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sábado, 21 de janeiro de 2023

Quem é o novo comandante do Exército, Tomás Miguel Ribeiro Paiva - O Globo

Comandante Militar do Sudeste assume o posto de Júlio César de Arruda, demitido pelo presidente Lula (PT) neste sábado

Comandante militar do Sudeste defende resultado das urnas em discurso

Comandante militar do Sudeste defende resultado das urnas em discurso Reprodução

Com a demissão de Júlio César de Arruda do comando do Exército, o substituto escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o comandante militar do Sudeste, Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva. A escolha acontece um dia depois de Paiva pedir a sua tropa respeito aos resultados das urnas e chamar os últimos atos no país de "terremoto político".

Aos 62 anos, Ribeiro Paiva nasceu na capital paulista e já foi chefe de gabinete do general Eduardo Villas Bôas. Ele assumiu o comando do CMSE em abril de 2021, ainda na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A unidade abrange 59 organizações militares e tem um efetivo de mais de 17 mil militares.

Quando ainda havia expectativa sobre que nome Lula escolheria para iniciar seu governo à frente do Exército, Ribeiro Paiva era tratado como o segundo da lista e o preferido de aliados de Lula. A escolha se confirmou por Arruda, em acordo com a equipe de transição.

No Exército desde 1975, Ribeiro Paiva foi aluno da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas (SP), tem cursos de Formação, de Aperfeiçoamento, de Comando e Estado-Maior, além de especialização em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas. Ele também foi ajudante de ordens dos ex-presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

Durante sua trajetória na caserna, Ribeiro Paiva também comandou a Academia Militar das Agulhas Negras, a instituição de ensino superior responsável pela formação dos oficiais combatentes de carreira do Exército Brasileiro. Em 2012, ele comandou a Força de Pacificação da Operação Arcanjo VI, no Complexo da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro.

Sua chegada ao posto de general do Exército aconteceu em julho de 2019, quando passou a integrar o Alto Comando do Exército.

'Tem que respeitar o resultado da urna'
Em discurso no Quartel-General Integrado (QGI), em São Paulo, durante evento que homenageava os militares mortos durante terremoto no Haiti, nesta quarta-feira, Ribeiro Paiva pediu a sua tropa respeito aos resultados das urnas e chamou os últimos atos no país de "terremoto político".

"Também é o regime do povo. Alternância de poder. É o voto, e quando a gente vota, tem que respeitar o resultado da urna. Não interessa. Tem que respeitar. É essa a convicção que a gente tem que ter, mesmo que a gente não goste. Nem sempre a gente gosta, nem sempre é o que a gente queria. Não interessa. Esse é o papel da instituição de Estado, da instituição que respeita os valores da pátria. Somos Estado", afirmou o general.

Política - O Globo

 


segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Se Bolsonaro trocar 6 (seis) dos 11(onze) do Supremo... Jorge Serrão

Os “Donos do Poder”, seu Establishment, seu suposto “Poder Supremo”, a oposição covarde e a extrema mídia têm motivos concretos para preocupação. Em vez de bravatas e xingamentos, um surpreendentemente sereno Jair Bolsonaro exerceu a soberania do seu cargo na ofensiva contra seus inimigos declarados. No melhor estilo de um “Trump dos Trópicos”, Bolsonaro usou seu Twitter para anunciar que, nesta semana, pedirá ao Senado a abertura de processo de impeachment contra dois ministros do Supremo Tribunal Federal: Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Bolsonaro agiu institucionalmente, “dentro das quatro linhas da Constituição”, sem precisar apelar para o famoso artigo 142 (também da Carta de 88).

Bolsonaro sentou o dedo, em “quatro tempos” 
1) Todos sabem das consequências, internas e externas, de uma ruptura institucional, a qual não provocamos ou desejamos. De há muito, os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, extrapolam com atos os limites constitucionais. 
2) Na próxima semana, levarei ao Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, um pedido para que instaure um processo sobre ambos, de acordo com o art. 52 da Constituição Federal. 
3) Lembro que, por ocasião de sua sabatina no Senado, o Sr. Alexandre de Moraes declarou: ‘reafirmo minha independência, meu compromisso com a Constituição, e minha devoção com as LIBERDADES INDIVIDUAIS’. 
4) O povo brasileiro não aceitará passivamente que direitos e garantias fundamentais (art. 5° da CF), como o da liberdade de expressão, continuem a ser violados e punidos com prisões arbitrárias, justamente por quem deveria defendê-los.

O Comandante-em-chefe das Forças Armadas passou o sábado quietinho, nos quartéis. Participou da cerimônia de entrega de espadins aos 409 cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ). O Presidente não fez qualquer declaração pública, exceto as quatro tuitadas absolutamente institucionais.

Tudo dentro das 4 linhas da Constituição, por pior que seja a Carta de 88. E Bolsonaro ainda tem margem para agir. Antes de “chamar os militares” (como muitos pedem nas redes sociais e nas ruas), Bolsonaro tem de mobilizar sua tropa de choque do Centrão para dois movimentos que vão apavorar os inimigos e provocar um “referendo do sistema”. O primeiro é reunir o mínimo de 171 assinaturas parlamentares a favor da CPI do Voto na Câmara dos Deputados. A segunda é mobilizar o aliado Arthur Lira para levar ao plenário a votação da PEC 159, que derruba a chamada PEC da Bengala, ajudando a aposentar dois ministros do STF aos 70 anos de idade: Rosa Weber e Ricardo Lewandowski. Dura Lex sed Lex.

Bolsonaro deu a partida para um movimento institucional de renovação, em curto prazo, da escalação do time dos 11 do Supremo Tribunal Federal.   
Caso o Senado tenha brios e cumpra sua missão de botar para tramitar e aprovar o impedimento de Moraes e Barroso, e se a PEC 159 gerar a “expulsória” de Weber e Lewandowski, o STF sofrerá quatro “substituições”
Além dos dois que já indicou (Kassio Marques e André Mendonça), Bolsonaro teria a chance de emplacar mais quatro nomes na Corte Suprema. Seria uma renovação suprema impensável, sem qualquer necessidade de apelar para os famosos “um cabo, um soldado, um jipe ou tanques”.

