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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

"Pombini" de volta – Tombini virou ‘pombini’



A decisão do Banco Central de não subir os juros pode até mesmo ser sustentada tecnicamente, mas é inegável que o seu presidente Alexandre Tombini cometeu uma barbeiragem na condução do anúncio oficial, reavivando a desconfiança que fez o mercado apelidá-lo de “Pombini”, em referência à sua submissão à presidente Dilma.

  Os “pombos” são mais condescendentes, enquanto os “falcões”, mais agressivos, estão sempre prontos a tomarem medidas radicais se necessário. Tombini tornou-se “Pombini” nas mãos da presidente Dilma, durante o período em que ela resolveu levar os juros a taxas históricas mais baixas sem que houvesse condição para isso.

Em abril de 2013 a taxa Selic chegou à mínima histórica de 7,25%. A partir daí, a política voluntarista de queda dos juros teve que ser abandonada diante da realidade inflacionária, e a taxa voltou aos dois dígitos nas reuniões de novembro de 2013, no sexto aumento consecutivo, que depois continuaram até a taxa chegar aos 14,25% de hoje.
Tombini, na decisão de ontem, não quebrou apenas a tradição de membros do Banco Central não se pronunciarem nos dias de reunião, para não dar margem a especulações, como deixou de lado abruptamente o objetivo de conter a inflação no teto da meta inflacionária neste ano, para depois trazê-la ao centro no ano seguinte.  Após uma audiência fora da agenda com a presidente Dilma, negada oficialmente, mas verdadeira para todas as versões brasilienses, o presidente do Banco Central aproveitou a revisão dos números do FMI para se pronunciar extemporaneamente sobre o documento, insinuando que os novos números teriam influência na direção oposta ao que havia sido sinalizado pelo Banco Central até aquele momento. Não há dúvida de que os números ruins do FMI, piores do que o próprio mercado estava prevendo para este ao – queda de 3,5% do PIB – poderiam justificar uma reanálise dos dados, mas não havia nenhuma razão para que Tombini anunciasse isso ao mercado financeiro em meio à reunião que decidiria a trajetória dos juros.
Além do mais, a surpresa com que as autoridades monetárias brasileiras foram apanhadas indicam que não havia segurança alguma sobre os números que estavam usando para tomar suas decisões. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, disse ontem em Davos que os números do FMI são apenas “projeções”, e que a economia brasileira pode voltar a crescer antes do que o FMI prevê, mas o fato é que “Pombini” os levou tão a sério que quebrou diversas regras para anunciar a mudança de rota.
A autonomia do Banco Central, considerada fundamental para dar credibilidade à política monetária de qualquer governo, já era vista pelo mercado financeiro como próxima do inexistente, e agora temos a prova concreta de que a presidente Dilma interfere como quer nas decisões do Banco Central, não encontrando resistência em “Pombini”. Até mesmo as informações dando conta de que o Palácio do Planalto não gostara da nota de Tombini, pois ela poderia dar a entender que houvera interferência de Dilma na decisão, mostra que o presidente do Banco Central não está conseguindo nem mesmo fazer o jogo de cena necessário nesses casos.
Na ânsia de justificar uma mudança de estratégia, agora voltada mais para o nível da atividade econômica, Tombini revelou sua fraqueza diante da presidente, ainda mais por que dias antes, na carta em que justificou o não atingimento da meta de inflação, o Banco Central reafirmara que sua missão estava focada em combater efeitos da alta da inflação.
Muitos economistas criticavam a tendência do Banco Central de aumentar mais ainda os juros, alegando que a recessão da economia só seria piorada com a medida. Mas há outros economistas, como Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, que acham que a recessão não é justificativa para não subir os juros. Ele considera que o país cometeu o mesmo erro em 2011, ao reduzir os juros para combater os efeitos da crise europeia, e acabou tendo uma recessão muito maior.

