quatro) ganharam as ruas.

O aumento na criminalidade também tem causas mais profundas. Um número cada vez maior de pessoas (ao menos nas regiões ditas “progressistas”) parece acreditar que não prender criminosos é melhor do que alimentar um sistema que eles veem como discriminatório contra negros. Um exemplo é o que aconteceu na Califórnia. Em 2014, a população local aprovou, em referendo, uma regra que tornou muito mais brandas as penas para furto. Quem é pego levando até US$ 950 em produtos é conduzido à delegacia e precisa assinar um termo de responsabilização, mas não vai para a cadeia — independentemente de quantas vezes cometer o mesmo crime. “Alguns grupos de 20 ou 30 pessoas que vão juntos a uma loja, todo mundo furta o que consegue e vai embora, porque eles sabem que, se o valor ficar abaixo de US$ 950, é apenas uma contravenção”, diz Parker.

As restrições crescentes desmotivaram os próprios policiais, e um número cada vez maior deles tem decidido deixar a função para atuar na iniciativa privada. Para piorar, a obrigatoriedade da vacina aumentou a crise. Em Chicago, até que um juiz suspendesse a regra, cerca de um terço dos policiais havia se recusado a cumprir a exigência. Outros simplesmente se demitiram.

Tolerância zero
Lá se vão 28 anos desde que a prefeitura de Nova Iorque, então sob o comando do republicano Rudolph Giuliani, implementou um bem-sucedido programa de combate ao crime, que se tornou exemplo internacional. Baseado no princípio da “tolerância zero”, o modelo se baseava em um preceito simples: a tolerância com pequenos crimes aumenta a ocorrência de crimes graves. A partir de 1994, a taxa de homicídios da cidade caiu 80% em uma década.

Mas, conforme a militância mais radical à esquerda ganhava espaço, alguns dos pressupostos básicos foram contestados — e até mesmo derrubados por decisões judiciais. A política de stop and frisk (revistar pessoas que os policiais acreditavam estar em atitude suspeita) foi seriamente limitada. Agora, é preciso ter um indício palpável de que aquela pessoa está infringindo a lei. A pregação contra o “encarceramento em massa” também se tornou mais popular, e o rigor no combate a crimes considerados menores (como a pichação e o porte de drogas) também se desfez. “Os criminosos, os membros de gangues acham que tudo isso é uma grande piada”, diz Michael Parker. “Eles interpretam isso como uma autorização para cometer quantos crimes quiserem.” Talvez soe familiar ao leitor brasileiro.

Leia também “Uma eleição para muitos anos”

 Gabriel de Arruda Castro, colunista - Revista Oeste

 

quinta-feira, 22 de julho de 2021

E as cubanas? Revista Oeste - E o voleibol feminino, semifinal Olímpica em 1996. Alguém Esqueceu?

Manifestação contra a ditadura cubana
Manifestação contra a ditadura cubana

Durante o último fim de semana, milhares de cubanos se uniram e foram para as ruas do país gritar “Liberdade!”, protestar contra o regime comunista da ilha e expor as terríveis condições de pobreza que acompanham a vida sob uma ditadura, situação que só piorou com a pandemia.

Na era digital em que vivemos, não demorou muito para que centenas de vídeos dos protestos tomassem conta da internet e corressem o mundo. À medida que a indignação reprimida contra o regime autoritário se espalhava por cidades como Havana, as autoridades cubanas se apressaram em bloquear a internet, rotular qualquer mensagem antigovernamental de desinformação” e reprimir os dissidentes que poderiam manchar ainda mais a imagem do país. Em discurso transmitido pelos canais estatais, o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, disse que “a ordem de combate havia sido dada”. Apelando para aqueles que apoiam o regime, acrescentou: “Os revolucionários têm de estar nas ruas”. Centenas de pessoas já foram presas e há relatos de fotógrafos e jornalistas entre essas prisões.

Em 1959, o governo de Cuba foi derrubado por Fidel Castro. Nas últimas seis décadas, o país operou sob a política comunista e experimentou estagnação econômica, pobreza, fome e uma miríade de outros obstáculos sociais. Quase 100% da economia cubana é controlada por seu governo. A escassez de recursos, as condições de vida horríveis e o governo opressor atormentam essa outrora bela nação.

Apesar de ainda testemunharmos, incrédulos, políticos brasileiros de mãos dadas com esses regimes totalitários e as constantes tentativas de distorcer o que realmente acontece em Cuba, a verdade é que os cidadãos cubanos não têm acesso ao necessário para alimentar a família. Muitos correm para os mercados quando as portas são abertas apenas para descobrir que não há frutas frescas, carnes ou vegetais em estoque. Os alimentos são racionados e fornecidos aos estabelecimentos pelo governo. O socialismo diminuiu tanto o padrão de vida em Cuba que cidades inteiras estão em ruínas. Cidadãos vivem no que antes eram belas mansões e edifícios que caíram no completo abandono porque não há fundos privados para mantê-los. Para muitos, essa é uma ilustração assustadora da prosperidade de uma Cuba há muito desaparecida, destruída em uma única geração pelo comunismo e pelo socialismo.

