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segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Isis Khorasan: o grupo islâmico ultrafundamentalista mais radical do mundo

Como se não bastassem todos os fatores de extrema instabilização do Oriente Médio, ainda tem os radicais que fizeram atentado no Irã

Irã funeral explosões

 Vítimas do duplo atentado: em ação, um grupo nascido do Estado Islâmico que trata os xiitas como hereges a serem eliminados (Mohammad Ali Mohammadian/Anadolu/Getty Images)

Só para dar uma ideia: os adeptos do Isis Khorasan acham que o Talibã é moderado demais. 
Também não mostram a menor sensibilidade pela aliança de interesses que permite que grupos fundamentalistas sunitas como o Hamas e a Jihad Islâmica Palestina sejam nutridos, armados e, inevitavelmente, instruídos pelo regime xiita do Irã.

Para eles, os xiitas são “hereges” e está acabado. Merecem ser explodidos, como no terrível duplo atentado que matou quase cem pessoas durante uma homenagem póstuma ao general iraniano Qasem Suleimani na semana passada.

O grupo foi criado por remanescentes do Isis, ou Estado Islâmico, principalmente paquistaneses. Khorasan é o nome de uma região que abrange partes do Paquistão, do Afeganistão e do Irã. Abreviadamente, o grupo é chamado de Isis-K. O Estado Islâmico original também tinha um forte componente antixiita, refletindo numa situação limite a milenar tensão entre as duas principais correntes religiosas do Islã, os minoritários xiitas e a maioria sunita.

Esta tensão se manifesta hoje na rivalidade que países sunitas como a Arábia Saudita alimentam em relação ao Irã, embora disfarcem com reconciliações públicas. 
Note-se que foram poucas as manifestações de solidariedade ao regime iraniano depois do duplo atentado, o maior da história da república islâmica instalada em 1979. 
Os universitários pró-Hamas que se espalham pelo mundo ocidental e protestam contra tudo que Israel faz em Gaza também ficaram calados.
 
CALDEIRÃO INFERNAL
O assunto talvez seja complexo demais – e desconfortável
para quem tem uma visão simplificada em que todos os muçulmanos são colocados sob uma etiqueta só, e na condição de vítimas. 
Na verdade, muçulmanos matando outros muçulmanos são uma constante nas últimas décadas, com exceções episódicas como em Gaza.
 
O maior conflito intramuçulmano recente aconteceu na Síria, onde a rebelião contra o regime foi liderada por fundamentalistas sunitas alinhados com a ideologia da Fraternidade Muçulmana.  
O regime sírio, controlado por uma minoria mais desconhecida ainda, os alauítas, foi salvo pelo “eixo da resistência”: Irã e seus filiados libaneses do Hezbollah, além da ajuda da Rússia no bombardeio indiscriminado dos focos de resistência.

No auge da guerra civil, o Hamas ficou do lado dos rebeldes, por afinidades religiosas e ideológicas. Chegou a ser expulso da Síria. Mas o Irã, de quem todo mundo depende, promoveu a reconciliação depois do fim da guerra civil. Os horrores de uma guerra que matou um número literalmente incalculável – 500 mil pessoas, segundo algumas avaliações – nunca provocaram protestos como os que acontecem agora contra Israel.

O Estado Islâmico, originado no Iraque, floresceu nesse caldeirão infernal . Chegou a ter o controle de um território grande entre a Síria e o Iraque. Para combatê-lo houve uma aliança tácita que reuniu Estados Unidos e as forças xiitas iraquianas com grande influência do Irã.  
A perda do controle territorial e o altíssimo número de baixas obviamente não significaram o fim da ideologia do Isis. 
O Isis-K não tem a mesma força, mas se beneficia do abrigo fornecido pelas regiões montanhosas literalmente inalcançáveis do Afeganistão e do Paquistão.


PROVA DE VIDA
Num sinal de que considera o Talibã moderado demais,
o Isis-K foi o responsável pelo grande atentado no aeroporto de Cabul, quando as forças americanas estavam deixando o Afeganistão, com 170 mortos entre a multidão que tentava fugir do país e treze militares americanos – um dos maiores vexames do governo de Joe Biden.

O racha entre sunitas e xiitas remonta à época da sucessão do profeta Maomé. Os xiitas acreditam que Maomé designou especificamente seu genro (e primo), Ali, para conduzir os fieis. 
Muito sangue rolou desde então, embora os fundamentos religiosos sejam os mesmos: a revelação, o Corão, a adesão literal à sharia e o controle total da aparência feminina que provocou uma barbaridade recente como as 74 chibatadas a que foi submetida a curda iraniana Rosa Heshmati por não usar o pano na cabeça.

Além de divergirem sobre o passado, sunitas e xiitas também têm visões diferentes sobre o futuro. Os xiitas iranianos são mais messiânicos e aguardam a próxima volta de um imã histórico, numa espécie de juízo final.

Como minoria em todos os grandes países muçulmanos, com exceção do Irã, os xiitas sofreram perseguições históricas. 
No Afeganistão e no Paquistão, são frequentemente alvos de atentados pavorosos praticados pelo Isis-K em mesquitas e outros locais religiosos. De novo, com zero de protestos nas sensíveis universidades da elite ocidental.

É claro que o Irã tentou empurrar a culpa pelo duplo atentado para Israel, dizendo, ridiculamente, que a linguagem do documento em que o Isis-K assumia a responsabilidade era suspeita. Imagina-se que os serviços de inteligência de Israel saberiam imitar direitinho a linguagem do Isis-K, mas todo mundo entende que é uma encenação. A letal prova de vida do grupo mais radical de um universo em que o fundamentalismo extremo predomina acrescenta um elemento de desestabilização num cenário em que não faltam perigos de que tudo o que já está muito ruim fique pior ainda.

 Vilma Gryzinski, Mundialista - Revista VEJA

 

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Por que a ONU Mulheres fica em silêncio quando o Hamas assassina e rapta mulheres e crianças - Gazeta do Povo

Ideias - Haley Track

As organizações humanitárias femininas têm silenciado sobre a extrema violência do Hamas contra os inocentes de Israel, à medida que o grupo terrorista viola, rapta e assassina mulheres e crianças judias. 
Então, onde estão as mulheres?
 
A Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres orgulha-se de ser a “campeã global da igualdade de gênero”
Na verdade, a organização muitas vezes defendeu as mulheres. 
Quando o Talibã assumiu o poder no Afeganistão, após a retirada fracassada dos Estados Unidos em 2021, a ONU Mulheres perguntou às mulheres afegãs como ajudar a igualdade de gênero na região. 
Muitas das políticas resultantes centraram-se na geração de emprego e oportunidades de renda para as mulheres e na expansão do acesso à educação, políticas que a tomada do poder pelo Talibã dificultou ou imediatamente esmagou com o seu regime nada feminista. 
O lançamento de iniciativas empresariais pertencentes a mulheres pode não ter sido a chave para derrotar a opressão talibã, mas a ONU Mulheres pelo menos consultou as mulheres afegãs sobre o assunto.
E a organização foi firme na sua linguagem: a situação no Afeganistão é uma crise humanitária, uma crise econômica, uma crise de saúde mental, uma crise de desenvolvimento e uma crise dos direitos das mulheres, afirmou em agosto.

Imediatamente após o ataque terrorista do Hamas contra Israel, a [revista conservadora norte-americana] National Review perguntou à organização se iria propor iniciativas humanitárias semelhantes em Israel. 
Os relatórios do ataque do Hamas em Israel contam histórias horríveis de crianças raptadas, famílias massacradas e mulheres violadas — se alguma vez houve um momento para as mulheres apoiarem as mulheres, seria agora, enquanto o Hamas arranca bebês de suas mães e as famílias israelitas rezam para que suas filhas sequestradas estejam mortas e não passando por algo pior. 
A violência contra as mulheres israelenses parecia certamente sistemática e planejada o suficiente para despertar humanitários. 
Mas a eventual resposta da ONU Mulheres inclinou-se fortemente para um lado, e não é o das israelenses.