Fonte: Merval Pereira – O Globo

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Brasil já perdeu — na prática — seu grau de investimento = riscos que o Brasil oferece superam o de países sem grau de investimento = passa da hora da Dilma cair fora


Risco país e nível de endividamento bruto superam o de nações sem grau de investimento na escala da S&P, como Rússia e Turquia
A piora na perspectiva da nota de crédito do país pela Standard and Poor's (S&P) colocou o Brasil mais próximo de perder o grau de investimento.

Mas, na prática, o rebaixamento já chegou: o país compartilha das mesmas mazelas macroeconômicas de nações que deixaram de possuir o selo de confiança, como Rússia, Turquia e Portugal. São elas: alto endividamento, incapacidade para gerar superávit primário (a economia para pagar juros da dívida), baixo nível de investimento, gastos públicos excessivos e inflação acima da meta. Outro agravante é a instabilidade política, que adia a implementação do ajuste fiscal e, consequentemente, o processo de retomada econômica. "O que está em jogo é quanto de juros o Brasil precisa pagar a mais para que as pessoas comprem ativos brasileiros. O que se sabe é que esse valor não é diferente do cobrado para países sem grau de investimento", diz Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do Banco Central (BC).

Como a reação do mercado é captada antes que a das agências, o risco de rebaixamento já vem sendo precificado há meses. Para João Augusto de Castro Neves, diretor para América Latina da consultoria Eurásia, alguns efeitos dessa precificação são a oscilação no câmbio e a queda nos investimentos do país. "No segundo semestre, a volatilidade deve se acentuar. No horizonte, temos a continuidade das investigações da Operação Lava Jato, dúvidas sobre o impeachment, além da aprovação de 'bombas' fiscais por parte do Congresso", diz. O dólar se valorizou 26% de janeiro a julho, enquanto os investimentos medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo recuaram 6,9%, segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao primeiro trimestre do ano na comparação com 2014.

Não à toa, um levantamento recente do Bank of America Merrill Lynch mostra que o Brasil é o país emergente com maior risco de perder o grau de investimento. Segundo a pesquisa, realizada antes da decisão da S&P, 65% dos gestores ouvidos apostavam que o rebaixamento pode ocorrer nos próximos dois anos. Em outros emergentes, como África do Sul e Indonésia, os porcentuais são menores, de 55% e 20%, respectivamente. No caso da Turquia, que ainda tem grau de investimento nas escalas da Fitch e da Moody's, a chance de perda do selo de bom pagador é de 50%.

Especialistas ouvidos pelo site de VEJA citam, sobretudo, o CDS (Credit Default Swap, na sigla em inglês), que é uma espécie de seguro do mercado internacional contra a inadimplência, como exemplo de que o rebaixamento já chegou. Com esse tipo de mecanismo financeiro, o comprador paga um "prêmio" ao vendedor para se proteger de um possível risco de calote. Se esse fato se concretiza, o vendedor (no caso o Brasil, por exemplo) é obrigado reembolsar o prêmio ao comprador. Quanto mais próximo de zero, melhor a classificação do país. Nesta quinta-feira, o CDS do Brasil foi de 290 pontos-base, superior ao da Turquia (238) e Portugal (175). Nações com grau de investimento colecionam cifras bem inferiores: Alemanha, Suíça, Noruega, todas com 20 pontos-base. No fim da fila aparecem Grécia (2.305), Ucrânia (2020) e Venezuela (4930).

O Brasil, agora, caminha em direção ao patamar de vizinhos pouco afeitos ao dinheiro estrangeiro.

Outro índice que reforça essa avaliação é o Emerging Market Bond Index (EMBI), calculado pelo banco JP Morgan, que também mede a capacidade de um país honrar seus compromissos financeiros. Na quinta-feira, o EMBI do Brasil atingiu 316 pontos-base, acima de Turquia (274) e próximo de Rússia (341).