Cuba tem um espaço único e especial na minha história e para o vôlei feminino no Brasil. Convivemos durante muitos anos com as jogadoras da seleção cubana de vôlei. Para mim, o melhor time de toda a história. Claro que sempre competimos para vencer, os clássicos jogos contra Cuba se tornaram parte importante da minha carreira e até hoje sou abordada por pessoas que relatam suas madrugadas em frente à TV assistindo àqueles históricos embates. Vencemos algumas partidas, elas outras, as brigas se tornaram marca registrada dos encontros, mas jamais deixamos o lado humano da realidade cubana fora da equação.

Quem participa do debate público nas redes sociais sabe que parte do tempo é gasta lidando com gente que, muitas vezes escondida pelo anonimato de perfil falso, xinga, grita, ofende e até tenta intimidar. No meu caso, é raro passar alguns dias sem ler “e as cubanas?”, como se lembrar aquela semifinal olímpica em 1996, jogo que abriu caminho para a histórica medalha de bronze em Atlanta, fosse motivo de constrangimento e não de orgulho para qualquer atleta daquela geração. Adoraria ter conquistado o ouro em 1996, mas não tenho do que reclamar. Minha carreira como atleta superou os sonhos mais inimagináveis. Tenho uma vida com boas realizações e planos futuros de trabalho entre Brasil e EUA. Tenho muito a agradecer. E uma das sortes que tive, com certeza, foi não ter nascido refém da ditadura cubana.

Todos esses pensamentos, emoções e lembranças vieram à tona nesta semana diante de tantas imagens de corajosos jovens em Cuba desafiando o sistema. Cubanos são especiais, gente bonita e de fibra. Em janeiro de 2020, tive o prazer de conhecer mais um casal da ilha em um dia muito especial, quando participei da famosa e emocionante Marcha pela Vida (March for Life) em Washington. Ali, no meio da multidão que fica concentrada durante horas à espera do momento de caminhar até a Suprema Corte, esbarrei com um casal de médicos cubanos que conseguiu asilo na capital norte-americana. Com meu perfeito “portunhol”, conversamos sobre Brasil, Cuba, voleibol, governos, Fidel, Trump (ele ainda estava na Casa Branca) e até sobre o programa Mais Médicos.

Na época, contei que o presidente Jair Bolsonaro havia condicionado a continuação do programa a um teste de validação pelo qual os agentes de saúde cubanos teriam de passar, o mesmo que brasileiros formados no exterior precisam fazer para exercer a profissão, e que eles poderiam levar a família para o Brasil e ficar com seus salários, mas que Cuba não aceitou. Meus amigos dentro da Marcha pela Vida não ficaram surpresos. Contei também sobre grande parte da imprensa brasileira, outrora importante e factual; e sobre os políticos e artistas abobalhados que empurram diariamente a falácia de que o Brasil está caminhando para virar uma “ditadura”, mesmo com o atual governo não querendo ser sócio nem patrocinador de uma ditadura de verdade como foi o governo petista.

Então, ouvi do casal cubano exilado em Washington o que todos os que participam do debate honesto sabem sobre o real retrato de Cuba: que o socialismo agride, física e mentalmente, aqueles que são devorados pelas sanhas de apreciadores de regimes totalitários. A realidade para esse povo sofrido não é o que os desmiolados socialistas do Leblon com camisas do Che Guevara defendem no Instagram nos posts das viagens a Fernando de Noronha, ou mesmo para Miami, para comprar o “enxoval do bebê”.

Alguns atletas cubanos se dedicam intensamente à carreira para ter uma chance de sair do país e não voltar

Portanto, quando recebo mensagens agressivas nas redes, em desnecessário e mesquinho tom de deboche, “E as cubanas?”, eu só espero, do fundo do meu coração, que elas estejam bem.

Leia também “Deixem os Jogos Olímpicos em paz”

Ana Paula Henkel, colunista  - Revista Oeste - leia MATÉRIA COMPLETA


domingo, 4 de julho de 2021

Deixem os Jogos Olímpicos em paz - @AnaPaulaVolei - Revista Oeste

Gwen Berry, esportista norte-americana
Gwen Berry, esportista norte-americana [o consenso é que ela deveria ser proibida de representar os Estados Unidos da América nos Jogos Olímpicos]
 
Desde os meus 8 anos, idade da primeira experiência com o sentimento olímpico, quando assisti à Olimpíada de 1980, pus na cabeça que um dia eu representaria o Brasil nos Jogos Olímpicos. A cerimônia de despedida em Moscou, com o inesquecível ursinho Misha chorando numa coreografia feita pelo próprio público nas arquibancadas, foi apenas o começo de um longo namoro e casamento com o esporte.

Décadas se passaram, a Olimpíada de Los Angeles, em 1984, nos deu a geração de prata no vôlei masculino num jogo inesquecível, exatamente contra os donos da casa. Veio Seul, em 1988, e nossa seleção feminina começou a ganhar traços de protagonismo. Barcelona, em 1992, foi a minha primeira Olimpíada e até hoje não sei explicar o que senti no desfile de abertura no maravilhoso estádio olímpico em Montjuïc, onde vimos a pira olímpica ser acendida com uma flecha de fogo. Então chegou 1996, e Atlanta nos colocou na história com a primeira medalha olímpica para o vôlei feminino. Ali, na encruzilhada entre aposentar e continuar, ainda consegui esticar até Atenas, em 2004, e Pequim, em 2008.