Cinco dias após os nossos pedidos iniciais e subsequentes, a comissão emitiu uma declaração “sobre a situação em Israel e no Território Palestino Ocupado” — depois de Israel ter iniciado o seu contra-ataque.

“A ONU Mulheres condena os ataques contra civis em Israel e nos Territórios Palestinos Ocupados e está profundamente alarmada com o impacto devastador sobre os civis, incluindo mulheres e meninas”, dizia o comunicado. “A situação humanitária em Gaza era terrível antes destas hostilidades e agora piorou gravemente. Isto acarreta custos injustificáveis ​​e específicos para as mulheres e meninas. A exigência de realocar imediatamente 1,1 milhão de pessoas do norte de Gaza, enquanto todo o território está sitiado, é extremamente perigosa. Reiteramos hoje o apelo do Secretário-Geral ao acesso irrestrito dos intervenientes humanitários em Gaza, incluindo as Nações Unidas, para prestar ajuda aos mais afetados. Isto é essencial para responder às necessidades desesperadas e imediatas das mulheres e crianças, incluindo alimentos, água e proteção. Também nos juntamos ao seu apelo pela libertação imediata dos reféns.”

As palavras de despedida da organização: “A ONU Mulheres tem apoiado as mulheres palestinas desde 1997 a alcançarem seus direitos sociais, econômicos e políticos. Continuamos presentes no terreno para fornecer apoio e assistência e faremos isso durante o tempo que for necessário”.

Fiel à sua declaração, a ONU Mulheres divulgou um relatório sobre o “impacto devastador da crise em Gaza sobre as mulheres e meninas” na sexta-feira. Após o “ataque de 7 de outubro do Hamas a Israel e os subsequentes ataques israelenses a Gaza”, a comissão disse que trabalhará com o Fundo Humanitário e para a Paz das Mulheres para investir 10 milhões de dólares com o objetivo de "promover a participação e a liderança das mulheres no planejamento e na resposta a crises humanitárias; e melhorar a segurança, a proteção e a saúde mental de mulheres e meninas e assegurar seus direitos humanos."

Se a ONU Mulheres conseguir canalizar ajuda para Gaza, o Hamas não dará prioridade ao fornecimento de suprimentos médicos ou combustível às mulheres grávidas. O grupo assassina, tortura e estupra mulheres em massa e existe muito fora de uma estrutura feminista. 
Os humanitários não deveriam acreditar que os terroristas que matam bebês por esporte apoiariam alguma vez o empoderamento das mulheres; e o acesso irrestrito a Gaza não é uma forma infalível de entregar ajuda aos palestinos, não com o Hamas no comando.

A ONU Mulheres é uma entidade independente que recebeu 556,3 milhões de dólares de parceiros governamentais e doadores privados em 2021. Mais de 98% dessas doações foram voluntárias (contribuições que os estados-membros da ONU podem fazer, além das suas contribuições obrigatórias para o orçamento da entidade). Desde a sua criação em 2010, a organização tem sido “financiada principalmente por parceiros governamentais empenhados em tornar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres uma prioridade global”.

Suécia, Finlândia, Noruega, Canadá, Alemanha, Suíça, Austrália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos são os principais contribuintes para a ONU Mulheres, para ajudar a organização a impulsionar “a agenda global para o empoderamento das mulheres”, e os Estados Unidos até aumentaram a sua contribuição em 2021. Doadores privados notáveis ​​foram a Fundação Bill e Melinda Gates, De Beers PLC [N.t. conglomerado de mineração de diamantes], a Fundação BHP Billiton [da mineradora e petrolífera anglo-australiana], American Eagle Outfitters [varejista americana de roupas e acessórios], a Fundação Ford, Getty Images, Google Inc., Johnson & Johnson, L'Oréal, Mary Kay, Microsoft e McKinsey & Company [consultoria empresarial americana], embora muitas outras empresas americanas tenham doado.

A ONU Mulheres não é uma organização sem sentido, com as suas designações de ajuda de milhões de dólares e o poder de falar em nome da comunidade internacional de mulheres. A ONU Mulheres já condenou organizações terroristas que odeiam mulheres; e, pela primeira vez, a ONU Mulheres destituiu a República Islâmica do Irã da sua Comissão sobre o Estatuto da Mulher no ano passado. O estado de “apartheid de gênero” não tinha o direito de participar num órgão que protege os direitos das mulheres, afirmaram ativistas.

Mas quando se trata de Israel, as mulheres aparentemente já têm poder suficiente. A ONU Mulheres publicou um vídeo bastante majestoso de Nicole Kidman no ano passado, dizendo ao mundo para “desempenhar o seu papel no fim da violência contra as mulheres”. A organização deve ouvir esse conselho.

Haley Track, colunista - Ideias


quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A vida na cidade mais pobre e subdesenvolvida do Maranhão

Ideias - Bruna Komarchesqui

Menor IDHA - Apenas 3% com emprego formal: 

 Imagem do governo maranhense divulgando obra de pavimentação da MA-012, que liga Fernando Falcão a Barra do Corda

Imagem do governo maranhense divulgando obra de pavimentação da MA-012, que liga Fernando Falcão a Barra do Corda - Foto: Divulgação/ Agência de Notícias do Maranhão [algo como ligar o NADA a LUGAR NENHUM.] 

[apenas para registro: o atual ministro da Justiça, Flávio Dino, governou o estado do Maranhão por 8 anos - 2015 a 2022.]

Entre os quase 11 mil habitantes de Fernando Falcão, cidade mais pobre e subdesenvolvida do Maranhão, apenas 343 (pouco mais de 3%) têm ocupação formal, sendo 333 deles (ou 97%) listados na folha de pagamento da prefeitura — é isto mesmo: apenas dez habitantes trabalham formalmente no setor privado, 0,1% da população. 
O município, que somou 78% de votos em Lula no segundo turno das últimas eleições, amarga o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado mais pobre do Brasil e só perde no ranking nacional para Melgaço (PA) ficando em um patamar comparável ao de países miseráveis como Afeganistão, Etiópia e Serra Leoa. 
O resultado é a população vivendo abaixo da linha da pobreza, com baixo desempenho escolar, além de saneamento, saúde e infraestrutura precários.
 
Com uma parcela ínfima do território urbanizada (quase 6 km2 dos 5.086,589 km2 totais), boa parte da população de Fernando Falcão (que fica a 542 km da capital São Luís) está no campo, o que explica em alguma medida a pequena taxa de ocupação formal. 
A maioria dos cidadãos (82%), no entanto, é beneficiada por transferências do Programa Bolsa Família. Segundo o Ministério da Cidadania, até o fim de agosto, 8.958 dos 10.873 fernandenses recebiam algum benefício federal, totalizando um investimento de R$ 1.970.889,00 (uma média de R$ 220 por pessoa ou R$ 785 por família).
 
O IDH de 0,443 evidencia baixo desempenho municipal em dimensões básicas do desenvolvimento humano, como renda, educação e saúde. 
No quesito renda, por exemplo, o PIB per capita de Fernando Falcão é de R$ 8.051,53, o que equivale a menos de um quarto da média nacional (R$ 35.935,74). “Se Fernando Falcão fosse um país, estaria entre os 15 mais pobres do mundo. Abaixo do Sudão. De Ruanda. Do Zimbábue. Não tem nem dez mil habitantes e mais de 70% estão abaixo da linha de pobreza", dizia um texto publicado pelo governo do Maranhão em 2018. De acordo com a publicação, a renda per capita mensal na cidade era de R$ 106,99.
 
Segundo dados de 2015 do IBGE, 94 % das receitas de Fernando Falcão são provenientes de transferências federais e estaduais. A título de comparação, o município de São Paulo tem apenas 30% de suas receitas oriundas de fontes externas. 
Em 2020, Fernando Falcão estava entre as dez piores cidades em desigualdade social no Brasil, segundo o Índice Brasileiro de Privação (IBP), criado pela Fiocruz.

