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domingo, 1 de setembro de 2019

Dar sentido à vida - Merval Pereira

O Globo

Pessimismo no presente, mas com esperança

Para Ricupero, não haverá paz, estabilidade, retomada do desenvolvimento sem a integração progressiva dos marginalizados

“Os regimes atuais, quer o capitalismo ocidental, quer a versão estatizante chinesa, são incapazes de resolver os três maiores problemas humanos: o aquecimento global, o aumento da desigualdade, o desemprego estrutural agravado pelos robôs e a inteligência artificial”. Essa pessimista constatação faz parte do diagnóstico do embaixador e ex-ministro Rubens Ricupero na Academia Brasileira de Letras, que fechou um ciclo de palestras dedicado a debater o futuro do Brasil. Durante o evento, coordenado pela escritora Rosiska Darcy de Oliveira, a questão foi analisada por diversos ângulos: o das políticas públicas, pela presidente da Fiocruz, Nísia Trindade; o da economia, por Edmar Bacha; o dos direitos humanos, por Antonio Cicero; o do sentimento nacional, por Cacá Diegues (os três últimos membros da ABL).

O ciclo encerrou-se com a palestra do ex-ministro Ricupero, que analisou o perigo de termos um futuro pior que o presente. Não apenas no Brasil, mas no mundo. Embora o diagnóstico seja pessimista, a conclusão é esperançosa, como veremos. Ricupero lembrou que houve outras fases de abatimento no Brasil, “mas a versão mais grave data de poucos anos atrás, de 2015/16, o instante em que começou a desfazer-se a ilusão de que o país tinha dado certo”.  As fórmulas petistas se tornaram insustentáveis, ressalta. “Algumas concorreram poderosamente para desencadear, primeiro, a crise fiscal, em seguida, o gravíssimo colapso que prostrou a economia até este momento”.

Após os sucessos do Plano Real, do crescimento do governo Lula, da conquista do grau de investimento, “a debacle da economia trouxe de volta aos brasileiros o efeito psicológico desmoralizante do fracasso”. Na visão de Ricupero, “o pouco que sobrava do prestígio das instituições políticas se viu, ao longo de três intermináveis anos, estremecido pelas revelações quase diárias de escândalos pela Lava-Jato, ela mesmo ora em vias de desmoralização devido a excessos e erros próprios, assim como à reação defensiva de setores políticos”.

A crise da democracia liberal se manifesta por todo lado, lamenta. “Cobrem já boa parte da população mundial os regimes antiliberais, anticientíficos, negadores da mudança climática, hostis às elites intelectuais, à tolerância da diversidade, ao respeito do outro em matéria sexual ou cultural”. O confronto entre o primeiro e o segundo centenário da Independência do Brasil põe em evidência o inédito da experiência corrente: a de que, em alguns aspectos importantes, nosso presente é pior que nosso passado. Além de aspectos subjetivos que nos fazem acreditar que os tempos mais amenos da modernização do Estado brasileiro e dos anos JK foram melhores que os conturbados dias de hoje, Ricupero utiliza-se de dados de um estudo da Goldman Sachs deste ano que aponta a possibilidade de o país perder meio século, com crescimento estagnado.

Para Ricupero, estamos “diante do maior desastre de desempenho coletivo de nossa História recente”. No entanto, estes 40 anos de altos e baixos coincidem com a consolidação da democracia. “Nesse período, em especial nos 20 anos entre 1995 e 2015, alcançou-se a maior redução relativa da pobreza e da indigência de nossa História”. O que nos cabe, diz Ricupero, é identificar razões para confiar que o futuro será melhor que o presente e superior aos melhores momentos do passado. No campo das ideias, lamenta-se, “os sinais não são encorajadores”, referindo-se à “versão brasileira requentada de fenômeno mundial, a seita de extrema-direita que mistura ideólogos pós-fascistas com iluminados, astrólogos, apocalípticos e lunáticos de todo o gênero”.