E por que essa volta olímpica (com o trocadilho mesmo)? Porque, por mais que um atleta olímpico apaixonado pelo seu esporte e pelo seu país enumere quantas vezes participou de uma Olimpíada, todas são únicas. A idade pode trazer certa maturidade técnica, mas o frio na barriga, o dia que aquela mala de uniformes com a bandeira do Brasil chega à sua casa, o orgulho que é andar pela Vila Olímpica com a nossa bandeira estampada… ouvir nosso hino… tudo isso, por mais experiente que você seja, é único e traz — sempre — a sensação de “primeira vez”. Depois do nascimento do meu filho, ainda não encontrei nenhum sentimento parecido com o de estar no pódio e ouvir nosso hino.

Nessas andanças pelo mundo durante quase 25 anos no esporte, conheci muita gente, fiz bons amigos e mergulhei em outras culturas. Cada uma com sua característica. Mas ali, nos Jogos, por mais apaixonado que você seja pela Itália, pela Grécia ou pelos Estados Unidos, o sentimento de amor profundo pelo seu país — com todos os defeitos que ele tem — é insuperável. E isso não é só do brasileiro, é geral. É como se estivéssemos numa guerra sem violência, sem armas, sem animosidade, mas todos de prontidão em seus exércitos para defender seu país.

Um dos pontos marcantes nesses anos de estrada no esporte sempre foi o orgulho que os norte-americanos tinham por sua pátria, sua bandeira, seu hino. Vê-los orgulhosos de seus símbolos me fez mais brasileira, acredite. Também queria que todos, e principalmente eles, vissem o meu orgulho pelo Brasil. O orgulho mostrado por aqueles ianques era incômodo, bonito, irritante, hipnotizador. Mas foi apenas quando me mudei para os Estados Unidos que pude entender o que era aquilo. Estudei profundamente a história norte-americana e ficou claro. Nada veio fácil para os norte-americanos. Tudo foi construído com trabalho, vidas, guerras, lutas, conflitos e muito sangue derramado. Até uma guerra civil houve, quando uma parte do país disse não à imoralidade da escravidão. É, até hoje, a guerra que mais tirou vidas norte-americanas.

Foi assim que pude entender que o respeito que tinham por mim, ou por qualquer um que chega a este país e trabalha duro, conectava-se com o orgulho que sinto pelo meu país de origem, minha medalha olímpica e minha trajetória de anos de muito trabalho até ela. Mesmo nesse clima de alta competição, o esporte — em especial durante os Jogos Olímpicos — sempre foi um campo no qual diferenças são abandonadas. Qualquer desavença política ou religiosa era tratada como um figurante, que mal aparece num filme bom. Roteiro que, de quatro em quatro anos, deixa histórias de superação e enredos dramáticos de derrotas e vitórias espetaculares. Inimigos geopolíticos dão ao mundo esperança de paz durante aquelas duas semanas de “trégua”. Mas o que mudou? Infelizmente, algo vem atingindo a alma olímpica, o espírito de que o orgulho que pode levar a tantas guerras também pode semear a paz. E isso vem sendo demonstrado da maneira mais estúpida possível.

Com todos os ingredientes de uma nação próspera próspera porque é livre —, vivendo no país mais democrático do mundo e com riquezas em abundância, é difícil entender o ódio que muitos desta geração afetada têm aos Estados Unidos. A América não é perfeita, nenhuma nação é, mas é livre, é democrática, é viva, é rica em recursos para o real progresso do indivíduo.

Depois de um ciclo político que trouxe a banalização da história e suas palavras, a ressaca desse movimento é a politização de tudo. O esporte já dava sinais de que não iria escapar à “idiotização” política, com frases repetidas como as de papagaios e atletas de importantes campeonatos como a NBA ajoelhando-se literalmente — para a palhaçada do politicamente correto, e para os sequestradores de almas que precisam entrar em algum balaio coletivista. Agora, essa nova repulsa parece chegar à esfera olímpica.

Depois de vermos atletas da NBA e NFL ajoelhando-se durante o hino nacional norte-americano (e testemunharmos as respectivas audiências despencarem), e empurrando a ideia desmiolada a outros países, atletas que participarão da Olimpíada de Tóquio, que se inicia em 23 de julho, começam a mostrar que os protestos políticos podem chegar aos campos e arenas no Japão. O Comitê Olímpico Internacional atualizou suas diretrizes para os Jogos, e as recomendações sobre a Regra 50 do COI, totalmente endossadas pelo Conselho Executivo da instituição juntamente com a Comissão de Atletas, afirmam que “nenhum tipo de manifestação ou propaganda política, religiosa ou racial será permitida em quaisquer locais ou outras áreas olímpicas”. O COI promete punição a quem infringir essa regra. A ver.

Gwen Berry entrou para a equipe olímpica norte-americana no arremesso de martelo. Depois de terminar em terceiro no último fim de semana, atrás de DeAnna Price e Brooke Anderson, ela atraiu a atenção de todos ao virar de costas para a bandeira norte-americana durante a execução do hino nacional. Ela então colocou sobre a cabeça uma camiseta com os dizeres “atleta ativista” enquanto era tocado The Star-Spangled Banner. Em meio ao escrutínio público e comentários de que Gwen não deveria representar os EUA nos Jogos, ela declarou: “O hino não me representa. Nunca representou. Meu propósito e minha missão são maiores do que o esporte. Estou aqui para representar aqueles que morreram devido ao racismo sistêmico”. O racismo é uma pauta justa na sociedade. Mas o racismo real, não o “racismo sistêmico” que atletas negros milionários acham que existe, “enraizado” em todo homem branco na América. América esta tão racista que colocou um presidente negro na Casa Branca por oito anos.