Para que isso aconteça, Bolsonaro precisa de um verdadeiro e único “exército”: o povo - aquele que realmente detém o “Poder Supremo”, pois “Supremo é o povo”. Nas quatro linhas da Constituição, Bolsonaro só precisa evocar o artigo primeiro, e não, ao menos por enquanto, o 142 tão temido e criticado por seus opositores e inimigos. Só a pressão popular imediata tem a capacidade legítima de forçar os senadores a cumprirem seu papel. Essa pressão é que seria capaz de sensibilizar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a tomar providências. O senador mineiro Pacheco não tem interesse em mexer com o STF, pois, como advogado, tem 23 processos correndo por lá. As causas envolvem bilhões de reais em honorários advocatícios. O que Pacheco deixará prevalecer: sua liberdade política ou jurídico-empresarial? Eita conflito de interesses…

Por sua decisão contra Barroso e Moraes, Bolsonaro só recebeu uma ameaça explícita e pública. A senadora Simone Tebet twittou: “Presidente vai mesmo pedir ao Senado o impeachment de ministros do STF? Quem pede pra bater no ‘Chico”, que mora no inciso II, artigo 52, da CF, se esquece de que o ‘Francisco’ habita o inciso I do mesmo endereço”. [a senadora, uma ilustre desconhecida,  que agora com a Covidão está se tornando conhecida - lamentamos que todos que se tornarem conhecidos pela Covidão serão também mal afamados - fez uma ameaça sem sentido. Explicando para a senadora: até o presente momento e nos anos futuros impedir Bolsonaro não está ao alcance da senadora - continuam, e continuarão, faltando aqueles 342 votos, que se contrários a Bolsonaro,  permitirão abrir um processo contra o capitão. 
Depois da Câmara aprovar o processo contra nosso presidente, mais votação, é que o assunto poderá ir para o Supremo e ficar ao alcance da senadora. Até lá ela já terá constatado que não é bom negócio andar em más companhias.] O recado da Tebet é até irônico e bonitinho na retórica. Acontece que Bolsonaro já apertou, sem volta, o famoso “Botão F”. O Presidente tem apoio e pressão popular crescente a favor da medida. Certamente, o Poder Supremo fará de tudo e qualquer coisa para dar o troco. A guerra de todos contra todos os poderes ganha seu componente mais truculento do ponto de vista institucional.
Já pensou de Bolsonaro conseguir trocar, ainda neste ano de 2021, pelo menos seis ministros da atual composição do STF? 
E se, no ano que vem, conseguir eleger a maioria dos 27 senadores que serão submetidos ao referendo legítimo do voto popular? [essa tem chances; já a primeira depende do Romildo Pacheco ... ele preside o Senado, ele é o dono da pauta.]
Se isso acontecer, o Brasil começa um processo concreto de possibilidade real de mudanças institucionais. 
Tudo dentro das quatro linhas de uma Constituição que precisa ser renovada, modificada, só que na hora certa. 
Assim, a famosa “Casa da Mãe Joana” pode entrar nos eixos… O “Diabo” não pode continuar vestindo toga! Não é justo, nem legal, nem legítimo!

Releia o artigo: Cadeia pela legalidade X Ilegalidade da Cadeia


Alerta Total - Jorge Serrão, editor-chefe


domingo, 15 de agosto de 2021

Comandante do Exército diz que ‘não há interferência política’ na Força - O Globo

Jussara Soares

Equilibrando-se entre as tentativas de Bolsonaro de influenciar instituição e a expectativa de parte da cúpula dos militares, o general Paulo Sérgio Nogueira afirma ao GLOBO que 'o Alto Comando está com o comandante'

Paulo Sérgio Nogueira se equilibra entre Bolsonaro, que almeja demonstrações de apoio, e o Alto Comando, que quer blindar a caserna da política e evitar desgaste para a instituição Foto: Cristiano Mariz / 11-08-2021 
Presidente Bolsonaro e Paulo Sérgio Nogueira, comandante do Exército Foto: Cristiano Mariz / 11-08-2021
Desde quando assumiu o comando do Exército, em abril, o general Paulo Sérgio Nogueira se equilibra em uma linha tênue de expectativas. De um lado, o presidente Jair Bolsonaro almeja demonstrações de apoio irrestrito e influência na Força que lhe deu a patente de capitão. Do outro, integrantes do Alto Comando esperam que Nogueira blinde a caserna da política e evite um agravamento da crise de imagem da instituição. Diante disso, Nogueira negou ao GLOBO o desgaste e deixou claro: -
Não há interferência política no Exércitodisse o general por telefone ao GLOBO após participar ao lado de Bolsonaro de uma cerimônia na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) neste sábado O Alto Comando está com o comandante — garantiu.

A declaração ocorre após mais uma semana de tensão. Na terça-feira, o general foi convocado para uma reunião ministerial no Palácio do Planalto. Ao fim, o primeiro escalão do governo se perfilou no alto da rampa, junto a Bolsonaro, para acompanhar um desfile de blindados em frente à Praça dos Três Poderes. Entre eles, estava Nogueira. Militares quatro estrelas ficaram desconfortáveis em vê-lo no evento. [será que os quatro estrelas, ou algum deles, procurou a jornalista para falar desse desconforto? ou a jornalista perguntou? ] Nem o próprio comandante parecia à vontade na cena.

Não foi a primeira situação em que Nogueira ficou no meio de interesses difusos de fardados e de Bolsonaro. Em maio, a cúpula do Exército defendia a punição do general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, que participou de uma manifestação no Rio ao lado do presidente, o que é proibido a militares em atividade. Bolsonaro, por sua vez, agiu para blindar o ex-ministro, que acabou ganhando um cargo Palácio do Planalto. O recado foi entendido, e Pazuello se livrou da punição. O comando do Exército ainda impôs um sigilo de cem anos sobre o processo administrativo de Pazuello.

Nogueira enfrentou outra saia justa. Em julho, o ministro da Defesa, Braga Netto, preparou uma nota oficial, assinada também pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, para rebater críticas feitas pelo presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM). O texto oficial diz que as Forças Armadas não aceitariam “ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo.” Na ocasião, Nogueira estava em viagem ao Rio Grande do Sul. O texto, apresentado a à distância, estava pronto para ser assinado.

Esses e outros episódios já foram debatidos nas reuniões de integrantes o Alto Comando, que têm se mostrado preocupados com ataques de Bolsonaro às instituições. Ao final, generais estrelados, diante do momento de tensão, reafirmaram apoio irrestrito ao comandante do Exército. O argumento é que Nogueira não pode se opor ao presidente sob risco de conflagrar uma crise no país.

Nogueira chegou ao topo do Exército quando seu antecessor, o general Edson Leal Pujol, foi demitido junto com o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e os comandantes da Marinha e da Aeronáutica. O argumento principal é que Bolsonaro queria uma relação mais próxima com os chefes das tropas.