Consequências - A perda do grau de investimento pode trazer inúmeras consequências negativas nos próximos meses. Segundo analistas, deve haver impacto na volatilidade dos mercados de câmbio e ações, bem como a dificuldade para empresas públicas e, sobretudo, privadas obterem financiamento. Ou seja, o Brasil tende a estender a pecha de mercado arriscado às empresas mais expostas à dívida do governo - e, em última instância, até mesmo àquelas que não suscitam qualquer suspeita. "O custo de captação de recursos aumenta e, com ele, a possibilidade de um ajuste mais célere, o que alarga o horizonte da retomada. O impacto é significativo, ainda que não seja uma volta aos anos 1980", explica Castro Neves, da Eurásia. Sem o grau de investimento, empresas e pessoas físicas terão de pagar juros maiores, o que também pode levar a cortes de investimento e empregos.

No mercado de capitais, onde as empresas se financiam, o efeito deve ser o adiamento de emissões de títulos de renda fixa e uma maior dificuldade para venda de ações previstas para este ano. No câmbio, o efeito deve ser uma maior desvalorização do real, que pode pressionar a já elevada inflação no país, que atinge o dobro da meta no acumulado em doze meses. O presidente da Austin Ratings, Erivelto Oliveira, atenta para o risco de uma fuga de recursos estrangeiros do país. "Grandes investidores institucionais estrangeiros - como fundos de pensão e investimento - não podem aplicar dinheiro em países em grau especulativo. Este é um dos principais motivos que levam o Brasil a tentar reverter o atual cenário", diz. Em 2015, o investimento estrangeiro direto, que mede a entrada de recursos no país para ser aplicado ao setor produtivo, recuou 32% no primeiro semestre deste ano, em relação a 2014, a 31 bilhões de dólares.

Apesar de a questão fiscal ser o principal fator de rebaixamento, é o setor privado que deverá ser mais afetado, na avaliação de Thomas Trebat, diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Columbia. Ele aponta que o setor público tem fontes alternativas de financiamento, enquanto o Brasil não possui um mercado de capitais suficientemente desenvolvido para financiar empresas privadas. "O governo ainda capta recursos no mercado doméstico, há muitos investidores dispostos a correr risco, e o país tem quase 400 bilhões de dólares de reservas internacionais", explica. Indiretamente, no entanto, o governo também é afetado, já que, em tempos de ajuste, conta com o setor privado para alavancar a taxa de investimento e a capacidade produtiva do país.

Na visão dos analistas, o viés negativo por parte da S&P pegou o mercado de surpresa. Isso porque eles esperavam um movimento inicial da Moody's, que visitou o Brasil recentemente, e o mantém em um degrau acima da S&P. Na escala da Moody's, o rating do Brasil é Baa2, com perspectiva negativa, dois degraus acima do grau especulativo. Para a Fitch, o rating do Brasil é BBB, com perspectiva negativa, e também dois degraus acima do grau especulativo. Segundo os analistas, a maior probabilidade é de que essas agências sigam a S&P e reduzam a nota para o último degrau antes do ingresso para grau especulativo.

O governo - e apenas ele - se diz confiante que o país não será rebaixado. Apesar de os números dizerem o contrário, integrantes do Palácio do Planalto contam com a revisão da meta fiscal, de 1,1% para 0,15% do PIB, para injetar uma dose de credibilidade no plano de voo para reorganizar as contas. Para os analistas, no entanto, trata-se de missão quase impossível em um cenário político hostil, com tensões entre partidos da base aliada retardando o ajuste fiscal, e os desdobramentos da Lava Jato tragando o governo para o centro do turbilhão de corrupção. A falta de coesão política, aliás, foi citada pela S&P como explicação para a mudança da perspectiva da nota para o campo negativo. Ao mesmo tempo, a agência considera os esforços atuais da equipe econômica para reverter o quadro, dando-lhe um voto de confiança mesmo que os indicadores digam o contrário. Prova de que a agência não olha apenas para os números, e sim para todo o contexto, na hora de decidir a nota. Fossem apenas os números, o grau estaria perdido.

Fonte: Veja Online