Saúde precária
De acordo com o Plano Municipal de Saúde de Fernando Falcão (2022-2025), a cidade conta com cinco Unidades Básicas de Saúde (UBS), um hospital e uma unidade móvel terrestre, todos administrados pela prefeitura, além de dois Postos de Saúde Indígenas, de competência federal. O Hospital Municipal de Fernando Falcão conta com 23 profissionais da saúde, sendo três médicos, seis enfermeiros e seis técnicos/auxiliares de enfermagem. São 18 leitos, nenhum deles cirúrgico, para clínica geral (10), obstetrícia clínica (4) e pediatria clínica (4).

O documento mostra que, em 2021, a cidade registrou 355 mortes hospitalares, sendo 60 por doenças infecciosas e parasitárias, 46 por gravidez, parto e puerpério, mais oito por afecções originadas no período perinatal, 56 por lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas. “No perfil morbidade do município de Fernando Falcão, as doenças [sic] gravidez, parto e puerpério foram as mais destacadas, no período 2018-2021, seguidas de algumas doenças infecciosas e parasitárias e lesões, envenenamentos e algumas outras consequências por causas externas. Nesse quadro, evidencia-se inúmeros problemas na deficiência da assistência ao pré-natal, parto e puerpério. Embora realizando de seis a sete consultas no pré-natal, questiona-se a qualidade dessas consultas, a época que são iniciadas e o acompanhamento, assim como alta segura, no parto", detalha o plano.

Já o fato de doenças infecciosas e parasitárias representarem a segunda maior causa de morbidade no quadriênio anterior é “influenciada pelas condições ambientais”. “A falta ou precariedade do acesso ao saneamento básico favorece o aumento do contágio de doenças. Deve-se considerar iniciativas de gestão para manter adequadas as condições de vida da população: abastecimento permanente de água segura, coleta de resíduos sólidos, coleta e tratamento de esgoto, infraestrutura rodoviária, condições adequadas de moradia, oferta de serviços de saúde eficaz, entre outras condições, são fatores determinantes para evitar a proliferação de agentes infecciosos e vetores”, completa o documento.

Em 2021, a taxa de mortalidade infantil média na cidade era de 29,13 por mil nascidos vivos. Ou seja, a cada cem crianças nascidas em Fernando Falcão, cerca de três morrem antes de completar um ano de vida. No Brasil, a média no período era de 11,9 óbitos por mil nascidos vivos. Um relatório do projeto Primeira Infância Primeiro aponta que, enquanto em nível nacional 73% das gestantes tiveram mais de sete consultas pré-natal em 2021, no município maranhense esse índice foi menos da metade (32%).

No mesmo ano, o país registrava 13% de partos de adolescentes (até 19 anos), já em Fernando Falcão as mães adolescentes representaram 30% do total dos partos.  
A cidade também tem índices piores que os nacionais nos quesitos “percentual de peso baixo ou muito baixo para a idade -- 0 a 5 anos” (7,43% x 4% no Brasil) e “crianças de 0 a 5 anos muito baixas para a idade” (17,3% x 5,35% no Brasil).
 
No início de 2021, uma mulher de 29 anos de idade, grávida de sete meses, morreu durante uma transferência clínica de Fernando Falcão para a capital maranhense, São Luís, com um quadro grave de insuficiência respiratória aguda. 
Antes disso, ela chegou a ser atendida na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município vizinho de Barra do Corda. Ela e o bebê morreram dentro da ambulância na BR-135, próximo ao município de Santa Rita.

Saneamento e urbanização
Dados do DATASUS/ IBGE (2010) presentes no Plano Municipal de Saúde apontam 0% de domicílios com esgotamento sanitário adequado, 0% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio) e 86,5% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização. Imagens do Google Street View, de 2020, mostram que Fernando Falcão tem grande parte de suas vias com pavimentação esburacada e sem calçada.

Apesar de garantir que o fornecimento de água é normal em sua casa, Antonio Wecto Carvalho, 31 anos, dono de um depósito de materiais para construção na cidade, diz que "a falta é frequente” no bairro vizinho. “No meu comércio é frequente a visita de clientes do bairro vizinho, Vila Resplandes, comprando bomba, comprando mangueira, com problema de água no bairro. É o bairro mais novo aqui da cidade", afirma.

Menos verba para educação
De acordo com o Censo Escolar, até o ano passado, Fernando Falcão tinha 34 escolas, sendo 30 rurais e quatro urbanas, com 2.816 estudantes matriculados (incluindo vagas de creche, EJA e educação especial).  
Os dados mais recentes do QEdu apontam apenas 9% das crianças com aprendizado adequado em português (a média nacional era de 34%) e 5% em matemática (eram 16% no Brasil). 
No ano passado, foram 65 reprovações e oito abandonos nos anos iniciais do ensino fundamental, 104 reprovações e 38 abandonos nos anos finais e 13 reprovações e um abandono no ensino médio. 
A cada 100 crianças, aproximadamente 22 estavam com atraso escolar de dois anos ou mais na cidade.

Segundo a Lei Orçamentária Anual (LOA), o orçamento total da cidade aumentou em 10,4% de 2022 para 2023, indo de R$ 21,6 milhões para R$ 23,8 milhões. Por outro lado, o orçamento destinado à Educação caiu cerca de 17,7% no mesmo período: são R$ 3,27 milhões para este ano, R$ 705 mil a menos em relação ao orçamento do ano passado.

Emprego e renda
O Cadastro Central de Empresas
, publicado pelo IBGE, mostra apenas 27 empresas ativas em Fernando Falcão, e a média salarial dos empregados formais da cidade, dois salários mínimos. Já o Painel do Mapa de Empresas do Governo Federal, afirma que há 122 empresas ativas na cidade, sendo 12 filiais e 110 matrizes, entre as quais mais da metade (61) são MEIs.

Antonio Wecto Carvalho conta que “neste novo governo” o comércio está mais fraco, com uma queda de 60% das vendas neste mês, em relação ao mesmo período do ano anterior. “Ano passado eu não trabalhava com material grosso (tijolo e telha). Hoje eu tenho, e ainda assim a venda caiu. Aqui como a cidade é pequena... o Brasil todo está sofrendo com a queda do gado de corte. Querendo ou não, o gado é o carro chefe, principalmente no interior. O que fazia girar o comércio era a compra e venda de gado. E hoje fracassou. Quem morava no interior e criava um gadinho, hoje para vender é a maior dificuldade e fica nisso: dependendo só de Bolsa Família e aposentadoria. Se você pegar o número de empresas registradas em Fernando Falcão é um dos piores do Brasil”, afirma.

Josi Lemos, por outro lado, lamenta que a população seja “pobre de consciência” e não aproveite o potencial e as belezas naturais da cidade para empreender. “A própria população não coloca um restaurante top na beira do rio, não tem aquele atendimento muito bom, o pessoal reclama muito sobre o atendimento. E eu não ganho nada, se eu te falar que eu não ganho um real, e todo dia eu estou lá passando contato de hotel, de pousada”, diz, em referência a indicações que faz de estabelecimentos em sua página nas redes sociais. “Infelizmente, 80% da população de Fernando Falcão dá lucro em Barra do Corda. Porque o povo aproveita, querem comprar mais barato e acabam vindo pra cá", afirma.

Pobreza
As cenas de pobreza e de suspeita de corrupção
na cidade já estamparam reportagens como uma do Fantástico em 2013, que mostrava a vida de Francielle Silva, que criava duas filhas ganhando em média R$ 30 por mês. No mesmo ano, o UOL noticiou que moradores denunciavam a pobreza da cidade assistência médica precária, como a falta de saneamento básico, iluminação pública e estrutura nas escolas municipais — em uma página na internet. Na época, segundo relatos, as sessões na Câmara municipal ocorriam uma vez por semana e não chegavam a durar dez minutos.

Em 2015, uma reportagem do programa Record Investigação, vencedora do prêmio Vladimir Herzog de direitos humanos, apontava Fernando Falcão como "uma das cidades mais isoladas do Maranhão”
A matéria trazia a rotina da família de Carmen, que tinha cinco filhos e morava em uma casa de barro. 
O café da manhã da família era apenas uma xícara de café, e uma das crianças chorava porque não tinha farinha para comer.

(...)