Descrito como afável, extrovertido e sociável, Nogueira adotou a discrição como regra. Em aparições públicas, calcula o tom das falas para não gerar conflito com o presidente e tampouco parecer que referenda eventuais posições políticas. Na estratégia de fugir de polêmicas, Nogueira deixou de usar o Twitter, um dos canais prediletos dos apoiadores de Bolsonaro. A sua última publicação ocorreu no dia 2 de abril, dois dias após ser anunciado no posto mais alto do Exército. Essa postura o diferencia dos comandantes da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, e da Marinha, Almir Garnier dos Santos, que utilizam as redes sociais.

Nos bastidores, porém, o comandante do Exército faz questão de sinalizar que está aberto a conversar com todas as autoridades. Já recebeu o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, e esteve com os governadores Ratinho Jr (PSD), do Paraná; Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco; e Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul. Os dois últimos são adversários políticos de Bolsonaro. Nogueira também já se encontrou com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Nessas conversas, segundo o relato de interlocutores, evitou comentários sobre o presidente ou qualquer crise no país.

A reserva do general à exposição política do Exército já era percebida por interlocutores do militar desde que ele estava à frente o Comando Militar do Norte (CMN), em Belém. A divergência se acentuou no 7 de agosto de 2020, um dia antes de o Brasil superar a marca de 100 mil mortos pela Covid-19, quando Nogueira assumiu o Departamento-Geral de Pessoal do Exército, a maior autoridade de saúde na Força. Na gestão, adotou as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), incluindo uso de máscara nos quartéis e distanciamento social. A adoção dessas medidas era contrária ao posicionamento de Bolsonaro.

Em função disso, o general não cogitava ser promovido ao comando do Exército. Até mesmo porque à frente dele estavam os generais José Luiz Freitas e Marco Antonio Amaro, atual chefe do Estado Maior, que havia sido chefe da segurança da ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo integrantes do Planalto, Amaro foi preterido pelo passado de serviços à petista, e Freitas por não ter proximidade com Braga Netto.

Quem conhece o general mais intimamente diz que o ar reservado nas cerimônias ao lado do presidente contrasta com o perfil extrovertido que o marca desde os tempos da Aman, onde se formou em 1980. Natural de Iguatu (CE), PS, como gosta de ser chamado, é filho de um funcionário do Banco do Brasil e de uma dona de casa. Católico praticante, tem três filhos: dois majores do Exército e um engenheiro. Na academia, o jovem de 1,82m e bom preparo físico praticou atletismo e futebol. É torcedor do Ceará.

Na trajetória militar, o general foi três vezes instrutor na Aman, e em uma delas como comandante do Curso de Infantaria. Ao menos dez turmas de cadetes passaram por ele, o que faz com que Nogueira tenha relacionamento com oficiais espalhados por todo o Brasil. Na prática, é o comandante que tem as tropas nas mãos.

Política - O Globo

 

quarta-feira, 21 de julho de 2021

"Por minha Pátria eu morro. E também mato e faço coisas que não vou listar aqui", escreveu general que assumiu logística da Saúde

A ascensão do general da reserva Ridauto Fernandes ao comando da diretoria de logística do Ministério da Saúde deu aos militares uma vitória na batalha pelo cargo, que a CPI da Covid mostrou ser alvo de disputa entre os fardados ligados a Eduardo Pazuello e o Centrão. Mas não só. Deu também ao presidente Jair Bolsonaro o conforto de ter num cargo tão sensível um seguidor fiel. 
 

 
 
 
O general, que chegou a defender a decretação de estado de sítio em maio de 2020, no auge da crise entre Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal, faz poucas  postagens em redes sociais. Mas continua manifestando apoio a Pazuello e Bolsonaro em listas fechadas de WhatsApp. 
 
Em novembro passado, no auge da briga pelas vacinas, ele protestou numa dessas listas contra um artigo que o jornalista Fernando Gabeira publicou em O GLOBO, intitulado "O perigoso esporte de humilhar generais"
Indignado com a afirmação de que Bolsonaro rebaixava as Forças Armadas ao desautorizar Pazuello em negociações de vacinas, Ridauto escreveu: "Por alguns valores, um militar passa (facilmente) por cima de muita coisa. Desculpem os que se sentirem ofendidos, mas por minha Pátria em morro. E também mato e faço coisas que não vou listar aqui, para não provocar chiliques."

Egresso das Forças Especiais, assim como vários outros membros do governo, o Ridauto formou-se na turma da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 1987. Chegou a general de Brigada em 2017, mas deixou as forças logo depois para trabalhar em consultorias. 
Na mensagem enviada em novembro a uma lista de WhatsApp da qual participam oficiais militares e PMs, o general não explicou que coisas ele faz que não poderia listar. Mas deixou claro que não estava brincando.
"Se eu achar que minha Pátria estiver precisando, aceito de cabeça erguida humilhações e cusparadas. E, se achar que minha Pátria estiver precisando, providenciarei para que aquele que a esteja agredindo seja neutralizado. Adoro essa palavra, neutralizado", completou. 
 
Ao fechar a postagem indignada com Gabeira, dizendo que teria um "grande prazer de estar ao lado do presidente" caso fosse preciso defendê-lo de alguma iniciativa ilegal para derrotá-lo, Ridauto afirmou: "Nem sempre cumprir o dever é algo sacrificante. Acha que o Exército mudou em 50 anos? Adoraria mostrar que não mudou".
 
Consultado por mim sobre a mensagem, o general diz que ela expressa seu pensamento desde sempre e que tem orgulho disso. "Destaco que, na data em que o expressei, não integrava qualquer órgão de governo e, portanto, falava somente por mim, com a liberdade que a lei me garantia".
 
Se o general é bom de logística não se sabe, mas não há dúvidas de que pode ser o escudo de que Bolsonaro e Pazuello precisam para blindar a diretoria mais radioativa do ministério da Saúde contras as investidas da CPI da Covid. 
 
A íntegra mensagem de Ridauto Fernandes à lista de oficiais e PMs:  
Militares de carreira são escravos de seus valores. Isso é o que a sociedade não entende. E, como seres humanos, são diferentes uns dos outros. Inclusive quanto à escala de valores, que varia de um para o outro.
 De um modo geral, varia pouco. O que quero dizer com isso, em relação ao tema abordado pelo ex-MR-8 Gabeira, é que, por alguns valores, um militar passa (facilmente) por cima de muita coisa. Desculpem os que se sentirem ofendidos, mas por minha Pátria em morro. E também mato e faço coisas que não vou listar aqui, para não provocar chiliques. Se eu achar que minha Pátria estiver precisando, aceito de cabeça erguida humilhações e cusparadas. E, se achar que minha Pátria estiver precisando, providenciarei para que aquele que a esteja agredindo seja neutralizado. Adoro essa palavra, neutralizado. Que ideia essa, Gabeira.
 