Gwen Berry atraiu a atenção de todos após virar as costas à bandeira norte-americana durante o hino nacional [ensinaram para a atleta alguns slogans,dizendo serem anti racistas, e a Gwen Berry, estupidamente ou por desconhecimento, deu as costas a um dos "Simbolos" de sua Pátria = o que tornou indigna de representar os Estados Unidos.]

Vários legisladores democratas e republicanos, assim como veteranos militares, pediram que Gwen fosse removida da equipe olímpica, citando que o único propósito de um atleta olímpico é representar seu país. A alegação dos veteranos de guerra é que, se Berry está tão envergonhada da América, então não há motivo para ela competir pelo país. Apesar de alguns confetes da mídia militante, a atleta também recebeu fortes críticas de atletas negros, como o ex-jogador da NFL Jack Brewer: “Só penso como é crescer como uma criança na escola, quando você ouve o hino nacional, o sentimento que ele dá em você e o respeito que você tem. A bandeira não deve representar a perfeição, mas a bandeira é a família — a família norte-americana —, o país que compartilhamos. Todos estão tentando trabalhar pelo mesmo objetivo. Isso é que seu país representa. É como entrar em sua casa e dar um tapa na sua mãe. Isso não faz sentido. Eu não entendo”. [nos tempos em que o Patriotismo era incentivado, todas as escolas colocavam seus alunos em formas para o hasteamento da BANDEIRA NACIONAL e a execução do HINO NACIONAL.

Tais valores precisam voltar a ser cultuados e se reparar os males que a maldita esquerda fez ao Brasil quando governava, Seus adeptos e fantoches querem voltar, imaginam que o desamor que ensinaram aos nossos jovens prevaleceram e que agora não perderão, perderam em 35, em 64, 68 e voltarão a perder, tão logo tentem dominar o Brasil.

O amor a Pátria, ainda que dos brasileiros mal ensinados por professores que cultuam a traição a Pátria como uma virtude, ressurge e sufoca os que querem nos dominar.

DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA E LIBERDADE;

BRASIL, ACIMA DE TODOS; 

DEUS, ACIMA DE TUDO.]

Faço uma distinção óbvia entre o direito de qualquer esportista de se manifestar politicamente, o que todos podem (sou a primeira a apoiar), e a invasão de agendas político-partidárias em competições esportivas, dividindo um espaço reservado para a união de atletas, torcedores, culturas, povos e nações. Tenho certeza de que o saudoso Barão de Coubertin, pai dos Jogos Olímpicos da era moderna, se revira no túmulo toda vez que o espírito olímpico e esportivo é sequestrado por políticos oportunistas, dirigentes esportivos e atletas desmioladosmuitas vezes podres de ricos , induzidos ou mal informados, que usam as competições, um território pacificador, como arma puramente política.

Pela imensa força e capacidade do esporte de propagar mensagens, competições e atletas não ficam imunes de ser usados como veículos para pautas políticas e ideológicas. Tem lá sua ironia uma ex-esportista que agora estuda e escreve sobre ciência ser contrária à politização do esporte. Mas acredite: separar esporte e política é tão importante quanto separar Estado e igreja ou governo e economia. Preservar um dos últimos territórios de real e profunda congregação — sem politização — é preservar as boas sementes para um futuro que germinará o diálogo. Deixem os Jogos Olímpicos em paz.

Leia também “A fraqueza explícita diante dos adversários”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Bancos americanos negam empréstimos para negros e latinos, mesmo contra a lei

Bancos americanos negaram mais empréstimos a negros do que a brancos para a compra da casa própria 

Manifestações violentas de grupos de extrema-direita e de supremacistas brancos em cidades como Charlottesville, na Virgínia, no ano passado, levaram a Organização das Nações Unidas (ONU) a fazer um alerta sobre o recrudescimento de uma onda de racismo nos Estados Unidos. Nas ruas isso pode ser visível. Mas as formas invisíveis são tão danosas quanto. Divulgada na semana passada, uma investigação dos jornalistas Aaron Glantz e Emmanuel Martinez na Reveal, uma publicação do The Center for Investigative Reporting, organização de jornalismo investigativo sem fins lucrativos, expôs o racismo em sua face financeira. Um levantamento feito com dados de 2015 e 2016, ainda durante o governo do presidente Barack Obama, mostra que negros e latinos recebiam mais respostas negativas do que brancos em pedidos de empréstimos feitos a bancos para compra da casa própria pelo sistema de hipoteca. Nessa modalidade, o imóvel é dado como garantia do empréstimo, o que reduz o risco de calote.




NÃO, DESCULPE
Fachada do banco Santander, em Filadélfia. Após meses, o banco negou empréstimo a Rachelle Faroul, negra, por uma conta de luz não paga (Foto: Sarah Blesener Para Reveal From The Center For Investigative Reporting)



Quando tentou novamente, um ano depois, desta vez no Santander Bank, de Boston, o processo de Faroul se arrastou por meses, sempre com pedidos de novas informações do banco. Foi então que apareceu no relatório de análise uma conta de luz não paga de US$ 284. Era de um apartamento em que ela não vivia mais. Faroul pagou a conta imediatamente, mas o banco disse que não poderia avançar.