Para os moradores, uma parte do problema da pobreza na cidade estaria ligada à questão indígena, já que “eles têm apoio do governo”, “produzem muito pouco e vivem só de Bolsa Família”. “Eles têm um cartão e tiram um valor x de mercadoria e deixam o cartão penhorado. O dono do comércio saca o dinheiro", afirma Carvalho.

Controvérsias políticas
Fernando Falcão é dominada por um mesmo grupo político há cerca de 20 anos. Dos nove integrantes da atual Câmara de Vereadores, seis são do PDT e três são do PCdoB, partido ao qual pertencia Flávio Dino quando governou o estado.  
Um mesmo grupo está no comando da prefeitura da cidade há mais de duas décadas. 
A atual prefeita é Raimunda da Silva Almeida, a Raimunda do Josemar (PDT), que ganha um salário bruto mensal de R$ 18 mil.
 
Em agosto, o Ministério Público do Maranhão abriu procedimento investigatório sobre a situação precária das ambulâncias doadas entre 2015 e 2022 pela União e pelo Estado a Fernando Falcão e municípios vizinhos.  
Um mês antes, um blog local denunciava a contratação pela prefeitura de uma empresa de eventos por R$ 2.717.450,00 para a realização de shows artísticos na cidade.

Denúncias envolvendo ex-prefeitos e grilagem de terras ou compra de votos por meio de terrenos em loteamentos também aparecem em sites locais, nos últimos dez anos.

A Gazeta do Povo entrou em contato com a prefeitura de Fernando Falcão, que informou, por e-mail, que "não chegou ao conhecimento" do município qualquer informação sobre denúncias de compras de votos por meio de loteamentos. "Não há, na municipalidade, distribuição de senhas para recebimento de lotes, uma vez que sequer lei de autoria do poder Executivo existe para tanto". Acerca da investigação das ambulâncias, a assessoria de imprensa disse que o município "ainda não foi notificado para apresentar alegações de defesa" e que há, atualmente, três veículos do tipo em Fernando Falcão, um deles em "manutenção corretiva".

No quesito saneamento, a prefeitura confirma que "ainda não há coleta de esgoto em Fernando Falcão". Questionada sobre os problemas de abastecimento de água em alguns bairros, relatados por moradores, a assessoria disse que "a prefeita de Fernando Falcão busca junto aos órgãos executores do Governo Federal recursos a fim de custear tais benfeitorias, uma vez que os recursos próprios do município são insuficientes para tanto".

(Colaborou com a reportagem David Ágape)

Atualização: O texto foi atualizado com as respostas da assessoria de imprensa da prefeitura de Fernando Falcão.

Bruna Komarchesqui, colunista  - Gazeta do Povo - Ideias

 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

O silêncio sobre a guerra do Talibã contra as mulheres - Revista Oeste

Brendan O'Neill, da Spiked

Por que os progressistas ocidentais são tão relutantes em criticar a tirania islâmica?

 
Mulheres muçulmanas vestindo burcas, trajes tradicionais do Afeganistão | Foto: Shutterstock

 Mulheres muçulmanas vestindo burcas, trajes tradicionais do Afeganistão -  Foto: Shutterstock

Duas imagens de homens estão gravadas na minha mente desde dezembro
Na primeira, rapazes corajosos prestes a se sentar para fazer um exame universitário no Afeganistão se levantam, pegam seus exames e saem da sala. Eles estavam protestando contra a obscena proibição imposta pelo Talibã de que mulheres frequentem a universidade.
Foi um ato de solidariedade comovente, uma corajosa manifestação de consciência moral em uma nação em que você pode ser severamente punido por fazer isso. Os homens prejudicaram sua formação para se posicionar contra a horrível misoginia de seu governo.
 
Na segunda imagem, uma fileira de homens de Holyrood, o Parlamento escocês, aplaude, enquanto o projeto de lei de identificação de gênero de Nicola Sturgeon é aprovado. Os homens não se parecem em nada com nossos heróis afegãos modestamente vestidos. Suas vestes são excêntricas. Eles têm cabelos compridos e estranhamente coloridos. E nem se consideram homens — eles afirmam ser mulheres. 
E seu ato era o mais distante possível de um gesto de solidariedade. 
Eles comemoravam a aprovação de um projeto de lei que vai tornar ridiculamente fácil para um homem ser reconhecido como mulher do ponto de vista legal. 
Onde os valorosos afegãos estavam lutando pelos direitos das mulheres de adentrarem a esfera da educação, os sorridentes ativistas trans em Holyrood estavam lutando pelo direito de homens adentrarem espaços reservados a mulheres. O primeiro grupo quer que os direitos das mulheres se expandam; o segundo, que eles diminuam.

Que tipo de sociedade vira as costas para o massacre de centenas de mulheres iranianas pelo crime de quererem mostrar o cabelo em público só para se concentrar em dar a homens o direito de mostrar o pênis em espaços exclusivamente femininos?

Nada pode capturar melhor a degeneração moral do Ocidente moderno do que o contraste entre esses dois eventos no mês passado. 
É simplesmente vil que, enquanto mulheres eram expulsas das universidades no Afeganistão e reduzidas a cidadãos de segunda classe da maneira mais brutal, a questão que ocupava a mente dos supostamente virtuosos no Reino Unido fossem os direitos de homens afirmarem ser mulheres. 
 Valorosos homens afegãos arriscam o pescoço pelo direito das mulheres de aprenderem ao lado deles. 
No Ocidente, homens cheios de virtudes, que declaram seus pronomes e são veganos, não colocam nada em risco pelo direito de um homem se despir ao lado de uma mulher.
Nicola Sturgeon tira uma selfie com a camiseta Choose Love, 
em Glasgow, Escócia (15/6/2018) | Foto: Oliver Wain/Shutterstock
Há uma sensação de “os últimos dias de Roma”. Apenas uma sociedade que se tornou profundamente descolada da razão e da racionalidade poderia dedicar tanta energia ao egocentrismo da ideologia de gênero. Apenas uma sociedade que se tornou totalmente míope pode falar tanto sobre “mulheres com pênis” enquanto mulheres de fato — sem pênis — no Afeganistão e no Irã estão sendo espancadas e assassinadas por exigirem direitos básicos
Que tipo de sociedade vira as costas para o massacre de centenas de mulheres iranianas pelo crime de quererem mostrar o cabelo em público só para se concentrar em dar a homens o direito de mostrar o pênis em espaços exclusivamente femininos?
 
Precisamos entender por que a vingança do Talibã contra as mulheres não repercutiu no Ocidente. Em dezembro, mulheres afegãs foram banidas das universidades e de trabalhar em ONGs. Sim, houve cobertura da mídia dessas atrocidades misóginas. Sim, houve condenação
Mas esses atos de tirania não agitaram a consciência dos progressistas ocidentais tanto quanto questões como os direitos trans ou a mudança climática. 
Em dezembro, a bolha descolada do Reino Unido se enfureceu muito mais contra as feministas radicais que se opuseram ao projeto de lei de Sturgeon do que com os desmandos sexistas do Afeganistão e do Irã.
 
A traição dos progressistas nos diz muito sobre os nossos tempos. Em primeiro lugar, há o fato de que não podemos mais definir o que é uma mulher.  
Como você pode oferecer solidariedade às mulheres se você não sabe o que elas são?
Essas pessoas vão marchar com cartazes e dizer “Solidariedade para as pessoas no Irã que menstruam” ou “Defendam os direitos de quem tem útero no Afeganistão”? A demolição da linguagem tem consequências. Nesse caso, a consequência é roubar das pessoas a capacidade de entender a natureza da opressão específica do sexo em lugares como o Afeganistão e o Irã. Mentes confundidas pelo dogma de gênero perdem a habilidade de pensar com clareza sobre o sexo.
 
