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sexta-feira, 8 de abril de 2016

O bazar das 1000 boquinhas



À esta altura do jogo, ninguém precisa de mais esclarecimentos sobre a conduta de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, sua capacidade de degenerar o próprio governo e a irresponsabilidade soberana com que toma, ou acha que toma, suas decisões. Em todo caso, é sempre útil manter em mente o potencial destrutivo que conserva enquanto estiver exercendo oficialmente as funções de presidente da República. Não é pouca coisa. 

Justo agora, em mais um episódio tenebroso de sua biografia, Dilma se empenha abertamente em transformar o serviço público num mercado indecente, onde vende cargos em troca de votos que a salvem do impeachment no Congresso. Não é mais o que se poderia chamar de negociação política – virou tráfico, puro e simples. São de 500 a 800 postos em oferta, ao que parece; há contas indicando que podem ser 1.000

Se precisasse, Dilma não conseguiria comprovar um único caso de interesse publico nas nomeações que se propõe a fazer – trata-se unicamente de compra e venda. “O PT é o partido da boquinha”, disse certa vez o ex-governador Leonel Brizola. Mal imaginava que o PT acabaria não apenas como o campeão nacional da boquinha, tomando para si tudo quanto é emprego público que lhe passa pela frente; é também, no momento, o maior vendedor de boquinhas da praça.

Dilma conseguirá se safar com isso? Com um governo com a inépcia do seu, não dá para saber. É perfeitamente possível que a operação toda acabe se transformando em apenas mais uma exibição de anarquia explícita e incompetência em estado terminal. O governo não sabe exatamente quantos cargos pode vender, nem quais são eles. Não sabe direito quem quer comprar; apenas imagina que seja gente ligada a colossos da história política nacional como PP, PR, PSD, etc. Dilma não conhece a vasta maioria dos que pretende nomear, como não tem ideia de quem são os que pretende demitir. Não sabe, sequer, se Lula vai ocupar ou não o ministério mais importante de seu governo talvez já não saiba, nem mesmo, se ele ainda quer o cargo. Fala-se que o governo vai socar “verbas” nos agraciados.

Que verbas? Todo santo dia vem mais uma notícia sobre o estado pré-falimentar do Tesouro Nacional – onde vão achar o dinheiro para satisfazer o apetite da nova armada contra o impeachment? A dívida bruta é recorde. A dívida líquida não é melhor. A lista dos empregos empenhados na operação inclui, entre outros florões do serviço público brasileiro, repartições especialmente sinistras sob a gestão do PT, como Fundação Nacional da Saúde (em cuja órbita já se roubou até sangue), Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, Companhia Nacional de Abastecimento e até uma Antaq, onde, acredite se quiser, é administrado o “transporte aquaviário” do país. 

Um probleminha, nisso tudo, é que entre os possíveis nomeados provávelmente haverá gente tão encrencada com a corrupção quanto todos esses que estão por aí tentando fugir da cadeia; assim que assumirem começarão a emergir suas folhas corridas. Não se pode garantir, enfim, que haverá tempo material para identificar e nomear os 500, 800 ou 1.000 cidadãos com os quais Dilma espera fugir da deposição o processo de impeachment pode andar mais depressa do que as nomeações e, de mais a mais, ninguém garante que os nomeados entreguem mesmo a mercadoria que venderam.

Quem sabe, em sua calamidade, o governo pudesse vender para algum interessado o comando da Força Nacional, criada para ajudar na segurança das Olimpíadas do Rio de Janeiro? É uma ideia. Dilma ganhou de graça essa vaga. O ocupante, coronel Adilson Moreira, se demitiu porque não quer mais, como disse em e-mail para os subordinados, servir a um governo comandado por “um grupo sem escrúpulos, incluindo aí a presidente da República”. O coronel declarou-se “envergonhado”. Falou o que milhões de brasileiros falariam, e esperam que os servidores públicos decentes falem. É o contrário exato da manada que se precipita sobre as “bocas” que Dilma colocou em leilão no seu bazar.

Publicado na revista EXAME - J. R. Guzzo