Pensar que a imagem do Exército e das Forças Armadas será arranhada, triscada sequer, porque o Presidente da República mandou um de seus ministros, que também é militar, fazer algo com que não concorda e o ministro, DISCIPLINADO, aceitou. Que ideia, Gabeira. Essa convivência próxima que vc mesmo diz que teve com certas lideranças militares não lhe ensinou nada? Mas não sou ingênuo de achar que vc apenas se enganou. Ah, não. Cada palavra sua é medida e pensada. E visa colocar integrantes das Forças Armadas, os menos experientes e menos preparados, contra seus Chefes.  
 
Tem coisa bem mais perigosa que humilhar generais, posso te assegurar. Quando vc diz que derrotará Bolsonaro e quantos militares estiverem a seu lado, estou imaginando que será pelo voto e pela via legal. É isso? Porque, se a ideia for outra forma QUALQUER, confesso que teria um grande prazer em estar ao lado do Presidente. Nem sempre cumprir o dever é algo sacrificante. Acha que o Exército mudou em 50 anos? Adoraria mostrar que não mudou. Gen Ridauto.
[BRASIL ACIMA DE TUDO! DEUS ACIMA DE TODOS!
O brado é a forma do Blog Prontidão Total  expressar seu total, amplo e irrestrito apoio ao inteiro teor da mensagem transcrita.
De longa data o ex-MR8 citado, expõe em seus artigos ideias de expressar reações ao governo do presidente Bolsonaro. Ele já conhece,já sentiu, o sabor da derrota.]
Correção as 16h49: O general Ridauto se formou na Aman em 1987 e não em 1981, como o texto informava anteriormente.

Malu Gaspar, colunista  - Blog em O Globo

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Nos tempos de cadete, Bolsonaro era bom atleta e médio em Economia - O Estado de S. Paulo

Luiz Maklouf Carvalho

[Curiosidades sobre o atleta, o cadete, aspirante, mergulhador, montanhista, paraquedista, capitão do Exército,  político e presidente da República Federativa do Brasil: Jair  Bolsonaro.
O criticam por não reconhecer o racismo onde não existe, mas foi ele que arriscando a própria vida salvou um soldado do Exército brasileiro, conhecido por 'Celso Negão'.]

Durante a formação militar, presidente eleito se destacou em educação física e atletismo, mas teve notas regulares em disciplinas financeiras e psicologia

As notas mais baixas do cadete 531, Jair Messias Bolsonaro, no terceiro ano da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em 1976, foram 5,4 em Psicologia II, e 5,9 em Economia e Finanças. No quarto ano, final do curso, ele tornou-se aspirante a oficial de artilharia como 12.º lugar entre 69 cadetes. Seu maior destaque, em toda a carreira militar, esteve no atletismo e na educação física, inclusive como instrutor. Como atleta, participou de inúmeros torneios militares, como pentatlos, conquistando prêmios em alguns, e elogios dos superiores em todos. Fez curso de paraquedismo, de montanhismo e de mergulho. Em fevereiro de 1987 somava 44 saltos em aeronaves militares em voo.

Ele próprio destacou esse lado de atleta em sua defesa no Superior Tribunal Militar, onde foi julgado (e inocentado) por fazer ameaça terrorista. No ponto em que foi chamado de ambicioso, por ter ido a um garimpo no interior da Bahia, em 1983, escreveu um autoelogio: “A admiração pela garimpagem bem demonstra a coragem de um oficial paraquedista que foi 1.º da turma na Escola de Educação Física do Exército, e 1.º lugar no curso de mergulho autônomo promovido pelo Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro”.

No mesmo documento, em que dispensou a presença de advogado, sublinhou o depoimento do segundo-sargento Jorge Mion, uma de suas testemunhas de defesa, sobre ter salvado o soldado Celso quando era aspirante, em 1978. “Não foi um salvamento qualquer”, escreveu Bolsonaro. “Foi um salvamento de um soldado do Exército brasileiro, durante uma instrução.” Repetiu, então, o que disse o sargento Mion: “o soldado caiu de uma corda, no meio da lagoa da pista, e teria morrido afogado, não fosse a pronta ação do então aspirante Bolsonaro, que, no meio de vários militares presentes, foi quem, arriscando a própria vida, lançou-se n’água e salvou a vida do soldado Celso. Foi por esse episódio, de 40 anos atrás, que o Exército o medalhou, recentemente, por bravura, alavancado por sua eleição a presidente. O soldado chamava-se Celso Nunes, e era conhecido por “Negão Celso”.

Uma outra testemunha de defesa, o tenente Djalma Antônio de Souza Filho, do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, foi instrutor do capitão em um estágio de mergulho autônomo. Ele contou que, em setembro de 1985, Bolsonaro foi voluntário na queda de um ônibus Cometa, no córrego do Vigário, “tendo trabalhado durante dois dias seguidos, realizando mergulhos de até vinte metros, sem revezamentos e em condições adversas”. Segundo essa testemunha, ele próprio pediu para não oficializar sua participação, por estar de férias.

Os nove elogios individuais que recebeu de superiores imediatos, como cadete da Aman, apontam, ao longo de quatro anos, “esforço, tenacidade, fibra, zelo e dedicação nos treinamentos físicos, inteireza moral, elevado grau de responsabilidade no cumprimento de suas obrigações, assiduidade, pontualidade, elevado padrão de consciência profissional, amor à carreira e desprendimento”.

As folhas de alterações registram três acidentes no mesmo período, nenhum mais grave. Em um deles, na tarde de 11 de março de 77, em uma sessão de educação física, “o cadete 531 bateu com a testa em uma árvore ao lado do campo, sofrendo um corte logo acima do supercílio esquerdo”. Levou quatro pontos.

Depois de servir no 21.º Grupo de Artilharia de Campanha, no Rio de Janeiro, em 1978, o segundo-tenente Bolsonaro foi transferido, a pedido, para o 9.º GAC, na longínqua Nioaque, em Mato Grosso do Sul. Ao sair do 21.º GAC, seu superior registrou que era um “oficial sincero em suas manifestações e atitudes, inteligente, sério, discreto, dotado de excepcional preparo físico e resistência à fadiga”. Ficou em Nioaque por alguns anos – período em que se casou com Rogéria Nantes, em Resende (RJ) –, sem prejuízo de viagens para dar cursos de instrução em educação física e participar de competições militares.