De fato, o culto trans é tão moralmente desequilibrado que ele acaba fazendo, de maneira mais sutil, o que o Talibã faz: apagar as mulheres. Não, ativistas trans não são iguais aos tiranos do Talibã
As mulheres no Reino Unido não sofrem nada parecido com a humilhante falta de liberdade que as mulheres no Afeganistão enfrentam. 
Ninguém se beneficia de minimizar os horrores do controle do Talibã fazendo uma comparação não apropriada com as bobagens que acontecem por aqui. 
No entanto, uma estranha vontade de apagar as mulheres da vida pública toma conta tanto dos ocidentais woke quanto dos islamistas orientais
O Talibã o faz com roupas pretas e leis brutais. 
Os neomisóginos do Ocidente o fazem por meio da manipulação da linguagem, de modo que até o uso da palavra “mulher” se tornou problemático. É preciso dizer “mulheres cis”. Ou “menstruadoras”. O Talibã apaga as mulheres para que os homens religiosos não se sintam ofendidos.  
Os descolados apagam a linguagem da condição da mulher para que homens que acham que são mulheres não se sintam ofendidos.
Escócia pede desculpas por leis homofóbicas do passado - 
 Foto: Divulgação
E temos a calamidade do relativismo. A relutância do Ocidente em fazer julgamentos morais sem dúvida contribuiu com o relativo silêncio sobre o Afeganistão e o Irã. As pessoas se perguntam loucamente se as nossas sociedades de fato são melhores que as deles. Mona Eltahawy condena “mulheres brancas que celebram as mulheres iranianas”, pedindo-lhes para pensar nos “zelotes brancos e cristãos” em suas próprias nações. Isso faz eco aos comentários de Barack Obama em 2015 sobre o Ocidente não estar em condição de criticar a violência religiosa do Estado Islâmico: “Vamos descer do pedestal… Vamos lembrar que, durante as Cruzadas e a Inquisição, as pessoas cometiam atos terríveis em nome de Cristo”.         O autodesprezo do Ocidente dificulta a solidariedade em relação aos povos oprimidos. 
O luxuoso antiocidentalismo dos ativistas privilegiados significa que eles nunca precisam levantar a voz pelas pessoas que enfrentam a opressão no presente. É uma covardia moral disfarçada de consciência histórica.

Os neomisóginos do Ocidente o fazem por meio da manipulação da linguagem, de modo que até o uso da palavra “mulher” se tornou problemático. É preciso dizer “mulheres cis”. Ou “menstruadoras”

O relativismo moral fica totalmente evidente em expressões como “islamofobia” e “hijabfobia” (ou seja, hostilidade em relação ao hijab). Aqui, o ato de emitir um julgamento moral é não apenas desencorajado, ele é patologizado. Critique o islamismo ou o véu, e você será taxado de fóbico — doente, descontrolado. 
Como os jovens criados com regras tão rígidas contra críticas ao Islã podem condenar as autoridades do Afeganistão e do Irã? 
É quase impossível se manifestar contra a misoginia do Talibã ou a imposição do véu no Irã sem desobedecer a pelo menos uma regra sobre questionar o Islã. 
Não podemos nos surpreender que as sociedades ocidentais inundadas com novas formas de lei de blasfêmia que proíbem qualquer reprovação ao islamismo tenham tão pouco a dizer quando governos islamistas se comportam de forma lamentável.
Mulher afegã perto da Mesquita Azul, na cidade de Mazar-i-Sharf, 
no Afeganistão | Foto: Shutterstock
Não, não precisamos de uma intervenção ocidental no Afeganistão. Já chega disso. 
Mas poderíamos ter mais solidariedade prática, verbal às mulheres de lá, e às mulheres no Irã, que estão enfrentando níveis intoleráveis de repressão preconceituosa. 
Sem dúvida devíamos nos perguntar como nos tornamos tão moralmente desorientados que não sabemos mais dizer o que é uma mulher, por que existem problemas no Irã, no que uma sociedade livre e igualitária como a nossa é melhor que uma sociedade reprimida e desigual como a do Irã ou a do Afeganistão. Ficou claro: nossa confusão moral é, cada vez mais, uma força destrutiva.

Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show.
Ele está no Instagram: @burntoakboy

Leia também “A verdade sobre o macarthismo da covid-19”

Brendan O'Neill, da Spiked

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Congresso e transição Petrobras, armas, até a Bíblia: o Estado se mete em tudo - Gazeta do Povo

Vozes - Alexandre Garcia

A Câmara dos Deputados, como se não tivesse mais nada com que se preocupar, como se não houvesse esse problema da eleição, da contagem de votos, das urnas antigas, aprovou um projeto de lei que proíbe fazer mudanças na Bíblia, no Novo e no Antigo Testamento.  
Esse é um assunto para cada religião, cada igreja tem a sua versão da Bíblia. 
Um dos deputados disse que isso não se mexe. 
Parecia que estava tratando do Corão, lá no Afeganistão.
 
Mas nós não somos uma teocracia. Esse não é um assunto de Estado, é um assunto das religiões. 
Se agora estão colocando a lei acima das religiões, daqui a pouco a lei vai querer alterar também o ritual das celebrações religiosas. Ainda bem que isso ainda vai para o Senado, e os senadores podem corrigir esse engano.
 
Isso é coisa de gente que acha que o Estado pode tudo. Querem outro exemplo? Na equipe de transição, o ex-governador do Maranhão Flavio Dino, que era do PCdoB e agora foi eleito senador pelo Partido Socialista Brasileiro, diz que o Estado pode, que tem o poder de revogar todos os portes e registros de arma. 
Todo mundo passaria a ter arma ilegalmente, assim como os bandidos têm – bandido, aliás, não vai ser afetado, porque não tem nem porte e nem registro. Mas em 2005 o Estado perguntou aos brasileiros em referendo, e 64% disseram “sim” às armas
É desejo da população ter um meio para defender sua vida e seu patrimônio.

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Flavio Dino disse mais: que o Estado tem poder também de revogar uma decisão da Anvisa, por exemplo, que é uma agência autônoma que dá licença para certos medicamentos. [alguém checou a escolaridade do comunista Flávio Dino?] 
Quer dizer que o Estado está entrando até na área médica – aliás, a autonomia deveria ser do médico, nem da Anvisa. É o Estado se metendo cada vez mais em tudo. E o que é o Estado? É uma burocracia que não está produzindo, não está plantando, não está empregando, mas está lá, botando regra. [no caso do Maranhão é o estado e os políticos que o governam, entre eles o tal Dino, que confere àquele estado o pior IDH do Brasil.]
 
Senador já adianta que governo vai interferir cada vez mais na Petrobras  
O senador Jean-Paul Prates, cotado para ser ou presidente da Petrobras ou ministro de Minas e Energia, disse que vão ter de mudar a política de dividendos da Petrobras. Ele está dizendo para o mercado que esse país não é do mercado. E mais, disse ele: a política de preços não é da Petrobras, é do governo. Já percebemos, não?  
Será que essa foi a vontade de 60 milhões de eleitores, tornar o sistema brasileiro estatizante?
Isso é um regime totalitário, quando o Estado é que manda; porque democracia é quando o povo manda, o povo é a origem do poder. Quando o Estado baixa decretos e decisões, alterando liberdades básicas, aí o sistema é outro, não pode ser chamado de democrático.[perguntar não ofende: e quando o Estado adota medidas que violam à democracia, a pretexto de combater atos antidemocráticos?] 
 
Presidente da Câmara vai ao Catar, como se estivesse tudo tranquilo no Brasil
Em plena efervescência desse assunto de urnas, o presidente da Câmara viajou para o Catar, para ver um jogo do Brasil, e volta logo depois. Contando ida e volta, são 25 horas de avião
Pelo jeito está com tempo de sobra, não há problemas na Câmara Federal, não há problemas dos seus representados. [para Arthur  Lira as coisas podem até melhorar. 
Exemplo: seu mandato de presidente da Câmara dos Deputados - condição que o torna o primeiro na linha sucessória, após o vice-presidente, vai até o inicio de FEVEREIRO/2023. 
Tem o quiproquó das urnas, que no limite pode adiar a posse do 'eleito'  e com Bolsonaro e Mourão sem mandato a partir de 1º jan 2023, adivinhem  quem assume interinamente a Presidência da República?]
São os representantes que não estão fazendo jus ao voto dos representados, isso é terrível para a democracia. 
Aliás, esqueci de comentar que a equipe de transição anda falando em criar mecanismos de Estado para defender o Estado. A desculpa é defender a democracia – a mesma desculpa de Stalin, de Hitler, de Mussolini, sempre “defender o Estado”
É a força do Estado se sobrepondo à democracia, à força que emana do cidadão. É bom ficarmos atentos a isso.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 


sexta-feira, 17 de junho de 2022

Joe Biden, o sindicalista insano - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo

A taxa de aprovação do governo Joe Biden beira os 30%, uma das menores da história. Não é por acaso. Biden já é o pior presidente americano, pior até do que Jimmy Carter.  
Sua geopolítica é um fiasco total, com a saída atabalhoada do Afeganistão e a guerra da Rússia contra a Ucrânia. E sua gestão econômica é um desastre.