O padrão se reproduzirá por muito tempo, analisa, se não for rompida a polarização entre extrema-direita e PT, “com o medo empurrando os segmentos médios na direção da direita”. [na direita, está a segurança, a confiança,  rumo firme, o norte - não o do Ricupero, que é ' o que é bom a gente divulga o que é ruim esconde.] Superar o medo requer “a aliança entre o centro socialmente progressista e a esquerda democraticamente renovada”. Na sua visão, não haverá paz, estabilidade, retomada do desenvolvimento sem a integração progressiva dos marginalizados, que classifica de “novo ator”, como cidadão, produtor, consumidor e agente de cultura. “Depois desta hora do poder das trevas, impõe-se dar sentido à História, recuperar o sentimento de que a vida humana no Brasil não é absurda e insensata”.
 
Merval Pereira, jornalista - O Globo
 
 

domingo, 7 de janeiro de 2018

Sarney (PMDB): o mando da eminência parda do Governo Temer

Cristiane não é unanimidade,em seu próprio partido, para ocupar o cargo que lhe caiu no colo depois da conversa de seu pai com o soturno mandatário atual 

O dono da palavra final e do dedo no suspiro – sujeito oculto nas sombras do poder no Planalto que vetou o nome inicialmente escolhido pelo PTB para novo ministro do Trabalho Pedro Fernandes, deputado pelo Maranhão – tem larga tradição no mandonismo oligárquico da política no País. Sem mandato atualmente, o manda- chuva de décadas ocupa cadeira de destaque na Academia Brasileira de Letras e tem livro novo na praça. É José Sarney, o cara da vez, novamente. Acredite se quiser.

Mesmo com o rápido “arranjo”, bem ao estilo do partido dos atuais donos do poder – onde a questão moral, aptidão e competência técnica e política, para o cargo, são o que menos importam – , o Palácio do Planalto confirmou para o posto a também parlamentar petebista Cristiane Brasil. Filha do presidente nacional do partido, detonador e condenado do Mensalão, Roberto Jefferson, que foi às lágrimas com o “resgate”, ao adiantar que a data da posse da herdeira dileta está marcada para a semana que vem.

A começar pelo sobrenome da nova escolhida, para comandar a pasta do Trabalho, tudo isso parece uma imensa e irônica encenação de tragicomédia anunciada. Antes do correr da cortina, para de novo esconder o palco do distinto público, no entanto, foi passado unguento nas pisaduras, mas o calo de sangue vai ficar incomodando muita gente pisoteada, ainda por um bom tempo. Já se sabe, (por denúncia do próprio convidado da primeira hora, do presidente da República,) para ocupar o lugar deixado vago, de repente, pelo também deputado petebista Ronaldo Nogueira, na última quarta-feira, (27) do ano que passou – causando novos estragos no trôpego, e cada vez mais suspeito e metido em encrencas, ocupante atual do Palácio do Jaburu, Michel Temer e sua tropa de comando do PMDB e outros penduricalhos partidários.

Para o rodado jornalista, estes episódios recuperam, das profundezas da memória, a inevitável recordação de uma história que meu saudoso pai costumava contar sobre coronéis oligarcas, patriarcas do velho estilo, ou com tinturas de modernidade, em seus diferentes modos de exercer poder político no Nordeste.
“Mi viejo”, para usar expressão tão cara aos portenhos em seus tangos e escritos poéticos de referência respeitosa à figura paterna (que muito me agrada) – um honrado servidor público nascido nas barrancas do São Francisco, o rio da minha aldeia, até morrer defendeu, preservou, praticou e tentou sempre passar adiante ensinamentos sobre o valor da política feita com ética e honradez, principalmente quanto ao efetivo cumprimento dos compromissos de princípios e de gestão administrativa. Ele tinha rejeição congênita tanto a corruptos e corruptores, quanto ao mandonismo, no exercício de cargos ou funções em todos os escalões governamentais: federal, estaduais ou municipais.

Ficava mais indignado ainda com aqueles oligarcas com tinturas intelectuais, “metidos a sebo”, principalmente àqueles com assentos, também, na ABL: da Bahia ao Maranhão.
“O tipo que, diante de uma oferta de recursos para a construção de uma boa escola, um ginásio, um colégio, em seu estado e sua comunidade; ou frente à possibilidade de vingança imediata contra uma diretora escolar, que ele julgava contrariar seus interesses eleitorais e de aliados de partido, não pensava duas vezes: preferia mandar demitir a professora”, contava meu falecido pai. Na mesa das refeições com a família reunida em volta da mesa, ou nas rodas de conversas políticas de que tanto gostava de participar.