Serviu em Nioaque até o fim de 81, já pai de Flávio Nantes Bolsonaro, o hoje senador eleito. O coronel Ubirajara Souto Mayor, comandante do 9.º GAC, o elogiou pela “valiosa cooperação e eficiente participação nas atividades de instrução da unidade”, e por ter “cumprido corretamente, em seus mínimos detalhes, a desativação da usina de força e luz”.

Notas. Em 82, no Rio de Janeiro, Bolsonaro era aluno da Escola de Educação Física do Exército. Concluiu o curso no fim do ano, com nota 8,7, conceito Muito Bom, e primeiro colocado entre 37. As folhas de alteração mostram que o conceito se repetiu nos cinco quesitos avaliados: valor intelectual, aptidão para a chefia, aptidão para o trabalho em grupo, devotamento, espírito militar e resistência física.

Na conclusão do curso na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, no fim de 1987, já às voltas com a apuração da Beco sem saída, o Muito Bom só se manteve em resistência física. Os demais quesitos ficaram em Bom e Regular, este último em aptidão para trabalho em grupo e espírito militar. A nota final foi 7,68, o 28.º entre 49 alunos. Com essa bagagem é que saiu do Exército e entrou para a política.

O Estado de S. Paulo - Política - 01 de janeiro de 2019  

 

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Teste de popularidade - As pesquisas das ruas mostram a real popularidade de Bolsonaro


Alexandre Garcia

Na última eleição, em 2018, as pesquisas erraram feio em muitos estados importantes, tanto para governador quanto para senador. Eles não vão me  enganar pela segunda vez, como fizeram na primeira. Eu prefiro confiar no que eu vejo no dia a dia. Como aconteceu na sexta-feira (16), quando Bolsonaro parou a Via Dutra. Ele seguia para a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). A cada 20 veículos, 19 saudavam o presidente. 

Essa é a melhor pesquisa.
O presidente falou em seu discurso para os cadetes que eles serão os guardiões da liberdade. Ele citou várias vezes a liberdade, um dos bens mais preciosos de uma democracia. As nossas liberdades são atingidas quando invadem nossa propriedade, quando o direito de ir e vir é dificultado ou quando tentam tirar nossa liberdade de expressão. Precisamos estar sempre alertas, senão viramos uma Venezuela ou uma Cuba.

Bolsonaro saiu da Aman e foi a São José dos Campos para embarcar no avião. Durante o percurso passou por Caçapava (SP), lá entrou em uma das padarias mais tradicionais do município. Também em Caçapava, o presidente cortou o cabelo em um salão de beleza que tinha sido inaugurado naquele mesmo dia. A dona do salão, Edna Santos, havia feito um post na rede social avisando da inauguração e Bolsonaro marcou hora. É outra forma de checar a popularidade. É o que resta quando Congresso e STF indicam que o crime compensa?
Como nós ficamos, enquanto origem do poder, quando a deputada Flordelis (PSD-RJ) mata o próprio marido e continua no cargo? Ou quando o ex-vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR), desvia dinheiro e continua no cargo?

Ou até quando o ministro Marco Aurélio Mello solta um traficante e continua integrando o STF? [a supremacia é tão absoluta que sequer é cogitada ser realizada uma investigação?
Como ficamos nós mandantes, contribuintes e eleitores? 
O que vocês pensam a respeito disso? Eu faço essa pergunta.

A ignorância incendiária contra o governo Bolsonaro

Algumas autoridades do governo encolhem-se porque fatos são deturpados. Como aconteceu com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) recentemente. Não dá para haver esse encolhimento por parte do órgão. O fato é mais forte que o barulho que estão fazendo.

O órgão ia adquirir um agente retardador de fogo e a compra foi suspensa. Isso porque a narrativa do noticiário foi a de que estudos de 2018, do Ibama, apontaram para o risco de contaminação de solo, água e de alimentos na região atingida pelo agente químico. Mas se você pesquisar nas redes sociais é possível ver que o fire limit é usado em diversos países para acabar com incêndios e, consequentemente, salvar propriedades, animais e vidas. O produto é usado há muito tempo.

O domínio ideológico nas universidades precisa acabar
As listas tríplices para a escolha de reitores estão sendo enviadas.
Mas estão contestando, no STF, essa lei que é de 1992. O que não aconteceu nas últimas décadas, quando houve um domínio ideológico sobre as universidades federais. De acordo com o pedido feito, seriam enviados três candidatos, mas o indicado precisaria ser o mais bem avaliado pelas pessoas que fizeram a lista. Essa lista foi usada para aparelhar as universidades por mais de 20 anos.

Os conselhos universitários estão manipulando a lista tríplice, que deveria sair de uma escolha de comum acordo das partes envolvidas. Tem alguns casos que foram parar na Justiça, entre eles, o da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Essa é outra questão que precisamos ficar atentos. Porque esse domínio ideológico sobre universidades precisa acabar. Essas instituições deveriam priorizar o ensino e não a catequese ideológica.

Alexandre Garcia, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes


sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Os valores da farda que volta ao poder

Os oficiais do Exército brasileiro creditam à televisão, aos bancos, ao Congresso Nacional e às multinacionais, nesta ordem, o maior grau de influência política no país. Indagados que instituições deveriam exercê-la, os oficiais se incluem. Colocam as Forças Armadas em quarto lugar entre as aquelas que deveriam ter mais peso político, depois do Congresso, da academia e do Judiciário.
Confrontados com a afirmação do ex-ministro da Guerra do Estado Novo e ex-candidato à Presidência da República, general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, de que a política deveria ser mantida fora dos quartéis, a maioria dos oficiais do Exército manifestou discordância. A maior aderência à afirmação de que "cabe ao Exército agir, mesmo que politicamente, quando a pátria estiver em perigo" se dá entre jovens tenentes (63,5%). A adesão à tese agrega menos da metade (48,7%) dos coronéis e generais.
Os dados estão em "A Construção da Identidade do Oficial do Exército Brasileiro", publicado no ano passado pela editora da PUC-RJ. O autor, o major Denis de Miranda, é professor da Academia Militar das Agulhas Negras, escola de formação de oficiais e única porta para o generalato na Força. Por lá passaram o presidente Jair Bolsonaro (turma de 1977) e todos os generais do primeiro escalão, o vice Hamilton Mourão (1975), o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Heleno Ribeiro (1969), o titular da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz (1974) e o da Defesa, Fernando de Azevedo e Silva (1976).
O livro é resultado do mestrado em sociologia das instituições militares, da PUC-Rio, incentivado por convênio entre os Ministérios da Defesa e da Educação. Para escrevê-lo, Miranda enviou 2.015 formulários para oficiais formados na Aman. Recebeu de volta 643, o que deu à pesquisa uma margem de confiança de 98%. Entre aqueles que responderam, estão 90 generais e coronéis, 249 tenentes-coronéis e majores, 216 capitães e 88 tenentes. No prelo, na mesma editora, está novo levantamento, ainda mais amplo, encabeçado pelo coordenador do núcleo de sociologia das instituições militares, Eduardo de Vasconcellos Raposo. Os primeiros tabulamentos sugerem uma convergência entre os valores militares e aqueles que se fizeram vitoriosos no eleitorado nacional.

