O cenário
A composição do cenário, com a mesa, a foto de um "grande líder" ao fundo (no caso, o presidente Bolsonaro), a bandeira ao lado e o fundo com uma parede simples de compensado são elementos clássicos dos regimes que tentam vender a estrutura de governo como impessoal e eficiente. A encenação é completada pela forma como Alvim, apresenta seu discurso, olhando o tempo todo diretamente para a câmera, como a falar para o espectador olho no olho (o ministro quase não pisca o vídeo inteiro). Há uma grandiloquência calculada também na impostação da voz.
A quase ausência de gestos físicos também é um conhecido truque retórico para quem quer falar sem parecer um retórico. Exatamente como já havia prescrito o romano Quintiliano (35-95) em seu livro A Instituição da Oratória, ou Sobre a Formação do Orador, no qual sugeria que grandes oradores imitassem a técnica dos atores, mas com cuidado: "Nem todos os gestos e movimentos devem ser adotados. Ainda que o orador deva, dentro de certos limites, desempenhar ambos, deverá, no entanto, afastar-se do ator cômico, sobretudo evitando os gestos exagerados. Porque, se nisso está a arte daquele que fala, a primeira recomendação é aparentar não tê-la". 

GauchaZH - Transcrição em 18 janeiro 2020