Ao ouvir um caso como este – cada vez mais comum nos temerários tempos que correm a caminho da implacável corrida pelo voto, que se anuncia neste ano de eleições majoritárias, a começar pela presidência da República, os irônicos franceses, seguramente diriam: “Amaldiçoado seja aquele que pensar mal destas coisas”.  Qualquer levantamento jornalístico rápido, feito com critério e isenção profissional, vai revelar que a deputada – sobre cujo nome recaiu a nova batida do martelo, do presidente da República, para pasta importante de seu ministério em desmoronamento, não é bem o que se poderia chamar de ilibada figura para o exercício de um posto de comando no mais alto escalão do poder público. É, para dizer o mínimo, parlamentar de atuação polêmica e complicada, com dúvidas no currículo que certamente cobrarão mais esclarecimentos à sociedade. E não só quanto às já sabidas suspeitas de receber propinas das empreiteiras OAS e Odebrecht, na Lava Jato, mas, também, em caso de relação trabalhista, no qual, segundo revelado pela G1/O Globo, a anunciada futura ministra do Trabalho foi condenada.

Além disso, Cristiane Brasil não é unanimidade,em seu próprio partido, para ocupar o cargo que lhe caiu no colo depois da conversa de seu pai com o soturno mandatário atual . O El Pais revela, em sua edição brasileira, que três de quatro deputados do PTB ouvidos pela reportagem, disseram que a indicação dela não tem o aval da bancada, ao contrário de Pedro Fernandes, o desafeto do clã Sarney, no Maranhão. “Nem sequer fomos consultados”, afirmou um dos ouvidos por El Pais. A um grupo de repórteres que o esperava na saída da conversa com Temer, ainda tentando conter o pranto emocionado, o pai de Cristiane e chefe do PTB, explicou que o nome de sua filha não foi uma indicação: “Eu não indiquei. O nome dela surgiu”. É por coisas assim que nas barrancas do rio da minha aldeia se costuma dizer: “O tempo passa, e quanto mais passa o tempo e as coisas mudam, mais o Brasil fica mais parecido com o que sempre foi”. É por aí.

Para completar o sentido dessas palavras faltava Sarney. E sua insaciável fome de poder e de mandonismo, em décadas de presença déspota, evidente na vida de seu estado, do Nordeste e do País. Não falta mais: ele ressurgiu, neste episódio do veto ao adversário político, não na condição de simples “conselheiro de Temer” (como tem sido qualificado em alguns círculos do PMDB e da imprensa ), mas como poderosa eminência parda do governo em desalinho. Se disse, em conversas e em manchetes, que ele jogou a toalha e abandonou a política desde que desistiu de concorrer a mais um mandato em 2014. Acredite quem quiser.

Mas o fato, pra valer, é que ele segue atuante, e com sobras de mando, como acaba de demonstrar. Não aos gritos e ameaças barulhentas à moda dos velhos e superados coronéis nordestinos. Mas nas sombras palacianas, em silêncio e sutilmente. Um texto de 2014, publicado na Carta Capital, alias, traz uma definição que ainda hoje segue perfeita e atual: "Sarney comporta-se (no mando) como um lorde inglês durante a ocupação da Índia”. Nada mais a acrescentar. Só a conferir.

Veja - Blog do Noblat
 

 

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Sarney roga praga contra Temer

História recente

As diversas variantes da história recente da política brasileira encontraram-se na noite de sexta-feira na posse do economista Edmar Bacha na Academia Brasileira de Letras. Recebido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, responsável pelo que Bacha considera o ponto culminante de sua vida pública, a participação no Plano Real, teve a presença de outro ex-presidente, José Sarney, com quem colaborou na elaboração do Plano Cruzado e na presidência do IBGE.