HUMILHAÇÃO
Rachelle Faroul tem emprego e boa pontuação de crédito. Segundo a investigação, a instituição que negou seu pedido fez 90% de seus empréstimos a brancos (Foto: Sarah Blesener Para Reveal From The Center For Investigative Reporting)


A investigação baseou-se em 31 milhões de registros da The Home Mortgage Disclosure Act, lei federal que obriga os bancos a tornar públicas informações sobre empréstimos imobiliários.  

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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Vôlei: lamentavel, China para o trem do Brasil

Time de Lang Ping derrota a seleção brasileira até então invicta da Olimpíada e fará semifinal contra estreante Holanda; Zé Roberto não comentou sobre sua permanência como treinador

O sonho do tricampeonato olímpico da seleção brasileira feminina de vôlei virou pesadelo. Na noite desta terça-feira, o Brasil perdeu para a China por 3 a 2 (25/15, 23/25, 22/25, 25/22 e 13/15), após campanha em que sequer havia perdido sets. Essa seria a sétima vez seguida que a seleção avançaria às semifinais. O Brasil termina o Rio-2016 na quinta colocação, a pior campanha desde Seul-1988, há 28 anos.

— Vejo uma coisa mais pontual, foi o jogo mesmo. Num geral, elas foram melhores. E hoje foi um dia negativo para a maior parte da delegação brasileira. Handebol, futebol, polo, a Larissa (vôlei de praia). A gente fica triste em ver que está todo mundo sofrendo. Todo mundo torce por todo mundo, mas não pode influenciar (os outros resultados) e não foi o caso — disse o técnico Zé Roberto, que ao final da partida, foi consolar o neto Felipe, de seis anos, que estava chorando na arquibancada. — Quando ele chegou chorando lá, lógico que aperta mais o coração. Mas o avô tem que ficar firme. O que expliquei para ele foi que isso faz parte da vida, um dia a gente ganha, no outro a gente perde. Que ele tem de aprender isso também, que o outro time jogou melhor e mereceu. O mais bonito, disse a ele, era a festa que todo mundo estava fazendo. A gente só tem que agradecer de estar aqui com todo mundo, uma emoção enorme, e a gente precisa treinar mais para ganhar.

Quem viu o primeiro set, em que as chinesas fizeram apenas 15 pontos, não entendeu como o jogo virou a favor das rivais. As brasileiras erraram demais e deixaram de forçar os saque. As chinesas, por sua vez, acreditaram no jogo e não deixaram a bola cair. O passe do Barsil não foi tão efetivo como o passae chinês, que isolou Ting Zhu aparenas para pontuar. Ela marcou 28 pontos e foi o destaque do jogo.

A China enfrenta, nesta quinta-feira, às 22h15, a Holanda que venceu a Coreia por 3 a 1 (25/19, 25/14, 23/25 e 25/20). A outra semifinal será entre Sérvia e EUA, às 13 horas. As sérvias derrotaram a Rússia por 3 a 0 (25/9, 25/22 e 25/21) e as americanas ganharam do Japão por 3 a 0 (25/16, 25/23 e 25/22). 

As quatro seleções da chave A, a mesma do Brasil, foram eliminadas nas quartas de final. Para Zé Roberto, o fato da chave ter sido a mais fraca não foi o motivo das eliminações. Segundo ele, a questão foram os confrontos. 

Ao final da partida, ele disse que agradeceria suas jogadoras pelo trabalho do ciclo olímpico inteiro.— Eu vou agradecer por todo o trabalho que elas fizeram. Não pode se jogar no lixo uma história linda que elas têm dentro do esporte no Brasil — comentou o treinador, que também agradeceu a torcida que valorizou o empenho de suas atletas. — O povo brasileiro valoriza o esforço, quando vê que o time corre e se dedica. Isso sempre se valorizou. As pessoas aplaudem e isso é gratificante. Nós estamos vivendo um clima na Olimpíada com o povo valorizando o desempenho dos atletas mesmo na prata ou no bronze.

ESTREANTES
Essa é a primeira vez que a Holanda, 11.ª do ranking mundial, e a Sérvia, sexta, chegam à zona de medalha na Olimpíada. Já a China, chega pela sexta vez na disputa das semifinais. Foi campeã em Atenas-2004 e Los Angeles-1984. E tem prata em Atlanta-1996, bronze em Pequim-2008 e Seul-1988.

A melhor colocação da Holanda foi um quinto lugar em Atlanta-1996 (foi sexto em Barcelona-1992). Já a Sérvia ficou em quinto lugar em Pequim-2008 (e 11.º em Londres-2012).
Perguntado se continuaria à frente da seleção, Zé Roberto disse que era cedo para falar.
— Sinceramente eu não sei. Tenho que conversar com as pessoas da Confederação, avaliar tudo o que aconteceu. Difícil dizer. Estou muito triste para falar alguma coisa de futuro. Minha família sempre apoiou, elas estão sempre junto, próximas, isso nunca foi nem será um empecilho

Fonte: O Globo
 

sexta-feira, 22 de julho de 2016

OLIMPíADAS 2016 > Munique 1972 A Olimpíada que ainda não terminou



Eu fui enviado pela revista ‘Placar’ para contar histórias e o número de medalhas conquistadas pelos brasileiros. E, de repente, me vi contando o número de mortos.” (Michel Laurence, jornalista esportivo falecido em 2014)

Em outubro de 2016, encerrados os Jogos Olímpicos do Rio (de 5 a 21 de agosto), uma solenidade marcará o engajamento da Alemanha e do Comitê Olímpico Internacional (COI) ao projeto memorial que insere os 11 desportistas israelenses (cinco atletas e seis treinadores) assassinados durante a Olimpíada de Munique, em 1972, no panteão histórico dos mártires olímpicos. A construção de 2,3 milhões de dólares está sendo erguida entre a Vila Olímpica, local do atentado, e o estádio olímpico de Munique, e sua instalação contou com o apoio financeiro do governo alemão, do COI, da Confederação alemã de Esportes Olímpicos (DOSB, na sigla em alemão), da Fundação para o Desenvolvimento Global de Esportes (GSD, na sigla em inglês) e de outras organizações internacionais.