Joe Biden, o sindicalista insano

A inflação bate recordes e é a mais alta em quarenta anos. 
 Diante deste preocupante quadro, o que faz o presidente americano? Resolve enaltecer os sindicatos e ameaçar as grandes empresas com aumento de impostos! 
É a receita perfeita para quem quer mesmo um desastre.

Biden fez um discurso esta semana para sindicalistas, afirmando que os sindicatos são a raiz da classe média americana. Para Biden, não foi Wall Street que construiu a nação, mas sim a classe média que, por sua vez, foi criada graças aos sindicatos. Nada mais longe da verdade!

Se Biden quer ver o resultado de um país mais sindicalizado, ele poderia começar pelo Brasil. Em nosso país, os sindicatos possuem o poder que Biden gostaria de ver nos Estados Unidos, enquanto o mercado de capitais, ao contrário, é bem menos desenvolvido. Em meio a uma crise preocupante, Biden resolve declarar guerra aos negócios e ao livre mercado! "O poder sindical é essencialmente o poder de privar alguém de trabalhar pelo salário que uma pessoa estaria disposta a aceitar", disse o austríaco Friedrich von Hayek, Prêmio Nobel de Economia. Sindicatos criam reservas de mercado que punem os trabalhadores e geram alta de preços. Não por acaso cada vez menos trabalhadores são sindicalizados na América.

A economia de mercado pode ser descrita também como a democracia dos consumidores. Os empreendedores e capitalistas não são autocratas que determinam o que deve ser produzido independentemente da demanda. Eles estão sujeitos à soberania dos consumidores. São estes que, em última instância, decidem quais produtos serão os vencedores no mercado. Os sindicalistas gostariam de mudar isso, transformando tudo numa “democracia dos produtores”. A ideia é enganosa, como define Mises em Ação humana, já que o propósito da produção é o sempre o consumo.

O que mais incomoda os sindicalistas no sistema capitalista é sua suposta frieza na busca pelo lucro. Mas o que eles ignoram é que essa busca é precisamente o que garante a supremacia dos consumidores. Sob a competição do livre mercado, os empresários são forçados a melhorar suas técnicas e oferecer os melhores produtos pelos menores preços. Por isso eles são levados a pagar somente o salário de mercado, ou seja, aquele decorrente da produtividade do trabalhador, sujeito às leis da oferta e demanda. Se um trabalhador pede aumento porque sua mulher teve mais um filho, e seu empregador nega alegando que o nascimento do filho em nada acrescenta à produtividade da empresa, ele age em função dos melhores interesses de seus consumidores.

Afinal, esses consumidores não estão dispostos a pagar mais pelo produto porque o trabalhador aumentou sua família. 
A ingenuidade dos sindicalistas se manifesta no fato de que eles mesmos nunca aceitariam o mesmo argumento na compra dos produtos que eles consomem. 
O sindicalista enquanto consumidor não questiona nas lojas se o bem foi produzido por empregados com poucos ou muitos filhos. 
Ele quer o melhor produto pelo menor preço. 
E quando ele exerce essa escolha, ele próprio está definindo como o empregador deve agir, sempre mantendo o menor custo possível, o que abarca um salário de acordo apenas com o valor agregado pelo trabalhador.

Uma característica presente na mentalidade sindicalista é o foco no curto prazo. Para os sindicalistas, a empresa tem um lucro que pode ser dividido entre seus empregados. A função de empresário é vista como sem valor, uma “exploração” que permite a apropriação indevida damais-valia”. O sindicalista ignora completamente o fato de que as condições de mercado estão em constante mudança e decisões fundamentais, que podem selar o destino da empresa, precisam ser tomadas diariamente. A visão sindicalista é estacionária. Portanto, o sindicalismo ignora os problemas essenciais do empreendedorismo, como a alocação de capital entre os diferentes setores, a expansão de indústrias já existentes, o desenvolvimento tecnológico etc. Tudo é tomado como certo pelos sindicalistas, que desejam apenas uma divisão diferente daquilo já existente. Como Mises conclui, não seria injusto chamar o sindicalismo de uma filosofia econômica de pessoas com visão limitada.

A essência das políticas sindicais é sempre garantir privilégios para um grupo minoritário à custa da imensa maioria. 
O resultado invariavelmente será reduzir o bem-estar geral. 
Os sindicatos tentam criar barreiras contra a competição entre trabalhadores, com o objetivo de garantir privilégios para aqueles já empregados. 
Quando esses obstáculos são erguidos (como salário mínimo, necessidade de diplomas, restrições de horas trabalhadas e inúmeras outras regalias), o que os sindicatos fazem é dificultar a entrada de novos trabalhadores, que poderiam aceitar condições menos favorecidas. O resultado prático disso é maior desemprego na economia, assim como preços mais altos para os consumidores.

Ninguém precisa defender as ideias sindicalistas, muitas vezes impregnadas de violência, para se sensibilizar com as condições dos trabalhadores pobres. Na verdade, pode ser exatamente o contrário. A melhor garantia que esses trabalhadores têm para mudar de vida está no sistema capitalista de livre mercado. Com o foco nos consumidores, os empresários terão que investir em tecnologias que aumentam a produtividade do trabalho. Os salários terão aumento relativo aos preços dos produtos finais, lembrando que todos são consumidores. Os empresários no capitalismo desejam atender às demandas das massas, pois somente assim terão expressivos ganhos de escala. Os produtos de luxo serão sempre mais limitados, voltados para um público menor que aceita pagar bem mais caro.

Por isso os trabalhadores de países capitalistas desfrutam de condições bem melhores que aquelas encontradas em países socialistas.
Não adianta achar que imposições legais vão melhorar a vida dos trabalhadores. A solução para isso não está no decreto estatal, mas sim no próprio progresso capitalista. Foi ele que permitiu o acesso dos trabalhadores a diversos produtos que aumentam o conforto de maneira impensável mesmo para aristocratas do passado.

Diante dessa breve explanação, fica mais claro a insanidade da gestão econômica de Biden, o sindicalista. O presidente afirma que os sindicatos fizeram a América, ignorando que foram os sindicatos, por exemplo, que destruíram a então potente indústria automotiva no país. Quer ver as "maravilhas" do sindicalismo, então basta observar o que aconteceu com Detroit. 

Se alguém quer destruir os Estados Unidos, então basta fazer exatamente o que Biden tem proposto: punir quem gera riqueza e enaltecer quem quer apenas se apropriar da riqueza criada. 

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 11 de abril de 2022

Apertem os cintos, o comandante sumiu - Revista Oeste

Ana Paula Henkel

O partido de Joe Biden procura tentar conter o gigantesco dano causado em tão pouco tempo de mandato. E, para isso, nada melhor do que chamar Barack Obama 

A Casa Branca chama o ex-presidente Barack Obama | Foto: Montagem/ Revista Oeste
A Casa Branca chama o ex-presidente Barack Obama | Foto: Montagem/ Revista Oeste

Em um desses artigos, observo como o antigo Partido Democrata de John Kennedy não existe mais e que o que vemos hoje é um partido com políticas tão democratas quanto as políticas do Psol no Brasil. Muitos leitores entram em contato e me perguntam gentilmente o que, de fato, aquele insight, aquele sinal fez a minha “previsão” ser tão acurada. Vejam, eu adoraria levar o crédito de que algumas “previsões” foram parte de uma análise mirabolante. Mas, como eu disse, não há nada de mirabolante nisso. A única coisa que fiz foi ouvir. Nada de “leitura nas entrelinhas” ou “análises profundas”, não, nada disso. Foi tudo preto no branco. Cada palavra do que está acontecendo foi dita sem rodeios e sem firulas nas primárias democratas, depois nos debates presidenciais com Donald Trump. O problema é que chegou a conta de tanta sinceridade, combinada com uma eleição estranha. E ela chegou como um iceberg gigantesco na frente de um navio sem comandante.