Governo que abandonou quando, para obter uma vitória arrasadora na eleição de governadores em 1986, Sarney recusou-se a fazer ajustes no Cruzado, que acabou fracassando depois de um breve período de sucesso. A tentativa de manipulação dos índices do IBGE foi a gota d’água que fez Bacha sair do governo um mês depois das eleições.

Sarney é o decano da ABL, confrade de Fernando Henrique, que o chamou de “meu amigo” no discurso de saudação a Bacha. Mas foi em protesto ao governo Sarney que Fernando Henrique e vários outros saíram do PMDB para formar o PSDB, em 1988. Da mesma maneira que hoje o presidente Michel Temer tem que enfrentar uma tentativa de rebelião na sua base de apoio para aprovar a reforma da Previdência, Sarney em seu governo, que assumiu pela morte de Tancredo Neves, de quem era vice, teve que enfrentar a rebelião interna do PMDB e também do PFL, partido que criou ao sair da Arena, e que abandonou para integrar a chapa de Tancredo à presidência da República.

Hoje, mesmo sem mandato, Sarney continua influindo na política nacional, e faz parte atualmente do grupo que se opõe a Temer dentro do PMDB do Senado, juntamente com o senador Renan Calheiros. Se não conseguir aprovar a reforma da Previdência, o que Sarney considera o mais provável, diz-se que governo Michel Temer passará por uma “sarneyzação”, isto é, terá os mesmo problemas que Sarney teve no final de seu governo, depois da Constituinte de 1988, cujo resultado ele denunciou, tornaria o país ingovernável, com mais direitos que deveres.
 

O mandato presidencial de Tancredo Neves que Sarney assumiu, contrariando também os militares a tal ponto de o General Figueiredo ter se recusado a passar-lhe a faixa presidencial, era de seis anos, mas durante a Constituinte houve diversos movimentos para reduzir-lhe para 4 anos implantando o parlamentarismo, como queria a ala dissidente que acabou criando o PSDB.

Diversas vezes Sarney ameaçou renunciar se lhe tirassem dois anos de mandato, e chegou a ir à televisão para aceitar um mandato de cinco anos, dentro do presidencialismo. Um dos líderes do movimento para reduzir o mandato de Sarney foi o então governador do Rio de Janeiro Moreira Franco, hoje um dos principais ministros do governo Temer. Sarney se lembra do período como tendo sido de múltiplas dificuldades, e enumera evidências de que eram “muito mais difíceis” do que hoje. Naquele tempo, lembra, havia o Brizola e o Lula fazendo campanha por eleições diretas antecipadas, o país estava muito radicalizado. 

Sarney entrará para a História como o garantidor do processo democrático brasileiro.
Nada diferente de hoje, quando Lula e o PT acusam o governo de ilegítimo e defendem que somente uma eleição direta pode dar estabilidade política ao país. Sarney continua próximo de Lula e, derrotado o governo na reforma da Previdência, deve estar junto com os que defendem a antecipação da eleição direta para presidente da República, antes de 2018. [defesa de uma pretensão estúpida, antidemocrática golpista e inviável; além do que só interessa à corja petista, que com Lula à frente, torce pelo 'quanto pior, melhor'.]

E do outro lado, Temer e seu secretário-geral Moreira Franco. Desta vez, todos têm um problema comum, a Operação Lava Jato. E mesmo os que, como Fernando Henrique Cardoso, não tem nenhum envolvimento pessoal com as denúncias, têm seu partido, o PSDB, atingido nos seus principais líderes. O que torna as coisas mais difíceis hoje, na avaliação de Sarney, é que não há perspectiva de saída para a crise. Em 1989, a campanha presidencial serviu de válvula de escape à sociedade, que teve a seu dispor grandes nomes da política, como Ulysses Guimarães, Aureliano Chaves, Lula, Brizola, Mario Covas, e o “fato novo”, o governador de Alagoas Fernando Collor.