A pesquisa de Miranda mostra que a geração de oficiais pós-redemocratização quis se notabilizar pelas operações militares propriamente ditas, mas foi tragada por atividades como o combate à seca e as operações de garantia da lei e da ordem. Mais da metade dos entrevistados reconhece que as ações subsidiárias lhes trazem mais reconhecimento da sociedade. Esse perfil explica por que generais do Alto Comando do Exército têm demonstrado preocupação com a politização dos quartéis. A judicialização da política, como se viu, levou à politização do Judiciário. Não parecem infundados os temores de que a militarização da política leve à politização dos militares. A corporação que se vê mais reconhecida em atividades civis e advoga o dever de agir politicamente quando a 'pátria' estiver em perigo revela sua maior insatisfação com os seus rendimentos. Este batalhão de insatisfeitos terá uma proeminência política inédita nos últimos 30 anos num governo supostamente comprometido com o ajuste fiscal.
A tabela de soldos das Forças Armadas é parte da explicação para o primeiro tiro do general Mourão no anunciado conflito com o Judiciário - "Eles não conhecem o Brasil" (Valor, 28/12/2018). O soldo de um tenente (R$ 7,5 mil) equivale a um terço do salário de entrada de carreiras do Judiciário e do Executivo. A insatisfação salarial mitiga o espírito de corpo dos oficiais. Entre tenentes, grupo que tem menos de dez anos na carreira, mais da metade mudaria de carreira se pudesse preservar a estabilidade. No grupo de coronéis e generais, que já têm mais de 30 anos de Exército e estão às portas da aposentadoria, a intenção de virar a vida pelo avesso atinge apenas um em cada dez.
"Se não fosse militar, qual outra carreira seguiria?" A resposta demonstra o desacerto entre o espírito das Forças Armadas e o coração liberal do ministro Paulo Guedes. Ao ingressar na carreira, o oficial tem, a seu dispor, todo o plano de carreira das décadas seguintes, com as promoções e aperfeiçoamentos que precisará fazer para atingi-las. É essa mentalidade, e não o apetite da livre-iniciativa, que prevalece. Sem a farda, mais da metade rumaria para fazer um concurso público. Entre os mais jovens essa opção abocanha 72,7% de adesão.
Esse espírito de corpo se dilui no momento em que o Exército é mais endógeno do que nunca. A pesquisa de Miranda mostra que 45% dos oficiais são filhos de militares. Na década de 1960 a fatia de cadetes da Aman cujos pais estavam na carreira pouco ultrapassava um terço. Um outro estudioso das Forças Armadas e professor da Universidade Federal de São Carlos, Piero Leirner, atribui a essa endogenia o caldo de receptividade da base das Forças Armadas à candidatura de Jair Bolsonaro. A primeira vez em que se deu conta disso foi em 2012, quando ministrou curso na Fundação Getúlio Vargas, no Rio, para uma turma majoritariamente de militares. Um major reclamou da Comissão da Verdade. Mais tarde, em viagem de pesquisa a São Gabriel da Cachoeira (AM), região que vivia sob uma onipresente liderança do general Heleno Ribeiro, o clima era o mesmo.
O relatório da Comissão colocaria sob o mesmo carimbo os brigadeiros Eduardo Gomes, patrono da Aeronáutica, e João Paulo Burnier, cuja ficha corrida vai da tentativa de golpe contra Juscelino Kubitschek à trama que planejava explodir o gasômetro do Rio em 1968 para incriminar os dissidentes da ditadura. O relatório também teria abespinhado a geração da caserna que subiu a rampa com Bolsonaro por ter colocado no mesmo balaio Cyro e Leo Etchengoyen, respectivamente tio e pai do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional do governo Michel Temer, Sérgio Etchengoyen. O primeiro foi apontado pelo coronel Paulo Malhães como um dos responsáveis pelo centro de tortura de Petrópolis, que ficaria conhecido como Casa da Morte, mas o irmão foi chefe do Estado-Maior sem registro de envolvimento com tortura.
Ao relatório some-se a reação da ex-presidente Dilma Rousseff ao manifesto do Clube Militar contra o documento. A determinação para que a entidade, de caráter privado, se retratasse, foi seguida por outro manifesto, ainda mais duro. Foi depois desses fatos que Bolsonaro compareceu, pela primeira vez como convidado, à uma cerimônia de formatura da Aman, em 2014. Dava início ali a uma campanha marcada pela presença em cerimônias militares de toda ordem, às quais não compareceria sem a anuência dos comandantes.
O capitão, que ao longo de seus seis mandatos anteriores como deputado federal não ultrapassara as plateias de mulheres e viúvas de militares, cativaria, ao longo do sétimo, as bases das Forças Armadas e seu comando. Na pesquisa do major Miranda, o tema aparece na caixinha 'revanchismo político' como um dos maiores problemas das Forças Armadas, ainda que atrás das limitações materiais dos 'soldos baixos' e 'orçamento inadequado'. Serviu de amálgama a uma corporação, que desgastada pela ditadura, se construiu em torno de valores que buscavam diferenciá-la das instituições civis.
Se o revanchismo, a corrupção da esquerda à direita e a crise pavimentaram o apoio militar, não bastarão como norte para o governo. Na bússola do presidente não faltam ímãs que o empurram em direções opostas, a começar pela abertura ao investimento externo e à aliança incondicional com Donald Trump.  Ao longo das três décadas em que os militares estiveram longe do poder, o anticomunismo perdeu lugar para a defesa da soberania contra a internacionalização das organizações não governamentais. O discurso que embala a revisão da reserva Raposa Serra do Sol vem daí. Leirner identifica na ascensão da Batalha dos Guararapes, do século XVII, em que as três raças se uniram para derrotar os batavos, a construção simbólica de um exército em busca de inimigos externos.
Parece um discurso desbotado, particularmente na era de um militar bandeirante, como Bolsonaro, mas ainda encontra ressonância. A presença das multinacionais identificada na pesquisa de Miranda como um dos interesses que exercem influência demasiada no país, é uma evidência clara das pressões para que o governo Bolsonaro se encaixe nos moldes do ultradireitismo nacionalista que tem em Trump e em Viktor Orbán, o primeiro-ministro da Hungria que prestigiou sua posse, como os principais representantes.
O nacionalismo, no entanto, está longe de unificar os militares do governo, a começar por Hamilton Mourão, de quem se registram, ao contrário dos demais generais do governo, posições mais alinhadas com o pró-americanismo pregado pelo novo Itamaraty do chanceler Ernesto Araújo. Um posto avançado desta batalha já se estabeleceu na Petrobras. O novo presidente, Roberto Castello Branco, foi ungido por Paulo Guedes para comandá-la porque comunga de suas convicções liberais.
Um posto avançado desta batalha já se estabeleceu na Petrobras. O novo presidente, Roberto Castello Branco, foi ungido por Paulo Guedes para comandá-la porque comunga de suas convicções liberais. O ministro da Economia já deixou claro que pretende se valer da cessão onerosa para recompor o caixa do governo, ainda que sua regulamentação esteja pendurada no Congresso. Duas semanas antes da posse, no entanto, o almirante Bento Leite de Albuquerque Junior, nomeado ministro de Minas e Energia, pediu à empresa que providenciasse acomodações para que lá se instalasse com nove assessores. A presença de um cozinheiro na comitiva é um sinal mais do que eloquente da batalha que está por vi. 