Com Donald Trump, o malvadão do século, fora de cena, Biden agora emplaca um discurso de disco arranhando de que a culpa de todos os problemas na América é de Vladimir Putin
Com o perdão do trocadilho, só faltou combinar com os russos. 
Em janeiro de 2021, Donald Trump entregou um país, ainda dentro de uma pandemia, já com claros e sólidos sinais de recuperação econômica e com a imagem forte que sempre foi a marca registrada dos norte-americanos na política internacional.  
A instabilidade trazida pela administração Biden em poucos meses se solidificou de maneira surpreendente: inflação sem controle, desemprego em alta, crise histórica na fronteira sul com a maior imigração ilegal das últimas décadas,  reversão de políticas de independência enérgica da Era Trump, os maiores índices de criminalidade nas grandes cidades norte-americanas dos últimos 12 anos e, claro, o ápice da ineficácia e despreparo do democrata na Casa Branca: a retirada desastrosa e caótica das tropas norte-americanas do Afeganistão, causando a morte de 13 soldados norte-americanos. Isso, até hoje, está entalado na garganta da nação.

“Joe Biden não está ajudando”
E o que era óbvio para aqueles que votam em políticas e não personagens, para aqueles que assistem a debates e entrevistas com o cérebro e não com o fígado, parece ter chegado aonde menos se esperava: na velha imprensa norte-americana. 
Sim, a velha assessoria de imprensa do Partido Democrata está, dia após dia, dando as costas a Joe Biden. Poderíamos até levantar a teoria de que os militantes das redações querem empurrar Kamala Harris para o Salão Oval, mas Harris é detestada até pelos ativistas do New York Times e Washington Post, motivo pelo qual ela não conseguiu emplacar seu nome como candidata forte nas primárias democratas nem na Califórnia, seu Estado natal, e bateu em retirada sem números expressivos. 
O nome da vice foi escolhido apenas pela agenda identitária: mulher, negraA competência de Kamala como política é tão boa quanto a de Dilma Rousseff. Até as gafes no melhor estilo da “presidenta” do Brasil fazem parte do repertório da vice de Biden.,
 
A revista Rolling Stone, por exemplo, declarou recentemente que “Joe Biden não está ajudando”, como se o objetivo fosse “ajudar” como presidente, e não liderar. É sabido que até a própria família de Biden não queria que ele vencesse em 2020. 
Alguns dos parentes mais próximos do presidente garantiram a amigos que Biden estava concorrendo apenas para aliviar a dor da morte de seu filho dois anos antes, e que sair em campanha pelo país para limpar a cabeça e aliviar o coração era a melhor maneira para fazer isso. 
Verdade seja dita, o próprio Joe Biden sabia que não ia ganhar. 
E, durante meses, parecia quase certo que ele não venceria. A primeira apresentação de Biden no debate das primárias democratas, em junho de 2020, foi considerada um desastre. Parecia bastante óbvio que ele não tinha qualquer chance de ser o nome democrata. 
Logo em seguida, Bernie Sanders começou a ganhar primárias e destaque. O mesmo aconteceu em 2016 e, pelo segundo ciclo presidencial consecutivo, Sanders provou ser o único democrata em campo com apoio de base legítimo. Os doadores viram isso e entraram em pânico. O homem que odeia bilionários! O que ele vai fazer com Wall Street? Alguém pare este senhor!

A cantilena da imprensa
Bernie Sanders era inaceitável para as pessoas que financiam o Partido Democrata, mas havia um problema, as opções eram piores do que tirar Bernie da jogada — como em 2016. Pete Buttigieg, Beto O’Rourke, Elizabeth Warren? Não. Kamala Harris… horrível em todos os níveis. Absolutamente ninguém gostava de Kamala Harris e por boas razões. [fosse no Brasil a Harris seria imposta pelo absurdo sistema de cotas - que esperamos acabe em novembro próximo.]  
Então, acabou sendo Joe Biden por alguma chamada executiva de algum deus democrata: “Tirem as teias de aranha do material de campanha de Joe. Todas as nossas fichas estão com ele”. E, claro, a mídia entendeu a mensagem imediatamente. No momento em que Biden foi coroado como o salvador do mundo contra o malvado laranja fascista, a assessoria dos democratas — pode chamar de imprensa mesmo —, já tinha a cartilha na ponta dos dedos e na ponta da língua. Uma rápida pesquisa mostra o manual, quase infantil:

— Jemele Hill, CBS: “É um alívio ter adultos no comando”.

— John Brennan, ex-diretor da CIA de Barack Obama: “Agora temos adultos na Casa Branca”.

— Dana Bash, CNN: “Qualquer um que tenha alguma conexão com a realidade sobre o que está acontecendo ao seu redor deve dizer: ‘Os adultos estão de volta à sala'”.

— Cornell Belcher, MSNBC: “Parece que temos um adulto profissional mais uma vez na Casa Branca”.

— Fareed Zakaria, CNN: “Realmente, o que eu diria é que os adultos estão de volta”.

— Nicolle Wallace, ex-assessora de George W. Bush, MSNBC: “Há uma sensação, eu acho, em todo o mundo, de que os adultos voltaram”.

— Jonattan Capehart, Washington Post, MSNBC: “Temos um adulto na Casa Branca agora e isso é glorioso”.

— Don Lemon, CNN: “Ok! Os adultos estão de volta na sala!”.

Detalhe: Don Lemon, âncora da CNN de um dos importantes telejornais da emissora, chorou ao vivo quando deu o resultado final da eleição de 2020 e noticiou a vitória de Joe Biden. Onde estão os adultos na imprensa?

Chama o Obama!
Biden certamente é um adulto e completará 80 anos neste ano, mas ninguém em Washington acha que a Presidência de Biden é gloriosa. A verdade é que todos sabem que ele é um desastre. 
As pesquisas mostram que os eleitores concordam com essa afirmação. Os números de sua popularidade só não são mais baixos do que os de Kamala Harris
Joe Biden é a pessoa mais impopular em praticamente qualquer lugar. 
 
(...)

Durante a pomposa recepção àquele que foi um dos piores presidentes dos EUA, chamado às pressas para tentar evitar um banho de sangue nas eleições de novembro, o atual presidente dos Estados Unidos, em sua própria Casa, foi evitado como o diabo evita a cruz. Ninguém falava com ele e, em um momento de visível confusão mental, tudo diante de várias câmeras, ele se afasta olhando para o vazio enquanto uma multidão se formava em torno do ex-presidente Barack Obama, que, obviamente, demonstrava muita satisfação pela atenção. Mas nada que já não esteja ruim não possa piorar. . Algumas das principais manchetes nesta semana em veículos alinhados ao Partido Democrata não deixam dúvidas:

— ABC News: “A apreensão dos eleitores está maior do que apenas o aumento dos preços ou a guerra da Rússia na Ucrânia. A criminalidade violenta nas cidades norte-americanas permanece persistentemente alta e há um problema crescente na fronteira”.

— CNN: “O índice de aprovação do presidente Biden ainda não atingiu o fundo e vem caindo durante todo o ano”.

— NBC News: “A inflação altíssima está acabando com os salários maiores. Embora os ganhos por hora tenham aumentado 5,6% em relação ao ano passado, um em cada cinco trabalhadores diz que fica sem dinheiro antes de receber o próximo pagamento”.

— ABC News: “Temos uma inflação histórica e preços recordes de combustível. Os norte-americanos estão sentindo isso”.

—Revista Politico: “Os números de Biden caíram dois dígitos com os eleitores jovens, que foram uma grande parte de sua coalizão em 2020”.