Lula já admitiu que não estava preparado naquela ocasião para ser presidente, [e continua sem preparo; Lula está preparado, ou deve cuidar em se preparar e rápido, para terminar seus dias cumprindo longas penas pelos inúmeros crimes que cometeu. Sérgio Mero o espera e é questão apenas de tempo Lula se tornar presidiário.] Brizola morreu certo de que fora roubado na contagem dos votos que levaram Lula ao segundo turno contra Collor por uma margem ínfima de votos, e o vencedor Collor acabou impichado. O que levou ao governo Itamar e ao Plano Real, cuja gênese foi relembrada ontem na posse de Edmar Bacha na Academia Brasileira de Letras, um raro intelectual público que comanda hoje talvez o principal think-tank brasileiro, a Casa das Garças no Rio. 

Fonte: Merval Pereira - O Globo


sábado, 27 de fevereiro de 2016

O título de 'imortal', meramente decorativo; não concede o direito de defender o assasinato de crianças indefesas e inocentes - assassinato que continua sendo crime ne legislação penal do Brasil



A escolha  
O que o país deveria estar discutindo é como amparar aquelas que decidirem interromper a gravidez para que o façam sem risco 
As mulheres brasileiras estão vivendo um pesadelo. As que estão grávidas, as que gostariam de engravidar, as que ainda não sabem se engravidaram ou não. A ameaça de que o embrião seja infectado pelo vírus da zika e sofra as consequências devastadoras da microcefalia abriu um cenário de horror em que um reles mosquito tem o poder de destruir o futuro de uma criança e deixar um casal abandonado, sim, a seu próprio infortúnio, em um país que jamais conseguiu tratar com mínima decência os que necessitam de cuidados especiais. [ainda não nenhuma prova de associação entre microcefalia e o virus zika - essa associação foi imaginada, divulgada e maximizada pelas que defendem o maldito aborto.]

É indecente que autoridades ousem afirmar que darão todo apoio à criança e aos pais. Não é verdade. Como é falso que tenham de fato se empenhado em combater esse mesmo mosquito maldito que há anos nos assombra com a dengue. O nascimento de uma criança com microcefalia é uma tragédia que fere uma família. Como essas famílias já são muitas e sabe-se que serão cada vez mais, estamos confrontados a uma tragédia nacional. Não há tempo nem lugar para hipocrisias.

Discutir se, sim ou não, as mulheres que desejarem interromper a gravidez têm esse direito é um desrespeito. As únicas que podem tomar essa decisão são elas mesmas, e já lhes basta a angústia e o sofrimento que estão enfrentando, não precisam que alguém ainda venha lhes dizer que cometem crime ou pecado. [a mortal 'imortal' se arvora em 'governadora suprema do Universo' e decreta que as mães que desejarem assassinar o filho que carregam no ventre, a pretexto de evitar que nasçam microcéfalas, estão livres para assim proceder.
NADA DISTO. O assassinato de crianças inocentes e indefesas continua sendo crime.]

Há limites para a insensibilidade, e esse caso é uma fronteira entre a compaixão e a crueldade. O que o país deveria estar discutindo é como amparar aquelas que decidirem interromper a gravidez para que o façam sem risco. E como socorrer aquelas que decidirem prosseguir na gravidez, em atos, e não com mágicas marqueteiras, que logo desaparecem da vida real.

Ninguém tem o direito de decidir pela mulher. A decisão é dela. Esse debate põe a nu, em um momento de extrema gravidade, o imenso equívoco que é, na sociedade contemporânea, tentar impedir que cada um escolha seu destino. Porque este é o fundamento do pensamento autoritário e sua ambição, quer se trate dos direitos das mulheres, das relações homoafetivas ou do direito de morrer com dignidade.[a VIDA, seja da criança ainda no ventre materno ou do  idoso preso ao leito continua sendo um DIREITO garantido pela CONSTITUIÇÃO FEDERAL - estando alojado em um artigo do texto constitucional protegido por CLÁUSULA PÉTREA.]