Maria Cristina Fernandes - Eu & Fim de Semana / Valor Econômico




domingo, 2 de dezembro de 2018

Promessa de aumento para militares vai na contramão do plano econômico

As promessas de Jair Bolsonaro durante solenidade na Academia Militar das Agulhas Negras vão na contramão dos estudos realizados pela equipe econômica, que pretende manter a lei do teto de gastos. MP que prevê reestruturação não foi votada

Durante a solenidade de formatura de cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), ontem, o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), anunciou que considera a possibilidade de não estabelecer um teto de gastos para as Forças Armadas em seu governo e aumentar os salários dos militares. “Nosso contingente é pequeno, mas sabemos das dificuldades que a nação atravessa. O que nós devemos é dar um salário compatível para com eles, botar em votação a medida provisória 2215; não foi votada ainda, isso é uma excrescência, é um descaso para com as Forças Armadas”, disse. Além do soldo, os militares recebem adicionais por habilitação, moradia em regiões inóspitas e desgastes físicos e gratificações por tempo de permanência extra na ativa, além de representação para comandos.

(...)

Durante a solenidade, 427 cadetes receberam a graduação de bacharel em ciências militares e a espada de oficial do Exército, depois de quatro anos de estudos. Bolsonaro estudou na Aman entre 1974 e 1977, sendo companheiro de turma do futuro comandante do Exército, general Edson Leal Pujol. Também participou da mesma equipe de pentatlo militar do futuro ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz. Cercou-se de militares no governo, entre os quais o almirante de esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior, recém-anunciado ministro de Minas e Energia; e os generais Augusto Heleno (GSI) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa), além do tenente-coronel da Aeronáutica Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).

As declarações de Bolsonaro vão na contramão dos estudos realizados pela equipe econômica, que trabalha com a hipótese de aprovar uma Emenda Constitucional para desvincular as despesas obrigatórias das receitas da União e, assim, salvar a lei do teto de gastos, cuja revogação teria péssima repercussão no mercado financeiro. Outra medida em estudos é o desatrelamento de aposentadorias e pensões do aumento do salário-mínimo. Essas propostas, porém, enfrentarão resistência no Congresso.

Com tantos militares mandando no governo, a pressão para melhorar os salários e aumentar os investimentos nos programas de modernização das Forças Armadas também se intensificou. Os principais projetos em andamento são: submarino nuclear (Prosub), programa nuclear (reator atômico) e sistema de monitoramento de Amazônia Azul (SisGAAz), da Marinha; Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), nova família de blindados Guarani e o supercomputador do Sistema de Defesa Cibernética, do Exército; e o avião cargueiro cargueiro KC-390, aviões de caças Gripen NG e mísseis ar-ar de 5a. geração (A-Darten).
 
Meio Ambiente
Questionado sobre o nome do novo ministro do Meio Ambiente, Bolsonaro não abriu o jogo, disse que todos os nomes em análise são bons, mas ainda não fez a escolha. Criticou a atuação do Ibama: “Não haverá mais aquela briga do Ministério da Agricultura e do Meio Ambiente. Eu quero defender, sou defensor do meio ambiente, mas não dessa forma xiita como acontece, não”. Entretanto, admitiu que foi multado por crime ambiental em 2012, no valor de R$ 10 mil: “Vou pagar essa multa? Vou. Mas eu sou uma prova viva do descaso, da parcialidade e do péssimo trabalho prestado por alguns fiscais do Ibama e ICMBio. Isso vai acabar”, afirmou.

Bolsonaro também falou sobre a nova política indigenista que pretende adotar: “Eu quero o bem-estar do índio, eu quero integrar o índio à sociedade. O nosso projeto para o índio é fazê-lo igual a nós. Eles têm as mesmas necessidades de nós. Agora, não podemos admitir que, via Funai, o índio não possa ter o tratamento adequado. O índio quer médico, quer dentista, quer televisão, quer internet. Ele é igualzinho a nós”, concluiu. [essa igualdade pressupõe tratamento igualitário tanto nos direitos quando nos deveres.]

"O que devemos é dar um salário compatível para com eles (militares). A MP 2215 não foi votada ainda, isso é uma excrescência, é um descaso para com as Forças Armadas",
Jair Bolsonaro, presidente eleito
 
 
 

 

domingo, 8 de julho de 2018

As armas nas mãos delas - Acompanhamos dois dias de treinamento da 1ª turma de mulheres cadetes da Aman

Acompanhamos dois dias de treinamento da primeira turma de mulheres cadetes da Aman

A partir de agora, elas poderão chegar ao cargo mais alto do exército brasileiro

Inaugurada em 1944, em plena Segunda Guerra Mundial, a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende, preserva com orgulho suas tradições, algumas que remetem à Academia Real Militar, fundada no começo do século XIX. Uma delas acontece logo no primeiro passo dos cadetes dentro da instituição, com a abertura solene do “Portão Monumental”, realizada sempre pelo integrante mais jovem da turma. Este ano, no entanto, a cerimônia foi um pouco diferente: pela primeira vez, quem deu passagem para os colegas foi uma mulher, Emily Braz. Então com 17 anos, ela era a mais nova dos 443 cadetes que ingressaram na Aman em fevereiro de 2018. Entre eles, estavam 34 mulheres, as primeiras do país a poder seguir a carreira militar bélica. 