Culpa de Vladimir Putin
Então parece que a inflação é real e não é transitória como o governo de Biden anunciou inúmeras vezes em 2021? Então parece que cortar verbas para as forças policiais (Defund the police, slogan de dez entre dez democratas desde 2020) na verdade aumenta o caos e que o crime e a desordem nas cidades também são reais? 
E, vejam vocês, parece que uma guerra inútil com a Rússia, empurrada pelos democratas beligerantes até para ser usada como cortina de fumaça diante de tantos problemas domésticos, não é tão popular quanto pensavam. De repente, a imprensa resolveu admitir tudo isso. Durante meses, Biden vem dizendo que tudo de ruim que o norte-americano está percebendo ao seu redor é, claro, culpa de Vladimir Putin. E a mídia o apoiou. Mas, de repente, não está mais comprando a bobagem de que os quatro anos de Trump na Casa Branca sofreram interferência russa, nem de que Putin é o grande vilão do caos no cotidiano norte-americano.

(...)

Questão de sobrevivência
Já está muito claro que o Partido Democrata e sua grande ala na imprensa decidiram descartar Joe Biden. Nunca houve uma ordem oficial para fazer isso, mas o que percebemos é a mente coletiva trabalhando para acabar com a erva daninha do momento. Sem dó. Os democratas têm as mesmas reações porque têm os mesmos instintos: “Biden é fraco, devemos nos livrar dele”. Para a maioria das pessoas, isso soa duro e implacável, ainda mais considerando os anos de janela do democrata no partido. No entanto, no reino animal é uma resposta totalmente natural. É a primeira regra das matilhas. O conhecido fratricídio no reino dos bichos que operam por instinto não é nada pessoal. É apenas uma questão de sobrevivência do grupo, e é exatamente assim que o Partido Democrata opera.
 
O Partido Democrata opera como operam os balaios coletivistas da turma preocupada com o “bem-estar de todos”. Os indivíduos são irrelevantes. O grupo é tudo o que importa. Ninguém no partido realmente se importa com Joe Biden ou jamais se importou, ou se importa, com George Floyd, Greta Thunberg ou qualquer outra pessoa que é explorada como herói insubstituível para alguma pauta política. Todas as pessoas são dispensáveis. O que importa é o partido e o partido importa porque nos números há poder. E os números de Biden são horríveis. Um dos piores de toda a história dos Estados Unidos da América. E, claro, em algum nível, Joe Biden sabe disso. Ele entende como isso termina. Inevitavelmente, depois de 50 anos no partido, é sua vez de ser eliminado. Como ele vai sair de cena, gritando por misericórdia ou aceitando a derrota como um homem, é a única pergunta. 
De qualquer maneira, que saia de cena logo. 
Os Estados Unidos e o Ocidente precisam de uma liderança capaz de reverter os danos de um presidente que, além de inepto, mostra fraqueza. Animais se guiam por instintos, e os tubarões já perceberam que há sangue na água.

Leia também “Uma tragédia anunciada”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste - MATÉRIA COMPLETA


sábado, 12 de março de 2022

É Rússia, não URSS - Carlos Alberto Sardenberg

Muita gente, lá fora e aqui, está cometendo um grande equívoco: pensar a Rússia como se fosse a União Soviética. Não é.

No tempo da URSS, Moscou tinha uma mensagem não apenas para a Europa, mas para o mundo todo. O marxismo soviético era uma construção completa: definia desde a organização da sociedade política, da produção e distribuição de riqueza até a vida cultural.

Mais importante: essa ideologia era partilhada pelo mundo afora. Nos países já no âmbito da URSS, havia partidos, militância e apoios locais ao marxismo soviético.

Não se tratava de uma “simples” dominação externa, mas de identidade ideológica, pelo menos de parte das populações. Mais ainda: nos países que estavam na órbita do Ocidente, em muitos havia partidos comunistas de sólida representação popular. Itália e França, por exemplo.

Em outros países, havia PCs ilegais, mas muito atuantes, especialmente no setor cultural.  Em Moscou, existia uma universidade onde só estudavam alunos de outros países. Uma escola séria, competente no ensino de história, política e cultura, do ponto de vista do marxismo soviético.

A guerra fria, portanto, era uma disputa entre duas articuladas visões de mundo.

Uma dessas visões simplesmente veio abaixo. O socialismo soviético morreu – e por ação de suas populações locais. Reparem: o muro ruiu sem que o Ocidente precisasse dar um tiro.

Não houve invasão do Leste, nenhuma conquista. Apenas as populações locais, quando puderam ver o que acontecia no outro lado do mundo, decidiram mudar de vida e de regime. Para o marxismo soviético, foi uma vergonha como os alemães orientais correram para comprar Coca-Cola em Berlim.

Como os ex-socialistas se arrumaram? Pessoal da Europa Leste entendeu rapidamente que o melhor negócio era entrar para a União Europeia um mar de prosperidade. Bastava olhar como Espanha e Portugal saíram da pobreza com a entrada na UE.

A China, sempre mais competente, já percebera a mudança – e introduzia o capitalismo e a propriedade privada, base de sua ascensão, ainda que com forte controle estatal.

As opções ficaram assim, simplificando: qual capitalismo se vai seguir, com mais ou menos Estado?

Na política, também simplificou: ou a democracia ou a ditadura.

A Rússia de Putin é o quê? Um capitalismo de compadres,”crony capitalism”, e uma ditadura assassina. E um maluco que se acha na “Grande Rússia”.

Para o ex-soviéticos, bastava entrar na União Europeia em busca de prosperidade. Não se interessavam pela OTAN, muito menos hostilizar a Rússia.

Por que, a um determinado momento, resolveram entrar para a OTAN? Por causa das ameaças de Putin, quando ele conseguiu dar uma arrumada na Rússia.

Em resumo – a URSS tinha uma proposta para o mundoum baita equívoco, como se viu depois. Mas brilhou durante muito tempo.

A Rússia de Putin tem o que? Ameaças imperialistas.

Portanto, chega dessa história de avanço da OTAN para o Leste. Foram as populações do Leste que, democraticamente, fizeram sua opção.

Azar da Ucrânia, que se atrasou com aquele ditador pró-russo. Aliás, reparem: só ficam com a Rússia os ditadores, incluindo os nossos aqui da América Latina. A Rússia não foi ameaçada. Ela é a ameaça. E Putin vai cair do mesmo modo que caíram os outros: pela reação de seu próprio povo.

Portanto, chega de comparar a invasão da Ucrânia com os casos de Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão – estados incentivadores de terrorismo. EUA e Europa têm seus pecados, mas não se pode compará-los com essa Rússia de Putin.

A Europa abriu-se a negócios com as empresas russas.
Companhias e investidores ocidentais foram para a Rússia. Empresas russas se instalaram na Europa.

Por que Putin simplesmente não deixou essa integração prosseguir? A melhor hipótese: ele temia que a “excessiva” ligação com o Ocidente mostrasse aos russos onde a vida é melhor.
[lembrando: - um dos pilares do Ocidente, os EUA, tem um presidente que iniciou seu mandato, assinando ordens executivas favorecendo o aborto, limitando a autoridade das polícias e por aí vai;
-  o Zelinsky todo dia reúne jornalistas apoiadores e repete aquele monótono lenga-lenga de que o pessoal da Ucrânia é valente, não vai se render, que mais sanções precisam ser aplicadas contra a Rússia,o espaço aéreo da Ucrânia deve ser declarado 'zona de exclusão' = uma forma malandra de tentar envolver outros países na 'sua' guerra, etc, etc.
Encerra o palavrório e no dia seguinte repete tudo, com um detalhe inaceitável: mais ucranianos mortos.
Tal situação impõe a retirada imediata do Zelinsky, um plebiscito supervisionado pela ONU para que o POVO UCRANIANO decida soberanamente qual destino quer
O que não pode continuar é que para satisfazer a vaidade do presidente ucraniano, mais ucranianos continuem morrendo.]

E Putin simplesmente não podia se juntar à União Europeia: seu regime não passa nos critérios de democracia e legislação de direitos humanos. Sobrou o que? Uma tentativa de formar um império de ditadores.

Carlos Alberto Sardenberg,  jornalista 

 Coluna publicada em O Globo - Economia 12 de março de 2022