Passaram-se mais de quatro décadas para que o COI e seus dirigentes reconhecessem efetivamente o tamanho da tragédia que se abateu em Munique e o peso de seu legado em termos de responsabilidade moral e pública. Desde então, a mensagem é clara: aos governos de países que sediam os Jogos não é dada a possibilidade de falhar ou se omitir, sobretudo no quesito da segurança, sob pena de comprometer, de forma indelével, o ideal olímpico que anima milhares de atletas e visitantes nesse que é o maior espetáculo contemporâneo de confraternização entre povos e nações.

Por isso, entende-se a manifesta preocupação do diretor do Departamento de Contraterrorismo da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Luiz Alberto Sallaberry, diante do aumento de brasileiros seguidores do Estado Islâmico (EI). Ele atribui o fato ao “mecanismo da internet” e “às facilidades migratórias do Brasil”. Em meados de abril, em uma Feira Internacional de Segurança Pública ocorrida no Rio de Janeiro, Sallaberry confirmou que a probabilidade do Brasil ser alvo de ataques terroristas foi elevada nos últimos meses e que medidas de segurança estão sendo tomadas visando às Olimpíadas. Sessenta e sete mil homens das Forças Armadas e da Polícia Federal estão destacados para o evento na cidade do Rio. 

Terrorista é entrevistado em documentário
Muito antes do curta (29 minutos) “Munique 72 e Além” (Munich’72 and beyond), de 2015 – que irá integrar o acervo do Memorial de Munique -, dirigido pelo diretor de programas da TV americana, Stephen Crisman, e apresentado em abril deste ano no festival “É Tudo Verdade”, no Rio e São Paulo, outro documentário já abordava o sequestro e massacre dos atletas israelenses sob uma ótica jornalística mais investigativa. Produzido em 1999, “Um dia em setembro” (On Day in September), do escocês Kevin Macdonald, traz uma entrevista inédita com Jamal Al-Gashey, o único dos oito terroristas que provavelmente ainda continua vivo, escondido em algum lugar da Jordânia. Com o rosto encoberto, Al-Gashey diz: “Estou orgulhoso do que fiz em Munique porque ajudou bastante a causa palestina. Antes de Munique o mundo não tinha ideia de nossa luta. Mas naquele dia a palavra Palestina foi repetida em todo o mundo.” Os terroristas exigiam a libertação de 234 presos em Israel. 

Premiado com o Oscar de melhor documentário de 2000, o filme reúne entrevistas com membros do Mossad, o serviço secreto de Israel, e com os parentes dos atletas mortos. Também apresenta depoimentos de funcionários do Comitê Olímpico e de policiais alemães diretamente envolvidos nas negociações com os terroristas. Na ocasião da premiação, Macdonald justificou de maneira contundente o motivo que o levou a realizar o filme: “De alguma forma o massacre de Munique foi uma transgressão inominável, a destruição de um ideal de paz e fraternidade”. Seu produtor, John Battsek, foi mais adiante: “A investigação para o documentário revelou uma história de mistério, conspiração, tragédia, inépcia e terror”.

Estima-se que 900 milhões de pessoas em mais de 100 países assistiram pela TV o ataque ao alojamento dos atletas, na Vila Olímpica, na madrugada de 5 de setembro de 1972, e o seu desenrolar trágico que durou 18 horas. Cinco dos oito integrantes do grupo terrorista Setembro Negro invadiram o quarto onde dormia a equipe israelense e assassinaram dois atletas no confronto inicial, sendo que o halterofilista Yossef Romano foi torturado e castrado. Os outros nove desportistas foram levados pelos terroristas como reféns para um aeroporto militar nos arredores de Munique e perderam a vida em uma tentativa fracassada de resgate conduzida pela polícia alemã. Um policial e cinco terroristas também morreram. Três terroristas foram detidos e em pouco menos de dois meses foram libertados em uma troca que envolveu o sequestro de um avião da Lufthansa. 

Para Steven Ungerleider, membro do Comitê Olímpico dos EUA e um dos produtores de “Munique 72 e Além”, o atentado de Munique “foi o primeiro ato de terror moderno e não se justifica que esse trauma horrendo seja relegado a uma simples notinha histórica de rodapé”.

Amigo de Hitler era presidente do Comitê Olímpico Internacional
Frente a tal enunciado, comecemos com a performace do Comitê Olímpico Internacional. A entidade era presidida, em 1972, pelo norte-americano Avery Brundage (1887-1975), o mesmo que na Olimpíada Nazista de Berlim, em 1936, havia rejeitado a proposta dos Estados Unidos de boicotarem a competição, em razão dos atletas judeus alemães estarem proibidos de participar. Brundage tinha sido presidente do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, era um entusiasta do regime nazista e amigo de Hitler. 