A cadete Tamara Diehl durante treinamento na Academia Militar das Agulhas Negras - Márcia Foletto / Agência O Globo


Com isso, elas passam a ter a chance de um dia alcançarem a patente mais alta da instituição (a de general de Exército, já que o título de marechal só existe em tempos de guerra) e, inclusive, de alcançarem o posto de Comandante do Exército, atualmente ocupado por Eduardo Villas Bôas. Emily sabe bem o peso disso. — Temos uma responsabilidade muito grande. Fazemos parte de um projeto, e tudo depende de nós para que ele dê certo — diz a cadete, enquanto participava de um treinamento de campo na Fazenda Boa Esperança, que fica dentro da área da Aman.

Na noite anterior, a turma do primeiro ano havia realizado uma instrução noturna, em que todos percorreram cerca de oito quilômetros a pé, com uma mochila que pesa cerca de 20 quilos e um capacete de quase dois quilos. Os últimos cadetes a completar a missão alcançaram o local de acampamento por volta de meia-noite e meia e se levantaram para a “alvorada” às 5h30, de onde seguiram para atividades como tiro de metralhadora calibre .50. Esse é apenas um — e nem de longe o mais puxado — de vários treinamentos que homens e mulheres precisam realizar até o fim do curso de quatro anos, que também inclui disciplinas teóricas como Geopolítica, Cibernética e Filosofia, em uma carga horária que soma nove mil horas.
— A mulher já faz parte do Exército há bastante tempo, mas em outras áreas. Agora, é a primeira vez que estamos formando uma oficial de carreira que vai para o combate. Nós as preparamos para os desafios que elas vão encarar quando chegarem aos corpos de tropa que vão liderar — explica o tenente-coronel Vitor Hugo Bergamaschi, comandante do curso básico da Aman.

Ele garante que o tratamento dado às mulheres é idêntico ao destinado aos homens. Mesmo em menor número, elas têm conseguido se destacar: na manhã daquele dia, a vez foi da cadete Tamara Diehl, de 18 anos, que recebeu uma menção positiva dos oficiais.
— Ontem, houve um obstáculo que não conseguia ultrapassar. Mas não desisti. Acho que mostrei a eles que eu realmente queria aquilo — diz Tamara, sobre o motivo do destaque.

Se o desempenho das mulheres tem impressionado positivamente os oficiais, ele não é tão inesperado assim. A entrada delas na Aman aconteceu após a realização de concurso público, em 2016, em que apenas 10% das vagas foram destinadas ao sexo feminino. Para chegar à academia, elas tiveram que superar 192 candidatas cada uma, contra uma relação candidato/vaga de 55 entre os homens. No momento em que visitamos a academia, uma das maiores promessas era a paranaense Milena Canestraro, de 20 anos, então a segunda mais bem colocada (entre ambos os sexos) da turma. Pentatleta, ela não é filha de militares, mas se viu atraída pela carreira após ingressar no Colégio Militar. É uma trajetória comum entre as cadetes: das 30 mulheres que permanecem no curso, 16 passaram pela instituição.
Nós somos o teste. Se não dermos certo, atrapalhamos todo o futuro das próximas gerações de mulheres que sonham em ser militares — diz Milena, sobre o pioneirismo da turma.

Além da necessidade de provarem a si mesmas, as cadetes também tiveram de lidar com a desconfiança dos rapazes. A ala reformada para o alojamento das meninas, nova em folha, chegou a despertar ciúmes num primeiro momento. — Muita gente olha diferente, subestima, mas elas estão lidando bem com isso, superando esses preconceitos e mostrando que são capazes — defende Filipi Lisboa, de 23 anos, colega delas na primeira turma mista.

Antes de ingressar na Aman, os aprovados no concurso de cadetes passam um ano na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas. O ingresso das mulheres aconteceu por determinação da ex-presidente Dilma Rousseff, ainda em 2012. A lei sancionada deu cinco anos para a EsPCEx e a Aman se adequarem.
— As adaptações foram imensas e não incluíram apenas reformas na escola, mas mudanças na mentalidade — afirma o tenente-coronel Jean Lawand Júnior, comandante do Corpo de Alunos da EsPCEx. — Havia brincadeiras que fazíamos com os garotos que não poderíamos fazer com elas. Mas o impressionante é que elas eram as primeiras a não querer diferenciação. 

Lawand destaca que foram realizadas palestras entre alunos e oficiais para evitar casos de preconceito e assédio. Em caso de namoro entre eles, os cadetes devem informar o chefe de pelotão. E manifestações de afeto são proibidas dentro dos muros das instituições, seja entre cadetes ou oficiais. Carícias, só nas folgas.

Apesar do sucesso na integração, a inserção das mulheres no ensino bélico ainda é limitada. Quando chegam ao segundo ano, os cadetes escolhem a quais armas, quadros ou serviços pertencerão para o resto da carreira. Para elas haverá a opção de escolher entre os cursos de Intendência ou Material Bélico, ligados à logística do combate. A escolha de armas, como Infantaria e Cavalaria, ainda é restrita. Segundo o Exército, a decisão foi tomada após um estudo entre outros países que já tinham mulheres em suas forças.  — Preferimos um meio termo, para fazermos uma inserção mais leve e depois verificar como elas se portariam — conta Lawand.

Coautora de um estudo de dois anos sobre a presença das mulheres nas Forças Armadas, a pesquisadora do Instituto Igarapé Renata Giannini lembra que a atuação delas em todas as situações de combate já é permitida em diversos países, como Espanha, Suécia, Estados Unidos e Chile. A pesquisadora também comenta a inserção das mulheres em um cenário em que o Exército retorna ao centro do debate público, diante da intervenção federal no Rio de Janeiro:
— Historicamente, a entrada das mulheres no Exército se relaciona com a tentativa de melhorar a imagem da instituição. Foi da mesma forma no período da redemocratização, quando elas foram autorizadas a ingressar nos chamados corpos profissionais.
Para Lawand, a inserção de mulheres no quadro de combatentes pode beneficiar o relacionamento com civis: — O Exército americano já faz isso muito bem, ao empregá-las para lidar com a população. Digo isso não só em operações em favelas, mas em grandes eventos também.

Seja como for, a tijucana Maria Luísa Medella, de 22 anos, festeja ter nascido na época certa. Ela estava no sexto período da faculdade de Direito quando ficou sabendo que poderia ingressar na Aman. Não hesitou em largar o curso.  — Vejo tantas mulheres mais velhas que queriam ter tido essa oportunidade e não tiveram. Privilegiadas pode ser, sim, uma palavra para nos descrever.

O Globo