Em vão. Não existe mais um destino preestabelecido. Cada um pensa, reflete, discute com os mais próximos, em círculos de confiança, antes de agir. Já não age porque tem que ser assim, em respeito a tradições ou hierarquias, mas porque decide que assim seja, por convicção. O direito indelegável de tomar decisões responsáveis sobre questões de vida ou morte não pode ser negado por leis caducas, que insistem em falar a uma sociedade que já não existe e são surdas àquela que as interpela. [o DIREITO A VIDA continua existindo e não está caduco, nem também as leis que o defendem; os que o consideram caduco, mais cedo ou mais tarde serão afetados pela senilidade (e muito provavelmente não desejarão ser eliminados por 'caduquice), mas, o DIREITO A VIDA  sempre existirá e protegido pela Constituição Federal.

Também, não pode ser olvidado - exceto pelos ateus - que as LEIS de DEUS, ainda que milenares, permanecem em plena vigência e nenhum dos DEZ MANDAMENTOS foi revogado e entre eles está o NÃO MATARÁS.
Os valores de Deus são eternos, não estão sujeitos ao tempo - que para Deus não existe - e menos ainda ao maldito 'politicamente correto'.
A propósito, tem um amigo que sempre diz que apesar das descobertas tecnológicas que para os humanos são fantásticas, o inferno continua sendo aquecido com enxofre.]

As leis não são imunes à pressão de uma sociedade em constante mutação. Os tribunais têm se mostrado mais sensíveis aos apelos da sociedade, ao modo pelo qual direitos se constroem e limites éticos são definidos, do que o Congresso Nacional, que perdeu o respeito da população e insiste em impor a todos normas e princípios de vida de inspiração fundamentalista em que só um punhado de deputados se reconhecem.[que é a Sociedade diante de valores sagrados, entre eles o DIREITO À VIDA? quantas centenas, talvez milhares, de sociedade se extinguiram e nenhuma falta fizeram?]

É certo que os religiosos têm direito a sua opinião como todos os cidadãos. Mas não se trata de um debate de opiniões. Quem quer proibir a interrupção voluntária da gravidez não está exprimindo apenas uma opinião. Está, no caso presente, impondo a uma mulher, contra a sua vontade, um futuro que só ela pode decidir se quer ou não assumir. [que lei, humana ou divina, concede à mulher o direito de decidir sobre a vida de um ser inocente humano e indefeso? não podemos esquecer que a o DIREITO À VIDA - o que inclui a do feto, que é um ser vivo, humano, inocente e indefeso, desde o momento da concepção - é assegurado também pela ONU - organização que apesar de repleta de falhas é sempre respeitada e citada como regra pelos defensores do assassinato de crianças = óbvio, quando a citação lhes convém.]

O argumento da maioria no Congresso não procede. Há liberdades que não podem ser negadas porque são intrínsecas à dignidade de cada um. O recurso aos tribunais tem sido o caminho legal para a ampliação destes direitos. Mas há outra maneira de lidar com leis injustas, que é o que fazem milhões de pessoas, recusar em suas vidas, mesmo correndo riscos, os interditos que restringem sua liberdade. No Brasil, o “crime” de interromper a gravidez é praticado por milhões de mulheres com o conhecimento de outros tantos milhões de “cúmplices”. Os países desenvolvidos já entenderam que não há que impor às mulheres uma gravidez indesejada. A lei que proíbe a interrupção voluntária da gravidez só serve para infernizá-las com ameaças de prisão e expor ao risco de vida as mais desvalidas. [que morram; cada aborteira que morre durante, ou logo após, um aborto é uma assassina a menos.

Existem diversas provas que a microcefalia não significa necessariamente invalidez.

Também é uma violência negar a um doente terminal o direito de morrer com dignidade. Quando um adulto decide que não quer mais sofrer, como negar-lhe o alívio, a serenidade e o exercício de uma última liberdade neste momento limite da existência? Que instância tem autoridade para recusar tal pedido, para arrogar-se tão desumano poder?
Você confiaria ao palco de escândalos que é o Congresso Nacional a elaboração da ética que vai pautar sua vida? [gostem ou não o atual Congresso Nacional é fruto de uma escolha democrática dos brasileiros.

Certo agiu Pelé quando disse que o 'povo brasileiro não sabe votar'.]

Por: Rosiska Darcy de Oliveira, escritora - 'imortal' da Academia Brasileira de Letras
rosiska.darcy@uol.com.br

Transcrito de O Globo - 27 fev 2016