Nascido em Detroit, esse engenheiro e desportista que foi o único norte-americano a presidir o Comitê Olímpico Internacional, convenceu os seus compatriotas a participarem da competição em Berlim, e em troca, a sua empresa de engenharia recebeu um cheque em branco para construir a embaixada da Alemanha em Washington. Mais de três décadas depois, em uma dessas coincidências lamentáveis, esse mesmo Brundage, agora como presidente do COI, preferiu se calar sobre o assassinato dos atletas israelenses na cerimônia realizada no dia seguinte à tragédia. Em seu discurso apenas exaltou o espírito olímpico e anunciou que “os Jogos devem continuar”.
A Olimpíada de Munique teve a participação de mais de 7 mil atletas de 121 países e ocorreu entre os dias 26 de agosto e 11 de setembro de 1972. 

Abu Mazen, da Autoridade Palestina, recolheu recursos para o massacre
Em 1999, uma autobiografia intitulada “Palestine: From Jerusalém to Munich” revelou novos detalhes do ataque à Vila Olímpica. Publicada na França, seu autor é Mohammed Oudeh, codinome Abu Daoud (falecido na Síria em 2010), ex-comandante militar do Fatah (grupo paramilitar criada por Yasser Arafat em 1959 e que atua como partido político, desde 1994, na Cisjordânia) e mentor intelectual confesso da ação terrorista. No livro ele admite que o Setembro Negro era o nome-fantasia adotado pelos membros do Fatah que atuou como o braço armado da OLP (Organização para a Libertação da Palestina, criada em 1964) quando dos ataques terroristas. Daound também descreve como Arafat e o atual presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas (Abu Mazen) – o homem encarregado de levantar os recursos para viabilizar a operação – desejaram-lhe boa sorte e o beijaram no momento em que ele finalizou os preparativos para o ataque, que vitimou um total de 17 pessoas.

Sobre Mahmoud Abbas, vale reproduzir um item de seu histórico escolar: em 1982, dez anos depois do atentado de Munique, ele concluiu seus estudos na Universidade de Moscou, obtendo o título de PhD em História Oriental. A tese de seu doutorado questiona e nega os números do Holocausto e inclui uma suposta aliança entre nazistas e líderes sionistas durante a 2ª Grande Guerra para exterminar todos os judeus da Europa. A fantasia mal intencionada travestida de investigação histórica intitula-se “O Outro Lado: As secretas relações entre o Nazismo e o Movimento Sionista”.

Ainda acerca do líder palestino, em 2003, a organização israelense de direitos humanos “Shurat Hadin Israel Law Center” – que dá assistência jurídica aos judeus vítimas de atos terroristas e os representa nos fóruns internacionais – enviou cartas ao então presidente George Bush e ao Chanceler Gerhard Schroeder, conclamando as autoridades americanas e alemãs a abrirem uma investigação em seus territórios contra Mahmoud Abbas por suas comprovadas ligações com o Setembro Negro, principalmente na função de recolhedor de fundos para prover atos terroristas, como o de Munique. A ação teria consistência jurídica já que um dos atletas assassinados também tinha cidadania americana e um dos mortos era um policial alemão. 

Mais recente, em 2014, o movimento estudantil “Students for Israel Movement” encaminhou uma carta ao ministro da Defesa israelense para que o governo reconheça a participação do presidente da Autoridade Palestina no massacre de Munique. O representante dos estudantes, Elyahu Nissim, considera que o estado de Israel tem o dever moral de declarar oficialmente que Abbas exerceu um papel fundamental na ação terrorista e responsabilizá-lo pelas mortes.

Terroristas se abrigavam no centro islâmico de Munique
Em um longo artigo no “Wall Street Jornal”, em 2005, o jornalista e escritor americano Ian Jonhson, após consultas em arquivos oficias nos Estados Unidos, Inglaterra, Suíça e Alemanha, revelou que a cidade de Munique, há várias décadas, era o centro irradiador de uma organização radical denominada Irmandade Muçulmana (Muslim Brotherhood), fundada no Egito em 1928 e banida de seu território em 1954 por Gamal Abdel Nasser (que presidiu o país de 1956 a 1970), pivô de uma tentativa de assassinato mal sucedida. O grupo retornou à legalidade em 2011, após a queda do presidente Hosni Mubarak. 

Repórter premiado com o Pulitzer e autor da obra “A Mosque in Munich” (2010), Jonhson usou as pesquisas realizadas para a reportagem “How a Mosque for Ex-Nazis became Center of Radical Islam” (De que maneira uma mesquita para ex-nazistas tornou-se centro do islamismo radical, em tradução livre) como ponto de partida para o desenvolvimento de seu livro. O interesse pelo tema surgiu acidentalmente quando ao entrar em uma livraria em Londres, em 2003, folheou um livro sobre as mais importantes mesquitas do mundo. Ao lado dos templos islâmicos de Meca, Jerusalém e Istambul, aparecia curiosamente o de Munique (na tradução alemã, o livro ganhou o título de ‘A quarta mesquita’)

Jonhson observa que muitos dos acusados de atos terroristas na Europa e nos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos, em algum período de suas vidas transitaram por Munique e pelo seu centro islâmico. Essa intimidade entre a cidade alemã e os muçulmanos, segundo Jonhson, começou à época de Hitler, depois da invasão à União Soviética, quando o regime nazista deu uma guinada das mais espertas, transformando um milhão de soldados muçulmanos dos países da Cortina de Ferro, aprisionados em combate, em aliados e amigos do Reich. Inclusive uma dessas brigadas formada por muçulmanos foi destacada para a Polônia, onde teve participação ativa na aniquilação do Gueto de Varsóvia, em 1943. 

Depois da guerra, esses combatentes nazistas se instalaram em Munique e acolheram a organização Irmandade Muçulmana de braços abertos, sendo responsáveis pela fundação, em 1958, do Centro Islâmico de Munique. Um ano depois, participantes do Congresso Muçulmano Europeu selaram o pacto de tornar a capital da Baviera um polo de convergência para todos os muçulmanos residentes na Europa. Um dos clérigos mais atuantes do Centro Islâmico de Munique foi Nurredin N. Nammangani, nascido no Uzbequistão e que serviu nas fileiras de Hitler, mais especificamente na temida tropa nazista SS (Schutzstaffel). Durante décadas (faleceu na Turquia em 2002) ele mesclou a religião com antissemitismo em suas prédicas aos milhares de colegiais e universitários muçulmanos de várias partes da Europa. 

Islamismo antissemita tem origens nazistas
Nessa mesma linha de pensamento, o historiador alemão Stefan Meninge afirma que o Centro Islâmico de Munique está na base de uma ampla rede que se ramificou silenciosamente pelo resto do mundo, a partir do fim da 2ª Grande Guerra, difundindo um radicalismo a favor da “guerra santa”, que simplesmente não existia antes disso. O encontro da teoria nazista com o fundamentalismo religioso da Irmandade Muçulmana foi o responsável pelo nascimento da figura híbrida e aterradora do terrorismo moderno, uma das grandes tormentas que o mundo ocidental tem enfrentado. “Se você quer entender a estrutura política do Islã, você tem que se debruçar sobre o que aconteceu em Munique”, alerta o historiador. Meining é autor do livro “Eine Moschee in Deutschland” (Uma mesquita na Alemanha), que faz uma ponte entre os nazistas e a ascensão do islamismo político no Ocidente.

Outro estudioso alemão, o cientista político e professor universitário Matthias Kuntzel, também relaciona a Irmandade Muçulmana com as ideologias extremistas da jihad (guerra santa) dos grupos Fatah, Hamas, Hezbollah, al-Qaeda e do atual Estado Islâmico (EI). No ensaio “Islamic Antisemitism and its Nazi Roots (O Islamismo antissemita e as suas origens nazistas), Kuntzel destaca que até 1930 a ideologia islâmica tradicional não pregava o ódio aos judeus e nem falava em guerra santa. Posteriormente, a doutrina absorveu o marketing da propaganda nazista e antissemita europeia e recebeu o apoio financeiro e estratégico de Hitler, que financiou as lideranças islâmicas ligadas à Irmandade Muçulmana a promoverem atos de perseguição e violência contra os judeus no Egito e na Palestina sob o Mandato Britânico. Kuntzel reuniu suas pesquisas no livro “Jihad and Jew-Hatred: Islamism, Nazism and the Roots of 9/11” (Jihad e o ódio aos judeus: o islamismo, o nazismo e as raízes do 9/11), publicado originalmente em alemão, em 2002, e traduzido para o inglês em 2007.

Vivendo na cidade portuária de Hamburgo, Kuntzel tinha 17 anos quando aconteceu o ataque terrorista em Munique. Ele conta que este foi um fato que o marcou de tal forma que o obrigou a procurar uma explicação. “Eu era um jovem idealista e queria acreditar no lado bom das pessoas e não entendia como poderia acontecer um massacre daquele em uma Olimpíada.” 

Minuto de silêncio negado por quatro décadas
De Munique à Rio-2016, lá se vão mais de 40 anos e dez Jogos nas cidades-sede de Montreal (1976), Moscou (1980), Los Angeles (1984), Seul (1988), Barcelona (1992), Atlanta (1996), Sydney (2000), Atenas (2004), Pequim (2008) e Londres (2012). Durante esse tempo, pedidos foram feitos por familiares dos atletas israelenses para que o COI promovesse um minuto de silêncio na abertura ou no encerramento de uma das Olimpíadas para lembrar as vítimas. Porém, a alegação de que esse tipo de homenagem poderia abalar os atletas ou provocar constrangimento às delegações dos países árabes pontuou as negativas sucessivas emitidas pelo COI. 

Mas, para a Olimpíada do Rio – que vai receber 10.500 atletas de 206 países e será vista por mais de 3 bilhões de espectadores ao redor do mundo – o atual presidente do COI, o alemão e ex-esgrimista olímpico Thomas Bach, parece ter encontrado uma solução diplomática. Ele anunciou que haverá um minuto de silêncio na solenidade de encerramento dos Jogos, “para permitir que todos no estádio, bem como aqueles que estão assistindo em casa, lembrem dos entes queridos que já faleceram.” Antes, no dia 14, em parceria com o Comitê Rio-2016, o COI finalmente irá homenagear os 11 atletas mortos em uma cerimônia na Vila Olímpica da Barra da Tijuca, sinalizando um considerável diferencial de humanismo, generosidade, tolerância e boa vontade que já distingue a Rio-2016 antes mesmo de seu início, das demais Olimpíadas, e em especial da de Munique com a sua terrível história de fanatismo e barbárie.

Fonte: Observatório da Imprensa - Por Sheila Sacks em 10/05/2016 na edição 902